Continuando...
Luan teve a mesma reação de surpresa que eu, ao me ver. Acho que ele também não esperava, ficamos nos encarando.
Otávio: - Ma, esse é o...
Eu interrompi.
Eu: - Luan !
Otávio: - Vocês se conhecem já?
Eu: - E como...
Ele fez cara de quem não entendeu, Ricardo também estava sem entender a situação. O resto da noite, nas conversas, mal se ouvia eu e Luan falar, eu até ria do que ele dizia, mas não conversávamos, ao mesmo tempo eu ficava preocupado com o que o Otávio pensaria de eu não falar com seu namorado.
No nosso quarto a noite, Ricardo ficava relembrando a noite.
Ricardo: - Foi bem legal, né? Sentia falta de fazer essas coisas sempre como antes.
Eu: - Nem fale.
Ricardo: - Qual o lance com aquele Luan hein?
Eu: - Você percebeu é?!
Ricardo: - A pergunta é quem não percebeu, lindo.
Contei a ele toda a história, ele não ficou bravo, mas também não estava alegre.
Ricardo: - Você ainda tem algum sentimento por ele?
Eu: - nada.
Ricardo: - Tem certeza lindo?
Eu: - Absoluta.
Era verdade, não rolava mais o que era antes, eu havia superado já. Luan meio que passou a fazer parte do grupo, ele me respeitava e eu o respeitava, em uma conversa que tivemos, deixei claro a ele que passado é passado, que ambos mudamos e etc. Ele concordou e disse que estava muito feliz com Otávio.
Otávio me disse que estava procurando um apartamento pra ele, eu fiquei meio chateado, eu já estava apegado nele também, eu não gostava da casa vazia. No começo eu não gostei da ideia dele morar lá, mas depois passei a gostar. Com o Bruno foi a mesma coisa, ele ficou conosco entrou em nossas vidas e depois se foi, eu sou muito dramático eu sei, mas era assim mesmo, eu ia sentir muita falta dele.
Na primeira quinta-feira de fevereiro, Ricardo chegou em casa da academia e ficamos conversando no quarto.
Ricardo: - Eae lindo, como ta o nosso filhão?
Eu: - Tá bem né, olha quem cuida dele, tem alguém melhor?!
Ricardo: - Não tem. Lindo, queria te falar uma coisa.
Eu: - Lá vem, você vai ser pai de novo?! – Disse brincando. Agora eu já podia brincar com a história.
Ricardo: - Não bobo. É que vai ter um congresso em Portugal e eu acho que seria muito bom se eu fosse sabe?... Mas se você achar melhor eu não ir, eu não vou, ou podemos ir os dois.
Eu: - Sem chance de eu ir lindo. Quanto a você a decisão é totalmente sua, não quero ser o responsável pelas suas decisões, se você acha que é o melhor pra nós e pro escritório, vai sim.
Ricardo: - Sabia... você é o melhor, vou pensar direitinho.
Eu queria que ele fosse, estava nos olhos dele que ele queria, eu também não achava certo frustra-lo, queria que ele tomasse as decisões por si só um pouco. Não queria ser o controlador de tudo. Não queria que fosse como era com o Victor.
Quando eu fazia terapia, a psicóloga falou que no meu relacionamento com o Victor, não éramos duas pessoas em grau de igualdade se relacionando. Ao invés do namorado, eu era o pai, fazia tudo que um pai ausente fazia geralmente. Trabalhava muito e dava as coisas pra suprir o tempo que não passava com ele, as decisões não eram pesadas e discutidas, eram tomadas por ele e financiadas por mim.
Não queria cometer os mesmos erros agora, queria pesar e discutir as ideias pra chegar no melhor pros dois e não no mais confortável. Eu estava usando bem meu tempo de folga pra estudar, coisa que eu não fazia muito, já que eu estava extremamente noveleiro e só queria ver as novelas da globo. Era incrível o quanto o tempo passava e Lucas já estava grande, quase quatro meses, eu tinha conseguido habituá-lo a comer raspa de frutas e suco de laranja. Como consequência o corpo dele reagia bastante, mas fazia parte. Agora ele já dormia um pouco mais,então até tinha um tempo de descanso.
Eu estava lendo e Ricardo me interrompe.
Ricardo: - Olha só, eu achando que você era um cara todo inteligente, você me decepcionou agora.
Eu: - Da licença pra eu estudar um pouco?
Ricardo: - Lindo, você tá lendo crepúsculo.
Eu: - Ué, mas quem garante que não é uma pesquisa pra uma tese sobre o mundo adolescente de hoje?
Ricardo: - Menos lindo, bem menos. Cria vergonha nessa cara.
Eu estava realmente lendo crepúsculo, na época eu até achava legal. Tava cansado de ler livros complicados em inglês, queria uma coisa agradável.
Eu: - Você devia experimentar ler de vez em quando meu amor.
Ricardo: - Eu estudei direito, te garanto que li o suficiente. Alias, eu decidi destrancar a pós-graduação no semestre vem.
Eu: - Ok.
Ricardo: - Aliás de novo, eu decidi ir no congresso, to resolvendo tudo o que falta.
Eu: - Sem problemas meu amor.
Dei um beijo nele e fechei o livro.
Eu: - Lindo, sabe... eu estava pensando...
