Eu estava concluindo o curso de Medicina quando tive que fazer estágio num posto de saúde situado numa favela muito famosa pelo grau de periculosidade, mas, segundo os orientadores do estágio, eu não precisava me preocupar pois os que “comandavam” a comunidade tinham muita consideração por aqueles que prestavam serviço no local.
Logo quando cheguei, o posto estava lotado e fui encaminhado para uma das salas. Assim que entrei, um rapaz se aproximou:
_ Doutor, estamos precisando do senhor, com urgência!
_ Amigo, eu ainda não sou médico!
_ O senhor é o quê?
_ Estou concluindo o curso. Faço residência ainda – como um estágio, entende
_ Serve. Vamos!
_ Aonde?
_ Vamos! É urgente!
_ Escute! Eu sou estagiário. Não posso fazer atendimento algum sem a presença de outro médico. O que está acontecendo? Você diz e eu vejo se alguém daqui pode ajudá-lo!
_ Vem o senhor mesmo!
Olhei para um funcionário do posto que fez um sinal para que eu acompanhasse o tal rapaz. Assim eu fiz...
_ Certo, vamos!
_ Vamos dar uma carreirinha, que é caso de vida ou morte!
_ Rapaz, não vá me colocar numa furada!
_ Vamos! Vamos!
Saí correndo por não sei quantos becos, até que chegamos num barraco. Uma voz grossa, lá de dentro, ecoou:
_ Entra só o doutor! Só o doutor, heim!
O rapaz que tinha me abordado no posto, disse:
_ Vai lá, doutor! Ele quer só o senhor!
_ Ele quem?
_ O Caveira. Pode entrar aí direto... Lá dentro o senhor vai ver!
Fui entrando...
_ Aqui! Aqui, doutor!
_ Meu Deus! Que foi isso? Fica assim mesmo... Não se mexe!
_ Dá um jeito aí, doutor!
_ Calma! Não mexe! Eu vou fazer uma limpeza, pra não infeccionar e vou pedir uma ambulância pra você ser levado a um Pronto Socorro, imediatamente! O que foi isso, afinal? Está sem iluminação e com muito sangue... Não consigo nem localizar o ferimento!
_ Foi um traíra! Um filho de uma puta que me baleou! [Pausa] Olha... presta atenção... daqui eu não vou sair! O que tiver que ser feito, vai ser feito aqui!
_ Não! Não pode ser assim! Você pode perder a perna! Talvez tenha que fazer uma cirurgia...
_ Aqui, doutor! Aqui!
_ Olha aqui pra mim... Eu não posso me responsabilizar por uma situação grave dessas! Eu não sou habilitado, entende? Eu faria qualquer coisa se fosse possível... mas não é? Tem que ser lá!
Ele estava com os olhos cheios de lágrimas, mas mantinha a expressão dura...
_ Terminou?
_ Sim...
_ Pois agora é minha vez de falar! O senhor disse que não poderia se responsabilizar, não foi?
_ Isso mesmo!
_ Mas a responsabilidade é minha! Nessa favela mando eu!
_ E der errado? Se, ao invés de melhorar, agravar ainda mais? Pense bem! A sua perna pode ser como era, mas, sem os recursos apropriados, você pode perdê-la! Você prefere correr esse risco?
_ Eu conheço as pessoas só pelo olhar! E eu tenho certeza que o senhor vai deixar minha perna melhor que era! Vá por mim! O que o senhor precisa? Pode dizer pros moleques ali fora que eles providenciam tudo!
_ Certo, vou fazer o que você está me pedindo, mas você também vai ter que me prometer uma coisa...
_ O quê?
_ Já que a responsabilidade é sua, ninguém poderá saber que vou fazer isso!
_ Tá mais que prometido! Pode ir lá pedir o material!
_ Antes disso, me conte o que houve...
_ Um sujeito que eu considerava nas áreas, chegou no meu barraco, de boa, com uma dona! A noite tava rolando, só nós três, e a fulana se jogando pro negão aqui. Papo vai, papo vem, ela começou a pegar no meu cacete... e o cara lá, vendo tudo, sem mostrar raiva... Ela começou a mamar na minha pica e eu já fui logo botando de quatro e socando rola. Numa dessas mudanças de posição, quando senti foi o estrondo. O filho da puta estava de combinação com a safada.
_ E eles fugiram?
_ Tentaram. Mas já estão fazendo companhia ao Satanás!
