CE2/01 – O Arco-íris da Paixão

Um conto erótico de ASmedeiros
Categoria: Heterossexual
Contém 3837 palavras
Data: 19/09/2012 07:00:08

1 – As mil e uma cores do São João do Maranhão

20 de junho de 2008, sexta-feira.

O lugar estava apinhado de gente, o som de tambores e matracas parecia endoidecer a multidão em uma dança quase ritualista enquanto ao centro o grupo bailava em volta de um boi ricamente decorado.

Mário chegara à cidade no dia anterior, queria ver e conhecer o porque de tanta propaganda que enturrava as emissoras desde o mês anterior.

― É o boi do Maranhão... – a atendente lhe explicava – Uma tradição do São João da Ilha.

Fora ela, Suely, quem lhe indicara por onde brincariam os melhores grupos e era ela quem lhe segurava o braço também maravilhada com o brilho de cores vivas.

― Esse é o boi da Maioba... – gritou perto de seu ouvido – Um dos principais bois da ilha...

― Muito bonito... – falou também aos gritos – Só que esse barulho desse pessoal batendo ripa...

― Né ripa não Mário, é matraca... – a garota sorriu e começou a saracotear no ritmo das batidas – Vem, dança comigo...

Ainda tentou ensaiar alguns passos antes de desistir por fim, nunca fora pé de valsa e a inacreditável vergonha não lhe deixava soltar o brincante que pulava dentro de si. A nova amiga ainda tentou incentivá-lo segurando sua cintura mostrando como deveria se mexer.

― Desisto! – sorria feliz esquecido dos problemas que lhe atazanava a vida – Bicho velho não aprende fácil.

A morena de olhos claros parecia já tê-lo amigo há muito, não parava de saracotear incentivando. Corpos se batiam formando novos anseios como se chamando para um estranho ritual de entrega. Ninguém parecia se importar em ser tocado, para todos somente a alegria em estar e dançar era o tom do lugar.

― Vamos amor, dançar não magoa ninguém...

Mas talvez o cansaço do dia corrido fosse empecilho para se soltar.

― Vamos sair... – segurou a mão macia da garota – Tem muita gente...

Suely se deixou puxar ainda trocando alguns passos alegres.

― Topas um forró pé de serra? – sugeriu sentindo a mão grande segurando a sua – Tu sabes dançar, não sabe? – tomou as rédeas e puxou para um barracão de palha um pouco afastado da confusão alegre – Tô afim de dançar...

Dentro do barracão um grupo típico tocava baião, havia muito tempo que não ouvia esse tipo de música. Também ali parecia não caber mais ninguém, casais dançavam serelepes se esfregando como se numa entrega de corpos desnudos de vergonha.

― Não cabe mais ninguém! – sussurrou ao pé do ouvido.

Suely sentiu o sopro e sua pele se encheu de montículos, não era dada a fazer amizades com facilidade e nem se dava em conta de que aquele coroa – hospede do hotel onde trabalha – havia chegado há pouco mais de cinco horas, mas lembrava muito bem da boa impressão ao primeiro contato.

● ● ● ● ●

― Boa tarde! – levantou os olhos e viu aquele homem parado – Fiz uma reserva...

José Sales, o gerente do dia, recebeu os documentos e digitou alguma coisa ao computador.

― Seja bem-vindo doutor Mário... – entregou a ficha – Suely! – chamou – Atenda ao doutor Mário.

Se aproximou mostrando o sorriso profissional, dentes alvos e quase brilhantes, espiou as informações na tela do monitor antes de chamar o rapaz vestido como se fosse um almirante.

― Apartamento 502, ala verde – entregou o cartão chave antes de se dirigir ao novo hospede – José lhe acompanhará... O senhor...

― Olá! – Mário olhava para ela como se já a conhecesse – Queria saber sobre as festas...

Suely pescou alguns prospectos e se debruçou no balcão despreocupadamente, também ela tinha a nítida impressão não ser a primeira vez que falava com ele.

― A cidade é um arraial só... – entregou um programa – Aqui o senhor poderá ver onde se apresentam os grupos... O senhor já esteve em São Luís antes?