Ricardo: - Vixi, olha lá... quanto vai custar?
Eu: - Um pouco.
Ricardo: - O que é?
Eu: - Sabe, eu tava pensando em contratar uma babá pra ajudar, não que eu não dê conta, mas seria legal ter uma mãozinha por aqui.
Ricardo: - Sem novidade lindo, eu já tinha te sugerido isso, mas você já tem alguém em mente?
Eu: - Já, a vizinha.
Tínhamos uma vizinha, que tinha acho que uns 19 anos, era uma jovem muito simpática e bonita. Eu sabia que ela era estudante de pedagogia, a mãe dela tinha me contado que era uma boa menina e muito estudiosa. Ela foi a primeira pessoa que me veio em mente.
Ricardo: - Tudo bem lindo, fala com ela, depois você me diz direitinho.
Dito e feito. Fui até lá, conversei com a mãe dela, que achou uma ótima ideia já que ela não trabalhava e queria um dinheirinho. Quando ela chegou em casa, conversamos e ela ficou empolgada com a ideia. Eles eram simples, não tinham luxo em casa, mas também não faltava nada. Era uma mulher mais velha, a mãe, a menina e um irmão de 15 anos. Como ela havia me dito que não tava fácil fazer a faculdade, que mesmo sendo bolsista precisava de grana pra condução e se manter na faculdade, talvez até dar uma ajuda na sua casa.
Em casa, esperava Ricardo chegar, enquanto assistia a novela das 8 com o Lucas, até que eles chegam.
Ricardo: - Boa noite noveleiro da minha vida.
Eu: - Ele não sabe falar ainda idiota, ele só tem 4 meses.
Ricardo: - Eu estava falando com você, engraçadinho.
Eu: - Ah tá, mas eu só assisto essa novela pelo meu filho que gosta da musica de abertura.
Ricardo: - Sei.
Ele foi tomar banho, voltou bem a tempo do fim da novela.
Eu: - Ricky, falei com a Denise. A menina, vizinha.
Ricardo: - E ela?
Eu: - Adorou a ideia, ela precisa da grana e tudo mais.
Ricardo: - Que bom. Quanto você acertou com ela?
Eu: - Então...
Ricardo: - Vixi, to ferrado, essa sua cara...
Eu: - Engraçadinho. É que assim, ela é bolsista na faculdade e tal, tava pensando em pagar a condução dela pra faculdade, um salário mínimo e meio e talvez um vale refeição?!
Ricardo: - É uma babá ou uma gerente do lar?!
Eu: - Para vai.
Ricardo: - Quanto tempo ela vai trabalhar?
Eu: - Vou acertar com ela 8 horas por dia. É muito?
Ricardo: - Não, então tá certo, pode acertar.
Eu: - È que tava pensando em outra coisa...
Ricardo: - Fala vai lindo, fala de uma vez assim eu sofro só uma vez.
Eu: - Podíamos registrar a menina pelo escritório, a gente registra como auxiliar administrativo. Assim ela vai ter mais benefícios e direitos, como convenio médico e dentário, alem de FGTS, etc.
Ricardo: - Ai ai lindo, como você inventa. Pode ser...
Eu: - Pode ser é vou pensar ou sim ?
Ricardo: - Dá no mesmo, não?
Eu: - Sim.
Fiquei muito feliz, a menina ia ter muitos benefícios. Era bom, porque assim ela trabalharia com mais gosto. Agora ela podia ir pra faculdade sem preocupação com a condução que seria paga a parte, além do Vale-Refeição, o salário pra comprar umas coisinhas pra ela e ajudar a mãe, além do convenio médico, ela ia se dar bem.
Fui até lá, contei a ela e a mãe dela como seria tudo. Elas ficaram muito felizes, mais do que eu esperava, combinamos que ela começaria no dia seguinte, de segunda a sexta das 10 as 18, faria as refeições na minha casa e iria direto pra faculdade. Aos sábados e domingos, se precisássemos dela e ela estivesse disponível pagaríamos hora extra a ela e tudo mais.
Ela deu a carteira de trabalho dela, que eu daria pro Ricardo assinar.
Agora eu passaria o dia com a Maria, a Denise e o Lucas, eu não ficaria sozinho. Otávio nem parava em casa mais.
No primeiro dia da Denise, eu expliquei a ela toda a situação, a sexualidade nossa, tudo que ela precisasse saber. Ela era uma boa menina realmente e me deixava com um bom tempo livre pra estudar e fazer o que quisesse á tarde.
Com ela ali, eu tinha uma companhia muito agradável, ela faria vinte anos no fim do ano, estava no terceiro semestre de pedagogia. Me contou que tinha um namorado, que amava, estavam juntos há 3 anos e tal. Na hora dela ir embora, como ficamos conversando muito, fui levá-la na faculdade, aproveitei pra dar uma voltinha com o Lucas.
Pelo menos agora eu teria uma ajuda e uma amiga, aquilo pra mim significava muito.
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Bom gente, ta aí mais uma parte, desculpem minha ausência é que tá meio corrido esses dias, mas assim que der posto a próxima parte. Obrigado pelos votos, e-mail e comentários, vocês tem sido incríveis comigo. Qualquer crítica e sugestão são igualmente bem vindas.
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Até mais ;)