Já passava da 1 da manhã quando saímos do hospital São Rafael. A conhecida máxima que diz "O corpo quente esconde as dores" até é verdadeira. Mas no caso de Bruno é o corpo quente e o ego.
As consequências do embate com Tiago foram maiores do que ele deixou aparentar. Foram 2 costelas fraturadas, uma luxação do ombro, 3 pontos no supercilio e vários hematomas. Mas tudo isso era menor e eu sabia disso, minha preocupação estava focada no ego de Bruno. Será difícil para a maioria entender isso, mas o ego de um homem como Bruno é o maior problema. Todo "macho" tem um ego frágil, aliais o ponto fraco deles é o ego. Os danos no corpo eram desprezíveis, desde que o ego estivesse inteiro. E o problema estava justamente aí, Tiago alem de causar danos físicos, tinha maltratado o ego de Bruno.
A viagem de carro até o hospital foi feita em silencio, a volta acontecia da mesma maneira e foi aí que decidi falar.
Eu: -Bruno, eu preciso te agradecer direito.
Bruno se virou me olhando assustado.
Eu: -Você não tem idéia do quanto eu rezei pedindo a Deus que você viesse. Eu nunca me senti tão desprotegido. E só agradecendo a Deus por você ter aparecido para me tirar daquela situação.
Bruno: -Primo, tu realmente acha que sou muito idiota né?
Eu: -Ué Bruno, tá maluco?
Bruno: -Primo, eu sei o que tu tá fazendo.
Eu: -E o que eu estou fazendo Bruno?
Bruno: -Você tá tentando fazer eu me sentir melhor.
Eu: -Bruno eu estou só agradecendo o que você fez por mim.
Pronto, a merda estava feita. Ele estava certo, o que eu queria era ajudar a ele se sentir melhor. Mas acabei fazendo da maneira errada. Eu jamais em minha vida imaginei um dia ver Bruno a ponto de chorar. Ele sempre foi para mim um exemplo de homem, de macho, de virilidade, por postura, atitude, sei lá, ele sempre foi para mim o exemplo de como um homem deve ser. Ate eu queria ser como ele, e de repente o ver fragilizado daquela maneira, me fragilizou também.
Bruno ainda em tom serio: -A culpa de tudo isso é minha! Só eu posso ser culpado por isso. E te fiz promessas Matheus! Eu dei minha palavra pra você cara e eu não cumpri!
Eu: -Bruno a única promessa que você me fez foi que você não ia me machucar.
Bruno um tanto alterado: -NÃO! Minha promessa foi que eu não ia te machucar, que não ia deixar ninguém te machucar e o que eu fiz primo?
Eu: -Bruno você me protegeu!
Bruno: -Protegi o que primo? Eu fugi dos Estados Unidos porque tava com medo de tá gostando de você, arrumei uma nega só pra te machucar, deixei tu cair na mão do pior homem que pisou na Terra, deixei ele te bater e na hora que finalmente faço a coisa certa, na hora de te defender, o que acontece? Eu não defendo! Eu levei outra surra do mesmo cara! Outra surra, cara Tiago tá certo! Eu sou um merda!
Eu fui pego de surpresa pelo desabafo dele. Eu não tinha nenhum rancor dele. Sim, claro, ele me machucou, mas eu amava tanto aquele homem que eu não esta nem aí para nada daquilo.
Eu: -Bruno você é meu homem caralho! Tudo isso que você esta falando além de menor não é real! Você viu a minha atitude essa noite! Eu botei Tiago no lugar dele! Mas antes de você chegar eu estava me mijando de medo! Sabe o que foi que me fez ter coragem para encarar ele e botar freio nele? Foi você! Foi sua presença que me deu coragem, que me deu força! Que me fez colocar o dedo na cara dele e falar, para seu Porra! E sabe porque? Porque eu sabia que se ele tentasse me bater, me machucar, você estava ali para não deixar isso acontecer. Você era minha armadura, meu porto seguro, minha fonte de segurança.