_ O tiro pegou exatamente onde... Você consegue localizar?
_ Aqui... entre a coxa e a virilha! Porra, o medo que eu senti de ter perdido a pomba! Aiiii...! vamos doutor.. Vamos agilizar isso! Vai lá pedir o material!
_ Aqui não dá pra fazer nada! Eu preciso de iluminação, local limpo, com água a disposição!!
_ Vai ser aqui mesmo! Como é que o senhor quer o local? Fala tudo pros moleques e dentro de vinte minutos esse quarto vira uma sala de cirurgia! Pode crer!
_ Bem... se é assim!
Fui falar com as pessoas, como ele pediu, e fiquei numa casa vizinha preparando o material. Quando voltei, quase caí duro... Estava tudo como eu havia orientado. E, desta vez, eu pude ver, direitinho o rapaz baleado...
_ E aí, doutor... tá tudo “no jeito”?
_ Melhor, impossível! Estou pasmo! Você é muito querido, viu?
_ Temido, o senhor quis dizer!
_ Bem, vamos ao que interessa... Sim... Qual seu nome mesmo?
_ Caveira.
_ Seu nome! [Sorriso]
_ Caveira! [Risos]
_ Eu tenho certeza, absoluta, que seus pais não foram ao cartório e disseram: “O nome do meu filho é Caveira Ferreira da Silva”!
_ [Risos] Verdade! É Rômulo!
_ Olha... um nome lindo desses, e você insiste que eu chame Caveira! [Risos]
_ E o seu?
_ Alexandre.
_ Posso saber sua idade, doutor?
_ Lógico! Vinte e três! [...] O tiro foi por aqui, não foi?
_ Foi. [...] Porra, mais novo que eu dois anos!
_ Olha, vou pedir que ninguém entre aqui porque vou ter que rasgar e tirar seu calção!
_ Não sei pra quê eu vesti essa porra! Vesti depois do tiro!
_ Você conseguiu?
_ Ora... Com o sangue quente!!
_ Espera que eu vou lá falar com eles!
Voltei...
_ Pronto! Deita!
_ Oh... Cuidado com essa tesoura aí! [Risos]
_ Rômulo, vamos fazer um trato: você confia em mim cem por cento, e eu prometo dar cem por cento de mim!
_ Fechado! [Risos] legal ouvir uma pessoa me chamar de Rômulo! [Risos]
_ Então me deixa cuidar disso... Que medo de perder “os documentos”!
_ Porra! É o que de melhor eu tenho!
_ Não, Rômulo! O seu maior bem é a vida!... Só um instante... Pronto!
Quando tirei o calção dele, vi a maior rola mole que já tinha visto! Não tive como disfarçar minha surpresa... E acho que ele notou...
_ Agora vou limpar! Aguenta as pontas, pois vai arder!
_ Arregaça! Aiiiiiiiiiiii...! Ahhh! Cacete! Aiiiiiiiiiiiii...! Ai! Ai! Aiiiiiiiiiiii...!
_ Pronto! Agora, ao redor, não vai mais arder... Hummm... Vou precisar raspar os pelos aqui perto!
_ Pô! Vai deixar essa parte, em cima do meu pau, pelada? Sacanagem! Nunca raspei aí, doutor! Fica feio demais!
_ [Risos] Rômulo, você acha que amanhã já vai poder fazer suas peripécias?
_ “Peri...” o quê?
_ Peripécias... danações, bagunças, artes... [Risos] Rômulo, você vai ficar um bom tempo quietinho! Você e seu companheiro! [Risos] Quando os dois estiverem prontos para entrar em ação, os pêlos terão nascido!
_ Que notícia triste! [Risos] Mas o médico fala uma coisa, e a gente faz outra! [Risos]
_ Bem... Você que sabe! [Risos] Sossega aí! Vou raspar!
_ É o jeito, né?
_ É! [Risos] Rômulo, eu preciso raspar só essa parte... mas, como já estou com a mão na massa mesmo, posso raspar tudo! O que você quer?
_ Não... Ficar só de um lado é pior! Se o senhor não se importar?!
_ De jeito nenhum! Vamos lá!
_ Ai...! [Risos] Epa! [Risos]
_ Antes estava berrando, agora está rindo!
_ [Risos] Estou é preocupado!
_ Em ficar raspado... feio?
