Sabia que eu já não consigo ficar longe de você?! É como se houvesse uma necessidade, algo mais forte do que eu me prendendo a você - Miguel sussurrou e eu sorri, maravilhado.
E isso é bom ou ruim? - perguntei, soltando um longo suspiro em seguida, quando ele traçou a curva do meu pescoço com os dedos. Tá, agora era ele quem estava provocando.
Hum.. isso é muito bom, em algumas situações, mas em outras pode ser absurdamente ruim – Miguel suspirou, seus lábios agora estavam na minha testa, dando pequenos beijos na minha pele, enquanto eu arfava, quase enlouquecendo.
Em.. em que tipo de situação essa sua, hum.. necessi.. necessidade de ficar perto de mim.. pode ser.. hum.. ruim? - demorei um século para completar a frase, já que seus lábios agora tinham descido para as maçãs do meu rosto e já se dirigiam ao meu nariz, seus dentes mordendo a pontinha, me fazendo corar, não por vergonha, mas por excitação.
Bom, em casos como esse - Miguel sibilou e roçou levemente seus lábios nos meus.
A qualquer momento meu coração ia bater tão forte que era capaz de eu morrer ali mesmo. Já começava a pensar que a qualquer momento uma possível combustão espontânea acometeria meu corpo.
Edward... você gosta de provocar - alertei, suspirando profundamente, enquanto ele mordia o meu queixo.
Do que você me chamou? De Edward? Quem é esse? - Miguel perguntou surpreso.
Edward da saga crepúsculo! - Exclamei.
Porque? - Miguel disse, ainda surpreso.
Ah, porque eu acho que ele as vezes ele encarna em você, risos, sabe; você é muito cavalheiro, as vezes isso é demais até para você.
Risos - Isso é o meu jeito, ué! Mas Eu? Provocar você? Como? - deu uma risadinha sexy quando eu arfei mais um pouco. Oh Deus, ele precisava parar com aquilo agora! Pra que ficar me provocando daquele jeito se ao final das contas não íamos passar de alguns beijinhos sem graças?!
Miguel.. - sussurrei, mas ele colocou os dedos no meio dos meus lábios, silenciando-os.
Shhh, Julho, você fala demais. Aprecie o momento, é tudo que nós podemos fazer agora - Miguel sorriu e em seguida me beijou calorosamente.
Envolvi o seu pescoço em meus braços e o puxei para mais perto, ansiando por um contato maior. Miguel me enlouquecia de todas as formas e eu não sabia quanto tempo mais resistiria.
Senti meu rosto corar intensamente, enquanto Miguel mordia o meu lábio inferior, deixando escapar um gemido. Desde quando eu tinha me tornado um pervertido?
A resposta eu sabia de cor: assim que Miguel tinha me beijado pela primeira vez.
Esperei pelo momento que Miguel ia me empurrar pra longe e se afastar, mas o tempo passou e as mãos quentes já serpenteavam minhas costas, arranhando de leve a base da minha coluna. Minhas mãos estavam agarradas aos cabelos rebeldes dele, puxando-os com entusiasmo, à medida que a boca ávida dançava com a minha.
Céus, eu acho que vou mesmo entrar em combustão espontânea a qualquer momento!
O som do carro do meu pai estacionando em frente à nossa casa me fez dar um pulo, eu tropecei no tapete e cai de bunda no chão, completamente atordoado.
Olhei para Miguel e vi que ele me fitava com uma expressão de surpresa no rosto. Passei as mãos pelos meus cabelos e só depois me dei conta de que estava sem camisa e o Miguel apenas com sua cueca.
Quando Miguel tinha tirado a minha camisa que eu não tinha percebido? Corei intensamente e vesti a roupa, apressado, tremendo de vergonha.
Miguel deixou escapar uma risadinha, enquanto eu tentava entrar na camisa, minha pele pegava fogo.
Calma, Julho, pra quê tudo isso? - perguntou, ainda deitado, balançando as pernas calmamente.
Meu pai! - sussurrei, apavorado. O que meu pai ia pensar ao ver Miguel, sem roupa, no meu quarto, sozinho comigo?
