Paula Cristina Soares da Silva... foi uma mãe, esposa, amiga e companheira de muitas pessoas daquela cidade... mas sua infância foi muito difícil, sempre passou por dificuldades. Na juventude conheceu o vendedor Rodolfo, juntos saíram do Estado do Pará (região Norte do país) para tentarem uma vida nova em São Paulo.
São Paulo –Está frio hoje Rodolfo. – falou Paula se embrulhando com um lençol fino.
- Me abraça querida... tudo vai dar certo.
- Amanhã temos que ver os apartamentos... mas nada muito caro. – ela retrucou.
- Claro... agora dorme querida... dorme... amanhã vai ser melhor do que hoje. – Rodolfo falou olhando para a ponte onde eles estavam abrigados.
Realmente a vida para os dois não foi cheia de luxo. Eles conseguiram um apartamento em um perigoso bairro da cidade. Juntos eles conseguiram um emprego, para Paula não havia tempo ruim. Apesar da aparência frágil, logo ela começou a trabalhar.
- Você é bonita menina... porque não tenta a vida de atriz na televisão?! – perguntou uma senhora para quem Paula trabalhava.
- Não nasci para essa vida de artista não. – riu Paula.
- Então nasceu para que?! – questionou a mulher.
- Ainda não sei, mas quando descobrir lhe digo. – ela falou lavando o quintal.
- Vê se não pega barriga... é muito novinha para isso. – brigou a mulher entrando na casa.
- Pegar barriga... ai, ai, ai... como serão os meus filhos?! – ela se perguntou.
Naquela noite saiu o primeiro pagamento de Rodolfo, apesar de jovem ele era um bom negociante.
- Vamos comemorar? – perguntou Rodolfo.
- Para onde vamos?!
- Celebrar... em um restaurante desses de ricos. – falou.
- Mas homem, precisamos comprar tantas coisas. – ela disse sentando.
- Só por hoje... quero te tratar como uma princesa.
- Tá bom.
Eles chegaram no restaurante e ao abrir o cardápio arregalaram os olhos.
- Moço... acho que este cardápio está errado. – falou Rodolfo para o garçom.
- Não senhor... está certo.
Paula deu um sorriso discreto e eles saíram do restaurante. Pararam em uma lanchonete e comeram. Rodolfo ficou calado.
- Adoro sua companhia... sabia? – ela perguntou toda dengosa.
- Desculpa... por não poder te oferecer o que você merece.
- Eu tenho o homem mais lindo, inteligente e charmoso do mundo. O que mais eu posso pedir? – ela falou dando um beijo em seu pescoço.
Sim... Paula realmente amava o seu marido. Depois de alguns anos, Rodolfo conseguiu a primeira promoção. Se tornou gerente executivo da loja. Depois de alguns anos, quando concluiu o curso de administração se tornou diretor de finanças. Neste período, Paula engravidou do seu primeiro filho.
- Ele vai crescer e se tornar um homem forte. – disse Paula olhando para sua barriga.
- Ele vai se chamar Paulo em homenagem ao seu pai e Henrique em homenagem ao meu. – falou Rodolfo.
- Quando o carro da mudança chega?! – perguntou Paula.
- Em algumas horas... está tudo pronto?
- Sim... graças a Deus vamos para um bairro melhor... – ela pensou consigo mesma.
Para Paula, o momento mais realizador de sua vida aconteceu quando ela completou nove meses de gestação. A primeira contração. Muitas mulheres reclamam da dor... mas ela se manteve firme durante todo o processo. Diferente de Rodolfo que desmaiou duas.
- Nasceu... olhe dona Paula... seu filho... – disse o médico.
- Meu filho?! Meu filho... que lindo... Paulo Henrique.... – ela disse cansada.
- Pode leva-lo. – o médico falou entregando a criança para uma enfermeira.
A partir daquele momento a vida de Paula nunca mais foi a mesma, ela foi mesmo uma mulher de sorte.
- Quem é o meninão da mamãe?! – ela perguntou fazendo voz infantil.
