Eu levei alguns segundos para processar o que estava acontecendo. Ele realmente estava me beijando! Diferente dele eu estava de olhos abertos, esbugalhados, observando ele me beijar, quando me dei conta que eu não estava retribuindo o beijo dele, comecei a faze-lo. Minha mão tocava ainda a barriga dele, passei para as costas dele o abraçando de leve e retribuindo o beijo desconcertado e apressado que ele me dava. Eu estava em êxtase. Sentia a barba cerrada dele raspar em meu rosto, seu peito tocar no meu, sua mão em minha nuca e quando ia colar minha cintura na dele para sentir o pau dele tocando o meu por cima da sunga o interfone toca.
Ele imediatamente interrompeu o beijo e se afastou.
André: -A pizza!
Marco: -Mas como? Eles pediram de 40 minutos a uma hora, não tem nem 30 minutos!
André: -É ate melhor, eu tô caindo de fome.
E se dirigiu a borda da piscina e saiu, eu sai atras dele, ele pegou o aparelho e atendeu enquanto eu me aproximava dele.
André: -O porteiro tá dizendo que tem uma tal de Marcia ai querendo entrar.
Marco: -Ah tá, beleza, é aquela minha amiga da praia.
André: -Claro, lembrei.
Marco: -Manda entrar.
Após ele ter liberado a entrada dele no interfone continuou.
Marco: -Eu vou botar minha bermuda pra ela não me pegar aqui de cueca.
Eu segurei ele pelo braço.
Marco: -André, esta tudo bem?
Ele abriu um sorriso.
André: -Ta sim. Olha nem vou sacudir sua cabeça porque sei o que te responder. Até eu fui pego de surpresa pelo que fiz. Não me arrependo, mas não entendi.
Marco: -Desculpa, eu posso ter levado você a isso, te cercando, te pegando, falando aquelas coisas, desculpa.
André: -Se foi você que me levou a isso então por favor continue. Eu gostei, eu quero continuar, só to pedindo um tempinho para eu absorver isso ok? Sua amiga ter chegado pode me dar esse tempo.
Marco: -Ok, tudo bem.
E ele subiu para os quartos enquanto eu enrolava a toalha na cintura e ia ate a porta receber Marcia.
Ela chegou com o namorado. O Roger era um homem bonito, 1,78, moreno, cabelo raspado, cerca de 70 quilos, não tinha um corpo trabalhado, aliais nem se comparava ao de André, mas bonito a maneira dele. Só era caladão. Mais do que eu, certa feita fiquei sozinho com ele sentado na mesa de um bar esperando a Marcia cerca de 30 minutos nos quais as únicas palavras que trocamos foram: “Oi”, Tudo bem”, “Senta ai”, Obrigado e 30 minutos depois, “Ela esta demorando né?” e tive como resposta: “Pois é”.
Marcia estava claramente preocupada.
Marcia: -Porra Marquinho! Que sacanagem, vi no jornal da tarde sobre o arrastão e reconheci o seu condomínio na hora! Você desliga celular, não atende em casa, não me liga, eu estava para enlouquecer!!!
Marco: -Desculpa, você esta coberta de razão, mas os bandidos levaram meu celular e só não levaram aqui de casa os eletrônicos que não dava para carregar, porque o resto, fui tudo. Ate os telefones sem fio.
Marcia: -E como você atendeu o porteiro agora?
Marco: -Fui a tarde no shopping e comprei algumas coisas mais emergências.
Marcia: -Mas como você nem...
Nesse momento André desce sem camisa as escadas.
Marcia: -Ah tá, entendi tudo agora.
Marco: -Para Marcinha, não espanta ele.
Ela sorriu.
Marcia: -Oi, tudo bom?
André: -Tudo, e com você?
Marcia: -Estava muito preocupada ate agora né doutor Marcos?
Marcos: -Desculpa novamente Marcia.
Em seguida André cumprimentou Roger que não deu muita bola para ele, senti um pequeno ar de ciúmes pairando. Marcia viu os copos sobre a banca e perguntou:
Marcia: -O que estamos bebendo?
Marco: -Vodka com gelo, vocês aceitam?
Marcia: -Muito forte para mim, mas quero água, vamos na cozinha?
Ela já tinha intimidade o suficiente para pegar por conta própria, mas senti que ela queria falar algo comigo e por isso fui com ela ate a cozinha.
Marco: -Diz logo vai.