_ Não! [Risos] Desculpa, doutor! [Risos] Mas é que sua mão é macia... [Risos] Estou com medo da bicha acordar! [Risos]
_ Ahh... Quanto a isso, fique tranqüilo! A gente sabe que isso pode acontecer! Aliás, sempre acontece! [Risos] Nessa hora aqui, principalmente!
_ Ohhh... Agora é tarde! [Risos] Ai, que vergonha! [Risos]
_ Por quê, Rômulo?
_ O que o senhor vai pensar de mim?
_ Que você não é impotente! [Risos]
_ [Risos] Gostei! [Risos] Não vá pensar que sou gay! [Risos]
_ [Risos] Ah! Isso é seria menos problemático, ainda! [Risos] Eu sou gay!
_ [Risos] O senhor é gay? Putz! Que mancada!
_ Você tem algum problema por um gay está cuidando de você, Rômulo?
_ Não, doutor... Não!
_ Por que você mudou o jeito de me tratar? Ficou sério...? Só por saber que sou gay? Seja sincero!
_ Não... Falando a verdade... É porque gay sempre quer outras coisas...
_ Você está enganado, Rômulo! O gay quer outras coisas nos momentos apropriados para isso! Por exemplo, se eu tivesse levando esse papo descontraído, bacana, livre... e ainda tocando seu corpo, mas numa outra situação, pode ter certeza, eu ficaria caidinho por você! Mas nesta situação, com uma responsabilidade dessas em mente, só pensando em deixar você da melhor forma possível... eu não consigo ter outra coisa em foco! Só uma comparação: seu corpo pra mim, agora, seria como um computador que um técnico tivesse fazendo um reparo, entendeu? Profissional em primeiro lugar!
_ Massa, doutor! Gostei! [Risos] Mas posso ser sincero? Essa outra situação, comigo, nunca rolaria! Não fique ofendido!
_ Nunca, Rômulo! Eu também acho que não aconteceria... Foi só uma suposição! Você não tem jeito que curte! [Risos] Pronto! Olha o resultado!
_ Caralho! [Risos] Doutor, é impressão minha ou meu pau ficou maior? Sério!
_ Não! Quando raspa, dá essa impressão! Agora vamos aqui... Olha, da outra vez ardeu... Agora vai doer! No hospital, fariam isso com anestesia. Aqui é sangue frio! Aí, tem uma coisa... eu não posso me assustar, tremer... entendeu? Portanto, vamos ter que achar um jeito de imobilizar você, porque, com a dor, você vai gritar, dar sopapos e se mexer... e qualquer falha... Adeus perna!
_ Puta merda! Posso usar uma droga?
_ Não! Sua pressão sobe e pode dar hemorragia. Isso não é normal, mas beber uma dose grande de uísque... Você que sabe! Mas vou ter que amarrar você!
_ Pede a dose lá... e umas coisas pra me prender!
Voltei...
_ Bebe de uma vez e deita...
_ Ahhh...! Porra!
_ Anda... deita! Escuta, Rômulo! Mais uma vez eu vou pedir: vamos a um hospital!
_ Não!
_ Rapaz, eu nunca fiz isso! Posso errar e pôr sua perna a perder! Deixa eu explicar: tem estilhaços de bala muito próximos a uma veia importante. Se eu tremer e cortar esse vaso, você pode até morrer! Não há como estancar! É sério!
_ Não vai errar! Pode seguir! Eu não vou mexer!
Ele segurou minha mão...
_ O senhor vai conseguir... mas, se der errado, a responsabilidade é minha!
Prendi o corpo dele e dei os últimos nós...
_ Tenta se mexer...
_ Porra! Tá imobilizado mesmo!
_ Vou pôr esse pano na sua boca! Na dor... morde!
_ Beleza!
_ Preparado? Ai, meu Deus! Lá vai! Não mexe!
_ Ahhhhhhhhhhhhhhh...! Uhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...! Ai! Ai! Ai! Ai!
_ Aguenta firme, Rômulo!
_ Uhhhhhhhhhhhhhhhhhh...! Uhhhhhhhhhhhhhh...! Owww...! Owww...!
_ Só mais um pouco! Agora é a maior! Aguenta!
_ Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...! [Choro] Ai... Ai... Ai...! [Choro]
_ Estou conseguindo! Falta só um pouco!
_ [Choro] Ai... Ai... Ai...! [Choro] Ai! Ai! Ai! Ai! Uhhhhhhhhhhhhhh...!
_ Pronto, cara! Consegui! [Choro] Consegui, Rômulo!
