Essa é a terceira parte da introdução, espero que vocês gostem. Procurei postar ainda hoje, para não perder a sintonia haha.
- Eu acho que no momento certo, agente deveria contar. Não vai ser fácil, mas no final eles vão entender que o que esta acontecendo entre agente é real.
Conhecendo minha família, ainda mais meu pai. Eu tinha certeza que eles iam surtar e talvez até me correr de casa.
- Eduardo e Marcos venham aqui. – A voz da minha mãe interrompia meus pensamentos.
- Estamos indo mãe.
Descemos rápido, a minha mãe me deu umas quantas recomendações e entramos no carro. A mãe do Marcos foi atrás comigo e o pai dele e ele foram na frente. Não demorou muito para chegarmos na casa deles. Era muito linda, tinha um jardim na frente e um caminho de pedras que levava até a porta da frente. Marcos me levou até a cozinha para fazermos um lanche e depois fomos para o quarto dele, porque umas irmãs da igreja se juntavam nos sábados de tardezinha para confraternizar e essa era a vez de ser na casa da dona Ivone. Entrei no quarto e me apavorei, o quarto era enorme com uma cama box casal, uma prateleira de DVDs e CDs. Nunca pensei que pudessem existir tantos cantores evangélicos.
- Que lindo o seu quarto!
- Eu te acho mais lindo. – Ele disse me olhando enquanto entravamos no quarto.
Sorri para ele que me retribuiu o sorriso.
- Eu estou apaixonado por você desde que nos falamos pela primeira vez lá na igreja. Eu realmente gosto de você, mas agora eu me pergunto se além dos nossos pais. Você estaria disposto a enfrentar Deus pelo nosso relacionamento?
- Por que você pergunta isso, Deus não é contra o que eu sinto por você.
- Como não? Não é o que ensinam na igreja?
- Não interessa o que falam sobre isso. Você quer saber qual é a única coisa que importa? - Antes que eu pudesse responder, ele fechou a porta. E me puxou pela mão até um canto do quarto, fez com que eu me sentasse num banco alto na frente dele. Pegou o violão e disse:
- É isso que eu mais gosto de fazer, e é isso que eu quero dividir contigo.
Ele começou a tocar, de primeiro achei que não conhecia a música por que com o violão ficou bem diferente. Mas ai ele começou a cantar.
(the Beatles – all you need is Love)
Love, love, love..
Love, love, love..
Love, love, love..
There’s nothing you can do that can’t be done
Nothing you can sing that can’t be sung
Nothing you can say but you can learn how to play the game
It’s easy
…
All you need is love..
Confesso que não sabia falar em inglês, mas essa música eu sabia toda em inglês e em português. Ele terminou de cantar e me beijou de novo.
- Viu o que eu disse? Se tem um presente que Deus nos deu, esse presente foi o amor e é isso que eu sinto por você e é só o que importa. – Alguns podem achar cafona, mas o que ele me disse fez eu me lembrar de tudo que eu passei até eu acabar aceitando quem eu realmente era. Eu tinha muitos conflitos dentro de mim. A minha família odiava qualquer demonstração de afeto entre pessoas do mesmo sexo, como se fosse tão errado amar alguém. Eu só conseguia sentir um desprezo muito grande por qualquer coisa que tivesse a ver com a igreja. Como eles podem ficar colocando o dedo na minha cara, falando constantemente para eu deixar de ser o que eu sou. Isso me magoava muito, mas o Marcos me ajudou a entender que era assim que funcionava. Que as pessoas estavam presas num estereótipo do que é passar por isso. Que talvez depois de tudo, minha família acabaria aceitando a mim. Não como o filho gay, mas como o filho que, independente de opção sexual, religião ou que for, nunca deixaria de amar eles.
- Espera ai, você não me disse que cantava outras músicas além de evangélicas.
