Antes de voltar para casa, Daniel resolveu passar no supermercado. Toda sua atividade durante a tarde lhe rendera uma fome extra. Enquanto ele passeava entre as gôndolas escolhendo a maior barra de chocolate que seu dinheiro podia pagar, suas pernas subitamente fraquejaram. Na outra ponta do corredor, empurrando um carrinho de compras, vinha Renatinha.
Daniel chegou a ficar ofegante. Não, seu pau não podia ficar duro naquele momento. Era preciso ter calma e sangue frio, disse ele para si mesmo, enquanto caminhava resoluto na direção da sua musa. O que falaria para ela? E se ela o ignorasse?
Renata estava de costas para Daniel quando ele parou atrás dela. Tenso. O suor na testa brotava. Mas não podia desistir agora.
− Puxa, que coincidência.
A princípio ele julgou que Renata fosse surda. Ela não se voltou imediatamente. "Fui ignorado, puta que pariu." Daniel já estava abrindo a boca para falar qualquer coisa quando lentamente Renata voltou sua atenção para o garoto.
Os olhos verdes dela eram enigmáticos. Pousados friamente no rosto de Daniel, ele sentiu que ali a coisa seria difícil.
− Falou comigo?
A voz rouca, suave e indiferente.
− Eu… coincidência nos encontrarmos aqui, Renata. Está fazendo compras?
Pergunta idiota, pensou ele. O que mais ela poderia estar fazendo em um supermercado?
Renata o encarou por alguns segundos como se pensasse no que iria responder. Por fim disse:
− Sim. E você?
− Eu vim comprar chocolate.
Suas mãos suavam. Ela era ligeiramente mais alta que Daniel e o mirava de cima. Nervoso, o rapaz tentava desesperadamente encontrar algum assunto para quebrar o gelo e descontrair o clima. Porém não foi preciso. Fazendo um gesto com a cabeça, Renata apontou para uma prateleira um pouco acima e pediu miando:
− Você pega aquele pacote para mim? É um pouco pesado.
− Claro, o que você quiser.
Solícito, Daniel não se importou de se esticar todo para pegar um saco de cinco quilos de arroz. Com alguma dificuldade, pôs dentro do carrinho de compras e em seguida escutou um elogio:
− Nossa, como você é forte…
Foi o máximo. Daniel sorriu o seu melhor sorriso, aquele meio de lado, o conquistador. O rosto de Renata trazia uma expressão diferente agora, como se ela… estivesse impressionada com seus músculos.
− Ora, o que é isso. É um prazer ajudar você. Precisa que eu alcance mais alguma coisa?
Olhando-o profundamente e passando as mãos sedutoramente nos cabelos, Renata disse:
− Não, querido. Está bom assim. Você já me ajudou bastante.
− Bem, posso levar suas compras para casa. Esse saco de arroz pesa pra caramba!
− Não, não se preocupe. Minha mãe vem me buscar – ela fez uma pausa e arrematou, com a voz mais rouca ainda – mas pode ficar para uma outra vez.
− Puxa, legal! – Daniel não se continha de tanta felicidade. A mina estava parada na sua – Bem, então nos vemos amanhã na escola.
− Certo, nos vemos, sim.
Frente a frente com sua musa, Daniel não sabia o que fazer com os braços, balançando-os de um lado para o outro como se fosse um helicóptero.
− Então tchau.
− Tchau.
Tentando aparentar que tudo estava normal, Daniel deu meia volta e saiu do supermercado sem seu chocolate. Por dentro ele exultava. Havia sido muito fácil. Logo aquela gata seria sua! Virgem ou não, certamente a trepada deles seria de estremecer as paredes.
Já na rua Daniel pegou o celular e ligou para Cuca. Quando o amigo atendeu, foi logo dizendo:
− Cara, a Renatinha tá na minha.
No outro dia pela manhã Renata se atrasou para a escola. Entrou na sala de aula minutos depois de o professor ter começado a passar a matéria e sentou rapidamente ao lado de Carol. Mas reparou em algo estranho... Era impressão sua ou os meninos do fundo não tiravam os olhos dela?
