• 18 – Pai
– Primeiramente, Eu queria saber como você conseguiu chegar até aqui sem ser notada. – Falei trancando a porta de meu quarto e sentando-me na cama.
Era incrível como a Nadine, nos últimos dias, havia andado com um comportamento de fantasma; era invisível, não nos fazia falta e, quando aparecia, nos dava sustos.
– Bom, como você mesmo disse, não posso usar quase nenhuma parte dessa casa e não posso entrar pela porta da frente. Eu vim com a Silvia, porém tive de entrar pela porta da cozinha, aproveitei para subir ao seu quarto e vir conversar com você, te esperei até agora e...
– Eu também disse que você não podia entrar no meu quarto, certo? – Perguntei, levantando a sobrancelha.
– José, Eu apenas preciso conversar com você, tal como conversei com o Walmir. – Na hora me subiu uma certa raiva por ele ter pronunciado o nome dele.
– Olha lá o que você vai falar sobre o meu Baixinho. – Falei levantando impaciente da cama.
– Não é sobre ele. É sobre nosso filho. – Sim, nós ainda não havíamos conversado sobre isso. – Quando digo “nosso”, incluo o Walmir também. Como Eu disse anteriormente, a ele, Eu não quero mais causar confusões na relação de vocês, estou feliz com o meu namorado e com a minha nova vida. Eu só peço que você se faça presente na vida dessa criança; não a odeia e não a menospreze. Esse bebê não terá uma mãe presente, apenas você e o Walmir.
– Como é? – Indaguei surpreso.
– Não posso criar essa criança, tenho uma vida para viver. Você e o Walmir darão todo o conforto preciso a ela. Só é preciso aceitar. Caso contrário, infelizmente, entrarei na justiça pela luta da pensão dessa criança e não vai ser muito bom para você. De qualquer jeito, terás que gastar rios de dinheiros, ao menos Eu não estarei nos pés de vocês se vocês, por livre e espontânea vontade, ou pressão – Ela sorriu e Eu a segui. – aceitarem. O que me diz?
– Olha, Nadine! Eu não sei. É muito complicado ‘tudo isso’. Eu não sei se saberei ser um bom pai para essa criança, Eu também sinto que não estou preparado... Enfim, uma série de ‘n’ fatores me diz para não aceitar essa proposta maluca, mas se o Baixinho concordar, Eu aceito.
– Então essa criança é de vocês. – Ela falou sorrindo. – Os exames para saber o sexo do bebê ocorrerão amanhã. E não se preocupe! Eu já venho tendo acompanhamento médico, nosso filho está em boas condições. – Ela falou passando a mão na barriga. – E Eu vou tentar marcar umas aulas para vocês aprenderem a cuidarem de criança, essa aula vai ser, especialmente, para você, pois aposto que o Walmir já tem alguma prática. – Rimos em uníssono. – Bem, Eu já estou de saída. – Ela falou indo em direção à porta. – Obrigada, por tudo, José! – Ela sorriu, piscou e foi embora.
Depois de todo aquele dia cansativo e de toda aquela conversa, Eu realmente precisava descansar. Pensei até em ligar para o Walmir, só para saber como ele estava, mas nem coragem de tomar banho Eu tive. Dormi em minha cama, do jeito que Eu estava.
...
Acordei com o meu despertador de parede, a hora anunciada era 20h45min. Já era um pouco tarde, porém não tão tarde para sair e beber com os amigos. Liguei para Marcos e Plinio que confirmaram o encontro comigo, no restaurante que ficava próximo ao centro da praça, às 21h30min. Eu queria beber, me divertir, zoar, rir... Eu realmente precisava daquilo, pois minha semana havia sido cheia de desavenças.
Cheguei ao estabelecimento, dez minutos depois da hora marcada, e avistei Plinio e Sofia, Marcos e Acácio juntos.
– Ué! – Exclamei, sentando-me a mesa. – Pensei que seríamos apenas nós três. – Falei cumprimentando a todos.
– E nós pensamos que seria algo em casal, aliás, você sempre leva o Walmir, seja lá aonde você vá. – Falou, sorrindo, Marcos.
– Não dessa vez. – Sorri, sentindo uma extrema falta de meu Baixinho. – Bom, vamos fazer os pedidos certo?
Enquanto fazíamos os pedidos, liguei para o telefone residencial da casa dos Almeida Paiva, quem me atendeu fora dona Suzana, e avisou-me que o Walmir já dormia, desde tardezinha, e que ele não havia saído do quarto. Fiquei preocupado com tudo aquilo, realmente, estava tudo muito estranho, mas como nada ele me falou – Já que o Walmir não é de esconder o que sente. – voltei à mesa a confraternizar com os amigos.