― Não, é minha primeira vez... – recebeu o folheto sem lê-lo, olha para ela estranhando a estranha impressão – Preciso de um guia...

― Temos vários contatos... – espiou dentro dos olhos esverdeados e sentiu um frio na espinha – O senhor prefere ser conduzido por...

― Melhor seria se fosse por você – cortou.

A garota deixou escapar um outro tipo de sorriso, dessa vez pessoal e não o profissional que aprendera do curso do SENAC.

― Desculpe, mas não podemos...

― Que pena... – olhava sem piscar para o rosto fartamente lambuzado de maquiagem – Apenas me diga onde ir, sem você vou só... – calou ao ver José Sales aproximar-se.

― Alguma dificuldade dona Suely?

A garota se assustou, no rosto não mais aquele sorriso alegre e descontraído, novamente aquele impessoal.

― Não seu Sales, é que...

― Estou tentando convencer sua atendente a me mostrar a cidade – cortou, a garota pareceu perder a cor natural.

― Nossos funcionários não fazem esse tipo de serviço! – o gerente mudou o tom – Se o senhor desejar existem várias agencias de turismo que oferecem guias especializados...

― Obrigado... Já havia descartado essa opção é que... – parou e abriu um sorriso ao ver um velho conhecido aproximar-se.

― Desculpe-nos senhor é que é norma do hotel, caso o senhor deseje uma acompanhante não é aqui o lugar que busca...

― Mário Felipe! – o gerente foi interrompido pelo senhor que saíra por uma porta de vidro – Não acredito!

― Poxa! Joaquim? – desviou a atenção do gerente brabo – Esse mundo é pequeno...

― Rapaz! Que diacho tu estais fazendo por essa banda? – contornou o balcão e abraçou efusivamente o hospede – Meu deus... Quanto tempo?

Ainda parados o casal não parecia entender, o gerente querendo encontrar um lugar onde meter sua vergonha e a atendente ainda preocupada com o engano que o gerente do dia havia cometido.

Depois dos abraços acalorados Joaquim puxou o amigo para sua sala, Mário explicou os motivos de sua ida a São Luís e do engano cometido pelo gerente.

― Esse carinha é tido a essas coisas, espera um pouco... – levantou e fez sinal ao gerente.

― Deixa pra lá Quim, ele fez o que deveria ter feito... – olhou o gerente que tentava manter a altivez – Pode deixar seu Sales, não é nada...

O rapaz entendera muito bem o que poderia lhe adi vir. Joaquim lhe chamou atenção com veemência sem se importar com a presença do amigo.

― Agora peça desculpas para o doutor Mário Felipe.

O gerente suava às bicas quando se aproximou.

― Desculpe-me senhor é que...

― Xá pra lá menino – apertou a mão tremula do rapaz – E saiba que não queria um programa com a mocinha, apenas sugeri que me acompanhasse – Joaquim, sócio majoritário do hotel, parecia mais afetado que o próprio amigo destratado – E... – olhou para o amigo – Não se preocupe, Joaquim não vai lhe punir, não é amigo?

O gerente sequer teve coragem em encarar o patrão, apenas pediu novamente desculpas e saiu. Joaquim, ainda um tanto furioso com a atitude do empregado, serviu uísque retirado da pequena geladeira embutida na estante.

― Poxa rapaz, a quanto tempo e... – deu uma golada na bebida – Esse bostinha...

― Esquece isso Quim, vim para ver essa festa tão propalada... – afrouxou a gravata – E tu cara, como veio parar nesse lugar?

Conversaram animados por mais de uma hora até que o celular, que já havia tocado e sido ignorado outras tantas vezes, foi atendido. Joaquim conversou animado com sua mulher, que o amigo não conhecia, e combinou um jantar em sua casa. Mário, ainda cansado, levantou.

― E também tenho que me desculpar com sua atendente... – tomou uma ultima golada da bebida – Não queria uma acompanhante do sexo...

― Para com isso rapaz, sei que não... Então está combinado, depois de amanhã em minha casa – saíram da sala, o gerente atendia um novo hospede – Suely venha cá! – chamou e a moça se aproximou, no rosto não havia sorriso – Vocês já se conhecem... Queria lhe pedir um favor...