A questão é que não só ele sofreu danos de Tiago, eu também sofri. O meu abdômen, na altura do estômago, não tinha um hematoma, tinha sim uma mancha roxa. Em meu pescoço haviam cinco hematomas, um para cada dedo dele e meu dedo indicador estava com uma luxação, não sei ao certo o porque desta luxação, mas ao que tudo indicava foi devida ao soco que dei no abdômen de Tiago. Na hora do soco senti o dedo estralar, mas não tinha certeza, como não tenho até hoje se foi isso. Mas que honestamente falando, acho que aquele soco doeu mais em mim do que nele.
Bruno riu de maneira fria: -Primo, coé? Vamo falar serio.
Eu: -Eu tô falando serio!
Bruno com ar triste, quase choroso: -Matheus, vamos parar de falar bobeira, ele me pancou, me dominou, e quase quebrou meu braço. Ele só não quebrou porque você se meteu no meio e não deixou. E não fui homem suficiente pra te defender! Eu que te devo desculpas, eu prometi te defender, eu prometi de proteger e o que eu fiz? Apanhei de um moleque, aliais, apanhei de novo, deixei você apanhar, deixei você se meter numa situação de medo! E sim, é culpa minha, se eu não fujo de você no exterior você não teria se metido nisso tudo. A falha foi minha! Eu errei, eu fiz merda e eu posso não ser homem pra te defender, mas sou para admitir as merdas que fiz e primo (nesse momento ele se virou no banco e olhou para mim) ele não vai te machucar de novo! Nem que ele me aleije, me mate, sei lá, mas mão vou deixar de novo ele fazer o que fez! Você não vai nunca mais sentir medo dele porque não vou deixar! Custe o preço que custar.
A situação era ruim. Eu não podia permitir que ele se sentisse como estava se sentindo.
Eu: -Bruno, porque você acha que Tiago te venceu?
Bruno se encolheu no banco: -Porque ele é mais forte que eu.
Eu: -Deixa de ser burro Bruno! Ele não é mais forte ou melhor que você! Ele é pior e mais fraco, ele te venceu porque estava dopado!
Bruno se virou espantado para mim.
Eu: -É isso aí, ele se injetou e não foi ninguém que me disse, eu vi! Também vi ele tomar umas capsulas de não sei o que com Red Bull, cole Bruno! Um soco seu mata um rinoceronte! E você batia no cara e ele mal sentia! Você é inteligente o suficiente para saber que isso não é normal! Agora para de se fazer de vitima! Você não é assim! Você é o cara mais brabo, forte e corajoso que eu já conheci! Assuma quem você é e para de se diminuir! Aquele fedelho, aquele merda, comparado com você não é ninguém!
Bruno abaixou a cabeça: -Ainda que seja verdade. Mermo que ele tivesse dopado, eu não podia ter apanhado de novo dele. Eu nunca consegui vencer ele. Toda vez ele me deixa no chão. Mas de todas as vezes essa foi a pior. Se tu não estivesse ali eu não sei cara. Não sei mermo.
Eu encostei o carro e puxei a cabeça dele fazendo ele olhar pra mim: -Se eu não estivesse ali, se eu não me intrometesse na hora que ele pegou seu braço, se, se, e mais se somente será se e nada mais porque eu estava ali e eu fiz aquilo. Mas se o seu se fosse a real situação sabe o que aconteceria? Você daria um jeito e soltaria seu braço e no fim o resultado ia ser o mesmo. Ele ia acabar no chão com a cara toda estourada de tanto você bater. Você é melhor cara! Nunca duvide disso porque eu não duvido.
E pela primeira vez ele sorriu e então me a abraçou. Ficamos abraçados alguns segundos quando ao me soltar ele continuou.
Bruno agora em tom mais firme: -Quer saber? Tu tá certo! Aquele fila da luta precisa se dopar pra me encarar! E ainda tem que me pegar na covardia. Nunca vem de peto aberto! Na honestidade.