_ [Choro] Ai... Ai... Ai...!
Tirei o pano da boca dele... Em seguida, desamarrei! Chorávamos os dois... Ele sentou e nos abraçamos...
_ Deu certo, doutor? [Choro]
_ [Choro] Deu, cara! Deu certo!
_ [Choro] Obrigado, Doutor! Eu sabia que o senhor ia conseguir!
_ Estou impressionado com sua força, Rômulo! [Choro]
Nesse momento, movidos pelo calor da emoção e por um impulso momentâneo, enquanto nos abraçávamos, nossos lábios se encontraram, molhados por nossas lágrimas e, em fração de segundos, Rômulo enfiou sua língua em minha boca e depois, eu fiz o mesmo... Nós nos afastamos e fizemos de conta que nada tinha acontecido.
_ Agora, deixa eu fechar...
_ Ahhh...! Nem acredito!
_ Calma aí... Vai arder mais um pouco!
_ Ora! Arder é o mesmo que fazer cócegas! Aiiiiiiiiiiiii...! Aiiii...! Cacete!
_ Agora um curativo... Pronto, Rômulo! Fiz o que pude!
_ Doutor, o senhor terá minha eterna gratidão... O que o senhor precisar... do fósforo ao helicóptero... pode me procurar!
_ Olha... A região foi muito mexida então é possível que você tenha febre, ou coisas do tipo. Esse é meu celular... Na hora que sentir qualquer alteração, pode ligar! Eu nunca deixo funcionando durante a madrugada, mas por esses dias eu vou deixá-lo do meu lado. Combinado?
_ Vai com Deus, doutor!
_ Fica com Ele!
Voltei pra casa sem comentar nada do ocorrido, eram três da madrugada...
_ Doutor, é o Rômulo... tá doendo demais! Latejando!
_ Estou indo aí!
_ Pode pegar um táxi... aqui eu acerto!
_ Tá.
Quinze minutos depois...
_ Oi, Rômulo! Primeiro... pede pra todo mundo sair!
_ Escutaram seus porras! Fora! Fora!
_ Vou tirar o curativo... Como começou?
_ Eu... Eu... Tava aqui, deitado... Aí começou!
_ Rômulo... a verdade?! Eu fiz pontos falsos... Estão abertos! Cara, o que você fez?
_ Nada!
_ Rômulo... isso é sério! Você foi inventar de trepar?
_ Não... Não...
_ Andar?
_ Não... Não...
_ Fala, cara!
_ Bati uma punheta!
_ Puta merda! Você mesmo ou outra pessoa? Você, né! Se tivesse sido outra pessoa, isso não teria acontecido!
_ Não?
_ Não! Faz aí só o movimento... Tá vendo o que move da perna? Agora, se fosse eu... Tá vendo? A perna fica imóvel! [...] E... com toda a putaria aqui... você ainda consegui ficar assim? [Risos] Não consigo nem ter raiva de você!
_ Ah! O senhor foi reconstituir a cena do crime... a bichona pensou que fosse real! Danada! Foi fazer peripécias! [Risos]
_ Aprendeu! [Risos]
_ Nunca vou esquecer, nem a palavra e nem quem me ensinou! [Risos] Sempre que eu falar, vou lembrar do senhor! [Risos]
_ Não venha querer me agradar pra eu esquecer isso aqui, não!
_ Porra, tá doendo! Quer dizer que não posso fazer assim com o corpo?
_ De jeito nenhum... Até isso fechar! Umas duas semanas, se colaborar!
_ Doutor! Mas como eu vou coçar essa parte raspada? Coça demais!
_ [Risos] Ah! Manda um desses moleques ficar de guarda aqui... Não ponha mulher! Pra não cair em tentação! Pra isso, você é fraco! [Risos]
_ Doutor, vou falar a real... Se eu não for vigiado... eu vou me danar!
_ Então, Rômulo... pra que você me ligou? Estou fazendo papel de idiota! Mais tarde vou ter que estar aqui novamente!
_ Eu pensei, agora... Não sei se o senhor topa...
_ Fala!
_ Quanto o senhor cobra pra passar uma semana aqui... direto? Pode dizer o valor!
_ E o que eu vou falar em casa?
_ Uma viagem...
_ Pode ser quanto for?
_ Pode!
_ Então eu venho e digo o valor no final... baseando no meu trabalho. Mas não se preocupe, serei justo!