― Pois não tio... Seu Joaquim – consertou.

― Além de uma ótima funcionária também é minha sobrinha – passou o braço pelos ombros da garota – O Mário é um grande amigo e... Você poderia ciceroneá-lo enquanto ele estiver aqui?

A garota sorriu finalmente, olhou para o gerente que parecia absorto com a família de hospedes que atendia e o tio entendeu.

― Não se preocupe com o Sales – pareceu bufar com raiva – Então, topa mostrar a cidade pra esse pobre andarilho?

― Não precisa Joaquim – o amigo cortou – Vou pernear sem rumo, como fizemos muitas vezes, lembra?

― Bons tempos aqueles... – soltou uma sonora gargalhada – A gente aprontou! Marina que o diga! Mas se minha sobrinha aqui aceitar, será uma pernada bem mais agradável...

― O senhor é quem sabe tio... – estava mais livre, não sentia aquele aperto de antes – Mas meu plantão...

― Que plantão nada menina, bota esse coroa pra dançar de boi por aí! Aceita!

― Joaquim, para com isso rapaz... – olhou para a garota – Sua sobrinha deve ter programa, namorado e...

― Será um prazer acompanhá-lo, doutor Mário – segurou a mão do tio – O senhor vai ficar em São Luís muito tempo?

― Minha reserva no hotel é até a segunda...

― Sobre isso não se preocupe, tu bem poderias ficar lá em casa... Espera um momento, qual apartamento ele ficou? – foi o gerente quem respondeu, não estava tão entretido com os hospedes como fazia parecer – Põe ele noE pode ficar o tempo que quiser Mário... É meu convidado, viu seu Sales?

Ainda tentou argumentar sem ser atendido, o amigo Joaquim despediu-se e voltou para a sala onde o telefone tocava insistente.

― O senhor prefere ver boi ou dar um role pela cidade? – a garota já sentia mais intima do novo amigo.

― Agora quero mesmo é tomar um bom banho e tirar esse palito quente – sorriu recebendo a pasta que lhe entregou o gerente ainda acabrunhado.

― Você o conduz à suíte? – perguntou para a garota – Mais uma vez minhas desculpas, é que geralmente os hospedes chegam aqui com...

― Que é isso seu Sales... – Suely cortou – Doutor Mário...

― Vamos parar com esse negócio gente! – Mário segurou a mão do gerente – Mário, apenas Mário e até esqueci mesmo sobre aquilo tudo.

O gerente sorriu como lhe havia sorrido a garota antes da estranha confusão, notou haver ganhado um possível amigo.

― Me desculpe...

Mário olhou para os lados, não havia ninguém por perto.

― Vai a merda! – aproximou e sussurrou ao ouvido do gerente – Mas que essa garota é boa, isso é! – sorriu e saiu acompanhado pela atendente.

O gerente também sorriu e voltou aos seus afazeres. A suíte realmente era especial, ampla e confortável, uma saleta com sofás confortáveis e um televisor de plasma preso na parede antecedendo o quarto com uma cama imensa, um banheiro que caberia uma família inteira com folga.

― Puta que pariu! – lembrou-se da garota ao seu lado – Desculpe... – sorriram – Esse quarto cabe duas famílias inteiras...

― É a presidencial... – abriu a porta de vidro mostrando a sacada onde duas redes brancas, uma pequena mesa rústica com bancos confortáveis além de muita planta tomava conta do lugar – Desde que estou aqui somente uns seis hospedes ficaram aqui...

Mário olhou finalmente para a garota, o uniforme azul marinho, camisa de seda branca, casaco da cor do vestido colado ao corpo e um lenço grená atado ao pescoço. Era bem mais bonita naquele espaço que metida por detrás do balcão de mármore negro, cabelos negros cortados rente ao pescoço e não fosse aquela maquiagem forçada por certo seria mais bonita.

― O senhor é amigo do tio de muito tempo? – falou encostada na proteção em ferro batido.

― Somos... Crescemos juntos, éramos o terror do colégio – sorriu, tirou o terno e sentou em uma das redes – fizemos a mesma faculdade, só não esperava que ele entrasse para ramo da hotelaria...

