• 17 – Erguendo novos muros
Eu já estava acostumado a acordar, todos os dias, por volta das 04h40min. Nesse dia não foi diferente. Beijei a face do meu amado, pus a minha roupa (Pois só havia dormido de cueca) e fui fazer minha caminhada. Ao terminar não quis voltar a casa dele, então fui direto para a minha. Cheguei por volta das 05h30min. Papai e mamãe já estavam acordados. Então o “show de perguntas” começou:
– Onde você estava e por que chegou essa hora? – Minha mãe falou quase cuspindo fogo.
– Eu aposto que foi com o tal de José. – Falou meu pai com um ar de reprovação. – Garoto abusado!
– Não fala assim do meu namorado! – Eu falei em tom de ordem.
– Não fale assim com seu pai! – Minha mãe falou em tom grosseiro. – Quem você acha que é? Que modos são esses?
– Mas mãe... – Falei fazendo beicinho.
– Filho entenda... – De raiva sua expressão passou para “mãe consoladora”. – Eu e seu pai estávamos preocupados. Você ainda é menor de idade. Ligamos para o seu celular, mas você o havia deixado em casa. E se você não estivesse com José? Como saberíamos se estava bem ou não?
– Esse José é um garoto irresponsável. Pode até ser maior de idade, mas não deixa de ser irresponsável.
– Pai? – Fiz uma cara de desconsolado. – O José me tratou bem. E fui Eu quem esqueci o celular, não ele.
– Mesmo assim! Aquele garoto já vai fazer 19 anos e não tem um pingo de responsabilidade para contigo. Nem um recado ele deixou.
– Pai! O fato de Eu ser menor de idade não quer dizer que Eu não possa me cuidar. Por favor, confia em mim!?
– Okay! – Meu pai disse e falou sério. – Vá para o seu quarto, tome banho e desça pronto para tomarmos café e irmos para a sua escola! Prometo que não vou falar com o José. Se resolvam!
– Sim senhor! – Falei num tom de brincadeira batendo continência com a mão esquerda. Eu sou um desastre.
Subi para o quarto e fiz o que meu pai mandou.
...
Ele me deixou na escola e partiu. Como sempre fazia todas as manhãs.
Entrei radiante na sala, sentei ao lado de José. Ele me abraçou e me beijou na frente dos que estavam presentes. Essa cena já havia virado algo corriqueiro na escola. Ninguém se importava da minha relação com José. Somente as meninas, claro. Aquelas galinhas oferecidas que ficavam dando em cima do que era meu.
Na hora do intervalo, José sentou-se a mesa dos jogadores e Eu a mesa dos nerds. Só que uma coisa muito estranha aconteceu: Sofia sentou-se ao meu lado. Ela chegou com um sorriso estampado na cara beijou-me a bochecha, cumprimentou os que estavam presentes na mesa e começou a falar:
– Acho que você está achando estranha essa mudança de comportamento...
– Engraçada seria o mais certo. – Falei rindo um pouco.
– É que Eu tinha que te agradecer pelo o que você fez comigo. Na boa? Você é, de longe, o melhor e talvez único amigo que Eu tive.
Fiquei congelado olhando para ela. Então ela concluiu:
– Todas as pessoas que se aproximaram de mim, queriam alguma coisa em troca. Umas queriam uma falsa amizade. Outras queriam apenas passar boa impressão. E outras... Outras queriam apenas usar meu corpo. – Uma lágrima caiu em seu rosto.
– Sofia... Para! – Fali em tom de súplica. – Não precisa dizer isso pra mim. Eu sei que é difícil. Eu vou te ajudar. E se precisar de um amigo estarei aqui. Pode contar comigo. Eu não vou cobrar nada em troca.
Sofia me abraçou e Eu retribuí.
Ficamos jogando papo fora enquanto lanchávamos. Do nada me deu vontade de olhar para a mesa dos jogadores e uma visão... Uma puta visão, literalmente... Fez-me soltar um rosnado. Sofia virou-se para a mesma posição em que Eu olhara e se deparou com a cena: José sem camisa e Karen (“Amiga” de Sofia) uma das animadoras de torcida sentadas em seu colo. Então, possesso de raiva. Eu comecei a conversar com Sofia:
– Sabe o que é engraçado? Essas garotas se passando para ficar com José. Como se elas não soubessem que ele é gay.
Sofia olhou para mim e balançou a cabeça em um não:
– José pode ser tudo... Menos gay. O único menino que ele beijou foi você e um carinha terceiranista do ano passado. A única diferença é que com o carinha foi só um trote do José para descobrir a sexualidade dele e com você há sentimento.
– Como assim, José não é gay?
– O fato de ele estar com você não quer dizer que ele seja gay. Ele pode até ser Bi. Porém, você foi a única pessoa que despertou tais sentimentos nele. A sexualidade de José é uma coisa definida. Ele gosta de mulheres, mas ele ama você.
– Isso não justifica o fato de ele estar com uma animadora de torcida em seu colo. Desculpe-me Sofia pela grosseria, mas Eu tenho que ir. Estou indo para sala.
Sofia não sabia o que fazer e com um ar de indignada gritou:
– Karen! Sai do colo de José agora!!! – E então me seguiu até a nossa sala.
Eu estava desconsolado. Eu chorava muito. E Sofia foi o único ombro amigo que Eu tive naquele momento. Enquanto um relacionamento ameaçava desmoronar, uma nova amizade era construída alí.