6 - Arrasado
Era domingo de manhã, tomamos café Eu, meu pai e minha mãe. Estávamos felizes e meu pai contando tudo o que havia ocorrido a minha mãe. Ela estava horrorizada com tamanha violência e estava indignada com o meu silêncio. Antes que começasse o interrogatório falei ao meu pai:
– Teremos uma festa e preciso estar bem vestido.
Ele sorriu e disse:
– Pensei que gostava de se vestir como um filho de mendigo...
Não gostei do comentário, mas sorri para ele. Eu estava feliz. Finalmente me apaixonei por alguém, e de boa? Não importa o que José sentia por mim, Eu estava na dele e isso me interessava.
Meu pai me levou ao Shopping Recife. Foram longas horas de viagem até chegarmos lá. O Shopping é enorme e vi placas de estacionamento que iam do A1 ao G10. Pensei comigo: "Será que alcanço essas oitavas em uma música?". A resposta era obvia: "Claro que não. É um esforço sobre humano até pra mim que acho que tenho coloratura (Talvez esse termo não se aplique a homens), uma vez que alcancei de um E2 a um A6".
Meu pai vira a felicidade em meu rosto. Entrei pela Centauro e lá mesmo comprei uns sapatos bacanas. Adorei os tênis da Qix, Adidas, Nike, Puma e All-Star. Os únicos sapatos que usara antes de viver com meu pai eram aqueles sapatos de velhos e um All-Star. Depois fomos a C&A, Renner e Riachuelo. Além das lojas masculinas que Eu nunca tinha ouvido falar (Marcas não são meu forte). Comprei, comprei e comprei.
Meu pai liberou o cartão e Eu não tive pena. Comprei até roupa para ficar em casa. Eu estava tão feliz. Parecia pinto no lixo de tanta felicidade.
...
Voltamos para casa. Eu havia dormido a viagem inteira. Meu pai havia comprado presentes para a minha mãe. Depois de dois anos sem gostar daquilo, Eu realmente estava adorando ver os dois juntos.
À noite tomei banho e decidi ir à praça. Eu nunca havia feito isso. Sair pra me divertir. Eu estava muito feliz. Queria ligar pro José para conversar, mas não tinha seu numero. Não tinha o numero de ninguém daquela sala.
Vesti-me, pus uma das roupas que havia comprado. Era uma calça preta xadrez, Eu adorei. Ao me vestir ela ficava apertada. Assim como a maioria das roupas minhas roupas. Decidi por uma camisa branca de manga comprida e, por cima dela, um colete xadrez preto (Podem até pensar que Eu não me vestira bem. Não tenho senso de moda. Mas aquele conjunto era perfeito). Eu estava me amando aquela noite. Pedi para meu pai me levar até a praça. Ele me deixou e me mandou ter cuidado. Deu-me dinheiro e um beijo na testa. E falou:
– Se divirta, a noite é sua!
Eu saí todo sorridente e estava tocando umas músicas eletrônicas bem legais. Quando avisto de longe a Sofia. Ela estava no poste esperando alguém. Eu estava tão feliz que não me importara de dançar com qualquer pessoa. Começou a tocar "I Wanna Dance With Somebody" aí Eu me alegrei e a convidei-a para dançar. Ela disse:
– Estou esperando meu namorado.
Eu olhei pra ela e respondi:
– Não sabe o que tá perdendo.
Quando dei as costas sinto uma mão em meu ombro e Sofia fala:
– Então... O convite tá de pé?
Eu agarrei a mão dela e fui dançar no meio da pista. Começamos a cantar na parte do "Oh! I wanna dance with somebody! I wanna feel the heat with somebody...".
A música terminou e Eu estava apertado, precisava urinar. Sofia então me disse que o pai dela era dono de um bar famoso que fica próximo à praça. Fui ao bar, urinei, pedi um copo de 350 ml de coca com limão e um pouco de álcool, e quando volto para festa, vejo Sofia agarrada aos beijos com o José (que estava vestindo uma calça jeans e um casaco preto da Gran Sasso feito na Itália).
"Arrasado": essa era a palavra que me descrevia naquele momento.