Andressa percebeu algum movimento na sala e veio conferir.
(Andressa) – Dom, que bom te ver! Achei que nem viria!
(Dominicky) – Nem diga uma coisa dessas! Temos muito o que fazer!
(Marcelo) – Como assim “muito o que fazer”?
(Andressa) – Maninho, o Dominicky é formado em Publicidade e eu estou estagiando na agência da mãe dele!
Eu sei o que vocês estão pensando de novo! Eu fiquei sem reação ao descobrir toda aquela informação. Hora de atualizar minha lista:
1- Seu nome era Dominicky;
2- Ele tinha uma voz impecável;
3- Era mais maduro que muitos dos meus amigos;
4- Era muito bonito;
5- Era publicitário.
Tudo bem. Acho que vou sobreviver a esse pesadelo.
(Marcelo) – Nossa! Isso é... Surpreendente!
(Dominicky) – Algum problema, Marcelo?
(Marcelo) – Na verdade nenhum. Só não imaginava que...
(Dominicky) – Um cantor de bar fosse um publicitário?
(Marcelo) – Er... Sim.
Ele tem um talento nato pra me envergonhar. Parece que ele é meu número. O pior de tudo é que ele me enlouquece e eu não consigo me comportar.
(Andressa) – Vocês se conhecem?!
(Dominicky) – Seu irmão me recebeu não?
(Andressa) – É mesmo. Mas eu pensei que... Melhor deixar pra lá. Vamos, Dom, temos muito o que fazer. Até depois, maninho!
(Marcelo) – Tudo bem! Eu vou sair
Eu tive que sair antes que eu desse mais uma mancada. O mais legal da vida é que, quando você está atolado em problemas, os problemas se multiplicam feito coelhos. Eu juro que me deu vontade de voltar pra casa quando dou de cara com o Gustavo e o irmão no maior amasso no elevador. Eles moram alguns andares acima do meu. Ao me deparar com aquela cena, fiquei tão enojado, que decidi ir de escada mesmo. Momento Ana Carolina?! Quase.
Fiquei andando sem destino por algumas horas. Por volta das 23h, decidi que era hora de voltar. Quando estava saindo do meu carro no estacionamento, dou de cara com Dominicky.
Eu estava um pouco nervoso. Ele passou por mim e seu perfume ficou em minhas narinas. Eu tive que fazer uma pausa dramática para tentar me livrar do feitiço.
(Dominicky) – Não durma ainda, criança! Você tem muito trabalho a fazer.
Gelei ao ouvir aquela frase. Será que era comigo? Aparentemente sim. Virei-me e vi que ele falava ao telefone com alguém. Acho que ele deve ter um namorado. Eu tentei ser forte o suficiente, mas subi para o apartamento com os olhos lacrimejando.
Fui direto ao meu quarto, tomei um banho bem quente e decidi que merecia um descanso. Talvez uma boa noite de sono fosse o que eu precisava. Naquela noite, sonhei com Dominicky. Ele estava sentado em um banco e cantava a seguinte canção:
“You didn't let me down, you didn't tear me apart
You just opened my eyes, while breaking my heart”
(Você não me decepcionou, você não me comoveu
Só me abriu os olhos, enquanto partia o meu coração)
Acordei cedo e havia dormido extremamente mal. Eu já não aguentava mais aquela situação. Eu precisava por um fim àquilo. Se bem que, nada havia começado de fato.
Tomei um banho e fui à cozinha comer algo. Encontrei um bilhete da Andressa dizendo que ela havia ido ao cabelereiro. Tomei meu café da manhã e, como não havia ninguém casa, fiquei apenas de cueca.
Exatamente às 11h da manhã, a campainha toca. Fui colocar uma bermuda e depois atender a porta. Dominicky me olhou de cima em baixo assim que eu abri a porta. Eu vi seu rosto dar uma corada, mas ele imediatamente se recuperou e me olhou nos olhos.
(Dominicky) – Por gentileza, a Andressa se encontra?
(Marcelo) – Não. Ela saiu e deve demorar um pouco.
(Dominicky) – Tudo bem! Volto em outra oportunidade! Tenha um bom dia!
