((((( Pessoal, muito obrigado pelos elogios, de verdade, desde os que estão lendo o meu conto “em tempo real” até os que começaram agora. Eu fico muito feliz! Peguei uma gripe infernal, não fui trabalhar e pros que se recordam, estou sem computador em casa. Pois bem, estou numa lan house tensíssima digitando esse capítulo 10 emocionante pra vocês! Beijos! )))))
Está poucos metros de mim, talvez unsNão importa! Ainda não descobri até aonde vai a sua capacidade de irradiar fogo. Meu corpo está quente... quente da bebida, do beijo de Vinícius e agora pelo fato de eu estar na zona vulcânica de Rafael. Os pingos finos de chuva que caem parecem evaporar ao tocar em mim. Estou com calor e a intensidade dessa chuva não está me satisfazendo. De repente, entro em combustão e tudo sai em forma de vômito.
- Felipe! – grita ele, correndo até mim. Não consigo fitar seu rosto, estou concentrado em mirar toda aquela nojeira na rua. – abaixa mais a cabeça, pra sair tudo de uma vez. – diz, tocando minha nuca e forçando-a suavemente para baixo. Seu toque me causa um arrepio imensurável e uma linha fria partindo do lugar onde tocou percorre minha medula. Nesse momento, aquele calor passa e meus sentidos ficam abalados. A chuva fica mais forte. Meu Deus, estou vomitando pela vida inteira?! Digo “argh” e fecho o nariz com as mãos internamente. Os “intervalos de vômito” ficam mais longos, permitindo-me olhar sua expressão. Uma mistura de nojo e pena paira no seu semblante. Me envergonho. Repentinamente, uma fraqueza instantânea me atinge e eu só tenho vontade de fechar os olhos. – Felipe, você tá pálido, deita aqui!. – meus olhos continuam fechados, porém sinto-o me movendo facilmente e deitando minha cabeça em sua perna com o seu braço servindo de apoio. Sinto um cheiro de jeans limpo entrar pelas minhas narinas. A chuva cai com mais intensidade e minha camisa começa a colar no meu abdômen... silêncio... agora é a calça... sou incapaz de mover um músculo, estou inerte demais. Gotas escorrem pelo meu rosto. Pelo meu couro cabeludo. Ele diz algumas palavras... Não consegui assimilar todas para dizer agora. Acho que foram “entrar” e “chaves”. Sinto minha cabeça encostar-se ao chão agora. Será que ele me deixou ali e foi embora? Subitamente, alguma força me levanta num puxão e me conduz pra dentro. As gotas param de cair e eu ouço um ferrolho ser passado.
***
- Felipe? Tá me ouvindo? – uma voz sussurra. Abro os olhos lentamente. Um rosto alvo iluminado apenas pela luz do abajur surge em meu campo de visão. Seus cabelos estão molhados, mais escuros do que o normal. Está olhando pra mim espantado... apreensivo. Me sinto capaz de responder.
- Sim... estou bem. – digo, passando mão pela barriga. Estou sem camisa e coberto por algum lençol.
- Onde é o seu quarto? – pergunta ele, olhando para os lados.
- É na primeira porta depois da cozinha. – digo, em seguida tossindo. Um gosto horrível de caipirinha mal digerida domina minha boca.
- Pxiiii! Tosse baixo! Tem alguém em casa? – fala ele, estreitando os olhos.
Puta merda! Será que minha mãe tá em casa?! Nessa hora desperto do meu estado pós-vômito como se tivesse enfiado a cabeça dentro de um balde com água gelada. Se minha mãe acordar e vir Rafael aqui ela primeiro mata ele e depois me deixa no mínimo tetraplégico. Porém, estou sem forças nas pernas. Uma vontade de rir me domina.
- Hahahahahaha! – solto uma gargalhada. Rafael revira os olhos pra mim e balança a cabeça, me reprovando. Ele levanta do sofá e me pega rapidamente no colo, andando o mais rápido que pode em direção ao quarto.
- Idiota! Quer me fazer ir pra cadeia por invasão domiciliar? – diz ele, abrindo a maçaneta com o cotovelo.