Miguel concordou com a cabeça, quando eu ouvi a porta da frente ser aberta. Logo em seguida o som da voz do meu pai ecoou pela sala.
Jujuba? você está em casa? – Meu pai perguntou e eu praguejei baixinho. Bela hora pra chegar em casa, hein pai? -
Jujuba, é? - Miguel, sussurrou, rindo.
Respirei fundo, tentando ignorar os risinhos de Miguel, e gritei.
Tô no quarto, pai. Desço em um minuto! - comecei a andar apressado pelo quarto, já empurrando Miguel para fora da cama.
Você tem que sair daqui agora. Meu pai come o meu fígado se te pegar aqui, Miguel - falei, quando ele se levantou, sua expressão era de falsa inocência.
O que eu fiz de errado? Não aconteceu nada demais – Miguel se defendeu, me encarando como se fosse o mais santo dos homens, e eu revirei os olhos, enquanto arrumava a colcha da cama.
Miguel, eu não quero conversar agora, então dá para você sair daqui? - sibilei, o empurrando para a porta.
Miguel me segurou e eu o encarei, nervoso.
Como você quer eu saia por aqui sem que seu pai perceba a minha presença? Ia ser legal eu descer as escadas e encontrá-lo na sala. 'E aí, sogrão, como foi o trabalho?' - murmurou e eu fiquei pálido - Ia ser legal se eu falasse isso, não ia? - perguntou e eu o empurrei contra a porta, meu dedo na sua cara.
Nem ouse fazer isso - ameacei e bufei de raiva.
E você acha que eu seria maluco? - falou, já se afastando da porta.
O que nós vamos fazer?! - perguntei, apavorado.
Descemos lá, e diríamos que estamos fazendo algum trabalho, ou sei lá oque? - Miguel falou.
Não, claro que não – Falei com uma face assustada.
Desce lá, fala com ele. Eu fico aqui até a hora que puder ir para casa sem ser notado - Miguel sibilou e eu concordei com a cabeça. Era a solução mais sensata.
Tudo bem, eu vou fazer isso mesmo, mas quero que você fique quieto no seu canto. Não faça nenhum movimento, se possível nem respire! - murmurei, passando as mãos pelos cabelos.
Eu vou tentar fazer isso - Miguel brincou, prendendo a respiração.
Não pude deixar de rir e dei-lhe um tapa no ombro.
Idiota - resmunguei, saindo do quarto, rezando para que meu pai não tivesse percebido nada de anormal.
Desci as escadas correndo, quase tropeçando nos meus próprios pés. Encontrei meu pai na sala, bebendo uma cerveja, trocando de canal com o controle remoto.
Dei um tapa na minha testa, me repreendendo. Putz, esqueci de fazer o jantar!
Julho, não se preocupe com o jantar, já liguei pedindo uma pizza – meu pai, falou assim que me viu na sala.
Suspirei de alívio. Menos mal assim.
Hum.. eu passei a tarde ocupado, pai, estudando para o vestibular e tal - E desde quando eu mentia assim descaradamente? Mas aquilo era bem melhor que a verdade.
Imagine eu falando, na maior naturalidade: - Pois é, pai, não fiz o jantar porque passei a tarde inteira me amassando com o garoto mais sexy da escola. Ah! Ele ainda tá lá no meu quarto, mas não se preocupe, não fizemos nada demais ainda. Ainda – melhor não, né?
Não pude deixar de rir daquela situação. Geralmente quando fico nervoso, minha cabeça aciona um mecanismo capaz de produzir comentários totalmente sem noção e piadas absurdamente imbecis, achando graça onde não existia.
Tudo bem, não se preocupe, seu velho não vai morrer por jantar pizza uma noite – meu pai comentou e eu concordei, louco para voltar para o meu quarto.
Precisava pensar em uma maneira de tirar Miguel de casa.
Pai, eu tenho que voltar lá pro quarto, tenho uma pilha de deveres de casa... - comecei e meu pai balançou a cabeça, concordando.
Pode ir, o jogo está quase começando mesmo - meu pai sibilou, sem tirar os olhos da TV.
