O Diário
Capítulo dez - Encontros e desencontros
Estava voltando de mais um dia cansativo, vinha ouvindo minha banda favorita no som do carro, eu tenho mania de cantar acompanhando a cantora e juro que muitas pessoas já me taxaram de louco quando veem a cena, mas sabe de uma coisa, danem-se as pessoas e suas mesquinhices, o importante é ser feliz, bom voltando a história, cheguei ao meu prédio umas 20h00min horas e chegando na portaria o porteiro me avisa que um rapaz havia me visitado na tarde daquele dia, perguntei-o se ele sabia o nome do indivíduo e sua resposta provocou um arrepio na minha espinha, "Leonardo" foi sua resposta.
Um monte de coisa me veio à cabeça com aquele nome, e tudo se repetiu em minha mente, desde os passeios nas tardes de domingo, até o baile, a escola, o funeral. Despertei daquele transe com o porteiro me perguntando se estava tudo bem, respondi com um monossilábico sim, e ainda meio desnorteado entrei no elevador.
Passei a noite em claro, existem várias pessoas com esse nome, não poderia ser o mesmo, mas e se fosse, eu estava muito preocupado com o que poderia tê-lo levado a me procurar depois de tantos anos, quando percebi lágrimas descendo pela minha face, decidi que deveria dormir, tomei uma bela dose de calmante e apaguei, sonhei com ele, era incrível como isso ocorria sempre que pensava nele. Acordei alguns minutos atrasado, me arrumei e corri para a garagem, tropecei e deixei cair uns papéis, espalhando-os pelo chão, perdi algum tempo juntando-os, por fim sai a caminho do trabalho, mas aquele definitivamente não era meu dia, o trânsito estava um caos, e me atrasei, cheguei ao hospital e entrei em alta velocidade, cumprimentei a todos, e a moça da portaria fez que ia falar comigo, mas não ouvi o que ela disse, pois estava praticamente correndo. Eu vinha apressadamente pelo corredor, quando avisto um homem de costas, alto, com costas largas, cabelo preto cortado bem curto, de camisa preta um pouco desbotada, calça jeans clara, que corpo, não sei o que deu em mim, me excitei, que corpo lindo, que costas, cintura, e as pernas, Ah, eu precisava sair dali depressa, mas algo me chamou atenção, aquele corpo me lembrava algo familiar, meio que magneticamente, eu estava andando a caminho do rapaz, mas como vocês sabem,aquele não era meu dia, meu pé me traiu e eu tropecei, deixando minha pasta cair no chão, nossa, sentia meu rosto queimar de vergonha, me levantei rapidamente, peguei minha pasta e por reflexo olhei para o rapaz, que havia se virado devido ao barulho, ele sorria, mas aquele realmente não era meu dia, o sorriso do rapaz era perfeito, mas eu já conhecia aquele sorriso,e aqueles olhos verdes então, eles já me roubaram muitas lágrimas, o dono deles, Leonardo, estava vindo em minha direção.
-você se machucou? - me perguntou
-Não- Respondi, por sorte estava de óculos escuros, assim ele não veria o tão confuso que minha mente estava.
- Eu sabia que te encontraria aqui Felipe.
-O que você quer?- perguntei secamente.
- Meu pai está doente, câncer no esôfago, eu vim acompanhá-lo, pois ele não tem ninguém além de mim- notei uma pontada de tristeza em suas palavras.
-Nossa, e sua mãe?
- Eles não estão juntos - Me respondeu.
-Não se preocupe Leonardo seu pai está nas mãos de ótimos profissionais, agora, se me der licença, estou atrasado.
-Felipe...
-Fala...
-Esquece...
-Minha especialidade.
Essa última, eu não resisti e falei, me virando e seguindo meu caminho, estava orgulhoso de mim, o Felipe de outrora, gaguejaria ou deixaria lágrimas fujonas rolaram sua face. Mas eu não fiz isso, fiquei meio desconcertado com tudo aquilo, e uma dúvida me veio à cabeça, porque ele teria me visitado? Naquela altura seria muita coincidência se fosse outro. Sabe, gostaria de dizer que o dia correu normal a partir dali, mas não foi bem assim, era umas 16h00min, tinha acabado de atender um paciente, quem me aparece? Meu ex- sogro:
-Boa tarde, doutor.
-boa tarde seu Wilson.
-Eu te conheço de algum lugar?
-sim, sou Felipe Dias, filho do João.
-Não pode ser! Como você está diferente!Trabalhando de médico, desse jeito já deve ter tomado juízo e arrumado uma mulher!
-Não, felizmente eu continuo do mesmo jeito, só que aprendi a aturar pessoas como o senhor!
-ENTÃO EU NÃO QUERO UM VIADO ME ATENDENDO, ISSO É UMA FALTA DE RESPEITO.
-Não misture vida pessoal com o trabalho, aqui nessa sala, eu sou apenas um médico e você meu paciente, só vou pedir uns exames, sequer tocarei no senhor, mas saiba que eu tenho todo o direito de processar o senhor pelo que acabou de fazer- Falei e notando sua preocupação completei- Mas, não se preocupe; Como lhe disse, já aprendi a aturar pessoas como o senhor. Se não se importa, já pode se retirar aqui está a lista de exames que precisa fazer.
-Mas você sequer me examinou!
-São exames de procedimento, precisamos deles antes de começar seu tratamento.
-Quando fez isso?
-Enquanto conversava com o senhor, sabe Wilson, eu gosto de eficiência no meu trabalho.