Eu voltando a arrancar com o carro: -é isso aí. Cara pra todo mundo que você perguntar você vai ver que estou certo! Ele só derrotou você porque usou de covardia! Eu não consigo ver aquele pirralho te vencendo em uma luta justa! Você é maior, mais rápido, mais bonito, mais gostoso, mais fodão, resumindo, você é melhor!
E finalmente arranquei um sorriso de canto de boca dele. Pronto o trabalho de contenção tinha sido feito.
Chegamos em casa e fui preparar a cama para dormirmos no quarto de baixo quando ele disse:-Não! Seu quarto não é lá em cima? Então é lá que a gente vai dormir!
Não quis de principio ir para lá porque temia chatea-lo de alguma forma, mas sendo escolha dele assim fomos para o quarto.
Nos deitamos e abracei ele. Lógico que a possibilidade de sexo era zero. Ambos estávamos exaustos assim apagamos.
Acordei por volta das 7 horas. Observei Bruno dormindo por uns minutos e só então me levantei. Ao sair do banho ele não estava mais deitado, peguei um short e uma camisa no armário e ao me virar vi que ele estava na varanda do quarto, reclinado sobre o para peito. Pude observar nas costas e nas laterais do corpo os hematomas deixados por Tiago. Cheguei na porta da varanda e chamei ele. Ele se virou para mim, veio e me abraçou. Ficamos um tempo abraçado ate que ele me soltou.
Bruno: -A gente é muito otário sabia?
Eu: -Ué? Porque diz isso?
Bruno: -Aquele filho da mãe planejou tudo isso cara.
Eu: -Bruno, ainda esse cara é o assunto? Vamos esquecer dele vamos?
Bruno: -Não cara, você não ta me entendendo, ele planejou isso a meses atras cara.
Eu: -Como assim?
Bruno: -Lembra que tu me disse que ele atendeu meu celular?
Eu assenti com a cabeça.
Bruno: -Então cara, foi ai, ai que ele planejou essa porra toda!
Eu: -Bruno não viaja cara, você já esta começando a ficar paranóico.
Bruno: -Velho, sabe o que vai acontecer agora? Ele vai te pedir dinheiro pra deixar a gente em paz e vai ameaçar me pegar de novo se tu não der.
Eu: -Então eu dou Bruno! Que merda, se esse é o preço da minha paz de espirito, foda-se! Eu nunca liguei pra isso mesmo, e ate onde eu sei nem você, se é só isso que ele quer ótimo!
Bruno: -NÃO
Eu me espantei com a cara que ele fez junto com o não.
Bruno: -Tu não vai dar um centavo pra aquele escroto! Deixa ele vir pra cima de mim novamente que agora eu tô esperando por ele. Mas grana pra esse cara não me bater? Ah man sou macho caralho preciso disso não!
Eu: -Calma Bruno, eu sei que você não precisa, vamos esquecer desse cara por favor? Eu não aguento mais esse fantasma na nossa vida. Por favor.
Ele me puxou pelo braço e me deu outro abraço daqueles brutos que ele faz e passou a mão na minha cabeça ainda abraçado.
Bruno: -Falo, falo, hakuna matata.
Isso me arrancou um sorriso, ele realmente levava a serio essa filosofia. As vezes ele tem isso, essa meia inocência. Mas enquanto pela boca eu dizia para não pensarmos mais no Tiago, em meu intimo não conseguia parar de pensar. Eu tinha que encontrar com ele dali a algumas horas e precisava de uma desculpa para tirar Bruno de minha casa sem levantar suspeitas. Afinal ele precisaria pegar as coisas dele que ainda estavam lá. Bem, foi após o café da manhã que tive a ideia.
O cafe transcorreu muito bem, ele chegou a desamarrar a cara e ate rimos um pouco enquanto lavávamos os pratos. A televisão estava ligada e passou uma propaganda sobre uma agencia de turismo.
Eu: -Bruno, você já esteve em Sauípe?
Bruno: -Como rapa? So eu roubando um banco! Sou pobre esqueceu?
Eu rindo: -Ta bom, gostaria de conhecer?