Comemos, bebemos e dançamos bastante. Toda a tristeza que se instalara durante a semana havia sumido, porém a minha preocupação para com o Walmir, não. Peguei o meu carro e parti para a residência de meus sogros. Infelizmente, todas as luzes estavam apagadas e os portões estavam fechados; mas não desisti: liguei para todas as pessoas daquela casa, que não me atenderam. Por fim, decidi pular o muro da casa deles, não foi uma tarefa difícil; um cara de quase dois metros não poderia ver dificuldade em pular um muro. A minha sorte era que os cães guardas daquela casa me reconheciam e nada fizeram comigo, sequer latiram ao me verem pulando o muro. Porém, para chegar ao quarto do Walmir era preciso subir até o segundo andar. Procurei ao redor da casa e avistei uma escada. Escada pequena, porém seria o suficiente para me subir até o local. Pus a escada e subi até a janela do quarto do Baixinho, – nem Eu acreditava que estava fazendo aquilo só para vê-lo – destranquei as vidraças e pulei adentrando o quarto. Walmir estava deitado em sua cama, de forma fetal, agarrando-se em algo e chorava bem baixinho. Aproximei-me dele e pus a minha mão em seu ombro. Visualizei melhor o que ele agarrava e pude perceber que era uma foto nossa.
– Baixinho, Eu estou aqui. – Sussurrei próximo ao seu ouvido.
– Não, não está. – Ele falou choramingando. – Não por muito tempo.
– O que você está falando, Walmir? – Perguntei incrédulo.
– Você não está aqui, você não está. – Ele falava agarrando-se ao objeto e jogando seu corpo de um lado para o outro.
Eu não sabia o que fazer numa situação daquela, nunca havia passado por aquilo com o Walmir, mas Eu sabia que precisava fazer alguma coisa, algo que ele soubesse que Eu estava ali. Podem até achar estranha, ou ridícula minha atitude, porém Eu tirei uma camisinha da minha carteira, encapei em meu mastro, desci a cueca do Walmir e o penetrei à seco. Ele gemeu e derrubou algumas lágrimas.
– Eu estou aqui, tá bom? – Falei movimentando-me.
Walmir soltou o objeto, agarrou-me pondo suas mãos atrás de minha nuca e beijou-me. Logo após voltou a dormir. Eu não estava ali para fazer sexo com ele, apenas para protegê-lo, logo, não prossegui com aquilo. Deixei meu pênis amolecer e permanecer na entrada de seu ânus.
...
Acordei pela manhã, sem saber exatamente a hora, do mesmo jeito que havia dormido. Levantei-me rapidamente, porém cautelosamente, arrumei-me e fui para a casa. Era o dia da ultrassonografia da Nanny e Eu precisava leva-la ao médico. Não queria que o Rafael fosse com ela, aliás, era o meu momento de ser pai.
Chegando a minha casa, tomei banho, arrumei-me, comi e esperei Nadine até às 11h00min, ela chegou bem na hora marcada. Fomos a um hospital renomado de nossa cidade e, assim que chegamos, fomos atendidos pelo médico responsável por Nanny e pelo bebê.
– Então quer dizer que você é o pai desse lindo e saudável feto? – Falou o médico sorrindo para mim e olhando, simultaneamente, para a máquina, Eu apenas acenei, positivamente, com a cabeça.
Eu não sei o que exatamente estava se passando comigo naquele momento. Eu estava alegre, quase soltando fogos de artifício, porém estava sentindo-me nervoso e desconfortável. Comecei a andar de um lado para o outro e coçava, também, a minha cabeça. Eu ficava olhando a maquina, esperando alguma resposta do médico... Que não veio.
– Qual sexo vocês desejam que esse bebê tenha?
– Quero um menino. – Respondemos, Nadine e Eu, ao mesmo tempo.
– Acho que vocês não estão com sorte. – O médico sorriu para nós dois. – Vocês geraram uma linda menina.
Nessa hora Eu não sei o que aconteceu comigo, mas Eu saí correndo do hospital e, ao chegar à porta de saída, comecei a gritar e a pular. Estava alegre com tudo aquilo. Uma coisa que Eu abominava, começou a ser um bem para mim. Voltei para a sala do médico e pedi desculpas pelo ocorrido, Nanny sorria de minha atitude e sorria por saber que iria dar a luz a uma menina.
– Bom, vocês já pensaram em um nome? – Ele perguntou olhando para nós dois.
– Na verdade, não. – Nadine respondeu e Eu acenei com a cabeça.