Já ia subir as escadas, quando ele me chamou, me fazendo virar e encará-lo.
Julho, de quem é esse carro parado bem na frente de casa? - perguntou e eu quase caio de tanto susto.
Era bom demais para ser verdade. E agora, o que eu ia falar? Uma desculpa, Julho, pensa em uma desculpa!
Hum... carro? Que carro?! - perguntei, me aproximando da janela, olhando para o lado de fora - Eu não faço ideia de quem é esse carro, pai. Acho que ele pregou bem na frente da nossa casa. Bom, de qualquer modo eu vou ligar para o guincho - falei. Desculpa mais esfarrapada que essa não havia.
Faça isso, Julho - falou, sem prestar muita atenção em mim.
Subi as escadas correndo, entrando no quarto para encontrar Miguel em pé, olhando pela janela.
Assim que eu fechei a porta do quarto ele se virou e perguntou:
Guincho, Julho? Você tá querendo guinchar o meu carro?! - Miguel me olhava com cara de ofendido e eu revirei os olhos. Ele era um saco com ciúmes daquele maldito carro.
Foi só uma desculpa, agora me passa as chaves do seu precioso carro para eu poder tirá-lo da porta da minha casa.
Miguel me olhou como se eu tivesse falado a maior besteira do mundo.
Você tá louco? Desde quando achou que eu ia deixar você tocar no meu carro? - perguntou e eu o olhei com raiva.
Ou é isso ou amanhã você acorda vendo o sol nascer quadrado! - retruquei, ríspido.
Miguel soltou um longo suspiro, me olhando com cara de derrotado.
Tanta desculpa para inventar e você escolhe o caminho mais difícil – Miguel falou.
Peguei as chaves que ele me entregava e sibilei:
Deixa de papo furado, Miguel. Eu volto logo - e sai do quarto, rezando para o jogo que meu pai queria ver tivesse começado. Quando meu pai se concentrava na TV, praticamente esquecia do mundo à sua volta.
Dei uma olhava básica na sala e sorri ao ver que meu pai estava completamente alienado pela TV.
Saí de casa às pressas e entrei no carro do Miguel, a sorte que aquele maldito carro tinha um motor silencioso. Estacionei o carro estúpido que tanto odiava em uma rua paralela à minha, tomando cuidado para travar as portas e acionar o alarme.
Voltei correndo para a minha rua e entrei de mansinho em casa, subi para me quarto e encontrei o Miguel sentado na cama, carrancudo.
O que você fez com o meu carro? - perguntou, como um garoto mimado.
Joguei gasolina e taquei foco, igual a Gaga em Marry the night. Claro que eu estacionei na outra rua - falei, devolvendo-lhe as chaves.
Se acontecer alguma coisa com o meu carro - começou e eu revirei os olhos, sem o menor ânimo para confusões.
Olha só, você pode dar uma conferida no seu carrinho assim que vê-lo, ok?! Agora chega de papo, você tem que ir embora daqui! - resmunguei, empurrando-o para a janela.
Miguel me olhou, incrédulo e depois perguntou:
Você não quer que eu pule a janela, não é mesmo?
Sorri, cínico, e falei:
Vejo que andar comigo está fazendo você ficar esperto - já abria a janela e apontava para baixo - O que você está esperando? Um convite especial para pular? – falei convencido.
Miguel me encarou, seriamente e falou:
Você acha que eu sou o quê? Algum tipo de super-herói? - eu fiz uma careta e retruquei:
Deixa de frescura Miguel, nem é tão alto assim - Miguel fechava a cara enquanto me ouvia.
Não vou sair da sua casa como um fugitivo. Não vou pular a sua janela correndo o risco de ficar aleijado! – Miguel falou, emburrado.
Eu revirei os olhos e dei um suspiro alto, visivelmente entediado.
Você é um covarde, sabia?! E além disso é um exagerado! - murmurei, enquanto me sentava na cama.
O Miguel imitou meu jeito:
E você realmente deve gostar de mim, pra querer que eu pule da janela, correndo o risco de sofrer um acidente - eu gargalhei ao ouvir o Miguel dizer aquilo
Deixa de drama, Miguel – eu falei e não contive mais uma gargalhada.