Bruno: -É, a gente pode ver isso.
Eu: -Não, ver nada, vamos! Eu quero passar uns dias longe de todo mundo, curtindo você e o mar.
Bruno: -Porra, covardia, agora foi golpe baixo, você sabe sou louco pelo mar.
Eu: -Então! Vamos!
Bruno: -Pera ae, eu preciso ajeitar umas coisas na loja antes de sumir assim uns dias, e também preciso de roupa, sunga e coisa e tal.
Era o que eu precisava ouvir dele: -Então vai logo pra lá resolve suas coisas, eu vou resolver os detalhes para a viajem, vou devolver o carro a locadora e você me pega aqui e vamos no seu carro. Pode ser?
Bruno: -Fechado, vou tomar um banho e partir.
Eu esperaria ele sair e ligaria para Tiago, resolveria logo esse problema de uma vez por todas. Eu sabia que ele iria querer dinheiro, e eu daria. Mesmo Bruno desaprovando, eu só queria aquele cara fora da nossa vida.
Mas Bruno demorou muito no banho, subi ate o quarto para ver o que estava acontecendo. O encontrei sentado na cama ainda de toalha.
Eu: -O que houve?
Bruno: -Os coroas já tão sabendo que terminei o noivado, a noticia correu lá na cidade.
Eu me sentei ao lado dele: -Você não tinha contado ainda?
Bruno: -Não, eu tava precisando de um tempo pra conversar com eles.
Eu: -Bem, agora não tem mais como esconder isso né?
Bruno: -O lance não é esconder isso, é que vou chegar lá com a cara toda arrebentada logo depois deles saberem que terminei o noivado, vai ter muitas perguntas.
Eu: -Você esta com vergonha de falar de nos dois não é?
Bruno torceu a boca: -Na verdade minha preocupação é espalhar que Tiago me arrebentou.
Eu: -Você não precisa dizer nada.
Bruno: -Eles vão perguntar man.
Eu: -Então você diga para eles que não quer conversar agora, confirma só que realmente terminou com Andrea e que quando você estiver no seu momento você vai conversar com eles. Pronto, ate lá eu te ajudo. Agora vamos! Eu quero ir ainda hoje pra Sauípe. Lá a gente relaxa e esquece desses problemas todos.
Bruno assentindo com a cabeça: -É, hakuna matata, vamo la.
E em seguida se levantou e tirou a toalha. Eu vi aquele homem nu e foi quase imediata a minha ereção. E lógico que ele percebeu.
Bruno com voz malandra: -Aeee doido pra levar rola em primo?
Eu ri sem graça: -Você mal consegue rir sem sentir dor por causa das costelas. Como que vai transar?
Bruno encostando em mim: -Isso é problema meu, não seu.
Eu dando um passo para trás: -Pode ser, mas eu conheço muito bem meu macho, se você começar a transar agora já era, lá se vai o dia todo nessa brincadeira. E a gente tem bastante coisa pra resolver hoje. Não quer ir a Sauípe?
Bruno: -Querer eu quero, mas também quero esse rabo.
Eu: -Eu sei, mas lá em Sauípe a gente vai poder ter muito. Tá certo?
Bruno pareceu não gostar muito mas concordou, foi então vestir uma roupa e notei a feição dele, ele sentia dor ao se movimentar. Certamente as costelas dele doíam muito mas o que doía mesmo era meu coração. Me causava muita tristeza o ver naquele estado, que foi causado por minha causa. E essa era uma das razões qual eu não quis transar. Tinha também que havia prometido a Tiago que ate as 14 horas entraria em contato, não queria que ele aparecesse e ele e Bruno entrassem em conflito novamente.
Bruno insistia que podia dirigir, que estava bem, etc, etc, etc, tirado a brabo como ele era mesmo que isso não fosse verdade ele não aceitaria que estava mal. Era só uma hora de viagem, acreditei que ele não teria problemas.
Após a partida dele peguei o celular para ligar para Tiago mas enquanto discava o telefone tocou, era ele. Parecia pressentir que eu o ligaria.
