Eu Encontrei Você (Num Lugar Sem Esperança) - Cap. 4

Um conto erótico de Th£o
Categoria: Homossexual
Contém 1366 palavras
Data: 12/11/2012 19:08:50

Demoro a voltar para a minha realidade. Lá está o braço de Vinícius esticado com o celular seguro em sua mão. Olho para a tela. Consigo ver o tempo de chamada contando. Lembro que tinha inserido o valor máximo de recarga antes de ser assaltado... Ou melhor... Afastado do meu celular por quase um dia. Por um momento, desejo com todas as minhas forças que a pessoa do outro lado da linha desligue, ou a bateria descarregue, ou os sistemas da operadora explodam... Qualquer coisa. Pego o celular de sua mão. Não consigo mais olhar para o seu rosto. A sensação é a mesma de estar numa sala escura de interrogatório sabendo que é vigiado. Coloco em meu ouvido:

- Alô? – minha voz sai trêmula, quase um grunhido.

- Alô? – uma voz rouca surge do outro lado. Está mais clara e entendível que do dia do ônibus. O tom da voz dele me acalma... Permito-me ser corajoso.

- Então... É comigo que você quer falar... Não é?

- Sim... Hum... Então... Cara... Eu quero que você me perdoe... O que eu fiz ontem... Eu estava estranho. – diz pronunciando as palavras pausadamente, típico de quem as decora antes de pronunciá-las.

- Eu percebi – falo, logo em seguida me arrependo pelo tom arrogante.

- Percebeu o quê? – responde ele, rapidamente.

- Você estava... – busco o termo certo ou o menos chocante em minha mente – com raiva.

- Ah... Hum... Sim... Eu estava muito furioso, por isso fiz aquele papelão no ônibus... E com você. – sinto mais firmeza em sua última frase... Não... Não estou maluco.

- Sei. – olho para Vinícius. Ele parece um radar em forma de gente. Seus olhos não piscam e ele está de braços cruzados, como se fosse um pai observando o filho fazer uma arte sem ele estar vendo.

- Pois é... Se você quiser, eu posso ir onde você tiver para devolver o seu celular!

Meu corpo volta a enrijecer e minhas bochechas esquentam. Ao ponto que cheguei o celular não faz a menor diferença. Prometo a mim mesmo que enquanto eu viver farei o possível pra nunca mais ter essa sensação. Lembro que tenho que responder. Coço minha nuca para ganhar tempo, mesmo sabendo que ele não está na minha frente pra esperar, respondo:

- Tudo bem – digo, com a voz mais trêmula que antes.

- Ér... Então ótimo... Onde você está? – pergunta ele, num ensaio de entusiasmo.

- Eu estou na faculdade – digo, olhando para Vinícius novamente. Ele revira os olhos, já entendendo tudo. Diz pra mim apenas mexendo a boca “Não”. Admirando minha perspicácia repentina, penso em marcar num local público, e como se lesse minha mente, o anônimo do outro lado da linha fala:

- Você pode me passar o endere... Ah, se você preferir a gente pode marcar num local com mais pessoas. Eu sei que você deve estar com medo de mim pensando que sou um bandido. – diz ele. Posso visualizar um sorriso em seu rosto. Meus batimentos voltam ao normal.

- Sim... Quer dizer... Digo a respeito de eu preferir um local público, não de achar que você seja um bandido... Hum... – estou piorando tudo – Enfim, sabe onde fica o prédio Galeria? - olho para as minhas mãos e percebo que estou suando nas “linhas do futuro”. Não suo ali desde que fui o Rei Arthur numa peça de teatro na nona série. Não olho para Vinícius, apesar de saber que ele está me encarando com espanto.

- Sei sim... Hum... Então, que horas pode ser?

- Daqui à uma hora, tudo bem pra você? – Vinícius dá uma volta no mesmo lugar com as mãos na cintura, reprovando meu excesso de compreensão. Até eu me envergonho de estar sendo tão tolerante com um cara que, querendo ou não, me assaltou.

- Ótimo. – diz ele, me fazendo lembrar daquelas vozes de videogame quando parabenizam você por ter feito um bom “combo”.

- Então, a gente se vê! – digo, tentando ser simpático.

- A gente se vê cara! – responde ele, conseguindo ser mais simpático que eu.

- Então tá... Tchau!

- Tchau!

Tiro o celular do ouvido e aperto em “encerrar”, tudo bem lentamente para retardar o confronto épico que terei com Vinícius. Entrego o celular, ainda não conseguindo olhar para o seu rosto. Ele toma a iniciativa.

- Que papo cabeça... Quase puxei uma cadeira pra esperar. – diz, num tom que não é comum pra ele.