Marcia: -Meu Deus você fisgou esse Apollo!!! Me conta!!
Eu fiquei encabulado. Embora fossemos íntimos, essas conversas sempre me deixavam desconfortável.
Marco: -Não Marcinha, não é bem assim, na verdade o primeiro beijo que tivemos foi a alguns instantes e fui interrompido pelo interfone anunciando sua chegada.
Marcia: -Não acredito!
Marco: -Pois é!
Marcia pegou na minha mão.
Marcia: -Você esta bem pelo assalto?
Marco: -Tô, ele tem me dado uma força incrível, você não imagina as coisas que ele tem feito, eu estou completamente apaixonado por ele por causa de tudo...
Marcia: -Chega, agora eu vou embora e depois você e eu conversamos, chega de atrapalhar vocês.
Marco: -Não, vocês acabaram de chegar, espera...
Marcia: -Não, não e não, estou indo embora.
Me beijou no rosto e saiu feito um raio. Passando pela sala deu a ordem:
Marcia: -Roger, estamos indo! André coisa linda...
E soltou um beijo.
Marcia: -...cuida bem do meu amigo hein?
O Roger sem entender direito o que estava acontecendo:
Roger: -Não entendi, você me encheu a tarde toda com isso de estar preocupada com seu amigo e agora sai assim?
Marcia: -Eu não sabia que o he-man estava de segurança dele, agora que sei não estou mais preocupa, agora vamos?
E saíram os dois pela porta, eu parei do lado de André e eu e ele olhávamos para a porta.
Marco: -Então Adam, voltamos para a piscina?
André: -Adam?
Eu ri.
Marco: -A identidade secreta do He-Man.
Ele riu e bateu o ombro dele no meu.
André: -A pizza deve estar pra chegar, deixa eu por a mesa.
E se dirigiu para cozinha comigo indo atras. Enquanto ele pegava uma coisa ou outra para por a mesa falou:
André: -Você precisa por o telefone novo para carregar, seus amigos devem estar preocupados com vocês.
Marco: -Ou curiosos para me perguntar como foi.
André: -Não importa, coloca logo esse negocio para carregar.
Essa era a deixa, eu queria que ele escolhesse se queria o aparelho preto ou branco, por isso estava enrolando para botar no carregador. Assim fui ao escritório, peguei a sacola que estavam os aparelho e o tablet e voltei para cozinha.
Marco: -Olha aqui, qual você achou mais bonito.
André: -Você comprou dois?
Marco: -Foi um para mim e outro eu vou dar para uma pessoa.
André: -Bem, então se você quer minha opinião para qual você vai ficar, eu ficaria com o branco.
Marco: -Você acha o branco mais bonito?
André: -Ambos são bonitos, mas o branco é mais style.
Eu ri de leve com a gíria.
Marco: -Mas então você prefere o branco.
André: -Sim. Eu prefiro.
Eu me levantei e apontei a caixa para ele.
Marco: -Então é seu.
Ele ficou em pé me encarando de maneira bem seria.
André: -Como assim?
Marco: -É uma maneira de agradecer o que você fez por mim.
Ele ainda muito serio:
André: -Por eu ter te beijado?
Marco: -Claro que não! Você tá maluco? Como que eu ia saber que você ia beijar.
André: -Não sei! E porque você esta me dando isso só agora?
Eu respirei fundo e me levantei da mesa.
Marco: -André se isso é uma maneira de você demonstrar que se arrependeu do que rolou tudo bem. Não precisa rolar novamente. O celular não tem nada haver com o que aconteceu. Só comprei ele porque quis de alguma maneira agradecer tudo que você fez nos últimos dias. Desde que te conheci você cuida de mim. Desde meu pneu furado ate esse momento você botando a mesa. Claro que isso nem de longe agradece tudo que você fez, foi só um jeito de dizer obrigado.
André: -Dizer obrigado pra um cara fudido com um brinquedo de quase dois mil e reais? Ou o que você quis foi esfregar na minha cara que sou fudido e o único jeito de ter um desse é de presente?
Marco: -Agora você me ofende! Pensei que pelo que você me conhece...
Ele me interrompeu em tom de voz alterado:
André: -Ai é que esta, eu não conheço você!
