• 4 – Revelações
Sabe aquela sensação de que tudo o que está bom demais pode piorar de uma hora para outra? Era assim que Eu me sentia em relação a algo que estava por vim a acontecer. Não que Eu fosse vidente, era apenas a minha intuição que nunca falhara.
Há mais de duas semanas que Eu não via José; durante esses dias, houve os primeiros treinos dos animadores, porém dessa vez nos preparávamos para nos apresentarmos no Rio de Janeiro, pelo o que Eu andava sabendo o relacionamento de Sofia e Plinio andava super bem assim como o relacionamento de Acácio e seu namorado, Roberto. Durante esses dias Marcos contara para mim que já havia tentado algo com Acácio e que realmente sentia uma coisa forte por ele, porém Acácio apresentava resistência.
O mês de Agosto já estava acabando e junto com ele a minha paciência em esperar por José. Eu realmente estava preocupado com aquilo, todos já sabiam/ faziam ideia do que se passava, exceto o idiota aqui, vulgo, Eu.
Lembro-me que era a última semana de Agosto e papai não poderia levar-me para a escola, logo, mamãe ofereceu-me seu motorista para levar-me. Recusar carona? Jamais.
Cheguei à escola e tudo parecia normal. Ao menos na entrada tudo parecia normal. O clima de normalidade fora deixado para trás quando Eu entrei na sala e vi os rostos de Sofia e Acácio em tons pálidos. Eu não sabia o que se passava, mesmo sendo um tanto atencioso com meus amigos. Tentei conversar com eles, porém Sofia estava alterada e Acácio nada falara. Eu tinha medo que aquele comportamento deles para comigo fosse tudo o que Eu estou transmitindo em relação a José, ou seja, tudo por minha culpa. Engano meu. Sentei-me na cadeira do fundo, onde José costumava sentar-se e comecei a cantarolar, chamando, para mim, a atenção de Celina, Plinio e Marcos que em poucos segundos já estavam ao meu lado.
– Alguém pode me explicar o que está acontecendo? Foi alguma coisa que Eu fiz para com eles?
– Não mesmo. – Respondeu Celina ao menos tempo que negava minha pergunta com seu dedo indicador. – Isso é... Se estiver se referindo a Sofia e ao Acácio... Não mesmo.
– Então...?
– Ninguém sabe o que deu neles. Do nada, hoje, eles aparecem assim. – Respondeu Marcos.
– Com vocês é apenas hoje. A Sofia não fala comigo há três dias e isso me mata por dentro. – Falou Plinio apertando o coração.
– Eu prometo que vou me esforçar para arrancar algumas informações, mas não posso fazer milagre. – Afirmei e logo após o silêncio imperou entre nós.
O sinal soou anunciando o começo das aulas. Química. Ótimo; adoro a matéria. A professora pediu para que formássemos trios, logo, o primeiro trio continha, como participantes, Marcos, Plinio e Celina. O segundo trio fora formado por mim, Acácio e Sofia que, desde que Eu chegara à escola, não haviam dado um pio. Aquilo realmente estava me matando. E o pior, Eu pensara ser o culpado de tudo. A aula era prática, por isso saímos em disparada para o laboratório. Eu até tentava puxar conversa com Sofia e Acácio, porém, esses se mostravam resistentes.
– Precisamos conversar. – Eles nada falaram. – Vou entender como um “Sim. É claro”. – E mais uma vez não esboçaram nenhuma reação. – Espero os dois na hora do intervalo.
A aula corria normal a não ser pelo fato de que Sofia e Acácio não me ajudaram em nada; aquilo estava me cansando. Parecia que até para respirar era difícil para eles. Sim, eles estavam muito tensos e Eu não estava entendo nada. Céus! A ansiedade me matava.
Logo após a aula de química houve uma aula vaga de uma matéria que Eu não lembro bem qual era.
– Eles não querem conversar comigo. – Afirmei abaixando minha cabeça enquanto Celina fazia um cafuné.
– Se eles não querem falar com você, imagina conosco. – Afirmara Plinio preocupado (Certamente por causa de Sofia).
