- Passei mãe! Passei. - Não, eu não gritava. Era em baixo tom que mal se podia ouvir, que eu dizia para minha mãe que havia passado no vestibular. Medo? Nada disso, emoção, surpresa. Só quem já passou em uma sabe a felicidade que é alcançar a aprovação na tão almejada faculdade federal, ainda por cima para um dos cursos mais concorridos do país. Direito.
- Filho, disso algo? É que eu tô na cozinha terminando de por o jantar e ouvir um eco aqui. - Minha mãe aparecia dentre a porta do meu quarto. Eu ainda estava estático que não respondi, larguei o notebook na cama e corri para abraça-la.
Leitores, meu nome é Caio e sim, os espertos perceberam. Aquela aprovação era a chance de eu mudar minha vida financeira, sim, mudou. Não só financeira, mas como amorosa e muito mais.
Minha família sempre foi paupérrima, lógico, essa foi a grande máquina que fez com que eu estudasse. E estudasse muito. Eu perdia a noites a fios, estudando. Meus amigos saíam para festas, me chamavam... Até prometiam me bancar, mas eu não ia. Voltava para casa com um livro debaixo do braço para estudar.
Durante todo meu ensino médio, obtive variadas amizades. Isso me ajudou muito na escola com trabalhos e atividades em grupos. O qual eu sempre era poupado. Sim, amigos, eu nunca tive namorada. Não por não me interessar por garotas, mas sim pelos gastos que elas davam. O qual eu sempre preferia investir em livros.
Que fique claro uma coisa, eu nunca tive cara de nerd, mas eu também não me achava e não me acho bonito. Considero-me comum, sou moreno claro, levemente malhado e possuo olhos claros, horas são cinzas, horas são verdes. Sou alto, uns um metro e noventa mais ou menos. E sou dono de cabelos negros bem lisos, com um corte meio Harry Potter. Fazendo com que eu parecesse sei lá... Um esportista talvez, enquanto eu era estudante ou nerd mesmo.
Mais como tudo que é sofrível é recompeçado. Eu passei no vestibular. E para faculdade federal aí vou eu, bacharel em Direito.
- Filho, filho... O que foi? - Minha mãe perguntava-me aflita.
Cuidadosamente, em seu ouvido eu anunciei...
- Passei mãe! Passei para Direito mãe! Eu consegui... - Eu não completei, a emoção falou mais alto. Logo os olhos dela se encharcaram de água e transbordaram a imensa felicidade da minha aprovação. Eu não chorava, mas minha voz estava sem som algum.
- Seu pai... Aquele maldito precisava estar aqui agora para escutar isso! Ele precisava ver que o filho dele não se tornou o imprestável que ele tanto chingava. Meu filho... Parabéns! Eu te amo tanto.
Meu pai, meu pai, meu pai... Com o tempo vocês vão perceber o quanto evito aquele cara. Mas saibam que não, ele ainda não morreu. O jeito que a minha mãe fala dele é como se remetesse a morte, mas não, aquele lá está ainda vivo. E muito vivo, pagando todos os pecados que ele nos fez com sua atual família. Aos quatro meses de vida, ele me abandonou ao léu. Era um bebê indefeso com uma mãe sem emprego em uma casa sem nada. Ele anunciara que tinha outra família, já possuía outro filho um ano mais velho que eu. E saía espalhando por aí que aquele outro filho era o qual ele amava. Ódio? Não, com o tempo eu adquiri pena do velho. Mas que ele saiba que quando ele estiver morrendo em uma cama de hospital, concerteza eu estarei lá. Sorrindo-lhe e lhe mostrando que a vida é um grande jogo com diferentes fases. Se uma você perde, você adquire força para ir à outra. E o jogo vai acontecendo, as pessoas saindo, outras surgindo. Mas que ele aprenda a nunca subestimar ninguém, pois o verdadeiro finalista surge de onde a gente menos espera.
O tempo se passou. Entramos na semana do carnaval... Foi no fim de Dezembro que eu me vi na lista de aprovados. Ou seja, tivemos um fim de ano abençoado e uma grande expectativa sobre o inicio das aulas. Depois do carnaval fiz minha inscrição do curso já referido. Foi quando aos poucos comecei a comprar uns livros. Emprestei lógico, uns daqui e dali. E meu material logo estava completo para a primeira aula mais importante da minha vida.
Foi com um beijo na testa que minha mãe me desejou boa sorte para meu primeiro dia na faculdade. Dali corri para a parada de ônibus e o aguardei ansiosamente. O apanhei e em questão de minutos o coletivo atingiu meu ponto de chegada. Acionei o botão de parada com o meu coração na mão. Cara, lembro-me até hoje na expectativa filha da puta que eu estava naquele momento.
Com o auxílio de algumas pessoas eu descobri a minha sala e ainda nervoso eu girei a maçaneta da porta para o dia mais importante da minha vida. O dia que eu conhecera ele, ou melhor, eles. Matheus Brandão e Kaik Fernandes.