- Ele é perfeito. – falou Rodolfo admirando a cena. – Vocês dois são.
Depois vieram Pedro e Priscila, e a cada gestação ela aprendia algo diferente. Os filhos foram o resumo de sua vida, mas ela nunca pensou em reclamar ou dizer que queria outra coisa.
- Eiii deixa o teu irmão... Paulo... que coisa feia. – ela gritou.
- Ele queria ir para rua mamãe...
- Eu sei... eu vi, mas não precisa empurrar ele. Precisa fazer as coisas com carinho amor...
- Desculpa mano. – ele falou abraçando Pedro.
- Tá bom... vamos brincar de policia e ladrão. – falou Pedro rindo. – Eu sou a Policia.
- Ainda bem que você é uma dama Priscila...
- Dama... eu sou uma dama! – disse a menina rindo.
- Sim...
- Querida!! – gritou Rodolfo que na época já estava um pouco fora de forma.
- O que foi querido? – ela perguntou assustada.
- O banco liberou a verba... vou poder construir a empresa... só tem um problema... vamos ter que viajar!
- Mas querido... a nossa vida está aqui... como vamos viver longe de São Paulo?!
- Daremos um jeito...
- Papai... eu sou policial... vamos prender o Paulo?! – disse Pedro chamando a atenção de Rodolfo.
- Vamos sim filho!!
Sim... mudanças também fizeram parte da vida de Paula. Ela também teve que lhe dar com a perda... infelizmente na época em que seu pai faleceu, eles não tinha condições de viajar.
- Mamãe... ta tudo bem? – perguntou Paulo.
- Sim filho... estou bem...
- Ei campeão... vai cuidar dos seus irmãos. – pediu Rodolfo.
- Tá bom. – falou o menino correndo.
- Amor... vem cá. Deixa eu te abraçar. – falou Rodolfo.
- Nem tive oportunidade de me despedir dele. – ela disse chorando.
- Vai ficar tudo bem. Me abraça forte.
Paula também se sentiu sozinha... principalmente quando os filhos cresceram e ficaram independente.
- Tchau mãezinha vou para a casa da Dani... vai a Flávia, a Larissa e a Carol. – falou Priscila com 12 anos.
- Mãe eu e o chato vamos para o treino de futebol. – gritou Paula da porta.
- Beijo mãe!!! – gritou Pedro.
- E agora... o que vamos fazer?! – pensou ela.
Um momento delicado na vida de Paula... foi quando soube da sexualidade de seu filho Pedro.
- Eu to com vontade de dar uma surra nesse menino!!! – gritou Rodolfo.
- Eu nunca encostei um dedo nos meus filhos e nem você... precisamos ter calma... ele vai precisar de nós...
- Juro por Deus... não quero nem olhar pro rosto dele...
- Vai dar as costas para o menino... agora?! – ela disse chorando.
- Não posso... desculpa querida... – ele disse se trancando no banheiro.
- Deus... me ajude!
Dias depois –
- Mãe... a senhora também vai fingir que eu não existo?! – perguntou Pedro.
- Filho... é uma situação delicada... eu amo você... só estou aprendendo a me adaptar a esta situação... nunca lhe daria as costas e obrigada por nos contar.
- Obrigado a senhora... – disse Pedro abraçando e chorando.
- E quando tiver um namorado... quero conhecê-lo.
Paula também era mãe até daqueles que eram agregados na família.
- Luciana... vamos? – disse Paula.
- Para onde? – perguntou a jovem.
- Ao shopping... hoje vamos gastar...
- Não obrigada...
- Vamos minha filha...
- Eu não tenho dinheiro e não quero dar trabalho para a senhora.
- Em primeiro lugar... senhora está no céu... em segundo, já está dando trabalho recusando o meu convite... e em terceiro você é como uma filha para mim... e eu não aceito um não como resposta.
- Tudo bem então... eu vou...
- Boa menina... agora vamos renovar seu guarda-roupa... sempre quis ser a fada da cinderela. – ela disse rindo.
