• 3 – Tirando satisfações
Três dias se passaram e nada de José aparecer na escola; Eu não havia o procurado, porém estava morrendo de preocupação com tal situação. Nesses três dias muitas coisas aconteceram: Acácio fora aceito como animador, Plinio e Sofia viviam felizes da vida pelos corredores, um auditório fora inaugurado na escola e houve a troca de dois professores de educação física (Um para esportes e outro para a dança).
O sinal soou anunciando o intervalo, Eu estava tão desconectado do mundo que nem percebi quando Marcos me pôs em seu ombro, lembrando-me o José e me fazendo chorar... Um pouco.
Estávamos todos no refeitório, agora Eu começara a sentar-me à mesa com o Marcos, Plinio, Acácio, Sofia e Celina (Também bolsista que entrara no meio do ano junto com Acácio. Celina era linda, branquinha dos olhos cor de mel e ruiva. Tinha um censo de humor fora do comum. Ria de todas as piadas e nos fazia sorrir também).
– O que diabos está acontecendo com você meu amigo? – Perguntara Celina preocupada.
– Não é nada Cel. – Falei triste, com uma voz rouca e abalada.
– Como não é nada Walmir? A culpa é toda do José, Cel. – Afirmara Sofia.
– Isso não é verdade! – Falei exaltado.
– Na verdade é sim meu anjo. – Respondeu Acácio com uma voz calma mexendo com o canudo em seu suco. – Eu até te chamei pra uma festa e você recusou. Fazendo o que? Esperando uma ligação do José. Entende-me agora porque Eu sou o que sou?
– Uma vadia? – Perguntou Marcos com olhar de deboche.
– Sim, uma vadia. Sabe por que sou assim?
– Porque você é um desesperado? – Eu não entendia a implicância de Marcos para com o Acácio, mas deixei a confusão rolar para ver até onde a conversa chegava.
– Eu não sou desesperado. Apenas gosto de me doar. Eu sou como sou porque não quero depender de nenhum homem. Não quero sofrer por homem.
– Isso só mostra o quão mal amado você é. – Marcos conseguia tirar o Acácio de si.
– Eu não sou mal amado! Qual é? Quando era com a Sofia a história era diferente.
– Não me mete nisso! – Sofia falara revoltada e Plinio apenas ria de toda a confusão.
– Sorry girlfriend! É que fico revoltado com esse idiota e sei que você não tem nada haver com isso. Só quis dar um exemplo. Desculpe-me. E Eu não sou mal amado, Marcos. Para a sua informação, estou saindo com um cara muito lindo de 32 anos chamado Roberto.
– Você o que?! – Indaguei surpreso. – Você é louco, Acácio. Louco!
– O amor não tem idade.
– Não me venha falar de amor, Acácio. Você não ama nem a si. Está com um cara mais velho. Aposto que, mesmo antes de conhecê-lo, você já havia dado para ele.
– Você mesmo diz que o amor se constrói com o tempo. Eu tive que dar para ver onde ia dar. Estamos ficando há... – Nessa hora ele fez uma pequena pausa e olhou para seu relógio. – oito horas.
– Você é muito fácil. – Marcos mais uma vez debochara da cara de Acácio.
– Sou tão fácil que você ainda não conseguiu me pegar. – Fiquei impressionado com as palavras de Acácio. Será que o Marcos já tentara alguma aproximação? – Eu nunca vou ficar com você. – Ele exaltou sua voz na palavra “nunca”, dando-lhe ênfase.
– Desculpem-me! Mas Eu estou indo para a sala. Não me sinto bem. – Sofia falara apertando a mão em sua boca enquanto saia correndo.
– Minha amiga não tem distúrbios alimentares, logo... – Olhei para Plinio o encarando. – Plinio?
– A gente só fez sexo sem segurança duas vezes. Nem vem.
– Uma vez já é o suficiente. Eu espero estar enganado, Plinio. – Sai em direção ao banheiro feminino.
Fiquei esperando por cinco minutos do lado de fora do banheiro, logo a porta se abriu e Sofia estava com a maquiagem retocada.
– Está tudo bem amiga? Algum problema.
– Sanduiche de atum. Eu já disse a minha mãe que odeio comida de gato. Meu sanduiche é feito com salada e peito de frango desfiado.
– A tá. Pensei que fosse algo sério.
– Não é nada de mais.
– Vou para a sala. Chama o pessoal, tá?!
– Vai lá. Daqui a pouco chegaremos lá.