- Eu só toco músicas que eu gosto, independente de gênero. Isso é o que quero fazer da minha vida. Depois que eu terminar os estudos aqui, eu quero fazer faculdade de música e você vai comigo. – Me sentia um idiota perto dele, com todo esse planejamento de vida. Eu não sabia ainda o que queria fazer da vida, na verdade ainda não tinha pensado nisso. Eu tinha 11 anos nessa época e o Marcos 12 anos, eu me surpreendia pelo fato dele fazer tantas coisas. Ele fazia curso de inglês, tocava violão, teclado e alguns instrumentos de sopro. Parecia um jovem gênio. E eu não sabia tocar nem flauta doce haha.
Conversamos muito, ele tentou me ensinar alguma coisa de violão. Foi escurecendo tão rápido que nós nem nos demos de conta. A Ivone já havia feito à janta, quando foi nos chamar para descer. Jantamos e depois fomos ver dois filmes que o Marcos havia alugado mais cedo. No segundo filme o pai e a mãe dele se juntaram a nós para ver e depois foram dormir.
Nós voltamos para o quarto, eu perguntei para ele onde ficava o banheiro. Ele me mostrou a porta no lado da grande estante no quarto dele, que eu nem tinha visto. Disse que ia tomar banho, ele disse que tudo bem e que iria tomar banho depois de mim. Entrei e fui direto para o chuveiro, tomei um banho rápido me vesti e voltei para o quarto, quando entrei ele estava deitado na cama olhando para a TV. Quando viu que eu tinha saído, ele veio até mim e me deu um beijo.
- Pode ficar a vontade, eu vou tomar um banho rápidão e volto para agente seguir conversando.
Eu me deitei na cama dele e acabei cochilando. Senti algo se movendo e abri os olhos, O Marcos já havia saído do banheiro e estava me tapando, sorri para ele que me retribuiu com um beijo na testa.
- Boa noite – disse ele se desencostando da cama e puxando um colchão que estava encostado do outro lado do quarto.
- O quê você ta fazendo? – Perguntei para ele.
- Eu vou dormir no colchão aqui no seu lado.
- Ah não vai não Marcos, com essa baita cama você não vai dormir no chão. – Ele me olha pensativo. – O quê você tá pensando? Vem logo se deitar comigo. – Ele sorri e vem na minha direção, e deita do meu lado. Eu me deito no peito dele e ele fica um bom tempo acariciando minha cabeça.
- Você é tão especial para mim, não sei como fiquei tanto tempo sem você. Ou melhor, sei sim fiquei perdido, só agora que estou aqui com você é que me sinto completo.
- Eu te amo Marcos, não interessa quanto tempo nós ficamos sozinhos sem termos nos conhecido. O que interessa é o agora que agente esta vivendo.
- Prometo que independente do que agente venha passar, eu nunca vou te deixar.
- Eu também.
Acabamos adormecendo.
Quando dormia na casa da Bianca costumava demorar a dormir e ainda me acordava durante a noite. Além da sensação estranha de acordar e não ter ideia de onde esta. Mas com o Marcos foi diferente, dormi uma noite extremamente tranquila. Acordei por volta das 8 horas, eu ainda continuava na mesma posição em que havia dormido. O Marcos estava com o rosto sereno, num sono pesado. Levantei-me da cama e fui ao banheiro para escovar os dentes e lavar o rosto. Ainda no banheiro peguei meu celular, que havia deixado no silencioso, para minha surpresa estava cheio de mensagens uma da minha irmã, três da Bianca e ainda tinha uma do Ruan.
“Não acredito que você não me contou que ia posar na casa do Marcos, estou de mal com você. Cheguei agora de manhã e a mãe disse que você tinha ido para ai, volta cedo e me conta tudo. Bjs” . Terminei de ler a mensagem da Elisandra e abri as outras.
“Onde você tá?” era da Bianca, seguida por outra. “Responde guri!”. E ainda outra. “Desisto. Me liga. Preciso falar contigo!! Bjs”.
- Nossa que desespero. Espero que seja alguma coisa importante. – Disse, quando ela atendeu o celular.
- É muito importante! Ah Eduardo eu não sei o que vou fazer. Eu estou desesperada. Nem dormi ainda. – Disse ela chorando.
- Te acalma. O que aconteceu?