Sim... Paula foi uma ótima mãe... e até nos momentos mais difíceis não deixou de ter fé... a morte de seu primogênito... foi outro momento difícil.
- Onde estou... Luciana fala para mim.... – ela disse chorando.
- Ele se foi Paula... o Paulo se foi... – disse Luciana chorando igual a uma criança.
- Não meu Deus... me leva!!! Pelo amor de Deus... eu não quero... é mentira... é mentira... Mauricio... fala para mim que é mentira.... – ela disse.
- Não! – ele disse com lágrima nos olhos.
- Uma mãe não deve enterrar um filho... me ajuda... Mauricio você é médico... faz alguma coisa....
- Eu não posso! – ele gritou abraçando ela. – Calma... vai ficar tudo bem Paula... vai ficar tudo bem.
- Eu vou morrer... eu vou morrer.... eu quero morrer.
A descoberta de um enteado também foi um choque para a matriarca da família Soares, mas ela o acolheu como um filho.
- Phelip... quem foi que quebrou este prato?! – ela perguntou.
- Desculpa mãe... – ele falou ficando calado no mesmo momento.
- Do que você me chamou? – ela perguntou.
- Desculpe Paula... não vai se repetir. – ele disse ficando sem jeito.
- Repita...
- Eu disse... mãe... – ele falou com lágrimas nos olhos e baixando a cabeça.
Paula deu um forte abraço em Phelip. Que no inicio recusou, mas acabou aceitando e chorando junto com sua mãe de coração.
- Você é meu filho... eu sou responsável por você... você é o meu filho e pode falar mãe todo momento que quiser.
- Mãe... eu te amo...
Paula nunca esquecerá o dia em que Rodolfo comprou a casa de praia. Ela pulou de alegria, pois, tomar banho no mar era um de seus maiores prazeres. De três em três meses a família Soares se encontrava naquele local. Mas, Paula jamais imaginou que aquela tarde perfeita, seria a última que ela estaria ao lado do seu filho.
- Oiiii... eu trouxe um lanche para você. – ela disse sentando-se ao lado de Paulo.
- A senhora é a melhor do mundo sabia?! – ele disse devorando o sanduiche em poucos segundos.
- Meu filho... modos...
- Desculpa. – ele disse com a boca cheia.
- Ai... ai... ai. – disse Paula rindo.
- Desculpe... mãe... sei que sou grande, mas eu posso deitar a minha cabeça no seu colo? – ele perguntou.
- Você nunca será grande para mim Paulo... sempre será o menino dos meus olhos. – ela falou deitando ele sob suas pernas.
- Eu quero encontrar uma mulher igual a senhora... o que a senhora acha da Luciana? – ele perguntou.
- Ela é bonita... inteligente... meiga... uma moça de qualidades. – Paula falou enquanto acariciava seu filho.
- Ela é a senhora sabia?
- Ela é parecida comigo... mas ela precisa ser ela. – Paula disse rindo.
- Eu poderia passar o resto da minha vida assim... com a senhora... sem problemas, preocupações... só eu e a minha mãe.
- Teremos a vida toda pela frente Paulo... eu e você... juntos... eu te amo tanto... – ela disse beijando a testa do filho.
- Hummm... só ele que ganha beijo e abraços é?! – perguntou Pedro pulando em cima dos dois.
- Eu também quero... – gritou Priscila.
- Meu Deus... sou uma mãe muito amada. – riu Paula.
- A senhora é a melhor mãe do mundo!! – gritou Paulo levantando e levando sua mãe para a água.
- Meu filho... espera...
- Viva a melhor mãe do mundo!! – gritaram todos juntos. – Viva!!!!
Sim... nos momentos bons e ruins, Paula foi uma mulher valente e guerreira. Ela lutou até o fim e deu valor a vida. Amou, foi amada, sofreu, chorou e sorriu, mas nada vai tirar dela aquela moça humilde e assustada que saiu do Estado do Pará para uma cidade desconhecida. Ela coloriu o mundo da sua forma, com humildade e amor. Por isso, nunca ninguém esquecerá a Paula.