Percebi que gostava do Henrique mais do que imaginava, e isso não melhorou as coisas. Eu realmente não sabia o que fazer.
O que eu faria?
Tentei me recompor e fui pegar minha mochila para poder ir para casa, não aguentava mais esse colégio. Foi fácil, já que a educação física era no ultimo horário. Algumas pessoas também já tinham ido, e como eu tinha me ‘acidentado’, ia ser mais fácil ainda.
A maldita chuva começou fraquinha, mas só o chuvisco já estava me incomodando. Marchei pela porta principal, e para minha felicidade a chuva ficou mais forte, encharcando meu cabelo. Coloquei o capuz do meu casaco e abaixei a cabeça para não molhar meu rosto.
Poucos passos que eu dei, olhei pra trás, e vi Henrique entrando no seu carro. Poucos segundos depois, ele para o carro bem ao meu lado, e abaixa os vidros escuros. E mais uma vez sua beleza me surpreende.
— Dá para adiantar e dizer o que você quer? Estou na chuva se não percebeu. – acho que saiu um pouco grosso, mas não fez mal.
Até o sorriso dele sair do rosto.
— Apenas quero te oferecer uma carona. – típico!
— Não obrigado, minha casa não é muito longe. – voltei a andar.
Mas ele continuou a me seguir com o carro.
— Por favor, eu insisto.
Revirei os olhos e continuei andando, quando escuto a porta do carro abrindo ando mais rápido. Estava pensando seriamente em correr, mas isso não seria uma boa ideia nessa chuva.
Não estou acreditando que ele tá fazendo isso.
Ele segurou meu braço, e me puxou até a porta do passageiro. Jogando-me contra a porta. Depois segue até seu banco e senta. Demorei um pouco na porta e ele abaixa o vidro pede mais uma vez para eu entrar.
— Não precisa Henrique, eu vou sujar seu carro. – disse com esperanças dele esquecer essa história de carona.
— Acho melhor você entrar logo. – disse sério e um pouco autoritário.
Respirei fundo, e entrei.
Não estava me sentindo confortável aqui. O carro todo limpo e com cheirinho de novo ainda, e eu aqui parecendo um pinto molhado sujando tudo. Respirei fundo de novo e disse:
— Você não pode me obrigar a fazer isso. – disse sem olhar para ele.
— Sério? – ele ironizou e trancou as portas em seguida.
Acho que meu coração começou a acelerar agora.
— Você é muito chatinho, e marrento. – virou para mim.
Com certeza eu corei agora com seu comentário.
Ele se inclinou em minha direção e me encarou sério, seu perfume amadeirado tomou conta do carro, e fez minha cabeça dar voltas. Depois sua mão alisou meu rosto. Fechei os olhos. Em seguida seus dedos deslizaram sobre meus cabelos os tirando do meu rosto. Abri meus olhos logo depois que o carinho terminou, e seus olhos azuis me encaravam com anseio. Decidi retribuir o agrado, e passeei com meus dedos trêmulos e frios por sua barba por fazer, e ele se arrepiou. Desci minha mão por seu pescoço e massageei seu ombro. A mão dele que estava na minha nuca, começou a me puxar para mais perto até que nossas testas se encontrem. Eu estava já com a respiração desregulada.
— Senti sua falta... – ele sussurrou.
Seu hálito quente e suave me fez estremecer. Sua boca vermelha e convidativa estava entreaberta, e quase por impulso o beijei com força, e ele fez o mesmo. Sua barba começou a me arranhar, e eu gostei. Coloquei minha mão embaixo da sua camisa e alisei sua barriga e depois seu peito direito, o fazendo gemer sobre meus lábios. Sua língua penetrava sem nenhuma preocupação a minha e me fez até perder o fôlego.
— Como você faz isso? – perguntei olhando minha mão por debaixo da sua camisa azul claro.
— Faz o que? – perguntou ele inocentemente.
— Não sei cara, você... você me deixa... maluco... – acho que falei merda.
Sua cara ficou o feliz, como imaginei. Só que com um pouquinho mais de dentes.
— Bom saber que tenho esse efeito em você. – sua cara ficou safada.
Virei meu rosto para esconder o vermelho da vergonha. Porque eu tenho de ser tão tímido? Ele segurou meu queixo e virou meu rosto para o dele.
— Você também me deixa maluco, e não sabe o quanto... – acariciou minha bochecha.
— Mas você é lindo, deixa qualquer um tonto só de olhar para você, enquanto eu... – ele me interrompeu.
— Pelo amor de Deus Hugo, para com isso. Sua beleza é incomparável.
Eu acho que nesse momento eu fiquei que nem um tomate. Ele apenas riu da minha cara sem graça e ligou o carro.
Ele me deixou na frente da minha casa, e me pediu um beijo. Dei o seu beijo e agradeci sua carona. Ele ficou me esperando entrar, e antes disso, me disse:
— Que tal um filme na minha casa hoje?
Eu hesitei, e analisei seu rosto, ele estava tipo... me desafiando?
— Que horas? – perguntei como se não estivesse ligando.
— Eu venho te buscar. – disse isso, e saiu.
Que filho da... Nem disse o horário.
Minha mãe não tinha chegado ainda. Ma-ra-vi-lha! O que eu vou comer agora? Joguei minha mochila na minha cama, tirei meu casaco molhado e desci para a cozinha.