― Esse hotel era do vovô... – sentou no banco e cruzou as pernas – O tio casou com a tia e comprou uma parte do hotel... Não era assim luxuoso quando tomou conta, foi ele quem fez a reforma... A mamãe também é sócia, tio Joaquim comprou a parte do tio Geraldo... Mas poucas pessoas sabem disso.

Mário sentiu que a garota era legal, falava bem e, o melhor de tudo, era bonita e tinha um corpo bem feito.

― O senhor é casado... – arrependeu-se em haver perguntado – Desculpe, não devia ter perguntado...

― Como lhe chamam fora daqui? Maria, Graça, Gracinha?

Suely sorriu e, sem perceber, descruzou as pernas deixando que o novo amigo olhasse a calcinha branca, um pouco pequena demais, que entrava por entre os lábios da vagina.

― Suca... Meus amigos de me chamam de Suca...

― Suca?

― Apelido de infância... Tenho uma tia chamada Sulamita e dizem que eu me pareço muito com ela... – não se deu em conta que ele olhava para entre suas pernas – Vovô falava que meu nome não condizia comigo... Foi ele quem botou o apelido...

― Então será Suca... – tentava a todo custo não olhar para a calcinha da garota – E eu Mário, apenas Mário... – já começava suor frio com o pensamento não tão distante da visão – E você estuda?

― Faço hotelaria no CEUMA – notou a aperreação dele e que ele olhava para suas pernas – Estou no quarto período e o senhor, faz o que? – mesmo sabendo o motivo da aperreação não fechou as pernas.

― Tenho uma construtora, e... – respirou profundo – Responde a pergunta que você não fez, sou divorciado...

― Pensei que o senhor fosse casado...

― Senhor, onde? – brincou olhando para os lados.

― Desculpe, é que não estou acostumada... Pois é, pensei que você fosse casado...

― Outra hora te conto minha vida – levantou e olhou para o mar manso – Agora...

― Sei, você vai tomar banho e eu... – também levantou e ficou do lado do novo amigo – Sim! Onde você vai querer ir hoje...

― Você é quem sabe... – respirou e voltou-se para ela – É você quem conhece o lugar... – olhou firme para o rosto da garota – Onde você quer me levar?

Suely sentiu o rosto arder e um frio estranho correndo a espinha, suspirou e tentou sorrir sem saber qual rumo daria.

― Tem o arraial da lagoa que é muito bom e bem aqui pertinho – tornou se debruçar na murada de ferro malhado – Mas tem também na Praça Maria Aragão e em todos os shoppings da cidade, se preferir também há terreiros espalhados pela orla...

Sentiu a pele tremer quando ele lhe tocou, fechou os olhos sem saber o motivo de estar tão tocada.

― Já falei que é você quem decide... – sentiu a maciez da mão bem cuidada – Se você quiser...

Não continuou, não tinha o direito de ter outros pensamentos senão a de um estranho com muita sorte por ter encontrado acompanhante em um lugar estranho.

― Tenho que passar em casa – olhou para a mão pousada na sua – Não vou com essa roupa – sorriu – Faz o seguinte, enquanto você banha dou um pulinho lá em casa...

― Você mora perto?

― Moro... Moro com mamãe naquele edifício – apontou – Está bom assim?

Ficaram frente a frente e a garota parecia enfeitiçada por aquele homem que conhecera há pouco. Não tentou desviar quando viu o rosto se aproximar, mas não abriu a boca para receber o beijo, apenas fechou os olhos e se deixou beijar.

Aos poucos Mário se deixou soltar e seguiu os passes cadenciados pela batida da zabumba e da sanfona que a garota fazia espremida entre corpos suados. A costa nua era acariciada pelo amigo.

― Que tal, gostou? – ficou nas pontas dos pés e sussurrou ao ouvido de Mário.

― Adorei...

Somente haviam parado quando o grupo parou de tocar, aos poucos casais cansados deixavam o barracão, também eles estavam cansados mais não demonstravam vontade em separar.

― E agora? – Mário falou baixinho.

― Você é quem sabe... – olhou para ele sorrindo – Vai querer fazer o que?