– Seja lá o que aconteceu, você não pode se culpar. Você não tem nada a ver com a vida pessoal, intima ou profissional deles. Para de se preocupar, cara! – Falou Marcos.
– Eu não posso. São meus amigos...
– Nossos amigos. – Marcos me interrompeu. – Deixa que o tempo cuide deles.
– Eu não posso.
O horário vago passou voando e no intervalo acompanhei Sofia e Acácio para uma mesa reservada.
– Alguém pode me explicar algo?
– Não é nada. – Respondeu Sofia em um tom grosseiro enquanto Acácio permanecia pálido e calado.
– Se não fosse nada não estariam assim. – Retribui minha afirmação no mesmo tom grosseiro em que a Sofia falara comigo. – Amiga, quando você deixou de confiar em mim? – Nessa hora Sofia abaixou a cabeça e Eu fui obrigado a levantar a mesma. – Se abre comigo. Você sabe que... – Antes que Eu concluísse ela deitou-se em meu ombro e pôs-se a chorar. – Sabe que pode contar comigo para tudo. Não importa o que aconteça, Eu estarei sempre ao seu lado. Eu prometo. Agora... Diga-me o que aconteceu!
– Eu não sei se devo... Eu... Eu... Não posso.
– Sofia? É algo em família.
– Amigo, não me deixa! Não me abandona, por favor!
– Eu nunca faria isso, Sofia. Mas me diga o que está acontecendo! Caso você não diga, não poderei te ajudar.
– Me desculpa! Mas... Eu estou grávida. – Passei mais ou menos dois minutos para digerir a informação.
– Como assim? – Fiquei pasmo com a informação. – Como pôde? Sofia me escuta! Sexo é bom, mas sem camisinha não rola. Como pôde ser tão... Tão... – palavras me faltavam. – Como pôde ser tão idiota assim?
– Eu sabia que você não ficaria ao meu lado.
– Eu sempre estarei ao seu lado. Mas como pôde fazer isso? O pior nem é a gravidez, mas sim se você pegasse alguma doença sexualmente transmissível. Tipo AIDS.
– Como descobriu? – Manifestou-se Acácio que até então estava calado, nessa hora Marcos, Plinio e Celina aproximaram-se da nossa mesa.
– Como descobriu o que? Acácio! – Gritei intrigado deixando a Sofia e sacodindo seus braços.
– Como descobriu sobre minha doença? – Acácio começara a chorar, nessa hora meu mundo caiu.
– Me diz que é mentira, Acácio! – Falou Marcos arrancando as palavras da minha boca.
– Desculpem-me! Eu não...
– Porra! – Nessa hora Marcos jogou o saco de lixo para longe. – Como você faz uma merda dessas? Caralho! Eu te amo, cara. E você se estraga assim. Eu não acredito. – Ver a declaração de Marcos foi a gota d’água para mim.
Eu corri o quanto pude e, na primeira pilastra que avistei, desabei. Não só fisicamente como psicologicamente. Eu me sentia culpado por tudo aquilo que estava acontecendo. Eu podia ter impedido Acácio de ter contraído uma doença se pedisse para que ele largasse o tal de Roberto. Quanto a Sofia, Eu deveria ter alertado sobre esse tipo de coisa, mas não. Estava tão preocupado com o José que me esqueci de dar a devida atenção aos meus amigos. Um forte abraço arranca-me de meus pensamentos. Era Marcos, que também chorava. Não tive outra reação a não ser abraça-lo também.
– Por que Marcos? Por que eles fizeram isso comigo? Por que fizeram isso consigo? Eu não entendo. – Desabei no choro nos ombros de Marcos.
– Eu sinto muito, Walmir. – Ele chorou e chegou a soluçar. – Eu não acredito que o Acácio fez isso comigo. Ele sabia que Eu o amava. Por quê?
Eu, sinceramente, não conseguia responder nem as minhas nem as perguntas de Marcos. Era tudo doloroso e sofrido. Senti uma dor consumir a minha cabeça logo após o sinal que anunciava o término do intervalo e o começo da quarta aula. Marcos e Eu subimos as escadas abraçados e chorando. Sofia estava sendo consolada pelo Plinio e Acácio pela Celina.
