5 - Ira
Eu ouvia uma voz preocupada chamando meu nome:
– “Walmir? Walmir? Você se sente bem?".
Enfim consegui abrir meus olhos. Vi um homem vestindo uma roupa toda branca e com um sorriso na cara. Na hora, meio que inconsciente, perguntei:
– Estou no céu?
Sei que foi uma idiotice, mas foi a única coisa que saiu. O homem olhou meu estado e disse para alguém que estava ao seu lado:
– Ele está bem. Está voltando ao normal. Não o force a falar nada. Ele vai se recuperar aos poucos. Se você não o encontrasse talvez ele estivesse pior. Parabéns rapaz. –Houve uma pequena pausa quando o medico concluiu: – Vocês são irmãos... Primos... Parentes?
Uma voz rouca e firme respondia:
– Não. Sou amigo dele. Vou ficar aqui até o pai de ele chegar.
Eu sabia de quem era a voz. Era José. E não tinha como negar, Eu estava feliz por ele e não meu pai ou minha mãe estarem ali.
O médico nos deixou a sós. José nada falou e Eu não queria assustá-lo.
Eu criei coragem e enfim perguntei:
– Por que me salvou? Você sabe o que ele fez comigo?
Não ouvi nada. Até que uns dois minutos depois ele me responde:
– Te salvei por que sabia que algo havia acontecido. Marcos estava todo sorridente quando me disse: "É né cara? Tem que aliviar a tensão em otários pra não machucar as minas.". Como você não tinha saído, percebi que ele tinha feito algo com você. Corri pelos corredores da escola. Procurei sala por sala, quando me lembrei do lugar onde Marcos te fez de vitima: O banheiro. Corri até lá e te vi caído no chão. – Ele alterou seu tom de voz - Eu fiquei puto. Minha vontade era de bater na cara dele, mas estava com medo de que acontecesse algo com você. Pus-te em meu carro e te trouxe pra cá. Eu vou matar aquele desgraçado!
Eu estava feliz ao ouvir aquilo. Ele realmente se importava comigo. Criei coragem e perguntei:
– Você me esperou até a hora da saída?
– Sim. Se algo acontecesse com você, Eu não me perdoaria. Eu não sei o porquê, mas tenho medo de te ver magoado. – José falou no mesmo instante
Eu sorri. E por mais que parecesse besteira, Eu me sentia amado. Por mais que José não quisesse nada comigo, Eu o amava e ponto final.
José esperou até que meu pai chegasse. Meu pai o agradeceu e disse que haveria uma homenagem para ele em minha festa. Não sei como José ficou, mas Eu fiquei feliz.
Meu pai me levou para o carro e começou todo o interrogatório:
– Quem te fez isso e por que fez? Tem algum motivo? Você se envolve com drogas? Não quero te ver em brigas! Quando Eu descobrir quem te fez isso, vou colocar esse marginal na cadeia...
Eu interrompi meu pai:
– Pai! Eu estou bem, isso é o que importa. Obrigado pela preocupação. Eu te amo.
Meu pai sorriu feliz. Era a primeira vez em quase dois anos que ele ouvira aquilo.