E deu as costas e saiu bufando feito um touro da cozinha. Eu fiquei desolado! Não espera mesmo aquela reação dele. Eu sei que ele é um cara humilde, mas é tão ofensivo assim o que eu fiz? Aquilo tudo começou a me corroer por dentro e não aguentei fica muito tempo ali sentado. Me levantei e fui atras dele na casa. Ele estava na área da piscina em pé olhando para água.
Marco: -Me desculpa, eu não quis te ofender.
Ele olhou serio para mim.
Marco: -Eu tinha na cabeça outra ideia, foi um erro que cometi, você esta certo.
André: -Cara, porque não uma camisa? Uma bermuda? Um pote de BCAA? Você não entende que isso já foi demais?
Marco: -Entendo, e você esta certo, mas foi seu amigo cara.
André: -Meu amigo?
Marco: -Sim ele chamou seu celular de...
E nós dois falamos juntos: -Celulixo.
André: -Ah cara eu não acredito! Foi por isso que você comprou o telefone?
Eu agora já com voz chorosa: -Desculpa mesmo cara eu me revoltei com a forma que eles trataram você, não achei certa, você é um cara fantástico, o mais incrível que já conheci e não aceito que alguém destrate você, fora tudo o que você tá fazendo tanto por mim, poxa porque eu não podia te dar um celular? Foi mal, não queria te ofender, só agradar de alguma forma.
Ai eu feito um babaca deixei uma lagrima escorrer. Ele imediatamente me puxou pelo braço e me abraçou.
André: -Pô cara foi mal, eu que não entendi o que aconteceu, porra não é a primeira vez que um cara me oferece alguma coisa e eu digo não, o problema é que isso já aconteceu tantas vezes que meio que entrei no automático em não aceitar e me irritar.
Eu com o rosto enterrado no ombro dele falei com voz abafada.
Marco: -Tantas?!?!?
Ele sorriu.
André: -Pô cara, olha a qualidade do macho aqui! Os caras ficam doidinhos.
E rimos juntos.
Marco: -Você me desculpa?
André: -Não, eu que tenho que pedir desculpas, não só pelo jeito maluco que reagi mas também por não ter me ligado que você foi influenciado a fazer isso. E olha eu não tô arrependido de nada.
Puxou minha cabeça e me beijou novamente por alguns instantes.
André: -Eu só preciso de um tempo pra processar ok? É meio estranho eu nunca ter tido vontade de fazer isso antes e estar tendo agora. Só seja paciente tá?
Eu concordei sacudindo a cabeça. E ele me beijou por alguns instantes novamente.
André: -Então, celular né?
Marco: -É... por favor aceita vai, senão vou continuar me sentindo mal por ter comprado.
André: -Tá, tá, vamos lá ver esse bicho, só quero ver como eu vou explicar esse telefone.
Marco: -Você não tem que explicar nada para ninguém.
André: -Tenho sim, meus pais.
Marco: -Para eles você fala a verdade, um amigo te deu em agradecimento ao socorro que você deu a ele nesse fim de semana.
André: -Pode ser.
Chegamos na cozinha abrimos as caixas, tentamos entender como que se colocava um chip naquele aparelho, sim porque segundo André ler manual é para os fracos, e antes de conseguirmos a pizza chegou. O clima finalmente se aliviou, conseguimos inserir o chip após eu me cansar e ler o manual e no final colocamos os aparelhos para recarregar. Já passavam das 22 horas e eu percebia o cansaço no rosto dele.
Marco: -Esta na hora de dormir.
André: -Ta mesmo, tô no bagaço.
Ele tomou banho e fiquei com ele conversando no banheiro assistindo ele fazer aquilo. Quando ele saiu eu entrei no banho mas diferente de mim ele me deixou só no banheiro.
Ao sair percebi que sem cerimonia alguma ele já estava deitado na minha cama de barriga para cima, coberto ate a altura do peito pelo edredon e com o ar-condicionado ligado. Achei aquilo bonitinho da parte dele, me deitei bem devagar do outro lado da cama para não acorda-lo e fiquei ali quietinho ate o sono chegar. Coisa que demorou porque fiquei fantasiando mil coisas com aquele homem deitado ao meu lado, já que diferente da primeira vez eu não estava assustado, nem com medo, estava relaxado, despreocupado e acima de tudo protegido. Mas precisava dar o espaço que ele havia pedido, precisa dar o tempo que ele queria. Enfim o sono chegou, eu apaguei. A única coisa que eu não esperava que o tempo que ele precisava ia ser tão curto.