Abri a geladeira e procurei o que comer. Peguei um pote de sorvete, e uma colher e fui para sala. Que almoço nutritivo esse meu. Liguei a TV em um canal qualquer, me joguei no sofá e fiquei saboreando meu sorvete de flocos. Por incrível que pareça, eu estava gostando do documentário que estava passando, eu raramente assisto TV, e quando assisto, é apenas algum filme.
Minha mãe chega e logo desliga a TV.
— Mãe! – reclamei.
Não achando pouco, tomou meu sorvete e foi para cozinha.
— Não lembra quando te disse para não comer besteira antes do almoço? – perguntou ela brincando. — Olha o que eu comprei para você. – disse levantando a mão com uma sacola.
Eu rápida e curiosamente tomei a sacola dela e peguei a caixa. Era um celular. Demorou, mas comprou.
— Obrigado mãe. – sorri e a abracei.
— De nada, agora vamos comer comida de verdade?
Concordei, e fomos almoçar. Já estava acostumado a almoçar apenas com minha mãe. Quando ela demorava muito, e não tinha como fazer comida, íamos para algum restaurante. Mas hoje, apesar da demora, ela fez a comida. Meu pai sempre chegava mais tarde, isso porque ele não trabalhava só aqui, mas também em uma cidade vizinha.
— Vou assistir um filme na casa do Henrique hoje... – comentei como se já estivesse decidido.
Minha mãe me olhou um pouco desconfiada, e fez um pequeno interrogatório que ia de: “Que horas volta?” a “Qual é o filme?”. Porém, ela autorizou.
Já que eu não tinha noção de que horas Henrique ia chegar, decidi me arrumar logo. Fui tomar um banho quente. A água quente me fez relaxar, e esquecer um pouco do frio que fazia lá fora. Lavei meu cabelo - que quando molhava ficava sobre meus olhos, mas depois ele cacheava um pouco e ficava na altura certa, ou quase. Coloquei uma blusa preta e uma calça jeans um pouco colada. Escolhi um tênis aleatoriamente e passei um pouco de perfume.
Depois de tudo isso, desci e ajudei minha mãe na cozinha. Eu sei que deveria ter ajudado antes de me arrumar, mas eu estava tão nervoso! Quando terminamos, ela disse que ia deitar, e que era para eu ter juízo. Essa coisa chamada juízo é o que eu tenho mais perdido. Fiquei esperando o Henrique na sala, enquanto fuçava meu novo celular. Eu não sei nada de tecnologia e essas coisas, mas eu tinha adorado meu celular. Olhei meu relógio e já eram 4 horas, e minha impaciência já estava aparecendo.
Meia hora depois, eu levanto, vou pra rua e fico escorado no poste. Um vento frio e forte assovia pela rua, e me fez estremecer. Preciso de um casaco. Meus cabelos balançavam enquanto eu corro para a porta, mas o carro preto que eu conheço de longe já estava virando a esquina. Tento conter um sorriso. O carro para e ele desce. Usava uma jaqueta em um tom cinza escuro, uma camisa branca, uma calça justa e um sapato simples. Lindo.
Ele fica a um passo de mim e sorri. Tenta concertar meu cabelo bagunçado, enquanto eu ainda estou absorvendo sua presença.
— Demorei? – seus dedos tocam minha nuca, me fazendo arrepiar.
— Um pouco. – tentei dizer enquanto recebia seu carinho.
Um vento passou entre a gente, me fazendo encolher e me abraçar. Ele me encara mais um tempo e sorri. Aquele mesmo sorriso perfeito de sempre, e seus olhos azuis me fitando, eram como o céu... mas não o céu cinza daqui.
— Com frio? – ele perguntou segurando meus braços perto dos cotovelos, e me alisando com as pontas dos dedos.
— Não. – menti.
Eu tinha que parar com essa mania de não querer a ajuda de ninguém. Então ele começou a tirar sua jaqueta enquanto eu soltava uma risada nervosa.
— Toma. – levantou o braço na minha direção.
— Não obrigado, eu não quer... – ele revirou os olhos e me interrompeu.
Chegou bem perto de mim e sussurrou ao meu ouvido:
— Você não tem que querer.
Seu hálito quente perto do meu ouvido, simplesmente me tirou da terra. Fechei os olhos quando seus lábios quentes roçaram minha orelha. Senti sua respiração leve e suave enquanto discretamente ele passava a ponta do nariz no meu pescoço. Ele também tinha que parar com essa mania de me obrigar a tudo, e com esses afetos em público. Ainda bem que a rua estava meio deserta, por causa da chuva que ameaçava cair.
Peguei sua jaqueta e vesti. Estava quente e cheirosa, e é claro que estava grade, mas nada exagerado. Ele abotoou uns dois botões e depois concertou meu cabelo de novo. Eu tava me sentindo um idiota. Ela tava cuidando de mim... e isso é um pouco esquisito, e novo. Soltei uma risada depois desse pensamento. Não estava nem um pouco acostumado com esse tipo de carinho, já que nunca tinha namorado antes.
— O que foi? – ele perguntou sorrindo comigo.
— Nada. – respondi enquanto ele me puxava para o carro.
Um chuvisco começou a cair, e isso não me incomodava mais. Nada mais me incomodava. Não agora.