- Estou vendo, seria um bom médico, pena que é boiola.
- Guarde sua opinião para si, agora se me permite, retire-se, tem mais pessoas lá fora esperando para serem atendidas.
Ele saiu sem se despedir.
No final do meu expediente fui chamado na sala do diretor, ele me pediu desculpas pelo constrangimento, desculpei-o e o agradeci por se preocupar, passei na pediatria como fazia quando estava triste, tinha um garotinho chorando, fiquei conversando com ele, quando adormeceu fui embora, aquele dia atípico precisava ser descarregado de alguma forma, então, na academia, descontei toda minha raiva nos pesos, malhei o dobro do que costumava. Depois fui para a praia, a noite estava clara, era lua cheia, linda por sinal, fiquei na praia um bom tempo pensando no passado, liguei para meus amigos e pedi para que me visitassem em meu apartamento no dia seguinte, por sorte nenhum tinha plantão.
O dia seguinte correu normal, acabando o trabalho, fui para casa, e uma hora depois meus amigos chegaram juntos, naquela noite fiquei sabendo que o Henrique iria embora. Fiquei triste, afinal meu melhor amigo viajaria pra longe, mas era uma ótima oportunidade de emprego para ele, o que me confortou.
O sábado foi cansativo, trabalhei durante o dia e fiz plantão à noite, logo, passei a metade da manhã do domingo dormindo, acordei com o toque da capainha, quando fui atender, ainda de cueca, recebi uma surpresa, minha mãe e meu pai.
Abracei meu pai, fazia três anos que não fazia aquilo, chorei muito. Depois de me acalmar os levei até o quarto para que tomassem banho, pois iríamos almoçar juntos. Fomos a um restaurante de frutos do mar que eu adoro, conversamos muito sobre tudo, era estranho estar ali, com os meus pais, juntos, eles faziam um belo casal. Por fim, damos uma volta pela cidade e voltamos para casa, tomamos banho, e fomos para a sala. Meu pai me olhava sério, minha mãe tinha um ar de assustada / ansiosa. Ficamos algum tempo nos olhando até que meu pai quebra o gelo:
-Meu filho, nós temos um pedido sério a te fazer... –ele me falou
-Queremos que você pense com cuidado antes de responder- Minha mãe completou
-Não queremos que se magoe com o que vamos te pedir.
-Promete que vai pensar...
-Tudo bem gente, mais fala logo, estou ficando assustado!
Então - meu pai começou- Nós sabemos que você sofreu muito e que ele te fez muito mal, mas sou eu, seu pai que está te pedindo. O Wilson se separou da sua mulher, e acabou perdendo quase todos seus bens, agora descobriu que está doente, a mulher não quis saber, não vai ajudá-lo com nada, o dinheiro que sobrou depois da separação, ele pagou a faculdade do Leonardo, então os dois estão aqui hospedados sem muito dinheiro para pagar algum hotel, o tratamento já vai sair caro, então, sua mãe e eu queremos que você aceite nosso pedido.
-tudo bem eu pago o hotel para eles- Falei
Não Felipe - agora minha mãe que falava- é muito caro pagar um hotel, queremos que você o acolha aqui, em seu apartamento, pelo menos até as coisas se resolverem.
-Aquele senhor me humilhou duas vezes e vocês querem que eu o ajude, nem pensar- falei enfurecido.
-Não é o Wilson, é do Leonardo que estamos falando. – minha mãe concluiu.
-Não acredito que vocês estão me pedindo isso!- eu estava indignado.
-Você prometeu que ia pensar, e além do mais, ninguém quer que você case-se com ele, é só hospedá-lo aqui, durante o tratamento do pai dele. – Disse meu pai.
-É verdade, eu conheço você, sei que você gosta de ajudar as pessoas, se coloque no lugar deles. – minha mãe falou.
-Veja bem, eu não estou com cabeça para decidir isso agora, depois lhes dou minha resposta. - Falei já me levantando.
-Tudo bem- Ambos me responderam.
Quando me deitei, fiquei pensando em que decisão tomar, resolvi que apesar de tudo, os ajudaria.
Acordei na segunda sentindo cheiro de café da manhã pronto, chegando à cozinha, vi meus pais sentados me esperando para tomarmos café. Como aquilo fazia falta, ter o café já pronto assim que acordar, além do mais minha mãe tinha mãos de fada na cozinha. Despedi-me deles já que partiriam antes que eu chegasse do trabalho, e fui para o hospital, tristonho por não sabia quando os veria novamente. O dia passou depressa, e fui para academia e em seguida para casa. Jantei e me deitei, quando estava pegando no sono, alguém toca a campainha (naquela hora me deu vontade de quebrá-la), estava de boxer, me enrolei com um lençol fino, que usava como cobertor, e fui atender a porta, quase caio para trás, desviei meu olhar, quando vi o Leonardo passar por ela, ele estava de regata branca, bermuda e chinelo, fechei a porta ainda paralisado, e quando me viro, ele me surpreende com um abraço.
-Obrigado, mesmo, você não sabe o quanto está me ajudando.
Sentir seu perfume entrar pelas minhas narinas depois de certo tempo, me fez perceber que aquilo não seria tão fácil como eu imaginara.
CONTINUA...
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Oi pessoal, ai está mais um capítulo, obrigado pelos comentários na postagem anterior, fico muito grato por saber que estão gostando da história, os próximos capítulos prometem, me desculpem por qualquer erro nesse, peço que comentem e votem, para que eu saiba se estou agradando vocês, beijo do Dr. D.