Obrigado pelas mensagens de carinho... é especial também. Ultimamente eu estou um pouco preso em algumas tarefas do dia a dia. Mas prometo estar sempre em contato com você.
O hospital continuava o mesmo. Apesar de esta sendo dirigido por uma mulher com um jeito totalmente diferente do Dr. Emanuel, as coisas não mudaram tanto. Mauricio e Carlos haviam concluído uma parte importante de seu currículo. Todos estavam ocupados com os pacientes e a vida seguia rotineiramente.
- Ei vamos jogar futebol hoje? – perguntou Carlos para o Mauricio.
- Não sei, tenho que falar com o Pedro... hoje prometi a ele que iamos assistir a um filme. – disse Mauricio.
- E você é um homem ou um rato? – perguntou Carlos.
- Tá bom. Até parece que você não faz a mesma coisa pela Luciana? – perguntou Mauricio.
- É diferente! – ele falou rindo.
- Sei....
- Sabe... eu acho tu o pior gay do mundo. – disse Carlos rindo.
- Sou nada... ok.
- É mesmo? E o que você entende de moda? E coisinhas de mulher? – perguntou Carlos.
- Eu entendo muitas coisas. – disse Mauricio colocando uma placa no raio x.
- É mesmo... e o que?
- Por exemplo... hummm.... e tem....
- Está vendo... você não é gay.... ama futebol... adora ufc... se amarra em pescaria... qual gay curte essas coisas? – perguntou Carlos rindo.
- Para... não enche. – disse Mauricio irritado.
- Puxa... a verdade dói. – disse Carlos rindo.
Apesar de ser uma brincadeira, o comentário de Carlos tocou Mauricio de certa forma. Ele pensava consigo mesmo: “O que eu fiz da minha vida até agora?”. Ele decidiu fazer uma surpresa para o esposo e diferenciar o programa daquele final de semana.
- Boa tarde. – disse Pedro para um homem com a cara de poucos amigos.
- O que tem de bom? – perguntou o homem ríspido.
- Muitas... coisas. – disse Pedro tentando disfarçar o corte.
- Ahh rapazinho, você é muito novo... quando chegar a minha idade vai saber o motivo do mal humor. – disse.
- Espero que não. – pensou Pedro dando um sorriso forçado para o homem.
- Oi Pedro? – atrapalhou Emilly.
- Oiiii... e ai está com os documentos que eu pedi? – questionou Pedro.
- Claro... estão aqui.
Enquanto Pedro e Emilly iam conversando pelo corredor do hospital, o velho homem ficava para trás com a sua expressão sofrida.
Na faculdade existe sempre aqueles grupinhos de amigos. Fernanda, Phelip e Duarte conversavam tranquilamente sob a sombra de uma grande árvore no campus da instituição.
- Ei... o que vocês acham do carinha novo? – questionou Fernanda para os dois.
- Quem? – perguntou Phelip.
- O Osvaldo... sobrinho da médica.
- Eu não gostei muito dele, mas o Pedro falou que deveria dar uma força para ele aqui. Mas ele não aparece faz uns três dias. – falou Phelip.
- Também não simpatizei com ele. – falou Duarte.
- E nem é para simpatizar.... – reclamou Phelip.
- Calma.... eu quis dizer no geral... ele não me passa confiança.
- Eu também senti isso, mas confesso que achei ele um gatinho. – falou Fernanda sorrindo.
- Hummm... ta apaixonada. – disseram Phelip e Duarte em coral.
- Parem... Vocês dois juntos parecem crianças. – disse Fernanda se levantando.
- Calma Fê... relaxa. – disse Duarte.
- Estávamos brincando... ei...não vai... – falou Phelip.
- Exageramos? – perguntou Duarte.
- Acho que não.
Distraída em seus pensamentos Fernanda esbarrou com Osvaldo e deixou seus cadernos caírem no chão.
- Calma. – disse Osvaldo.
- Me desculpe. – falou Fernanda juntando as folhas no chão.
- Não se preocupe, sou forte. – disse Osvaldo dando um sorriso forçado.
- Sou uma idiota...
- Calma... já disse... não se cobre. Estou bem, você está bem, não precisamos nos preocupar.
- E você... se adaptando á faculdade?
- Mais ou menos.... tenho que pagar algumas matérias, mas nada impossível.