(Marcelo) – Vai ficar fugindo de mim o resto da vida?
(Dominicky) – E por que eu deveria fugir? Até onde me consta você não é nenhum predador, tampouco eu sou uma presa.
(Marcelo) – Não é o que parece. Eu tenho plena consciência de que fui um idiota por completo, mas eu fiquei fascinado pela sua atuação e gostaria de te conhecer. Podemos dar uma volta?
(Dominicky) – Onde e quando?
(Marcelo) – No parque que fica aqui perto. Podemos ir imediatamente? Eu tenho o dia livre.
(Dominicky) – Também estou de folga. Ando precisando apreciar a natureza para ver se consigo me desestressar. Aceito seu convite.
Eu fiquei explodindo de felicidade. Quem sabe eu conseguiria dar um amasso naquela gracinha? Não. Cedo demais. Vai que ele evolui de um gesto obsceno para um ataque corporal. Melhor não arriscar.
(Dominicky) – E espero que você não me venha com gracejos!
E meu plano vai descarga a baixo. Convidei-o a me esperar na sala enquanto colocava uma roupa. Assim que terminei de me aprontar, nos dirigimos ao elevador. Hora da surpresa desagradável.
(Gustavo) – Ora vejam só! Que lindo! Já está de pegação nova Marcelo?
(Marcelo) – Cara, é melhor você ficar no seu canto!
(Gustavo) – Calma! Por que tanta agressividade? Aliás, percebo que depois de mim, seu gosto diminuiu muito!
(Dominicky) – Marcelo, por acaso esse estafermo é o que estou pensando?
(Marcelo) – Exatamente.
(Gustavo) – Quem você está chamando de estafermo?
(Dominicky) – Marcelo, você por acaso tem o telefone do IBAMA? Acho que deixaram uma gazela enlouquecida perambulando pelas ruas da cidade!
Nem preciso dizer que a minha vontade foi de dar uma gargalhada daquelas. Dominicky era exatamente o que estava vendo: uma víbora bem venenosa. O garoto tinha uma língua que deveria fazer mais estragos que uma bomba atômica.
(Gustavo) – Você não se olha no espelho não é, Bambi?
(Dominicky) – Pelo visto, este ser além de desprezível, também é extremamente inculto. Marcelo, vamos de escada? Tenho medo de pegar algum piolho deste animal selvagem!
Concordei com Dominicky. Fomos em direção à escada e Gustavo permanecia no elevador disparando ofensas. Ao sairmos do prédio, eu precisava me retratar com Dominicky pelo ocorrido, embora ele tenha me provado que sabe muito bem cuidar de si mesmo. Ele não perdeu o controle por nenhum segundo. Ele se comportou de maneira bastante arrogante? Sem sombra de dúvida. Mas convenhamos que o Gustavo estava merecendo por ter insinuado que ele era alguma espécie de “periguete”.
(Marcelo) – Sinto muito pelo ocorrido no prédio!
(Dominicky) – Não sinta! Só me pergunto como você teve coragem de se relacionar com “aquilo”.
(Marcelo) – Por que você disse isso?
(Dominicky) – Tem certeza de que eu preciso responder? Basta olhar pra você. Você é um perfeito idiota, mas é honesto, bonito, uma pessoa que muitos gostariam ter por perto.
(Marcelo) – Incluindo você?
(Dominicky) – Eu deveria te deixar falando com as paredes, mas como quem deu início a esse assunto fui eu, vou deixar passar. E a resposta a sua pergunta é talvez.
(Marcelo) – Isso significa que tenho chances com você?
(Dominicky) – Isso significa que quem dá as cartas desse jogo, criança, sou eu.
Eu fiquei surpreso e feliz. Surpreso por ele realmente ter o controle da situação, embora eu acredite que ele realmente me ama, só não quer dar o braço a torcer. Eu sei que todos também estão me apontando, mas o que posso dizer? Ele me encanta. Me senti muito feliz por saber que havia uma rara esperança de eu o conquistar. Agora, minha missão é não agir como um babaca e ganhar o coração daquele rouxinol. Me desejem sorte!