Tiago: -E ae? Como vai ser pra gente acertar nossas contas?
Eu: -Passa aqui na minha casa.
Tiago: -Show! To doido pra dar de cara com o manezão, terminar de quebrar ele.
Eu respirei fundo e continuei: -Ninguém vai brigar hoje. Ele nem aqui esta.
Tiago: -Belê, mais ainda assim já vou preparadasso, se ontem tu me achou preparado, hoje você vai mudar teu conceito.
Eu: -Pra que disso? Já disse que Bruno não esta aqui. Você não precisa vir preparado por minha causa. Você em seu estado normal acaba comigo com um soco só.
Tiago: -E é bom você lembrar disso. Mas não vou preparado por sua causa não. É porque se eu não gostar da sua proposta eu vou terminar o que comecei ontem.
Eu: -Você não precisa me ameaçar. Eu vou dar o que você quer, agora venha aqui.
Tiago: -Espera que já já eu tô ae.
O já já dele levou quase duas horas. Eu já estava tenso, a demora dele não ajudou em nada. Deixei o porteiro de sobre aviso. Claro que o da noite já tinha passado para ele o que tinha acontecido. Iria receber Tiago com a porta da frente aberta. Sei que o certo seria encontrar com ele em um lugar publico para criar para mim mesmo uma falsa impressão de proteção, mas queria que ele sumisse com as coisas dele da minha casa. Claro que eu que já gostei daquele cara, mas agora sentia medo dele. Não era ódio. Era medo mesmo. Levou um tempo ate eu parar de sentir medo e vir a sentir ódio. Liguei para Bruno que já estava em casa resolvendo a vida dele. Pedi que me aguardasse lá. Não queria ele dirigindo novamente. E ele iria demorar por lá, pelo que me disse no telefone o sermão da família mal havia se iniciado e parecia que seria longo.
Por fim Tiago apareceu. O que ele disse era verdade, ele me fez mudar o conceito da noite anterior de preparado. O cara estava ainda maior do que estava na noite anterior. Justamente para me mostrar como ele estava chegou sem camisa. Ele suava e estava com um comportamento esquisito, falava em um tom de voz estranho, o achei levemente paranóico também, batia sempre com a mão aberta na cabeça. E o supercilio dele que estava aberto apareceu costurado e exposto. Sim ele não cobriu com um curativo como Bruno havia feito. Parecia que queria mostrar os pontos no rosto e o olho deformado pelo hematoma. Mas fora isso ele estava inteiro. Não tinha hematomas pelo corpo, diferente de Bruno ele parecia inteiro.
Quando chegou eu já havia separado suas roupas e coisas e colocado em 3 malas e algumas sacolas de lojas dessas que a gente sempre acaba guardando em casa. Ele revirou a casa, conferiu se não tinha ficado nada para trás e achou que duas correntes que comprei para mim pertenciam a ele e não discuti. Deixei que ele as levasse. Tudo isso feito ele se sentou todo largado no sofá.
Tiago com um tom malandro: -Então agora vamos lá. Faça sua proposta.
Eu: -Vamos atalhar essa conversa Tiago, o que você quer?
Tiago abriu aquele sorrido odioso dele: -Belê, vamos ataiar.
Tirou a carteira do bolso, tirou os documentos do carro de dentro e jogou sobre a mesa de centro.
Tiago: -Assina ae a transferencia, vou ficar com o carro.
Eu sabia que aquilo seria um problema para explicar a Bruno, mas insisto, eu só queria que ele desaparecesse da minha vida. Se um carro era o preço, tudo bem.
Eu: -Ok, eu assino, sem problema. O que eu vou ter em troca por assinar isso?
Tiago agora em tom serio: -A garantia que eu vou sair daqui e tu ainda vai ser capaz de andar.
Eu senti um frio na barriga de medo, mas fiz de tudo para não deixar transparecer e firmei a voz: -Não, eu quero mais que isso.
