Capítulo 4
Sem falar nada, saí dali rapidão. Me arrumei no espelho tentando ver se algum sinal, alguma expressão, algum passo em falso poderia denunciar o que eu acabara de fazer. Não, nenhuma frase “VOCÊ ESPORROU OLHANDO O PAU DO TEU AMIGO” estava escrita na minha testa. Então, beleza, saí dali e fui para a sala de aula. Nem me toquei que o Lucas ficara pra trás e eu nem falei nada com ele. Bom, ele também não falara nada comigo. Então, beleza. Melhor esquecer isso e já é.
Mas eis que no dia seguinte, depois do treino, no vestiário, discretamente, Lucas me mandou um torpedo: MINHA CASA, AMANHÃ, DEPOIS DA AULA. SÓ VOCÊ. NÃO FALTE. Li aquela mensagem e senti um frio na espinha. Será que ele queria alguma coisa igual ao que fizemos no banheiro? Ao lembrar disso, meu pau subiu na hora e tive de disfarçar bem com a toalha para os caras não perceberem. Não, vai ver ele queria conversar a respeito. Vai ver ele estava tão confuso quanto eu. Bom, era isso, mesmo. Amanhã a gente ia conversar e colocar tudo em pratos limpos e esse elefante branco ia sumir do meio da sala.
No dia seguinte, as aulas pareciam se arrastar mais que de costume. A última aula então, puta que pariu, não terminava nunca. Eu não estava ansioso... nãooooo... se naquele momento alguém digitasse a palavra “ansioso” no google ia aparecer a minha foto lá. Tava dando até bandeira.
-Por que você está tão inquieto, mano? – me perguntou Tiago que sentava na carteira atrás da minha.
-Nada, mano. É que me lembrei de não ter feito um lance importante que minha mãe pediu e eu me esqueci completamente. Vou sair daqui voando pra fazer antes dela chegar em casa. – desconversei e aproveitei pra já dar um perdido nele na hora da saída.
Assim dito, melhor feito. Nem deu o sinal eu já saí em disparada rumo ao portão da escola, me despedindo de longe de todo mundo.
-Falou, Tiago. Falo contigo no msn mais tarde.
E saí correndo feito doido pelos corredores, passei pelo portão quase derrubando duas minas que tavam por ali, tomei o rumo da casa do Lucas e continuei correndo pela calçada. De repente, ouço:
-Rafa? Rafa! RAFA!
Olhei pra trás e vi o Lucas apertando passo para me alcançar. Na correria nem percebi que passei por ele. Parei, meio sem graça e recuperando o fôlego, enquanto ele chegava mais perto.
-Caramba, leke! Toda essa pressa é pra me ver?
-Não! – negava pra mim mesmo. –É que tinha que dar um perdido no Tiago e também tenho que estar em casa muito daqui a pouco, não posso demorar.
-Ah, isso eu não posso te garantir. – Lucas passou o braço no meu ombro e continuamos caminhando, falando banalidades. Confesso que estava tão nervoso e ansioso que nem lembro do que conversamos. Mas provavelmente foi algo do time e do jogo da semana seguinte. Por fim, chegamos.
-Entrae, leke. Meus pais estão viajando e chegam só depois das onze da noite. Fica à vontade, mano.
Entrei e vi uma sala muito bem decorada. Simples, mas de bom gosto. Dois sofás, um de três lugares e outro de dois. Uma TV de 29 polegadas e dois quadros nas paredes, acompanhados de algumas fotos da família.
-Vem, mano, vamo no meu quarto.
O quarto do Lucas era super arrumado. Não era grande, mas não era bagunçado como era de se esperar de um adolescente jogador de futebol - no meu, por exemplo, dava pra esconder um rinoceronte no meio da bagunça que ninguém ia perceber...huahauahau . Uma cama de solteiro no meio do quarto, ladeada por dois criados mudos, com uma cômoda de um lado e o armário do outro. Na quarta parede havia uma estante cheia de DVD’s, CD’s, videogames, bonequinhos de Star Wars e coisas do gênero. Ah, sim, tinha livros também. Rsrsrs
-Quarto manero, Lucas. Bem organizado. O meu é a maior bagunça.
-Nada, leke, dei uma ajeitada porque sabia que tu ia vir aqui. Normalmente, é a maior bagunça também. – quando ele diz isso, sinto-o se aproximando de mim, por trás.
-Então, mano, porque você me chamou aqui, sozinho? – viro-me de frente pra ele, olhando naqueles olhos cinzas que me hipnotizaram dois dias antes.
-Ah... – ele meio sem graça – pra gente trocar uma ideia... e...
-OK. – sentando-me na cama dele sem cerimônia alguma – Do que você quer falar?
-É... – percebi que ele não esperava por isso. Ele se afastou em direção à janela e ficou olhando pra rua.
-O que foi que rolou naquele banheiro antes de ontem, Lucas? – disparei à queima-roupaÉ disso que você quer falar, não é?
-...
-Lucas?
-...
-Espera aí, você não quer falar porra nenhuma, não é? Você me chamou aqui porque queria repetir aquela parada, sem falar nada. Uma coisa silenciosa, sem conversa, sem entender o que está acontecendo, sem se explicar. É isso?
-...
-Responde, porra!!!
-EU GOSTEI PRA CARALHO!!! – Lucas se vira gritando pra mim. Levo um puta susto e dou um pulo da cama. – Eu gostei do que rolou. Não entendo o que aconteceu. Não gosto de homem. Gosto de mina. Gosto de buceta. Muita buceta. Mas aquilo aconteceu sem mais nem menos. Não foi planejado. E foi mútuo, eu sei. Você também gostou. Você gozou um monte. E antes de mim. – Ele se desesperava em sua confissão e tentava arrancar uma de mim também para não se sentir inferiorizado. Afinal de contas, ele era o capitão do time de futebol, o cara mais popular da escola, o garanhão pegador.
---CONTINUAOlá, galerinha da Casa.
Aqui está a quarta parte da saga do Rafa. Espero que continuem interessados. Aproveito para agradecer os comentários e as notas, é muito legal receber feedback tão positivo. Obrigado, mesmo!
Até a próxima.