Estou de olhos fechados. Ouço outra porta ser aberta e um estalar faz uma claridade sucumbir minha visão. Abro os olhos. Ele está ligando o chuveiro. Fecho-os. Eu estou apoiado de pé, sem saber como, em seus ombros. Ele me coloca sentado no chão do box e eu sinto agora um rojão gelado despertar meus músculos. Abro os olhos novamente e o vejo de pé me olhando, atrás do vidro. A visão embaçada da sua respiração no vidro faz com que eu não enxergue o seu rosto nitidamente. Está de calça jeans, outro tipo de tênis largo e uma jaqueta frouxa de mangas longas. Levanto-me. A água que geralmente me traz relaxamento e me deixa em transe, hoje foi um dos melhores despertadores que já tive na vida. Olho para o meu corpo. Estou apenas de calça jeans e descalço. Timidamente, digo:
- Você pode pegar uma toalha que está pendurada atrás da porta?
Ele sai, sem dizer nada. Segundos depois volta, trazendo-a e voltando para o seu lugar atrás do vidro. Não posso sair de calça jeans do banheiro e ele está ali, parado, me olhando. Encabulado, peço novamente:
- Você pode sair? Preciso tirar a roupa. – digo, passando a mão no cabelo.
Ele me fita por uns instantes, depois diz:
- Claro.
Em seguida sai, fechando a porta. Tiro a calça e a cueca. Estão encharcadas. Meu raciocínio está novamente voltando ao normal. Peraí... ele está molhando no meu quarto? Merda! Espremo as duas e depois as estendo no box. Enrolo a toalha na cintura. Preciso tirar aquele gosto de vômito da boca. Escovo os dentes, rapidamente. Nesse momento, a ficha cai. Ele está no meu quarto, na minha casa. Meu Deus! E agora? Estou com os olhos arregalados internamente. E vou ter que encará-lo assim, de toalha? Respiro fundo. Abro a maçaneta e saio. Ele abriu as persianas e está olhando a chuva cair lá fora... sentado na cadeira do computador...parado...só de toalha. Suas costas brancas e definidas dizem “olá” para mim. Seus cotovelos estão apoiados na mesa e ele está com as mãos entrelaçadas. Embriago-me com aquela imagem. É um dos caras mais lindos que já vi na vida e ele está apenas de costas. De repente ele se vira na cadeira e eu desvio o olhar para cama. Merda! Mais uma confissão de “eu te acho muito gostoso”. Ele diz:
- Hum... Desculpa, é que eu também tava muito molhado e tirei a roupa... pra não molhar muito o seu quarto... e... também acabei pegando essa toalha no guarda-roupa.
Volto a olhar pra ele. Está com o tórax semi-flexionado para frente, o que acaba mostrando a definição de seu abdômen. Divino. Recupero o fôlego.
- É... tudo bem... – respondo, andando em direção ao guarda-roupa.
- Você... pode me emprestar... sei lá... uma bermuda? – diz ele, timidamente.
- Sim... quanto você veste?O mesmo que o meu! – viro pra ele, que sorri. Jogo uma bermuda com um detalhe de fogo pra ele.
- Obrigado – ele se vira, agradecendo.
Pego uma cueca e continuo procurando uma bermuda para vestir. Também pego uma camisa, pois vai fazer frio. Ao me virar para ir ao banheiro me vestir, me deparo com Rafael de costas... nu... enfiando uma das pernas na bermuda. Meu coração dispara. Estou petrificado internamente. Sua bunda é linda, branca e macia. Ele tem uma pequena tatuagem na cintura, um pouco atrás. Parece ser um arcanjo... não consigo identificar. Ele vira a cabeça pra mim e dessa vez eu não consigo disfarçar... quer dizer... nunca consegui.
- Você ia demorar muito no banheiro. – me olha, fazendo uma cara de “ah, que se foda”.
- Você podia ter esperado! – respondo, num tom mais duro do que pretendia.
- Não sei esperar. – diz ele sorrindo e acertando o velcro da bermuda.
- Isso é um problema. – digo, indo em direção ao banheiro.