Aquilo o enfureceu
Miguel me puxou para o seu colo, fazendo com que e sentisse o volume que imediatamente cresceu no meio das suas pernas. Eu o olhei surpreso e tentei balbuciar alguma coisa, mas ele me impediu, calando-me com um beijo apaixonado. Aquela garoto me fazia perder os sentidos.
Se isso continuasse assim por muito tempo, eu não seria capaz de resistir.
Julho, a pizza chegou, você quer um pedaço? - ouvi a voz grave do meu pai romper o silêncio que enchia o quarto e dei um pulo do colo do Miguel, assustado.
Eu o olhei , ainda confuso e perguntei, gaguejando:
Vo-você quer.. co-comer alguma coisa? - não pude deixar de rir do duplo sentido daquela frase.
Julho, você só faz perguntas erradas. Vai lá, pega a sua pizza e trás um pedaço para mim – Miguel falou.
Pelo menos um tipo de fome ia ser aplacado naquela noite.
[...]
Comemos em silêncio, eu estava sentado na cama e Miguel encostado na janela, observando aquela noite gelada. Já passava das dez e o Miguel começava a ficar irritado.
"Quando é que seu pai vai dormir, hein? Eu tô querendo ir para casa! – Miguel resmungou, terminando de comer a pizza.
Eu o olhei, visivelmente cansado, e sussurrei:
Acho que não vai demorar muito, mais uns quinze ou vinte minutos.
Miguel colocou o prato e o copo em cima da minha escrivaninha e pulou na cama, satisfeito com o jantar. Eu o olhei por um tempo, depois peguei os nossos pratos e falei:
Realmente você é muito folgado, Miguel - fiz uma careta quando ele sorriu, ao me ver vermelho de raiva. Como ele adorava me deixar assim, todo corado.
Eu sai do quarto, levando comigo a nossa louça.
Pensamentos do Miguel:
Julho saiu do quarto, levando a nossa louça para cozinha e eu fiquei deitado na cama, observando o teto. Era incrível como era bom estar ao lado dele, Julho era diferente de todas as pessoas com quem eu convivi.
Sempre fui um homem com os hormônios em ebulição, minha vida se resumia em dinheiro, sexo e bebidas. Não necessariamente nessa ordem.
Mas desde que Julho tinha me beijado naquele dia no almoxarifado, eu tinha parado com aquilo tudo. Ele tinha me deixado obcecado, eu passava 24 hs por dia pensando nele, de que maneira poderia fazê-lo cair na minha.
No começo achei que era só desejo, uma coisa que poderia aplacar se levasse Julho Albuquerque para cama. Mas com o decorrer dos dias eu vi que era muito mais que isso. E não demorou muito para eu perceber que estava apaixonado por ele.
De repente, Julho entrou no quarto e se deitou ao meu lado, seu rosto muito próximo do meu.
Não pude deixar de inalar o cheiro que emanava dele, algo que me lembrava maçãs maduras. Ele era realmente uma tentação. E eu precisava me controlar para não estragar as coisas.
E aí, quer ficar aqui deitado até morrermos de tédio? - comentou e eu sorri, diante do timbre doce da sua voz. Tudo nele mexia comigo.
Bom, como o que eu quero fazer é meio censurado por aqui, então sugiro que você escolha o que vamos fazer - falei e eu percebi que ele tinha ficado vermelho.
Julho tinha que parar de corar daquele jeito, ele não tinha a mínima ideia de como aquilo me deixava excitado.
'Calma, Miguel, meu chapa, você precisa ser forte. Mais uns vinte minutos de tortura e você pode voltar para casa e tomar um banho, de preferência bem frio.' pensei, derrotado.
Hum.. eu estou um pouco cansado, que tal se a gente ficasse deitado aqui e brincasse de fazer silêncio? - Julho sugeriu e eu não pude deixar de gargalhar. Aquele garoto era realmente único.
Bom, acho que essa é uma excelente ideia, vamos brincar disso então - sibilei, olhando para o teto.