_ Onde o senhor vai?
_ Buscar minhas coisas! Quando eu chegar, minha cama e um armariozinho já devem estar me esperando!
_ [Risos] Certo, doutor! [Risos] Vem logo!
Fui em casa, arrumei uma bolsa com o que eu poderia precisar, avisei que iria a um Congresso de última hora e retornei à favela. A cama e o armário já estavam lá...
_ Rapaz, não precisava de uma cama enorme!
_ O senhor vai sair do seu conforto pra passar mal aqui?
_ E eu vou ficar aqui mesmo? Não é incômodo pra você?
_ Nada! Um faz companhia ao outro... [Risos] Só é chato porque a minha cama é mais alta que a do senhor... Pra conversar é muito ruim! Não dá pra baixar, não?
_ Não!
_ Eu vou pedir uma igual a do senhor!
_ Outra gigante dessas? Não! Uma idéia seria você ficar aqui...
_ Mas o senhor vai ficar desconfortável demais!
_ Rômulo, essa cama seria três das minhas! [Risos] Quer vir ou não quer? Eu sei até qual é o problema!
_ Nenhum!
_ Jura? Não é porque sou gay?
_ Não fale isso, doutor! Pois eu vou...
_ Espera! Deixa eu carregar você!
_ O senhor? Duvido! [Risos]
_ Não faz força! Deixa que eu faço!
_ Ahhhh...! [Risos] Eita, cabra escroto! [Risos]
Quando peguei-o nos braços, a cama afastou e caiu algo ao chão. O objeto estava enrolado numa camisa e, pelo impacto, parecia algo pesado. Abaixei-me para pegar...
_ Não, não, não... pode deixar ai, doutor!
Quando ele falou, eu já estava com o objeto na mão. Assim que o toquei, percebi tratar-se de uma arma – maior que um revólver. Fiquei pálido e, quando o entreguei...
_ É para a minha segurança...
_ Eu... Sabe, Rômulo... pensando melhor, acho que não devo ficar direto aqui...
_ Não! Que isso? Por favor, doutor...
_ Olha... não leve a mal, mas eu me precipitei... o que, pra vocês, é muito natural, pra mim é chocante! Eu não vou me sentir bem num lugar onde armas são como relógios de pulso e drogas são oferecidas como um cafezinho. Há pouco tempo, um rapaz chegou ali fora e, depois de cumprimentá-lo, o outro perguntou: “Quer um ‘teco’? ‘Poeira’ da boa!” – depois foi que entendi que “poeira” era cocaína!
_ [?]
_ Rômulo, eu só vi cocaína na minha frente quando fazia faculdade! E isso aconteceu durante uma aula... não foi presenciando o uso! [...] Eu gostaria que você compreendesse... mas...
_ Fique, doutor! Eu lhe dou minha palavra que, pelo menos aqui dentro, o senhor não vai por os olhos nem em armas e nem em drogas!
_ Rômulo, não prometa o que não pode cumprir! Você não vai agüentar sem usar!
_ Usat o quê... drogas?
_ Sim.
_ [Risos] Mas eu não uso! [Risos]
_ Não?
_ Nem cigarro! Só umas biritinhas, de leve!
_ [Risos] Então, desculpa! [...] E essa arma?
_ Pegue!
_ Oi?
_ Pegue... Guarde! Mas não deixe fora daqui... Eu sei o que estou falando! E o senhor está vendo minha perna!
_ Tá. Eu vou guardar num lugar que apenas eu saiba... Quando eu for embora, lhe devolvo!
_ Mudando de assunto... [Risos] Gostei de ver a força, doutor! [Risos] carregou o negão aqui sem fazer cara feia! [Risos]
_ [Risos] Deu valor?
_ Muito! [Risos] Doutor, depois que o senhor foi buscar suas coisas eu pensei... Porra, só vi meu lado e deixei o do doutor de lado! Assim, pedir pro senhor largar sua vida por uma semana! Ficar aqui cuidando de ferida dos outros, quando poderia estar com seu namorado e tal! Fui muito egoísta, não fui?
_ Qual namorado?
_ Tem mais de um?
_ Não tenho nenhum!
_ Ah... Conta outra! O senhor, gente boa, educado, generoso, boa pinta, super delicado... Deve ter uma fila esperando uma chance! [Risos]
_ Verdade, Rômulo. Não tenho... nunca tive! Uns lances sem importância, sim! Coisa de uma noite... Mas namorado, namorado mesmo! Nunca tive! E se for pra ter um cara que só queira trepar, ou, pior, que tenha interesse em grana... prefiro não ter!