Mário sentiu a mão macia acariciando seu braço, aquilo lhe pareceu quase uma proposta indecente.

― Quero você... – tornou sussurrar e fez uma pausa que pareceu, para a garota, um convite explicito - ... Sempre perto de mim...

Suely sentiu o corpo estremecer, não entendia o porquê de estar tão tocada e envolvida com aquele homem que conhecera há poucas horas.

― Tenho namorado... – foi a única coisa que lhe veio no momento.

― Não quero seu namorado... – a resposta que ela não esperava veio como um aluvião que nem ele soube, naquele instante, o motivo.

A garota suspirou, lembrou na cena na suíte do hotel, do olhar desconfiado para suas pernas e novamente sentiu a calcinha ficar úmida.

― Você não acha que é muito cedo... – suspirou – Não tinha essa intenção...

Mas não se afastou, continuaram colados como se ainda houvesse música, como se não fossem o único casal dançando no barracão sem música. Apenas a música do desejo a lhes embalar.

― Vamos sair daqui – Mário deu-se em conta estarem só os dois – Me leva para algum lugar gostoso, sem essa multidão...

― Para onde? – não foi uma resposta, foi mais uma indagação a si mesma e se deu conta que havia falado sem perceber – Você jantou no hotel?

― Não... Tem algum restaurante onde possamos conversar?

― Vamos! – não falou mais nada.

Segurou a mão e puxou, a cabeça cheia de fantasias e nenhum destino previsível. Apenas queria sair Dalí, na verdade tinha medo de encontrar alguém que não entendesse o que nem ela entenderia.

No taxi não foi possível impedir o beijo, não queria impedir, sabia que aquele seria um fato inevitável.

― Espera... – empurrou com carinho – Vamos para a Litorânea – falou para o taxista que esperava olhando para a frente – Nos leve para o Asa Branca...

Na cabeça algo entre desejo de se entregar sem receios e um que de medo em estar entrando em mares nunca antes navegados. Suspirou forte, tinha de deixar de ser aquela garota com medo de seus desejos e se mostrar mulher madura.

― Não! – afastou o rosto – Vamos conversar...

Mário, naquele momento, não queria conversas, queria estar com ela e continuar senti-la com o sentimento estranho de que Suely seria muito mais que uma simples acompanhante, uma cicerone que lhe apresentaria a cidade e muito mais.

Não era bem um restaurante, a palhoça estava mais para um bar de praia. Pagou o taxi e acompanhou a garota que caminhava ereta em direção da areia. Apenas três outros casais bebiam cervejas em mesas rústicas debaixo de alguns cajueiros.

― Como se chama essa praia? – perguntou olhando as línguas de água que avançavam pela areia.

― Alguns chamam de Praia da Marcela... – parou esperando que a garçonete colocasse a mesa no local que escolhera – Não sei o nome, é entre a Ponta D’Areia e o Calhau...

Mario sorriu, não um sorriso de satisfação, era bem mais um sorriso por estranhar que uma garota atendente de hotel não soubesse o nome das praias.

― Gosto desse barzinho – Suely falou quase que para ela mesmo – Vem pouca gente e a cozinha é boa... – sentou e pediu duas caipirinhas mesmo sem saber se ele queria.

Ficaram sentados em silêncio por demorados quase oito minutos, apenas o soar das marolas quebrando na areia enchia o firmamento de sons.

― Não sou garota de programa... – virou para ele – Somente estou aqui com você por causa do tio e...

― Espera... – cortou – Você entendeu errado... Não penso isso de você, conheço o Joaquim há bastante tempo para saber que...

― ...Deixa eu falar – tornou cortar – Você não sabe nada sobre mim, não vou pra cama com o primeiro sorriso que aparece...

― Suca, você é que entendeu errado – segurou a mão quase gelada da garota – Estou adorando estar com você e ficaria super feliz se você me visse como amigo... – sorriu – Um amigo coroa que adora conhecer pessoas... Quantos anos você tem?

Suely olhava para as mãos entrelaçadas, o pensamento ora estava ali, ora longe.

― Vinte...

