• 7 – A casa não é um lar
Os três dias no hospital passaram-se mais rápido do que Eu imaginara. Tentava distrair o Walmir com todas as armas que tinha; por mais que não fosse permitido, caminhávamos pelo hospital, visitávamos os outros pacientes, conhecemos pessoas maravilhosas, comprei uma pizza no Habbib’s e tive de escondê-la para não reclamarem conosco, tentei leva-lo ao Shopping, porém não tinha a permissão de fazer isto. Pode parecer estranho, mas Eu estava adorando toda aquela situação. Estar perto de Walmir me fazia feliz.
Walmir recebeu alta por volta das 10h30min. Dr. Carlos entregou-me uma receita e disse que se Eu não quisesse voltar para o hospital deveria seguir o que a receita instruía.
Descemos pelo elevador e fomos em direção ao carro. Antes que Eu pudesse abrir a porta, Walmir agarrou-se em meu braço e abraçou-me. Sua cabeça ficava encostada em meu peito, mesmo com ele na ponta do pé, e Eu aproveitara o momento. Quando ele fez menção de sair do abraço, puxei-o para perto de mim e dei-lhe um beijo; tão demorado, bem quente, romântico. Se não estivéssemos naquele lugar, pegaria ele de qualquer jeito, a qualquer preço. Claro que ele teve de lutar para sair de meus beijos, mas Eu queria tê-lo ali mesmo e não mediria esforço.
Quando o deixei sair do beijo ele pôde falar:
– José... Aqui não!
– Eu estava com saudades do seu beijo, já que não podíamos demonstrar nenhum tipo de afeto no hospital...
– Eu sei. Eu também queria muito... Na verdade Eu ainda quero. Mas não aqui. Não agora.
– É. Então vamos logo à casa de praia.
– Nós precisamos conversar. – Ele falou mudando seu tom de voz e abaixando a cabeça.
– Pode falar amor. – Disse, puxando seu queixo para cima. – Eu vou ouvir.
– Não quero voltar para aquela casa. É muito legal, por mais que Eu não tenha aproveitado. Mas não quero voltar.
– E pra onde vamos? – Falei sem perceber os motivos. Logo depois me toquei. – Droga! Desculpe-me! É que Eu não planejara isso. Eu pensei em passar as férias em um lugar especial, mas pelo visto Eu estou estragando tudo.
– E quem disse que não vamos passar em um lugar especial? – Ele falou com um sorriso.
Não consegui responder nada. Esperei ele concluir.
– José, o Festival de Inverno em Garanhuns está acontecendo.
– Eu sei, mas...
– Eu tenho uma casa em Garanhuns. É pra lá que vamos... Se você quiser ir. É claro.
– Então vamos pra lá. – Falei triste. Eu adoro praia.
– E só nós dois estaremos lá.
Entrei no carro apressado sem que ele falasse mais nada. A frase “E só nós dois estaremos lá.”, mexeu com minha cabeça. Não só com a cabeça, mas com todo o meu corpo.
Na viagem, pus um CD de Som de Barzinho com faixas em MP3 de Alcione, Fagner, Kid Abelha, entre outros. Walmir como sempre foi cantando todas as músicas e Eu o acompanhava a cada refrão. O garoto realmente nasceu para ser uma estrela. Na escola ele canta, dança e até faz encenações. Não tínhamos aulas de teatro, mas se tivéssemos com certeza ele estaria envolvido. Walmir nasceu para fazer esse tipo de coisa.
Ainda na estrada fiz uma ligação para Dona Suzana para avisar que tudo corria bem. Pela primeira, depois de ter entrado naquele hospital, Walmir falara com sua mãe. Ele falou sobre nossa “mudança de rumo” e pediu para que sua mãe mandasse roupas minha e dele, pois só havia seis peças de roupa para cada um e nenhuma era roupa de sair. Logo em seguida ligamos para Plinio, Marcos, Sofia e Pedro, contando-lhe tudo o que ocorrera. Não quis ligar para meu pai. Ele ainda estava viajando com sua nova esposa, a Silvia – Um amor de pessoa.
Depois de horas de viagem chegamos a Garanhuns. Nunca havia visitado aquela cidade, apenas ouvira falar. Ela estava linda. Havia várias flores por toda a praça. Pode-se dizer que o lugar era muito romântico. Perfeito para a ocasião. Não vou me fazer de bobo, sei muito bem que quando se traí, a parte traída se sente insegura. Era minha chance de conquistar toda a confiança que Eu perdera de Walmir.
Chegamos a casa. Não era grande. Não tanto quanto a minha ou a do Walmir. Era aconchegante. Tinha três quartos (Dois eram suítes), a sala, a cozinha, o banheiro social e o banheiro que ficava próxima ao quintal.
Subimos para o quarto e guardamos o pouco de roupa que tinha. Tomamos banho e nos trocamos; claro que Eu optei por tomarmos banho juntos, mas ele não quis. Oh garoto difícil! Deitamos na cama de casal e dormimos abraçados.
À noite, chegaram as nossas roupas. Dona Suzana mandou um de seus motoristas para entregar. Walmir ainda dormia. Como um anjo. Até hoje me pergunto como um garoto tão meigo, lindo, delicado (Às vezes até demais) como ele, pôde ter se apaixonado por um homem arrogante como Eu. Por volta das 22h00min, Walmir acordou. Tomamos banho e fomos curtir a festa que estava acontecendo na praça. Foi tudo muito legal. Tocou muito forró, mas Eu e o Walmir não poderíamos dançar alí; não é preconceito, é apenas respeito, Eu e ele não demonstramos afeto em público.
Passavam-se das 03h00min quando chegamos a casa. Deitamos na cama duros de sono. Mas ainda assim Eu queria conversar. Eu precisava conversar. É certo o Walmir estar magoado, mas ele sabia que Eu amo praia.
– Walmir? Posso perguntar algo pra você? – Falei sério.
– Sim. – Ele falara me abraçando.
– Por que não quis voltar pra casa de Xaréu? Pensei que estávamos bem.
– José... É complicado. Eu não tenho argumentos... Não bons argumentos.
– Mas, por favor, tente me explicar!
– Eu amo você. – Ele me deu um beijo na bochecha. – Eu perdoei você. – Deitou-se por cima de mim. – Mas Eu não me sinto bem naquela casa.
– Mas por quê? – Perguntei quase gritando.
– Porque quem é traído continua magoado.
– Mas você disse que estávamos bem.
– E estamos. Mas Eu não me sentiria bem naquela casa. – Virei o rosto reprovando sua resposta. Sua mão puxou meu rosto fazendo com que Eu olhasse fixamente para ele. – José, escute-me! – Ele parou por alguns segundos, respirou e voltou a falar. – A cadeira será sempre uma cadeira quando não há ninguém para se sentar. Mas uma cadeira não é uma casa e uma casa não é um lar quando não há alguém para abraçar. – Ele sorriu para mim e continuou. – Naquela casa Eu me sentia bem, porém me sentia só. Aquela casa não é um lar. Estar com você aqui tornou essa casa um lar. Não vamos estragar nossas férias. Apenas me entenda, por favor!
Eu entendera toda a situação a partir desse momento. Eu não percebera o quanto Eu o fiz sofrer. Na casa de praia mal trocamos conversas, mal nos olhávamos. Meu foco estava em outra pessoa. Eu agora entendera tudo, e não iria estragar meu momento. Nosso momento. Com aquelas palavras Walmir me fez enxergar o que estava diante dos meus olhos e Eu não vira.
Beijei-o e dormi, com ele encima de mim.