- Não te vi esses dias.... – disse Fernanda ficando vermelha.
- Eu tive que resolver uns probleminhas, mas está tudo bem... e você... o que costuma fazer para se divertir aqui?
- Sair com amigos... sabe.... coisas simples... cinema, ir na pracinha...
- Seus amigos... são aquelesO Phelip e o Duarte... sim... são meus amigos.
- Da hora... nunca tive amigos viados... quer dizer.... homossexuais.
- Talvez tenha e não saiba. – disse Fernanda sorrindo.
- Talvez... agora preciso ir... está na minha hora... a gente se esbarra. – falou enquanto partia pelo corredor.
- Até...
Sim... aquele suspiro de Fernanda significava muitas coisas, mas sua história teria um caminho tortuoso ao lado de Osvaldo.
Enquanto isso Rodolfo e Paula planejavam uma viagem para comemorar seu aniversário de casamento. A lua de mel seria em Londres. Estavam realmente felizes com a oportunidade, mas a cada dia a saúde de Paula se deteriorava. Ela não sabia o motivo e estava com medo.
Na casa de Pedro e Mauricio, Larissa realizava mais uma visita de rotina. Tudo o que acontecia ao Paulinho era enviado para o Instituto da Criança.
- É incrível como ele se adaptou tão rápido a rotina de vocês. – disse Larissa enquanto olhava Paulinho brincar com os irmãos.
- Na verdade ele é o motivo desta família existir. – disse Pedro.
-Eu lembro quando o vi deitado no hospital... já vi milhares de crianças que perderam os pais... e com o Paulo foi diferente. – contou Mauricio.
- Eu que fico feliz... de ver ele com uma família unida. – ressaltou Larissa.
- Unida e incomum. – Pedro falou rindo.
- Mas com muito amor. – Falou Mauricio beijando Pedro.
- Verdade.
Larissa deu um leve riso e encerrou a visita falando para os dois que o psicólogo de Paulinho já estava agendado e que eles deveriam falar primeiro com o profissional. Apesar de tudo estar bem eles ficaram nervosos com a situação.
- Estou com medo! – disse Pedro abraçando o Mauricio.
- De que? Estamos fazendo algo de errado? – perguntou Mauricio.
- Não... é que....
- Não existe nada.... eu te amo... você me ama... amamos os nossos filhos! Não existe porque ter medo – disse Mauricio saindo.
- Onde você vai? – perguntou Pedro.
- Caminhar... preciso caminhar... – disse ele.
Mauricio saiu sem rumo, a coisa que ele mais amava era sua família, tudo o que ele construiu com Pedro. Com tudo o que ele passou em sua infância, privações e ter que trabalhar desde cedo, veio à tona e ele não queria aquilo para o Paulinho. Apesar de tudo ainda corria o risco de eles perderem a guarda da criança. E tudo dependeria do resultado do psicólogo. Suado e nervoso, o médico estava correndo além do limite e acabou tropeçando em uma pedra e caindo no chão.
- Não vão tirar o meu filho de mim.
No apartamento de Jean o nervosismo também estava imperando. A mãe de Vinicius iria passar alguns dias para conhecer o parceiro do filho. Tudo era muito novo para ela, mas Vinicius não escondia de ninguém o amor que ele sentia por Jean.
- Amor? – gritou Jean.
- Fala....
- Você viu a minha bota? Preciso engraxar.
- Bebê... olha na área de serviço... no mínimo deve estar lá. – falou Vinicius da sala.
- O que você está fazendo? – perguntou Jean.
- Arrumando e limpando... aproveitando essa folga do hospital.
- Calma...
- A dona Judith não é moleza... vamos ter que rebolar bastante...
- Hummm.... falando em rebolar... pode vir aqui no quarto.
- Posso... mas sai daí que eu preciso arrumar o nosso quarto... parece um chiqueiro.
- Ok... vou dar uma corrida lá no Parque. –falou Jean.
- Sem camisa? – questionou Vinicius.
- Algum problema? – ele perguntou enquanto vestia o tênis.
- Todos. – disse ele jogando uma camiseta feia.
- Mas isso me deixa gordo... eu....
- Sem reclamar... e se eu souber que você está correndo sem camisa... vai ficar sem sexo e vai dormir no sofá.
- Te amo também! Que confiança hein.... – disse Jean saindo.