Tiago abriu novamente o sorriso: -Claro que tu quer. E eu nem comecei a dizer tudo que quero seu Zé. A caranga é só a garantia que não vou mais relar em você como quer seu machinho de merda. Tu vai garantir que caranga vai tá em meu nome, e vai barcar ele. Vai bancar o gás (gíria baiana para gasolina), revisão, seguro, conserto e a cada dois anos garantir a troca dele por uma mais novo, tudo vai ser por sua conta. Se ligou?
Eu achei aquilo um absurdo: -Espera ai Tiago! Isso é demais!
Tiago ainda sorrindo: -Demais? Bem já vi que não vai rolar acordo aqui. Vou ter que procurar o Bruninho pra terminar o que comecei. Ele tá aonde? Internado? Vou ter que invadir um hospital pra alejar ele?
Eu não ia engolir aquilo: -Bruno foi trabalhar. Ele esta ótimo, assim como você.
Mas a verdade é que eu temia do que poderia acontecer com Bruno. Ele não estava bem, já Tiago parecia estar novo, e agora parecia estar muito bem. E ele achou meu ponto fraco. Bruno era mais importante para mim.
Tiago: -Ótimo! Vou me divertir mais. Ele vai aguentar pancada por alguns segundos a mais! Aliais não. Ontem eu tava fraco, hoje (olhou para mão fechando o punho) eu hoje tô forte, e na boa? Bem mais cruel. Acho que um soco basta pra estraçalhar as costelas. Vou separar uns dez.
Eu sabia como agir ali: -Ok Tiago você venceu. Eu sei que entre você e Bruno você vai levar. Eu não quero mais isso. Beleza, a gente tem um acordo. Eu vou cuidar do seu carro nos termos que você quer.
Peguei o documento e assinei. Ele ressaltou que precisava de uma copia de meus documento, usei a impressora multi-funcional para fazer as copias e entreguei a ele e achei que tinha terminado quando ele continuou.
Tiago: -Muito bem, agora tu tá salvo, já temos um acordo pra eu não te arrebentar, agora sobre o Bruno...
Eu assustado: -O que?
Tiago em tom serio: -É isso ae, isso só garante você. Agora se tu quer garantir que eu não vou brincar de espancar ele ate aleijar a gente tem que fazer um acerto aqui.
Eu: -Você não pode estar falando serio?
Tiago encostou em mim e me encarou: -Quer mesmo apostar nisso?
Eu engoli seco: -O que mais você quer?
Tiago agora voltou a sorrir: -Tá vendo? Tu já sabe o que sou capaz né? E a barriguinha como tá?
Eu: -Ta bem
Tiago me agarrou pelo braço: -Deixa eu ver.
E então levantou minha camisa na altura do soco e viu a mancha que de tão roxa estava quase preta.
Tiago riu satisfeito: -Caralho, uma porradinha de leve, tu é muito moça, se bato com força como bati em Bruno ontem? Tu tava morto né?
Eu inutilmente tentando me soltar da pegada dele: -Diz logo o que você quer.
Ele então me soltou: -Calma, tu sabe que agora eu não te machuco mais e ficou brabo foi? Relaxa.
Eu respirei fundo e me recompus.
Tiago: -Quero uma mesada, playboy!
Eu soltei um riso de escárnio: -Claro, tenho que bancar sua boa vida também não é?
Tiago: -Se você escolheu ficar com um macho de segunda, que não pode se proteger ao invés de um classe A como eu tem que pagar o preço. Se tu ficasse comigo não teria esse estresse agora.
Eu: -Tá bom, fica com o cartão que te dei, eu continuo pagando a fatura.
Tiago riu: -Um cartão de três conto de limite? (conto = a mil pra baiano)
Eu: -Você acha pouco?
Tiago: -Eu quero dez conto.
Eu arregalei os olhos: -O QUE!?!?
Tiago com o sorriso maldito nos lábios: -Pois, sou um cara de gostos simples, isso basta pra mim.
Eu: -Você quer que eu desembolse dez mil por mês com você?
Tiago: -Na verdade você escolhe, ou isso ou brinco lá com seu machinho. Escolhe ai.