- O Rodrigo, me convidou para ir à casa dele ontem. Eu fui, e ele me forçou a fazer sexo com ele.
- Eu não acredito que ele foi capaz de fazer isso com você. Onde você esta?
- Eu estou em casa.
- Ta, espera ai. Que eu já estou indo.
- Muito obrigada Eduardo, você é um grande amigo.
- Não precisa me agradecer, eu já estou indo para ai.
Desliguei o telefone e voltei para o quarto. O Marcos já estava acordado me esperando.
- O que aconteceu?
- Um problema com uma amiga. Eu vou ter que ir lá na casa dela.
- Tudo bem, espera ai. Que eu vou chamar meu pai para te leva.
- Não precisa Marcos, eu vou ligar para a minha mãe. Por que eu preciso que ela vá comigo.
- Eu posso fazer alguma coisa.
- Você pode me dar um abraço.
- Isso você não precisa nem pedir.
Ele terminou de falar e me deu um abraço, que pela primeira vez fez com que eu me sentisse seguro.
Liguei para a minha mãe, contei o que estava acontecendo e ela veio me buscar. Mas antes me despedi do Marcos e pedi desculpa por não ficar mais. Ele entendeu, e eu fui com minha mãe até a casa da Bianca. No caminho, me lembrei da mensagem do Ruan.
“ Oi primo, onde você está? Peguei uns games novos. Vem para cá, quando puder e traz o Marcos.” Ta legal, o Ruan já esta querendo dar uma de protetor de novo.
Quando chegamos disse para minha mãe esperar, que eu ia falar com ela. Liguei para a Bianca que já estava me esperando atrás da porta. Fomos direto para o quarto dela. Ela me contou tudo que havia acontecido. Que ele tinha agarrado ela, colocado camisinha e forçado ela. Eu fiquei de boca aberta, por que eu ache que conhecia o Rodrigo. No final chamei minha mãe, que entrou e conversou com os pais dela sobre o que havia acontecido.
Os pais dela prestaram queixa, enquanto eu ficava com ela. Depois dos exames e tudo, o dia foi bem difícil para ela. Ajudei no que pude, conversei bastante com ela. Ainda falei mais um pouco com o Marcos por mensagens. E depois fui passar a noite na casa da minha avó junto com a Bianca. O Ruan estava lá e também acabou ficando para posar.
O restante dos dias foram bem diferentes do que eu estava acostumado.A Bianca ficou uns dias sem ir as aulas, não via mais o Rodrigo. Ouvi falar que ele havia sido detido e estava em medida sócio educativa. Continuava indo na igreja com meus pais e via o Marcos sempre que possível, estávamos ficando cada vez mais próximos. O Ruan conheceu o Marcos e acabou entendendo que eu gostava muito dele. E a relação entre minha irmã e o meu pai não ia nada bem.
Alguns dias se passaram.
Eu estava no meu quarto, vendo umas fotos no computador.
- Eduardo, o Marcos esta subindo! – Gritava minha mãe lá de baixo.
Levantei-me e fui em direção a ele. Que me surpreendeu com um beijo dele no corredor.
- Você esta louco, já pensou se o meu pai vê agente se beijando?
- Você não me engana eu vi seu pai saindo e esta só você e sua mãe aqui.
- Você está muito espertinho!
Rimos, ele se jogou na minha cama. Enquanto voltei a ver as fotos no PC.
- O que você esta vendo ai?
- Umas fotos para o álbum de família da minha avó.
- Hum. E quando você vai ter tempo para mim.
- Eu passo mais tempo com você do que com qualquer um.
- Eu sei disso, mas não como namorado.
- Eu achei que agente fosse amigos que se beijavam. – disse mexendo com ele.
- Então vamos esclarecer isto – Disse ele se levantando e vindo na minha direção e pegando na minha mão. – Eduardo você quer namorar comigo?
- O que vocês estão fazendo? – Uma voz ecoa pelo quarto e não era a minha e nem a do Marcos.
É isso amigos, até o próximo conto. Criticas e sugestões desde que construtivas são sempre bem-vindas!