Tranco a porta. Estou excitado, muito excitado. Aff, não vou tomar outro banho! Ele ia achar estranho. Tento imaginar coisas calmas, sem calor. Pronto, acho que é só vestir a cueca do jeito certo e consigo esconder a minha ereção. Visto a cueca, bermuda e a blusa. Respiro, dessa vez mais fundo, e saio do banheiro. Ele voltou a se sentar na cadeira do computador e agora está mexendo no celular. Ainda há resquícios de coragem oriundas da bebida. Não perco a oportunidade e digo:
- Hum... finalmente conseguiu um celular.
Ele vira os olhos pra mim, com um olhar furioso. Meu semblante muda da alegria pro “merda”. Ele solta um riso.
- Hahahaha, sim. Esse eu comprei!
- Que bom. – respondo, secamente. Me encarando novamente, ele joga o celular na cama.
- Então... foi... boa a festa?! – pergunta, num tom sério.
- Não era exatamente uma festa... fui conversar com um amigo. – digo, tentando ser o mais natural possível.
- Hum... pelo estado que voltou, vocês devem ter feito tudo, menos conversado. – diz ele, girando na cadeira, como uma criança.
- A bebida de lá é boa. – percebo a ambiguidade na sua frase e, corajosamente pergunto – mas, o que tá querendo dizer? – vou até a cama e me deito, sem tirar os olhos dele.
- Nada, ué... só quis dizer que devem ter se divertido bastante.
- Sim, nos divertimos muito.
- O que vocês fizeram?
- Conversamos e bebemos, já disse. – digo, num tom sombrio.
- Tudo bem, não precisa se irritar! Eu sei que sou um estranho. Só estou esperando a chuva passar pra eu me mandar. – diz ele, aumentando o tom de voz e levantando os braços.
- Fala baixo porra! A minha mãe tá aqui no outro quarto, se ela acordar e vir você ela te mata, ou esqueceu que você me roubou? – digo, tirando a cabeça do travesseiro para encará-lo.
De uma irritação cômica, sua expressão muda para uma tristeza leve. Ele se levanta e senta no canto da cama. Minhas pernas tremem a medida que ele chega perto e minhas bochechas comicham.
- Você nunca vai esquecer disso né? – diz ele, num tom tão grave que faz sua voz falhar.
- Aconteceu há menos de um mês, queria o quê? – digo, num tom arrogante. É impressionante como o meu lado mais sombrio se aflora quando eu estou perto dele.
Como se ignorasse minha pergunta, ele boceja. Um trovão cai lá fora, fazendo seu rosto se iluminar. Ele olha pra mim.
- Eu vim aqui... pra te agradecer, por você não ter dado queixa. – diz ele, apoiando os cotovelos no joelho e fitando o chão. Outro trovão.
- Não precisa agradecer, não queria que você fosse preso por besteira.
Outro trovão. Seu rosto se ilumina mais uma vez e eu posso ver um sorriso em seu rosto. Está feliz... radiante.
- Você acha que aquilo foi besteira? Sua mãe queria que eu fosse preso! – diz ele, se aproximando mais.
- Sim... você não quis me roubar, estava drogado. – na hora me arrependo do que disse. Trovão. Seu rosto muda da felicidade para a frustração.
- Você não precisa ficar repetindo isso, eu sei como eu estava, eu lembro de tudo. – diz ele, levantando a voz em cada palavra. Trovão.
- Eu já disse pra você falar baixo, caramba. Minha mãe tá dormindo e você tá na minha ca... – num movimento rápido, típico dele, ele pula em cima de mim e me imobiliza, tampando minha boca e prendendo os meus braços com os joelhos.
- Cala a boca! – diz ele. Trovão. Nossos olhos se encontram. Estamos perto, agora sentindo o calor um do outro. Trocando energias. Trovão. Está ofegante. Seus cabelos estão quase secos e posso vê-los brilhando a cada trovoada. Trovão. Ele tira os joelhos de meus braços mas continua em cima de mim. Em seguida tira a mão da minha boca. Trovão. Nossos olhares estão interligados por algo fora do comum. Algo que eu não sei descrever. Algo mágico, manipulador, agressivo. Posso sentir a pele quente dos seus testículos por dentro da bermuda no meu peito. Trovão. E como num golpe, ele me sufoca num beijo enérgico. Um beijo que marca o começo de um grande incêndio.