- Como assim? – dessa vez tento parecer indignado. Eu devo ter sido um péssimo Rei Arthur.

- Acho que você esqueceu de passar o seu facebook pra ele – diz levantando as duas sobrancelhas. Percebo que não sei lidar com ciúmes de amigo.

- Pára de besteira, Vinícius. O cara tá com o meu celular. É muito difícil hoje em dia encontrar um ladrão gente boa que dá um jeito de telefonar para devolver o que te roubou. – digo, tentando dar um aspecto mais engraçado a esta tensa conversa.

- Eu sei Lippo, mas quem te garante que esse cara não vai te fazer mal de novo?

- Fala sério né Vinícius?! Que tipo de ladrão te liga pra marcar um assalto? E mesmo assim, a gente vai se encontrar aqui perto no prédio Galeria. Lá tem várias pessoas o tempo todo. Só o cara estando drogado de novo pra tentar fazer algo. – posso ouvir as pessoas me aplaudindo pela minha resposta inquestionável. Ficamos em silêncio, apenas ouvindo os milhares de zíperes da minha mochila sendo fechados. Vinícius faz uma expressão de “você que sabe!” internamente, termina de colocar as coisas na mochila e sai antes de mim, e ao passar pela porta da sala grita:

- Bom papo pra vocês! – e sai fazendo um sinal de “legal” com o polegar. Antes que eu tente formular uma resposta ele sai, não sei pra onde, muito menos o que estava pensando. No fim das contas acabei gostando dessa nossa conversa, pois conheci várias faces do Vinícius que eu desconhecia até então: o seu lado amigo ciumento, amigo protetor, e até mesmo amigo chato.

São uma e vinte da tarde. Estou numa das poucas lanchonetes no térreo do prédio Galeria e faz quarenta e cinco minutos que falei com o desconhecido redimido que me assaltou. Gosto dessa lanchonete porque tem mesas de metal, refletindo várias coisas a minha volta. Confesso que estou muito feliz por ter dado tantas demonstrações de inteligência hoje. Marquei a “devolução” num local a cinco minutos da faculdade, com várias pessoas ao redor e não deixei que Vinícius fizesse eu me sentir culpado. Acho que minha mente só funciona sob pressão. Ainda faltam quinze minutos para o estranho aparecer. Pela ligação, ele não transpareceu estar perto ou longe daqui... Bem, isso não importa. Meu cachorro-quente ainda está sendo cuidadosamente preparado por um atraente homem atrás do balcão e eu não estou com a menor pressa. Enquanto espero as duas coisas, deixo os violinos (ou violoncelos?) de Viva La Vida acalmarem meus ânimos. Eu gosto muito do prédio Galeria. Na verdade, ele parece um mercado civilizado, com chão limpo, várias rampas e ventiladores desnecessários no teto que não permitem que as pessoas transpirem. Hoje não será necessário, pois além das pessoas terem ficado em casa, o dia ainda está bem frio. Por falar em frio, lembro que daqui a quarenta minutos terei que enfrentar o ar-condicionado daquela badalada livraria. Não posso me estender muito na conversa... E quem disse que eu iria? Reviro os olhos pra mim internamente. O garçom finalmente lembra-se do meu cachorro-quente. Estou sentado de frente para o balcão e à minha esquerda está uma rampa em forma de caracol que dá no segundo piso. Volto a ficar nervoso e sei que preciso comer. Sempre consigo ficar mais calmo quando estou sem fome e o meu calmante é conduzido até mim. Como, parecendo mais um mendigo faminto. A Coca-Cola de garrafa de vidro está do jeito que eu gosto, quase congelada. Pego a garrafa, deixando um pouco de água da sublimação formar um círculo na mesa. Pela mesa, enxergo alguém descendo a rampa... Chegando perto do círculo. Minhas mãos suamOi gente, tudo bem com vocês?! Eu tô mega feliz que algumas pessoas estejam lendo o meu conto e criticando. Hoje foi tudo muito corrido, por isso postei só um capítulo quase que feito às pressas. Amanhã recompenso vocês tentando postar mais três, ok?! Não me odeiem. Beijos! )))))

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Comentários

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agora sim eu gostei, o final ficou em cima do muro a meio do objetivo e subjetivo e o ar poetico não ficou irritante como da última vez que vc fez... parabéns

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Acho que o Vunicius ficou com pouquinho de ciumes.

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muito bom cara esperando aqui pela continuação nota 10

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Voltou a escrever com qualidade. Fiquei também apreensivo. Foi muito bom esse conto, da mesma qualidade do primeiro. Agora estou nervoso para esse encontro acontecer e para esse romance começar.

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aguardando ansiosamente a continuação, parabens pelo conto =*

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Quero saber o que vai rolar, aguardando ansiosamente pela continuação.

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