Aquela sensação desconfortável perdurou até o intervalo. Como sempre acontecia, Renata e Carol foram para o pátio e sentaram em um dos bancos para conversarem. Do outro lado a turma dos meninos da sua sala continuavam com os olhos grudados nelas. Ou nela. O que estava acontecendo?
De repente Carol disse:
− Vou à cantina pegar um refrigerante. Você quer um?
− Não – respondeu Renata, não gostando muito da ideia de ficar sozinha por ali – Não estou com vontade.
− Ok, eu já volto. Não saia daí.
Renata ficou sentada no banco, olhando para cima, evitando o lado onde os meninos estavam.
Cuca deu um empurrão em Daniel, dizendo:
− Vai lá, meu. A garota está sozinha.
Os outros meninos incentivaram Daniel, com risinhos e brincadeiras, contudo Daniel estava em dúvida. Renata estava estranha. Ela podia ao menos ter lhe cumprimentado quando entrou na sala de aula. Pelo contrário. Nem olhara para o lado dele.
− Tá bem. – concordou ele, respirando fundo, nervoso – Eu vou.
Carol não havia voltado ainda quando Daniel se postou a frente de Renata que continuava olhando para cima.
− Oi, Renata.
Ela mirou Daniel com os olhos mais frios do mundo. Odiava nerds com óculos fundos de garrafa. Principalmente quando algo dentro das suas calças dobrava de tamanho a cada respiração.
− Sim?
Daniel chegou a levar um choque. Nossa, quanta frieza.
− Er… tudo bem?
Sem muita paciência a garota respondeu, evitando olhar para Daniel da cintura para baixo. Que nojo!
− Tudo.
− Como foi ontem no supermercado?
− Como assim?
Daniel se sentia confuso. Renata o encarava como se ele fosse de outro planeta. E o pior de tudo: era nítido que ela estava achando-o ridículo.
− Ontem, no supermercado. − insistiu Daniel – Sua mãe veio logo buscar você?
− Veio – respondeu ela depois de pensar um pouco.
Simples a resposta. E acabou o assunto. Daniel ficou olhando desconcertado para Renata. Ela começou a examinar as unhas. Sem ter o que dizer, ele murmurou:
− Então tá.
Carol chegou abruptamente livrando-os dois daquela situação chata. Apaixonada por Daniel, ela miou assim que o viu:
− Oooi, Dani…
Daniel ficou aliviado quando viu Carol toda sorrisos na sua frente. Chegou a sorrir de volta.
− Puxa… Oi, Carol. Tudo bem?
− Tuudo. Estou atrapalhando o papo de vocês, né?
− Não. – respondeu Renata.
− E esse refri? – perguntou Daniel sem ter o que perguntar e onde enfiar as mãos – Deve estar bom, hein?
− Quer um gole? – Carol ofereceu a latinha para o seu amado, cheia de amor.
− Puxa, eu quero!
O garoto precisava urgentemente de uma bebida. Melhor se fosse álcool, mas podia ser Coca-Cola mesmo. De um gole só, Daniel praticamente acabou com o refrigerante de Carol. Estendeu a lata quase vazia para ela, agradeceu e saiu com o rabo entre as pernas. Renata olhou-o com asco e murmurou:
− Que nojo… Você vai beber nesta lata imunda pela boca dele?
− Bem, ele não me deixou muita coisa. Mas não faz mal.
Carol parecia enlevada. Para terror de Renata, ela segurou a lata como se estivesse segurando um pênis. Em pleno pátio. Depois lambeu toda a parte de alumínio onde Daniel havia posto a boca, grunhindo.
− Carol, você está bem?
− Amiga, você se importa de ficar sozinha um pouquinho?
− O que houve, sua… sua depravada? – Renata mal podia acreditar no que se passava ante seus olhos.
− Minha calcinha encharcou. Preciso ir ao banheiro me aliviar.
... continua ...