– Minha mãe não irá me deixar ficar em casa. Ela vai me expulsar. Ela vai... – Falava a Sofia. Realmente aquela situação me doera.
– Como descobriu? – Perguntei sentando próximo ao Acácio.
– Na verdade Eu não tenho certeza. – Ele fez uma pequena pausa e Eu o aguardei falar: – Roberto e Eu transamos sem camisinha duas vezes, mas só agora ele veio me revelar que era soropositivo. Você não faz ideia do quão estou me odiando por isso.
– E Ele? – Perguntei referindo-me ao Roberto.
– Não quer ver nem minha cara pintada de ouro. Eu pensei que...
– Ele te amasse. – Concluiu Marcos. – O amor é tão cego que você não enxerga nem que ele está a sua frente. Eu poderia te fazer feliz, mas você não quis.
– Marcos Eu...
– Cala a boca! – Marcos falou alterado, levantando-se a puxando Acácio contra seu corpo. – Cala a boca me beija seu idiota!
Eu apenas não havia acreditado naquela situação. Agora sim Eu conhecia o amor incondicional; diferente daquele de uma mão pelo filho. Mesmo com suspeita de doença, o Marcos ainda aceitava o Acácio. Os dois se beijando e a maioria dos presentes aplaudindo fora uma cena mágica. Eu me sentia feliz por aquilo. Por um momento lembrei-me de tudo o que ocorrera no começo do ano: A tentativa de estupro de Marcos para comigo, Marcos apanhando para o José (Várias vezes) e Eu e Marcos fazendo as pazes. E só em saber que Marcos estava bem, Eu me sentia bem.
– Eu te amo. Será que você pode me entender agora?
– Por que não fez isso antes? – Perguntou Acácio dando mais um beijo em Marcos.
– Vamos parar com isso! – Falou a Celina apartando os dois. – Faz duas semanas que não vejo meu namorado, logo... Parem com essa safadeza na sala! – Celina arrancou, mais uma vez, risadas de todos. – Além do mais, daqui a pouco a professora vai chegar a nossa sala.
– Deixe os curtirem, Celina! Estou feliz pelos dois. – Falei abraçando Acácio e Marcos. Logo em seguida Celina, Plinio e Sofia juntaram-se a nós. – É assim que gosto de ver: Toda a nossa turma junta. Eu amo vocês. E mesmo com todas essas revelações em um dia só, Eu os garanto: Nunca os deixarei.
Todos choravam; não de tristeza, mas sim de felicidade. Aquele momento foi único e nos uniu ainda mais.
Na hora da saída todos nós seis saímos juntos.
– Farei o exame para confirmar minha gravidez no domingo. Alguém quer ir comigo?
– Eu e o Acácio. – Respondi com firmeza.
– Por que o Acácio? – Perguntou Marcos, incrédulo. – Logo agora que Eu tenho a boquinha dele só para mim.
– Não se preocupe, bebê! – Falei apalpando o rosto de Marcos. – Eu e o Acácio nunca daríamos certo. Nós vamos porque o Acácio irá fazer o exame para ver se ele está com algum tipo de doença.
– Mas Eu não...
– Não adianta, Acácio. – Falei interrompendo-o. – Você vai comigo e com a Sofia. Não quero dúvidas quanto a nada.
– Se você quer assim, quem sou Eu para impedir-te?
Rimos e tomamos rumos diferentes; Eu fui para a minha casa, provavelmente Acácio fora levado para a casa do Marcos, Plinio, com certeza, levou Sofia para a sua casa e Celina fora para o supermercado de sua tia.
Os fatos desse dia ainda estavam entalados em minha garganta e Eu queria que tudo aquilo fosse mentiraBom dia pessoal!
Gente, desculpa aí! Quase ia esquecendo de vocês, mas é que hoje tem pelada (Sim, Eu só vou olhar pois ainda estou com catapora) e Eu ainda esqueci que tenho que pegar minha filhota na casa do Marcos e Acácio.
Desculpem, desde já, os erros! É que não deu tempo de revisar.
Obrigado pelo carinho de vocês!