.. (ficção) ..
A raiva manchava os olhos de Alberto como nunca havia manchado antes. Sentado na fria calçada em frente sua casa não podia suportar a realidade que acabava de descobrir.
Marcos não gostava de garotos, mas se divertia com os garotos que se vestiam de garotas. Fazia isso quando as meninas lhe negavam companhia e depois de muita bebida, procurava os travestis da cidade para não ter que dormir com o atraso ainda presente.
Poderia existir para ele, naquela noite, dor mais forte do que aquela? Poderia Alberto suportar o peso do próprio coração que se desmanchava dentro do peito?
- Me desculpe Alberto, mas você não é o tipo de garoto que eu costumo usar. Não tem nada que me faça pensar que você pode ser mulher para mim e olha, sou seu amigo... Você não deve se insinuar assim, por favor, pare com isso. Esse lance de comer veados para mim é falta de opção, você sabe que prefiro as mulheres. Às vezes acontece quando não tenho outra saída a não ser essa, mas não vai acontecer entre nós, mesmo se eu estiver sem escolha entende? Eu não sou bicha.
Após destroçar os sentimentos do amigo com tamanha frieza, Marcos virou as costas e o deixou ali. Jogando ao vento seus cabelos de roqueiro ele acreditava que o amigo iria superar, mas não sabia que por toda vida, desde quando se conheceram no colegial, Alberto foi apaixonado por ele.
Limpando as lágrimas ele bateu a porta quando seu amor se perdeu de vista. Subiu correndo as escadas, se trancou no quarto e passou a noite mais escura de sua vida convencido que o próximo passo seria esquecer Marcos. Naquela noite, toda esperança que existia no menino se despediu como neblina ao amanhecer.
- Como passou a noite?
- Chorando.
- Por minha causa, digo, me desculpa cara, mas eu te mandei a real ontem. Tinha que ser assim.
- Eu descobri que estava vivendo uma mentira não é mesmo? Foi assim e sabe como será de agora em diante?
Marcos não podia estar ouvindo tamanha baboseira. O amigo estava apaixonado por ele e a primeira ceninha estava acontecendo naquele momento.
- Ferrou... Pensei que você estava brincando quando tentou me beijar. Pensei que fosse a vodka, mas olha só cara... Você está sóbrio, na minha frente, me provando que é mesmo uma bicha.
- Estou provando que era, até ontem, sim pode ser. Mas o meu motivo para ser uma bicha não existe mais.
Alberto se afastou e saiu andando rumo à sala de aula, então os dois já não eram mais amigos. Não andariam juntos, não sairiam para as baladas, não conversariam sobre intimidades e não seriam mais nada um para o outro.
Anos se passaram e Marcos já nem se quer ouvia falar de Alberto. Se foi uma bicha magoada que não suportou um fora e virou as costas na companhia do choro, ele que se ferrasse. Marcos quis continuar sua vida, comendo meninas e travestis. E assim viveu dos dezesseis aos dezenove anos. Não namorou, não se apaixonou e não tentou descobrir o significado do amor.
Do outro lado a vida de Alberto foi um verdadeiro inferno. Lutou contra a emoção por intermináveis noites sem dormir. Reprimido, magoado, sem motivos para viver ele permitiu que a depressão levasse embora toda sua adolescência. Lembrava do amor perdido assistindo vídeos pornográficos.
Se transvestir por uma noite, apenas uma noite. Afogado em um plano de vingança ele construiu sua obsessão.
Quando descobriu que Marcos ainda estava na cidade, que vivia num bairro não tão distante, fez suas pesquisas e encontrou uma forma de se aproximar. Mas o motivo dessa vez não tinha nada a ver com amor.
Seu apelido no bate papo virtual foi travinha safada. Nada original, mas o suficiente para atrair o interesse de Marcos. Como isso foi possível? Tinha lá Alberto seus truques, nada tão difícil para um garoto obcecado. Imagine você querendo muito alguma coisa...
Duas semanas de conversa e o encontro enfim foi marcado. Rever o garoto que um dia pisou em seu coração, mas que jamais esqueceu e ter com ele alguma chance? Finalmente provar o que por anos não passava de pensamentos de masturbação? Alberto fervia de ansiedade!
Invadiu o guarda roupas de sua mãe quando ela não estava em casa, escolheu a lingerie mais sensual e o vestido vermelho mais caro. Comprou uma peruca no salão da esquina e fez nela algumas mechas vermelhas. Depilou o rosto, as pernas, a barriga e os pêlos pubianos. Sentiu-se mulher pela primeira vez para que pela primeira vez pudesse provar o gostinho do sexo com a única pessoa que despertou seus desejos em toda sua vida, Marcos.
Batom nos lábios, delineador nos olhos, blush no rosto, enchimento no sutiã, salto nos pés, decote, vestido, cabelos longos... Alberto se tornou uma linda mulher naquela sexta feira.
Quando Marcos abriu a porta a sensação foi de espanto. Conheço ele, ou ela sei lá, de algum lugar – pensou, mas afastou esse pensamento, afirmando para si mesmo que aquilo não passava de uma breve e besta impressão sua.
- Vamos entrando. A propósito, você é linda.
- Obrigada Marcos.
Como ela sabia o nome dele? Os dois se conheciam? Mais uma impressão que Marcos tentou ignorar. Entre várias conversas com certeza deixou escapar seu nome verdadeiro, caso contrário, como explicar?