― Tenho cinquenta e três... – acariciou os dedos da garota – Tenho idade de ser seu pai...

― Isso não quer dizer nada.

― Também sei, só não sei o que você pensa de mim... – a garota ia falar, Mário não deixou – Você é bonita, alegre, sabe se expressar e tem um papo gostoso...

― Só isso?

― Claro que não, e... – sorriu – Muito gostosa...

― Como você sabe que sou gostosa?

― Seu corpo bem feito, seu jeitinho de menina sapeca – a garota sorriu – Se é boa de cama isso não sei...

― Saliente! – beliscou o braço de Mário – Não sou virgem e... E tenho uma filha... – respirou olhando no rosto dele querendo descobrir o que aquela revelação mudaria – Carmem Lúcia... É o nome dela... Tem quase cinco anos e... Foi um namoro de escola... – sorriu sem alegria – Hoje não me arrependo, amo minha fofuchinha... Errei, me entreguei para um rosto bonito que não assumiu o que me prometera...

Não era a primeira e nem seria a ultima a dar um passo errado na vida, saber aquilo aumentou o carinho que começava a nascer pela garota.

― Quero conhecer a fofuchinha... – puxou a mão e beijou a mão da garota – Também tenho uma filha... Fabíola que mora com a mãe...

― Faz tempo que você separou de sua mulher?

― Uma eternidade, dezoito anos... Fabíola tinha uns oito anos, hoje tem vinte e dois...

― E não casou de novo por quê?

― No princípio não queria saber de envolvimentos, doeu muito... Depois acostumei viver só e hoje não penso em casar novamente... – olhava dentro dos olhos da garota – A não ser se encontrar uma maranhense doida como eu... Quer se candidatar?

― Gosto de você, é brincalhão e... Muito bonito também – desviou o olhar e calou ao ver a garçonete aproximar com o pedido – Não sei se você gosta, mas eu adoro caipirinha...

― Com você topo tudo – riram e Suely balançou a cabeça – Poderia trazer o cardápio?

A garçonete se afastou.

― Topa tudo mesmo? – esperou que a garçonete se afastasse – Olha que sou virada!

― O que é ser virada?

― Sou meio maluquinha – tomou um gole da bebida – Gosto de me divertir, viver a vida – já não havia aquele temor de há pouco e não foi a bebida – Vamos dar uma volta!

Levantou e puxou pela mão, saíram caminhando com passos curtos até onde as águas morriam na areia.

― Não posso ficar contigo – suspirou e falou sem olhar para ele – Tenho namorado e... Não vou meter um chifre no coitado... Gostei de você...

Não houve tempo para continuar falando, Mário puxou pela cintura e colou a boca à dela. Não fez nada para evitar, sabia que pelo menos beijos seriam trocados e também não tinha tanta certeza de que tentaria impedir se ele fosse avante.

― Desculpa, não resisti – Mário estava meio acabrunhado.

― Eu queria... – sussurrou sentindo o vento balançar seu vestido – Eu quero...

Foi sua vez de forçar e se dependurou ao pescoço e grudou a boca à dele em um beijo intenso, carregado de volúpia e de desejos sem freios. Não foi como o beijo que ele lhe roubou, foi intenso e nem ao menos se deu em conta que as estrelas piscavam em aplausos por ter tido coragem.

Depois de jantarem peixe frito com arroz de cuxá saíram andando pela praia deserta, conversaram brincando sobre suas vidas e aos poucos se conheceram e um laço forte parecia lhes unir a cada novo beijo, a cada nova descoberta.

― Se tivesse trazido roupa de banho ia dar uns mergulhos – Mário falou.

― Pra que roupa de banho? – Suca sorriu – Também estou afim de mergulhar, vamos?

― Pelados? – puxou a garota e novamente se beijaram...

●●●●●●

No próximo capítulo:

● Suely leva Mário para conhecer sua mãe e sua filha e depois vão assistir ao Boizinho Barrica, um grupo folclórico onde conhece Ana Paula prima de Suely. Na casa de Ana Paula Mário fode Suely com a prima dormindo do lado.

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Comentários

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Envolvente,mas só para constar 18 + 8 é 26 e não 22, fora isso muito bom.

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