_ Eu conheço muitos moleques... daqui mesmo, das áreas... que tem uns casos por aí com uns gays... mas o lance é grana!
_ Não... Nem pensar!
_ Mas um cara como o senhor... vai aparecer um mano que ame o senhor de verdade!
_ Tomara, Rômulo!
_ Doutor... Ai!
_ Coçando?
_ É... [Risos]
_ [Risos] Não se encabula, não! Pode pedir! [Risos] Ah! Do dia do tiro pra cá, você já fez asseio? Banho não pode! Só passar uma toalha molhada pelo corpo...
_ Não! E ontem, eu tava pregando!
_ Vamos fazer isso agora! Aguarda aí!
Trouxe uma bacia com água e uma toalha pequena...
_ Rômulo, posso usar um pouco desse meu sabonete líquido?
_ Pode!
_ Vai ficar pelado novamente, viu?
_ [Risos] Ai, ai...! [Risos]
_ Vou procurar ser rápido pra não dar tempo seu companheiro acordar... [Risos]
_ [Risos] Só se for outra vez! [Risos]
_ Já? Mentira! [Risos] Não deu tempo!
_ Mentira? Olha aqui o tamanho da mentira! [Risos] Ohhh... Mas também, doutor, suas mãos! Assim é covardia com o negão! [Risos]
_ Não pense só no seu lado! Pra mim também não é uma covardia, ter uma negão, simpático, forte, bonito e gostoso nas minhas mãos... Alisando seu corpo inteiro, ver sua pomba durona... e fazer de conta que não está vendo nada!? [Risos]
_ Porra, doutor... Assim é golpe baixo! [Risos] Falar desse jeito, com quem tá aqui a mil por hora! [Risos]
_ Pronto... parei! Agora, falta seu amigo... Posso?
_ É todo seu! [Risos]
_ Todo meu, não é? [Risos] Sei!
_ Issssssssssss...! Ahhhh...! Pô, doutor!
_ Rômulo, calma! Estou só limpando... sem maldades! Pode acreditar! Tá vendo? Não sei pra quê eu fui ser sincero? Deveria nunca ter falado que era gay! Agora, basta eu chegar perto de você e pronto... Já acha que quero atacar! Pronto! Acabei... E você está do jeito que encontrei!
_ Tô, não! Tô limpo e cheiroso... [Risos]
_ [Risos] Ficou cheiroso mesmo...
_ Fiquei? Sente aqui perto da minha orelha! Pode cheirar!
_ Hummm... Cheiroso demais!
_ Issssssssss...! Caralho... Olha meu braço! [Risos] Todo arrepiado! [Risos] O senhor fica assim?
_ Fico...
_ Chega aqui pra eu ver... Encosta... Hummmmm...!
_ Ahhhhhh...! Olha! [Risos]
_ [Risos] O senhor quer comer?
_ Prefiro ser comido! [Risos]
_ [Risos] Cheio de piadas! [Risos] Só tem arranco!
_ Bem... como vamos passar uma semana juntos... é melhor se acostumar com minhas brincadeiras! Detesto vida careta, séria, chata! Gosto de ver sorrisos! Lágrimas... só se for de alegria, com aquelas nossas!
_ O senhor chorou por ter conseguido, foi?
_ Não... Foi por ter visto sua resistência... sua força para suportar aquela dor, que muita gente desmaia... e sua segurança na vitória. Isso me emocionou muito! Você estava amarrado, mas se não estivesse, não teria mexido... como eu pedi!
_ Eu suportei mais, doutor, porque, se eu mexesse e desse errado, o senhor iria se culpar! Então, eu tirei forças de onde não tinha pra que o senhor conseguisse!
Sentei do dado dele e toquei em seu rosto com ternura...
_ Obrigado, Rômulo! Mas não fui eu que consegui, fomos nós dois. Se eu não tivesse a coragem de tentar e você a resistência para suportar a dor... Nada tinha funcionado. Isso foi uma boa sintonia entre nós! Nossa química foi perfeita! [Choro]
_ Pô, doutor! O senhor vai fazer o negão vai chorar novamente!? Vem cá! Obrigado, doutor! [Choro]
Rômulo e eu nos abraçamos e, tal como da outra vez, trocamos um beijo, desta vez, um pouco mais demorado. Novamente, fizemos de conta que nada tinha havido.