Subi para a sala e comecei a me preocupar com duas coisas a mais: Além do paradeiro de José, Eu me preocupara com Acácio e seu romance com um cara bem mais velho que ele, e também com a Sofia e seu enjoo. Eu queria estar errado sobre tudo.
Meus amigos entraram em fila indiana cantando pi uí tá tá tá. Nem preciso dizer o quanto aquela cena estava ridícula. Além do mais, nada me alegrara. Percebi que meus amigos haviam notado minha tristeza. Eles tentavam, porém nada ocupava minha mente. A aula de química passou rápida e logo depois veio a de inglês. Não estava a fim de fazer nada, porém meus amigos posicionaram-se frente à sala e me convidaram para cantar. Não recusei o convite mesmo estando de “mau-humor”.
– Qual música vocês cantarão? – Perguntou a professora, que, assim como Eu, esperou por pouco tempo uma resposta.
– How Will I Know. – Fiquei impressionado com a resposta de Acácio. Realmente, o garoto me conhecia bem.
A maior parte da música fora um dueto meu com o Acácio acompanhado de voz do fundo das meninas (Sofia e Celina), como não havia instrumentos, fizemos uma canção a capela. E Eu fiquei impressionado com a voz do Acácio, ele era um tenor e parecia ser bem treinado, mas, depois que cantamos e fomos aplaudidos, descobri que ele nunca havia frequentado aulas de canto.
O resto da aula de inglês foi sobre diálogos e discursos, quase todos dominavam o idioma.
12h00min o sinal tocara anunciando o termino das aulas. Papai ligou para mim avisando que iria me buscar, porém recusei a carona. Eu estava prestes a tirar satisfações com o José.
...
Eu não queria estar sendo enganado por uma pessoa que Eu amo. Pois bem, Eu não aguentaria mais uma traição.
...
Entrei pelo portão da enorme mansão sentindo-me um pouco nervoso e ao mesmo tempo aliviado; nervoso, porque não estava preparado para ver qualquer tipo de cena que me constrangesse. Aliviado, porque depois desses quatro dias iria ver, novamente, José.
Toquei a campainha da entrada principal e Silvia veio me atender; Silvia estava linda como sempre: Seus cabelos compridos e pretos passando dos ombros e agora ela trajava um vestido preto até os joelhos, mostrando um pouco de suas pernas. Silvia era, com toda certeza, a mulher mais bonita que Eu já havia visto pessoalmente, mesmo tento a idade que ela tinha... 37 anos.
– Walmir?! – Ela falou surpresa. – Não esperava ver-te aqui.
– Preciso falar com o José, Silvia.
– Eu não sei se o José pode falar com você.
– Como assim? Ele é meu namorado, esqueceu?
– A questão não é essa. O José te ama, porém agora ele está envolvido em algo grande e não sei se seria bom você frequentando a casa.
– Silvia? Você está me dizendo que não sou bem vindo aqui?
– A questão também não é essa, porém, acho que, no momento, você está no lugar errado.
– Eu preciso ver o meu namorado. – Falei triste olhando para o chão.
– Não force a barra, Walmir! Você o verá o mais breve possível. Porém... Não agora. Peço que se retire, por favor!
– Eu não acredito nisso, Silvia... – Antes de Eu falar qualquer coisa, ela bateu a porta em minha cara.
Fui o caminho inteiro chorando e com uma dor de cabeça miserável. Será que Eu havia feito algo de errado para aquela família? Eu não encontrava resposta para essa pergunta. Há quatro dias Eu e José estávamos tão bem. E Eu não podia acreditar que ele não queria me ver. E vê-lo, para mim, era uma necessidade.
Na volta para o caminho de casa, fiquei pensando em vários jeitos de trazê-lo para perto de mim, mas Eu via que todos os planos eram falhos e inconsequentes. Não queria me envolver, tampouco envolver pessoas maravilhosas, em histórias sem fundamentos. Sem pé nem cabeça.
Entrei em minha casa de cabeça baixa, e ao passar pela casa meu pai fala:
– Boa tarde, filho! – Eu não respondera – Algum problema?
Não me dei ao trabalho de responder. Subi para o quarto e me senti mal por não ter falado com o meu pai. Tirei minha roupa, arrumei meu material de estudo e fui banhar-me.
Embaixo do chuveiro deixei minhas lágrimas rolarem e se misturarem com a água gelada. Eu passei o banho todinho chorando. Minha cabeça rodava, doía e Eu sempre imaginando uma pessoa: José.