Os dois se sentaram no sofá.
- Quer beber alguma coisa?
- Vodka, por favor...
Cada palavra de Alberto, em sua versão feminina, relembrava um detalhe daquela noite, há quatro anos atrás.
- Eu tive um amigo que... – Marcos coçou a cabeça começando a achar coincidência demais.
- Que já passou uma noite inteira chorando por você?
- Não – agora ele estava assustado. – Eu tive um amigo que costumava beber vodka comigo.
- E que você nunca pensou que poderia ser mulher?
Marcos quis se levantar e mandar aquele travesti embora. Agora tinha certeza, já não era mais impressão, Alberto estava ali, vestido de mulher e ele precisava se livrar dele. Tarde demais, pois a garota já apertava seu pênis sobre o tecido da calça jeans.
- Alberto?
Ela desabotoou a calça, abriu o zíper e tirou o pau do ex-amigo para fora. Não disse uma palavra, apenas olhou em seus olhos e passou a língua nos lábios, molhando o batom vermelho num gesto sensual.
- Depois de tantos anos, eu não entendo. Quer dizer que...
Agora ela chupava, exterminando qualquer palavra que pudesse surgir na mente de Marcos.
- Ah, Alberto, que boquinha você tem!
O pau molhado babava de tesão na boca da menina. Enquanto ela se deliciava ele tirava a roupa com uma mão e com a outra acariciava seus cabelos. Ainda pensava em expulsá-lo, mas queria aproveitar a ocasião. Gozar primeiro não seria uma má idéia. Só dessa vez, depois eu dispenso a trava, pensava ele.
Arrancou seu vestido e tentou não se lembrar que ela também tinha um pau. Beijou seu pescoço, lambeu suas costas e apertou o enchimento do sutiã tentando fazer de Alberto uma menininha feliz.
Não se importou com o que poderia acontecer depois, não quis saber detalhes sobre a vida do amigo que um dia o largou e anos depois resolveu aparecer, de surpresa.
E o que pensava Alberto? O homem que desgraçou sua vida estava ali colocando o pinto para dentro de sua bunda e ele ainda conseguia sorrir. Ele metia com força, ela se contorcia de dor, mas pedia mais, e mais forte e com mais safadeza.
Meteram de quatro, de lado, em pé, de bruços... No sofá, em baixo do chuveiro e até na cozinha. Duas horas de putaria e Marcos ainda estava ali, fodendo e humilhando alguém que já tinha humilhado antes.
Ironia do destino, essa bicha gosta de sofrer. Acabei com seu coração, agora estou acabando com o resto. A safada não conseguiu passar a vida longe de mim. Ainda me ama.
- Ainda me ama né? Depois de tudo, você ainda me ama? Ama? Ama? Ein? Gostosa... Estou realizando seu sonho não é mesmo? – Marcos gemia enquanto a porra se esguichava para dentro dela.
- Gozou safado?
- Gozei, e muito... Você é tão apertadinha...
- Ainda quer saber se eu te amo?
Ela se levantou, pegou sua bolsa preta e enfiou a mão dentro dela. Sentada sobre a barriga do parceiro ela o olhava satisfeita, com a mão ainda dentro da bolsa. Marcos tocou seu rosto levemente e sorriu, sentindo algo que jamais sentira antes.
- Eu achava que não. Mas agora acho que sim. Alberto – ele não estava acreditando no que pensava em dizer. – Porque eu acho que também te amo. Todos esses anos e você ainda gosta de mim, se vestiu assim para mim, foi mulher para mim. Confesso que no inicio eu pensei em te mandar embora. Mas agora não penso mais. E quero mais, quero te ver de novo. Então eu quero saber...
Ele parou para admirar a felicidade que radiava em Alberto. Algo dizia que o passado estava apagado e que tudo estava diferente. Ele fez isso por mim, não me esqueceu, me fez essa surpresa. Alberto pode ser minha mulher. Ele imaginava enquanto se preparava para fazer a pergunta que mudaria o rumo de toda história.
- Sim, eu quero saber. Você ainda me ama?
Alberto revelou o que segurava dentro da bolsa e o movimento foi rápido. Em dois segundos o pescoço de Marcos estava cortado.
- Não... Eu não te amo.
Enquanto Marcos tentava inutilmente impedir que o sangue jorrasse em suas mãos, Alberto sorria, mostrando o verdadeiro motivo de sua felicidade.
- Me desculpe Marcos, mas você é um garoto que não vai me usar. Não consigo pensar que poderia ser mulher para você. Não sou seu amigo... Não sangre assim, por favor, pare com isso. Esse lance de te matar para mim foi falta de opção. Aconteceu porque não tive outra saída a não ser essa. Ao contrário de você, eu tenho escolhas... E eu não sou bicha!
Estas foram as últimas palavras que Marcos ouviu, antes de fechar os olhos e se tornar um cadáver. Então Alberto tomou um banho e fez uma ligação.
Quando a viatura chegou ele estava sentado no sofá, fumando um cigarro e vestido normalmente, com uma calça jeans, camiseta preta e boné. O corpo de Marcos usava peruca, batom e lingerie.
- Mas que merda! – disse o policial, impressionado com a cena, enquanto pegava as algemas.
Alberto simplesmente estendeu os braços e deu uma gargalhada.