_ Rômulo, agora é minha vez! Vou tomar um banho!
_ Doutor, antes de ir, chame ali um moleque daqueles! Por favor!
Fiz o que Rômulo pediu e fui tomar banho. Não resisti e bati uma punheta pensando nele. Demorei um pouco a sair. Quando cheguei ao quarto, havia uma Sidra num balde com gelo e duas taças...
_ Pra gente comemorar nossa vitória... e nossa química! [Risos]
_ Você vai só molhar o bico!
_ O senhor é quem manda! [Risos]
_ Posso servir?
_ Pode...
_ Pega.
_ Um brinde... ao doutor Alexandre!
_ Um brinde à sua saúde, à sua trajetória daqui pra frente, à sua vida!
_ Um brinde... a nós dois! Nunca mais vamos esquecer que o outro existe...
_ Nunca mais, mesmo, Rômulo! Nunca mais...
Brindamos, bebemos...
_ O que o senhor mais deseja, doutor?
_ Ah... Não poderia dizer! Sonhos impossíveis...
_ Nada é impossível!
_ isso é bom pra falar... Posso beber mais?
_ Só se liberar pra mim... [Risos]
_ Ai, Rômulo...
_ Ai, Alexandre...
_ Pega. Não vai ficar bêbado e fazer bobagens...
_ Não... Queria ficar mais ousado, corajoso...
_ Mais? Rômulo, você é meu exemplo de coragem!
_ Eu não sou exemplo de nada! Olha minha vida!
_ Oh... O que você fez do dia que entrei aqui e lhe vi naquele esta pra trás, não me interessa! Nem quero saber! Aquela vida era do Caveira! Eu conheci o Rômulo! Se, ao ficar curado, o Rômulo desaparecer e o Caveira voltar... Aí, é com você! Minha admiração, meu carinho... é com o Rômulo!
_ Mas o Rômulo só existe pro senhor!
_ Que seja! Eu, então, sou um privilegiado, um sortudo... Conhecer o Rômulo foi uma das coisas mais bonitas da minha vida... Ahhh...! Chega! A bebida já está soltando minha língua! [Risos]
_ Não... Continua!
_ Quando chegar o momento, eu falo. Agora, pra você, encerrou! Dá aqui a taça!
_ Só mais um pouquinho! Por favor, Alexandre!
_ Como você falou bonitinho o meu nome! Só por isso, vou liberar...
_ Alexandre, Alexandre, Alexandre, Alexandre, Alexandre, Alexandre, [Risos] Alexandre, Alexandre, Alexandre, Alexandre, Alexandre...
_ Olha só... É muita sorte a minha conhecer o Rômulo. Não é? Crianção, chorão, carinhoso... Aposto que o Caveira não é assim!
_ O Caveira não sabe sorrir...
_ Porque ele não sabe amar! O Rômulo sabe!
_ Será que ele sabe?
_ O Rômulo? Tenho certeza absoluta! Ele pode ter medo de amar... Aí é outra coisa!
Algumas horas depois...
_ Doutor... caso eu tenha vontade de bater pinheta...
_ Só se for outra pessoa...
_ Então eu...
_ Faça o seguinte, peça ao rapaz pra chamar uma moça,,, sua namorada... sei lá! Eu vou ao telefone e vou demorar uma meia hora... É o suficiente!
_ Não eu...
_ Vou lá! Aproveita, mas com moderação! O rapaz sabe quem chamar?
_ Sabe,,,
_ Eu vou pedir pra ele!
Saí de lá me cortando de inveja da moça que iria bater a punheta nele. Fiquei dando voltas pela favela, conhecendo alguns lugares e, após quarenta minutos, voltei. Na porta, o rapaz avisou que a moça não tinha saído. Fiquei conversando com ele. De repente, a garota passou feito um furacão, com uma cara de poucos amigos. Entrei e vi a cara de Rômulo pior que a dela. Decidi ficar na minha. Ele soltou:
_ Só faltava essa agora!
_ Que houve?
_ A Nina fez de tudo pra esse caralho subir... nem se mexeu! Agora virei brocha!
_ Não pode! Antes estava tudo cem por cento! Não era má vontade dela? Vocês já fizeram outras vezes?
_ Pô... Eu comia essa dona direto! Maior gostosa! Mas ela ficou aqui... Eu tava achando sem graça...