Aquela situação, para mim, já estava ficando insuportável. E o pior, Eu não tinha respostas para nada. Saí do chuveiro, enxuguei-me e enrolei-me em minha toalha. Ao sair do banheiro, papai e mamãe estavam me esperando sentados à beira da cama. Logo, deduzi que eles queriam conversar comigo. Pus uma cueca Boxer e direcionei-me para a cama. Ao sentar-me, não resisti e deitei por sobre o colo da minha mãe, esta, por sua vez, começara a acariciar minha cabeça, enquanto meu pai massageava meus cabelos.
– O que está acontecendo, filho? Você ultimamente tem estado tão estranho. – Falara meu pai.
– Nós estamos preocupados, filho. – Minha mãe falara o obvio.
– É algum problema na escola? – Eu apenas assenti que não com a cabeça respondendo a pergunta de meu.
– Claro que não, Geraldo. O problema dele não é com os amigos. O problema dele está aqui. – Minha mãe falara apontando para o meu coração.
– Algum problema com o José, filho?
– Sim. Já faz quatro dias que ele não me procura, não me liga, não me dá sinal de vida. – Respirei fundo e chorei silenciosamente. – Tenho medo. Muito medo.
– Não fique assim, filho! No final tudo acabará bem. – Meu pai falara, enquanto minha mãe tentava enxugar minhas lágrimas.
– Por que ele está fazendo isso comigo? Por quê?
– Olhe filho! – Mamãe guiou meu rosto para que Eu olhasse bem no fundo de seus olhos. – Há coisas na vida que são preferíveis que sejam omitidas. Se você não sabe o que acontece com o José e ele não quer lhe explicar, não tente forçar a barra! Às vezes, precisamos deixar as pessoas respirarem.
– Mas mãe... Nós estávamos nos relacionando tão bem. Eu não entendo.
– Tem coisas que não são para entender. Se o José ditou uma regra, siga-a!
– Por mais que essa regra me mande ficar longe dele?
– Por mais que essa regra lhe mande ficar longe dele. Ele e você só precisam dar um tempo ao tempo e deixar as coisas se consertarem. A gente tem que abrir mão do que nós amamos.
– Mesmo que futuramente vá doer? – Perguntei me recompondo.
– Assim como a felicidade, nem toda a dor é eterna. Você aprenderá com o tempo.
– E se o José desistir de mim?
– Tome como exemplo Eu e seu pai! Olhe nossa história: Nosso amor era proibido, nossos pais se odiavam. Nós fugimos para a cidade grande e curtimos nossas vidas. Nesse meio tempo Eu estava prestes a dar luz para uma criança linda. Quando você nasceu, foi a maior alegria, porém, mesmo seu pai já trabalhando, como estagiário, em um escritório de advocacia, não tínhamos meios para viver. Tive que voltar para o meu interior e morar com minha mãe. Você tinha três anos quando seu pai nos “abandonou”. Logo depois ele começou a ganhar fama por ser um ótimo advogado e Eu comecei a te dar uma vida melhor, por ser uma mulher batalhadora. Nada te faltava. Eu me apertava todo o mês, mas sempre me apertava para o seu bem. Quando você fez sete anos, seu pai, por conta própria, decidiu te pagar uma pensão. Nossa situação melhorou, porém quase nunca ele nos visitava. E os anos se passaram e só voltamos a nos encontrar em seu aniversário de 14 anos. Eu pensava que ainda tinha raiva dele, mas não. Eu o amava. E, quando se ama, tudo o que é seu volta para você. Acredite: Você e o José pertencem um ao outro, meu filho.
Fiquei chocado com a história da minha mãe. Por um momento havia esquecido o José. Tornei a chorar por ter ouvido tantas palavras... Um depoimento de vida lindo. Por fim, peguei no sono no colo de meu pai.
Acordei-me as 18h00min, e fui ao banheiro escovar meus dentes para descer à cozinha. Estava morto de fome.
Ao enxugar meu rosto, ouvi uma voz na sala. Uma voz que Eu conhecia muito bem. Era José. Enfim, poderia vê-lo, ao menos queria ter a certeza de que ele estava bem.
...
Mas Eu não estava bem.
...
Aproveitei que estava em casa e gozei da situação de poder ir e vir do jeito que Eu bem entendesse.
Saí do banheiro e pus apenas uma camisa apertada em meu corpo e permaneci, na parte de baixo, apenas de cueca.
A voz de José, por ser grave e alta, conseguia ser ouvida em qualquer parte da casa. Ele falava com meu pai em um tom sério. Desci as escadas e os avistei no sofá, porém eles não me viram.
– Entendeu o porquê que Eu preciso fazer isso?