Eu passei a mão pelo rosto e respirei fundo.
Tiago: -Ah coé viadinho deixa de drama, isso não dá nem 5 conto de dólar e tu ganha muito mais que isso que to ligado. Eu tô sendo teu brother e pedindo pouco! Minha vontade era de espancar aquele froxo ate a morte e tô passando por cima disso em consideração a você. E tudo que te peço em troca é um agradinho.
Eu olhava serio para ele. Tinha um tom de ódio quando ele falava de Bruno, ele deixava bem claro o quanto odiava o irmão. E depois de ver ele derrotar Bruno eu temia sobre o que ele seria capaz de fazer. E por alguns segundos em minha cabeça vi o braço de Bruno ser arrebentado por Tiago, vi ele sendo espancado e aquela imagem do que poderia ter acontecido era forte demais em minha mente.
Eu: -Ok, vou aumentar o limite do cartão. Você venceu Tiago.
Tiago encostou em mim e segurou meu rosto com a mão e falou em um tom misto de satisfação e escárnio: -Eu sempre venço viado burro. Tu só é inteligente pra matemática e essas merdas que você trabalha. Pra vida tu é um babaca.
Soltou meu rosto e continuou: -Pode ir lá dizer pro babacão relaxar. Não precisa mais andar com medo na rua, diz a ele que tu comprou a integridade física dele.
Eu soltei um grito firme: -NÃO!
Ele me olhou com raiva e eu continuei: -Ninguém vai saber desse nosso trato.
Tiago me olhou com estranheza.
Eu: -Bruno nunca aceitaria isso, preferiria morrer apanhando de você do que aceitar isso tudo que acertamos aqui. E assim perde ele pra você, perde eu que perco o homem que amo e perde você que não leva nada de mim.
Tiago me olhava com raiva enquanto uma gota de suor que não sei da onde vinha, já que ele estava parado desde a hora que chegou mas continuava suando, escorreu pela testa dele passando pelo nariz e pingando no chão e não se mexeu. Apenas me olhava.
Eu: -E então?
Tiago: -Beleza, tu tá certo. Ok, vou deixar ele arrotar de macho. Agora se ele me olhar de um jeito que eu não goste. Vai apanhar.
Eu: -Não, não vai não, nos temos um acordou ou não? Você não é homem para honrar o que promete não?
Tiago: -Claro que sou. Mas nosso acordo é que não vou espancar, não disse nada sobre não dar um socou ou outro na cara dele. Garanta que isso não aconteça e aconselhe ele a ficar longe de mim.
Dito isso pegou as duas malas no chão como se estivesse cheias de isopor tamanha a facilidade que as levantou e seguiu para o carro. Não ajudei ele com nada. Deixei que pegasse tudo e seguisse para levasse para dentro do carro sozinho enquanto apenas observava. Ele manobrou e um pouco antes de sair terminou.
Tiago: -Providencia outro cartão pra o combustível e os gastos com o carro e rápido. Nesse meio tempo me da uns 500 paus ae que tô com pouca grana. E vê esse aumento de limite ate segunda hein.
Voltei em casa, peguei os R$500,00 e dei na mão dele. Ele riu e deu um tachazinho com a mão e saiu satisfeito. Afinal ele tinha ganho.
Pelo menos era isso que ele pensava. Foi só o carro sair pela garagem para eu rir comigo mesmo. E em meu pensamento eu dizia para ele:
“Eu sou o burro babaca né? Vem atras de mim nos estados unidos cobrar tudo isso vem que eu quero ver.”
Pois é, eu não ia conseguir ser feliz com Bruno no Brasil. A sombra de Tiago iria nos perseguir. Nos EUA eu estaria em paz. Nunca ele conseguiria um visto e na hipótese provável que ele conseguisse. La com um telefonema em cinco minutos a policia chega, lá eu e Bruno estaríamos em paz e seguros.
Mas agora vinha a parte difícil. Convencer Bruno a voltar para os EUA.
CONTINUA...