_ Depois dará certo! Anda,,, Abre as pernas pra eu pôr o remédio! Puxa o lençol!
Mal eu toquei na coxa dele, o pau levantou. Nos olhamos sem saber o que falar um para o outro. Os olhos dele me pediam pra bater a punheta, mas meu receio de parecer que me aproveitava da situação me fazia recuar. Resolvi ver no que dava.
Sem dizer uma palavra, com meus olhos fixos bos dele, deixei o remédio do lado, tirei a luva e segurei seu pau. Latejou. Direcionei minha boca a certa altura da cabeça e soltei uma boa quantidade de saliva. Ainda nos olhávamos. Desci devagar,,, Ele gemeu. Comecei a punhetar pra valer... Ele me olhava com os olhos cheios de tesão...
_ Ahhhh...! Isso, doutor! Isssssssssss...! Assim, forte! Ahhhhhhhhhhh...!
_ Assim, tá gostoso, tá?
_ Tá muito bom! Ahhhhhh...! Ahhhhhhhhhhh...! Muito bom! Ahhh...! Mela mais!
_ [Cuspida] Gosta meladinha é, Rômulo? Bem meladinha?
_ Ahhhhhhhhhhh...! Punheta gostosa! Issssss...! Ohhhh...! Doutor, vou gozar!
_ Goza! Goza gostoso! Isso! Goza!
_ Isssssss...! Uhhhhhhhhhhhhhhhhhh...! Ohhhhhhhhhhhhhhhhhh...! Porra!
_ [Risos] Gostou?
_ [Risos] Muito!
_ Vou lavar a mão!
Quando cheguei ao banheiro, não resisti e lambi toda a gala de Rômulo que estava em minha mão. Depois, lavei a mão e a boca e voltei... Rômulo estava todo errado, mas nada comentei. Logo anoiteceu e, mais adiante, o momento de dormir.
_ Rômulo, você está precisando de alguma coisa... chegou a hora do meu sono!
_ Não, doutor! Tá de boa!
_ Bem... estarei aqui do lado. Basta chamar... Boa noite!
_ Boa.
No dia seguinte, percebi que Rômulo estava com a mesma expressão da noite anterior. Mais uma vez, não fiz comentários. Umas onze horas preparei o asseio dele comecei a fazer e, como da outra vez, seu cacete endureceu. Ele sempre sério e eu idem. Quando fui passar o pano molhado em seu pau...
_ Valeu, doutor! Aí tá limpinho, pode deixar! Acabou o restante?
_ Sim, acabei, Rômulo.
Fui ao portão e dei um dinheiro para um rapaz comprar uma revista para mim. O rapaz trouxe e eu deitei, de bruços, na cama para ler. Fiquei concentrado na leitura... De repente, senti a mão de Rômulo sobre minha bunda, mas de maneira bem leve, como se ele fizesse aquilo não querendo que eu percebesse. Fiz de conta que não senti.
À noite, veio uma moça falar com Rômulo. Eu ia saindo...
_ Oh, doutor... pode ficar. Aqui não rola nada!
Resolvi ficar, mas a cada minuto eu ficava mais incomodado com o jeito como ela o tratava. Puxava daqui, puxava dali... e ele sempre avisando que não podia fazer movimentos. Dado momento, a moça puxou o lençol e foi direcionando a mão ao curativo, como se quisesse brincar ameaçando bater. Aí eu não me segurei:
_ Minha querida, você pode brincar onde quiser, mas aqui. Não, porque o que acontecer de positivo ou de negativo, eu sou o único responsável. Portanto, aqui o acesso é restrito...
_ Agora deu! Diabo é isso, Caveira, esse fulano agora manda no seu pau, é?
_ Em primeiro lugar, me respeite! Fulano deve ser alguém do seu cortiço, coisa que eu não sou! Em segundo lugar, eu não mando no pau nem de quem o tem privado, imagine dos públicos! Em terceiro, você pode até arrancar e pendurar no seu pescoço, pra mim, não faz diferença, agora nesse curativo... Ahhh...! Nem se atreva a tocar, porque se você fizer, automaticamente você assumirá meu lugar... Eu vou cuidar de quem quer ser cuidado!
_ Égua, Caveira! Depois dessa, eu vou pegar o beco! Boa sorte, aí, com o Fulano!
Assim que ela saiu, eu fui até a frente dele e disse:
_ Muitíssimo obrigado pela consideração!
E saí.