– Vocês têm mais quatro meses para isso. Acho que, agora, a preocupação de vocês seria em ajeitar o espaço para essa pequena. Alias, não é aconselhável que o quarto dos pais seja o mesmo da criança, os pais precisam de privacidade, e as crianças também.
– Obrigado! – Respondi apertando a mão do doutor.
Sai com a Nanny daquele lugar e a levei para a minha casa. Estava muito emocionado com tudo aquilo. Eu precisava muito daquilo. Era uma sensação boa que Eu nunca havia sentido ou experimentado. Eu nunca imaginaria ser pai de uma criança, ainda mais essa criança sendo uma menina. Agora todos os meus sonhos se encaixavam, e era tudo muito perfeito, ou quase tudo.
Chegamos a casa e falamos as boas novas a papai e Silvia. Eles ficaram extremamente feliz, porém Silvia puxou-me para um canto da sala para termos uma conversa, enquanto Nanny falava a papai o que havia ocorrido no hospital. Eu sabia que viria broncas e mais broncas.
– Esqueceu-se do Walmir não foi? – Ela falou cruzando os braços.
– Merda! Ele iria...
– Ele iria com vocês, mas você esqueceu. Ele voltou para a casa e disse que qualquer coisa que você precisasse, ligasse para ele. Não faça mais isso, está bem?!
– Sim. – Falei abaixando a minha cabeça e sorrindo.
Era muita informação para a minha cabeça e Eu não iria me abalar apenas por causa de o Walmir não ter ido para ver o sexo do bebêdias se passaram rapidamente, baseados em fatos do tipo: comprar roupas, peças e brinquedos para o bebê. Eu havia comprado o quarto do bebê através de um site de uma loja na internet. Aproveitei que minha prova do TRF, a parte digitada, iria ser na primeira semana de dezembro e pedi para que tudo fosse organizado em meu novo apartamento. Nesses três dias, por descuido meu, Eu havia esquecido me contatar com o Walmir. E ele também não me ligava, como se não se importasse com o que estava acontecendo. E Eu estava errado quanto a isso.
Numa quarta-feira da primeira semana de dezembro, viajei com a Nanny para Recife, era a primeira vez que ele visitava a cidade, e, como já era de se esperar, ela se encantou com tudo aquilo. Fomos ao Shopping e compramos tudo o que estava faltando para o bebê. No mesmo dia, contratamos um decorador e fomos ver o meu apartamento, cujo papai havia me dado no dia do meu aniversário. Compramos tintas e algumas coisas que seriam precisas colocar na instalação da casa. Deixei tudo nas mãos de senhor Pacifico – Engenheiro responsável pelo prédio – e seus ajudantes. Em todo esse tempo nem me dei ao trabalho de ligar para o Walmir, não sabia Eu o que estava acontecendo.
Na quinta-feira, fui fazer a prova digitada do concurso, Eu tinha a certeza de que havia passado. Foi muito fácil e Eu havia estudado para aquela prova.
Passamos, ainda, a sexta e o sábado comemorando, pois na semana seguinte, seria o casamento de papai e Silvia. Eu não poderia perder por nada.
No domingo, com o apartamento e decoração prontos, voltamos para a nossa cidadezinha. Eu estava, visivelmente, feliz. Ao entrar em casa Eu avisto papai no sofá assistindo a televisão.
– Boa tarde, senhor Antônio! – Exclamo sorrindo, enquanto papai me fuzilava com o olhar e Nadine seguia para o quarto de hospedes.
– Boa tarde? Para quem? – Ele apertou a minha mão friamente.
– Como assim?
– Você nem se importou em ligar para o coitado do Walmir, não foi? – Ele viu a confusão em meus olhos. – Parabéns por ter terminado um relacionamento que parecia que ia dar certo. E quer saber? Se eu fosse você, nem o procurava mais.
Meu mundo caiu ao ouvir que papai falava, com ódio, tudo aquilo para mim. Eu fiquei sem chão e sem entender o que se passava, mas Eu não podia ficar sem respostas. Isso Eu não podiaBeleza, galera? Desculpem-me o atraso, mas adivinhem quem estava aplicando a prova da UPE? Sim, Eu! Foram três dias (Domingo, segunda e terça) e esses dias me fizeram esquecer literalmente do conto. Não vai dar pra manter o ritmo de postagem do conto, pois o Walmir e Eu estamos passando por uma fase difícil - Talvez apenas Eu esteja passando por essa fase já que o Walmir é super compreensivo. E não, não está sendo nada fácil. O próximo deve sair ainda essa semanaNão quero perder o meu Baixinho por nada nesse mundo, principalmente quando sei que não tive culpa de nada. Eu o amo demais e o desejo todos os dias ao meu lado. Não consigo me imaginar sem ele. Sem ele não dá pra continuar.