Na praça da cidade, Mauricio comprou uma água mineral para limpar o machucado no joelho, ele estava nervoso, mas não queria falar nada para Pedro, pois, conhecia o marido. Ao ver o amigo sentado no banco e com sangue, Jean perguntou asssustado.
- O que foi Mauricio? Quem fez isso?
- Calma Jean...eu cai.
- Tem certeza?! Fala? Eu vou arrebentar.
- Calma...eu realmente tropecei em uma pedra...relaxa.
- Hum... nossa e foi feio hein?! – disse Jean fazendo cara de nojo.
- Tudo bem... só foi um arranhão...
- Mas você estava distraído mesmo ?
- Acontece com as melhores pessoas, mas e você? Nunca te vi correndo por aqui. – perguntou Mauricio.
- Sim... estou ficando gordinho e preciso manter o corpo... se não o patrão me mata... e você? Sempre vem aqui? – perguntou Jean sentando ao lado de Mauricio.
- Quando eu preciso espairecer... esquecer dos problemas... é isso ou sexo... – disse Mauricio rindo.
- Mas está tudo bem entre você e o Pedro?
- Claro... é o Paulinho...
- O que tem o pequeno? – quis saber Jean.
- Ele me perguntou o que era Bicha...
- Sério... onde será que ele ouviu isso?
- Jean... somos os poucos gays realmente assumidos e resolvidos dessa cidade. A nossa única salvação é o pai do Pedro que sempre ajudou a cidade, ainda mais depois da enchente... mas as pessoas comentam... eles pensam que a gente não vê. Até mesmo no hospital alguns colegas reprovam o nosso estilo de vida... semana passada o Carlos brigou com um enfermeiro que falou umas besteiras ao meu respeito.
- Calma Mauricio... que se foda a opinião desses merdas... sabe o quanto eu sofri no exercito?! – perguntou Jean.
- Não Jean... o problema não sou eu... é o Paulinho... tenho medo que ele se revolte por ter pais gays...
- Isso é uma tolice... ele tem que agradecer... e agradecer muito.
- Tenho medo... acho...
- Olha... eu aparento ser durão, mas tive muito mesmo e essa carapuça consegui com o passar dos anos... lutando... me defendendo, mas chega uma hora que cansa. – disse ele se levantando.
- Onde você vai?
- Vamos tomar uma cerveja...
- Tá bom. – disse Mauricio levantando com dificuldade.
Na vida das pessoas muitas coisas acontecem, alguns se vão e novas pessoas chegam. Às vezes para facilitar a nossa vida e outras para deixar tudo mais difícil. Fernanda não parava de pensar no sobrinho da Dra. Alexis, havia algo nesse rapaz que a deixava sem ar.
- Mas será que ele gosta da fruta? Com a minha sorte ele vai querer pegar o Phelip ou o Duarte. Nossa Fernanda para de ser assim... ficar julgando as pessoas. Hummm... será que ele está online? Deixa eu ver... Osvaldo... Osvaldo... ahh está aqui!!! – gritou Fernanda olhando para o computador.
Fernanda – oi?
Osvaldo – Oi? Tudo bem?
Fernanda – Sim. E a adaptação?
Osvaldo – Está tudo bem... conhecendo as coisas aos poucos.
Fernanda – Se quiser sair um dia para tomar um sorvete... quem sabe...
Osvaldo – Claro. Vamos sim. Posso passar na tua casa para te pegar?
Fernanda – Sim... pode... amanhã às 20h.
Osvaldo – Fechou. Até mais.
Sim. Fernanda estava apaixonada por Osvaldo, mas não desconfiava que essa paixão seria motivos de brigas e intrigas.
- Amor? O que aconteceu? – perguntou Pedro ao ver o joelho de Mauricio.
- Eu cai... Pedro... quero... te pedir... desculpas....
- Pelo o que amor?
- Hoje mais cedo fui grosso com você... quero dizer que não estávamos fazendo nada de errado na criação do Paulinho... – disse Mauricio beijando Pedro.
- Está tudo bem... vamos dar um jeito nisso. Eu prometo. – falou Pedro retribuindo o beijo.
Às vezes, tudo o que precisamos é ser sincero com as pessoas. Nada dura para sempre até mesmo as mentiras, um dia a máscara cai e nesse momento não podemos fugir.
- Ai... – disse Paula caindo desmaiada no chão.