Que estavam na sala, sentado lado a lado. Um sorrindo para o outro. Em uma visão completa da sala eu pude perceber que ali só estavam filhos de pessoas ricas, concerteza. Todos luxuosos e eu não pude deixar de notar que a cor branca dominava inteiramente o local. Achei isso tenso, além do que eu era e sou moreno, claro, mas moreno. Numa outra fileira havia um grupo de meninas conversando distraidamente. Pareciam todos ali amigos de longa data. Eu respirei fundo e sentei-me na primeira cadeira que vi. Devido ao constante barulho quase ninguém me viu adentrar a sala de aula. Os minutos se passaram, vários rostos felizes passavam pela porta, todos animadíssimo e a maioria já se interagia. Concerteza vieram todos da mesma escola. Como eu era "alone", abaixei minha cabeça e aguardei a entrada da comissão de recepção da faculdade. Foi no exato momento em que o grupo de seletos professores entrou pela porta e iniciaram o que seria a reverência da casa.
Eu assistia a tudo calado e boquiaberto com cada novidade exposta pelas vozes dos mestres daquela aula. Tudo era novidade para mim, até que um papel me atingiu o braço direito. Como eu estava na cadeira da frente, do canto esquerdo. Os olhos se centraram em mim e eu com que vergonha, acuadamente pedi desculpa, pelo sei lá o que. Tudo foi muito rápido, logo a comissão de professores e mestres saíram, nos liberando para o intervalo e fiquei ali encucado com o bola de papel, quando um cara chega e se apresenta...
- Meu nome é Kaik! - Ele estendeu a mão em forma de cumprimento. Eu com um sorriso entrego-me em seu aperto de mão. Era a primeira vez que alguém falava comigo e eu não podia fazer nada errado. Mas quando o olhei nos olhos fiquei hipnotisado com a cor de seus olhos, eram mel que refletiam de uma forma, ferradamente linda. Até que ele diz...
- Já pode soltar da minha mão, senhor sem nome! - Ele completa sorrindo. Cadê o buraco? Quero esconder-me dentro.
- Desculpa, sou Caio e... - Quando eu ia completar dizendo "Prazer", alguém nos esbarra...
- Já Kaik, já deu de viadajam agora vamos, temos que selecionar logo as meninas que vamos pegar. - Era um outro, o mesmo que estava o acompanhando no momento eu em que entrei na sala, o que eu depois descobrir que se chamava Matheus.
- Desculpa cara! Mas já vou... - Kaik sorrindo se justificou mas não saiu. Ficamos numa troca de olhares tensa. Não sei se era algo da minha cabeça, mas sei lá... Se eu fosse gay eu o comeria de certeza. Até que Matheus de longe gritou "Tranzão vamos logo, tem umas gatinhas filés ali". Quando de uma vez por todas Kaik saiu. Eu meio abestalhado sentei-me na minha cadeira, colando o fone do ouvido e embarcando num mundo só meu. Onde eu já desejava Kaik loucamente na minha cama. Foi quando me toquei... Hétero totalmente eu não sou, bissexual quem sabe. Problemas nisso? Ah, fala sério... Estamos no século vinte e um! Mas essas coisas nunca haviam passado pela minha cabeça... Mas sabe quando a gente aciona o botão do foda-se para o problema? Poiser.
Achei o cara presença e é isso.
Aos poucos fui conhecendo minha turma, onde se destacava Bárbara, uma loira linda que me remetia à ideia da Barbie. Tinha Eduardo, o inteligente. As meninas inseparáveis, Gabriella, Yanka, Luenda e Tália. E os dois amigos que vocês já conheceram Kaik e Matheus.
A primeira semana passou rápido. Aos poucos a turma se unia. Foi num dia de garoa fraca, descendo do ônibus que as coisas começaram a mudar...
- Vem Caio, não vou deixá-lo se molhar! Vem pra cá... - Era Kaik com uma sombrinha preta com detalhes prateado. Sem escolha, fui.
- Obrigado! - Agradeci já melhor coberto. E ele soltou...
- Seu perfume é...
E o interrompi...
- O que foi achou forte?
E ele respondeu...
- Não, achei perfeito!
Um arrepiou passou pelo meu corpo. Era como se um choque tivesse atingido minha área mais sensível, a nuca. Um misto de prazer anormal com a resposta dele, eu senti.
Olhos nos olhos, eu percebi... Aquele cara branquíssimo, dos olhos azuis e corpo perfeito. Havia roubado minha masculinidade, pois eu podia apostar que ele seria meu.
Respirações quentes e próximas... Até que num Pajero de cor prata, Matheus se aproximou nos molhando por inteiro com a velocidade absurda com que vinha.
- Vamos Kaik, entra no carro agora! - Matheus ordenou e Kaik obedeceu. Eu sinceramente não entendi isso, fiquei ali com o guarda chuva na mão, enquanto o carro arrancava a sumir de vista. Sim, o guarda chuva ficou comigo. Não, eu não sei o porquê da irritação do Matheus. E outra... Provavelmente eles não estariam indo para sala de aula, pois o carro arrancou em direção à saída do campus universitário e não ao estacionamento.
CONTINUA...
Galera essa aí é uma nova história acompanhada de um pedido de desculpas pelo sumiço. Semana que vem eu continuo "Tentativas frustradas de voltar a ser hétero". Desculpa mesmo... Mas me digam aí:
- O que acharam desse novo conto?
"Triângulo amoroso"
(Lembrando que esse primeiro capítulo foi mais apresentação dos personagens, a história em si começa no próximo capítulo). Ah, foi mal os erros de português, não deu tempo de revisar.