– Sim, José. Mas acho que você deveria contar a verdade para ele.
– Ele não vai entender, Sr. Geraldo.
– Ele entenderá com o tempo.
Não conseguia mais ouvir aquilo. Pra mim a conversa estava, um tanto, ambígua. Por isso não gosto de ouvir conversa no meio do caminho. Passei pelo meio da sala me fazendo despercebido, fingindo não notar a conversa/ a presença dos dois alí. José, por sua vez, me cercou com seu olhar. Direcionei-me a cozinha e pedi para que a minha mãe preparasse um prato para mim. Comi... Repeti. É. A fome estava enorme.
Resolvi voltar para o meu quarto e provocar José, porém este não estava mais na sala. Fiquei desapontado. Eu não acreditara que ele havia deixado minha casa sem ao menos se despedir de mim. Quando subi as escadas, percebi uma montanha de músculos para próxima ao meu quarto. Ao aproximar-me ele sorriu para mim.
– Oi Baixinho!
– Oi Baixinho?! – Falei aumentando o tom de voz. – Você me mata de preocupação por quatro dias e depois vem me receber dessa maneira. O que está acontecendo com você José?
– Baixinho... Depois você vai entender, mas agora Eu não posso te falar nada.
– Não pode ou não quer me falar nada? – Perguntei irritado.
– Não posso. Mas Eu te garanto que é para o nosso bem.
– Se fosse para o “nosso” bem, você estaria falando comigo, José.
– Baixinho você me ama?
– A questão não é o amor, é a confiança. Eu não sei se posso confiar em você se você não puder confiar em mim.
José aproximou-se de mim e deu-me um beijo na testa.
– Eu te amo, meu Baixinho.
– José?! – Nesse momento Eu não conseguia mais esconder meu choro. – Me beija! Por favor, me beija!
E nós nos beijamos, com urgência. Eu sentia sua língua invadindo minha boca, e sentia minha boca procurando sua língua. Comecei a ficar na ponta de pé e logo depois Eu pulei para cima dele, laçando minhas pernas em sua cintura. José abriu a porta de quarto e começou a me beijar. Enquanto ele estava encima de mim Eu senti seu pênis duro.
– Não acho uma boa hora, José. Ainda estou dolorido.
– Eu também não acho uma boa hora, Baixinho, mas Eu preciso da sua boquinha. – E tornou a me beijar.
Nossos gemidos já não eram mais abafados.
E fomos interrompidos pelo meu pai.
– Rum-Rum! – Meu pai fingiu um falso pigarro.
– Sr. Geraldo?! – José tentou levantar-se. – Desculpe-me!
– Seus livros, José. – Meu pai estendeu a mão esperando José pegar os livros, mas minhas pernas ainda estavam laçadas em sua cintura. – Vou deixar encima da mesa de estudo. E... José?! Presumo, Eu, que você deve ir para a sua casa, tem muita tarefa a frente.
– Obrigado senhor Geraldo! Daqui a pouco estou indo. Só vou despedir-me do meu amor.
Papai foi embora e nos deixou a sós. José tornou a me beijar, massacrando minha boca. Eu realmente estava com saudades de fazer aquilo. Eu já estava nas alturas e, apenas pelos sarros, havia gozado. Com dez minutos depois José saiu de cima de mim.
– Preciso ir, Baixinho.
– Fica mais um pouco, por favor! – Comecei a chorar. Não por fraqueza ou dor. Eu apenas queria ficar com ele.
– Eu não posso meu anjo. Mas por favor, me espera! – Ele me deu um beijo de despedida. Um beijo calmo e sereno.
Agora sim Eu estava aliviado. Eu tinha a certeza de que, mesmo o vendo sair pela porta, ele nunca sairia do meu coração, ou da minha vida. Porque Eu o amava. E ele me amava também.
Aquela noite Eu pude dormir mais tranquilo.
...
Mas Eu não tinha ideia do que me aguardara.
Bom dia pessoal!
Desde já quero pedir desculpa a todos pelo fato ocorrido ontem, mas espero que entendam que Eu estava desesperado e que tinha que recorrer a tal meio.
Ontem Eu pensava que o Walmir iria me deixar, porém duas pessoas maravilhosas (O meu quero leitor, Bráulio e o confidente fiel do Walmir, Acácio) deram uma força para que nós dois continuassemos. Se nós estamos bem? Muito. O bom de nossas brigas é que sempre depois delas vem o melhor.
Ontem mostrei o comentário de vocês para o meu Baixinho e ele se emocionou com todos.
Obrigado pela força que vocês me passaram.