Julho não respondeu e eu continuei olhando para o teto. Dez minutos depois eu já estava em um profundo tédio.
Julho? - chamei, mas ele não me respondeu. Tentei novamente - Julho?
Nada, outra vez.
Suspirei, exasperado e olhei para o lado, procurando-o.
Julho estava com a cabeça repousando no travesseiro, os olhos amarronzados estavam fechados e sua respiração era muito calma. Ele tinha dormido.
Não pude deixar de sorrir ao vê-lo tão calmo, mais lindo do que nunca. Passei as mãos pelo seu rosto e percebi que sua pele reagia ao meu toque mesmo involuntariamente.
Muito bom.
Passei os braços em torno da sua cintura e a aconcheguei em meu peito, Julho automaticamente se moldou ao meu corpo, passando os braços ao meu redor.
Sorri quando ele respirou fundo, sua cabeça agora repousava próximo ao meu pescoço.
Durma bem, meu amor. - sussurrei baixinho, para em seguida, beijar o centro da sua cabeça.
Não sei por quanto tempo fiquei assim, abraçado com ele, ouvindo a sua respiração tranquila, o único som que invadia o quarto.
Em algum momento da noite eu peguei no sono, com Julho em meus braços.
[...]
Acordei com um ruído de algo caindo no chão.
Olhei para o lado e vi que Julho estava sentado no assoalho, seus olhos muito arregalados, sua boca em formato de O. Ele parecia muito assustado.
Não pude deixar de rir. Jujuba era lindo de todas as formas, mesmo tendo acabado de acordar, com o cabelo que mais parecia um ninho de pássaros, ele era fabuloso.
E aqueles olhos... Que olhos! A cor lembrava chocolate derretido.
As pessoas sempre preferem olhos claros, mas eu devo confessar que sou fascinado por olhos castanhos, como os de Julho.
Ele se levantou, ainda cambaleando, mas caiu, ao tropeçar na ponta do cobertor, que estava caído no chão. Dei uma gargalhada alta, incapaz de me conter.
Julho se virou para mim com raiva, fazendo sinal para eu calar a boca.
Você quer morrer? Se meu pai escuta isso ele mata nós dois. Ou melhor, mata você! - rosnou, bem baixinho.
Bom dia para você também, amor - sibilei, ainda tentando controlar a risada.
Como foi que isso aconteceu, Miguel? Você não devia estar na sua casa? - perguntou, corando imediatamente - Oh meu Deus, aconteceu alguma coisa?
Sorri e me sentei na cama, me espreguiçando como um felino.
Bom, eu dormi e isso foi tudo. Não posso responder por você.. - falei e ele revirou os olhos, exasperado.
Você é sempre assim de manhã cedo? Seu humor é contagiante! - Julho comentou e eu contive mais uma vez a risada que coçava minha garganta. Ele estava certo, seu pai devia estar em casa ainda.
Julho, coçou a cabeça e jogou as cobertas em cima de mim, me encarando sério:
Eu vou descer e ver se meu pai já saiu para o trabalho. E quando voltar você vai sumir da minha frente. A gente se vê mais tarde.
Fiz uma reverência e eu vi que ele tinha ficado vermelho de raiva.
Sim, ó poderoso Julho. Farei tudo que a Sr ordenar. Sou seu fiel seguidor - falei, meu tom muito formal.
Ha ha ha, Miguel. Muito engraçado. Muito engraçado mesmo! -resmungou e depois saiu do quarto.
Que ótima maneira de se começar o dia! pensei, enquanto me jogava na cama do Julho, deixando o perfume que estava impregnado no travesseiro dele invadisse as minhas narinas, me fazendo sorrir.
Definitivamente esse vai ser um lindo dia - sibilei, sorrindo pra mim mesmo.
Fim dos pensamentos do Miguel:
Desci as escadas correndo, rezando para não tropeçar nos meus próprios pés. Percebi que a sala estava vazia e dei um longo suspiro, quase morrendo de tanto alivio. Era hora de botar Miguel pra fora.
Eu ainda estava zonzo com tudo que tinha acontecido na noite anterior, a maneira como Miguel tinha me beijado, como tinha me tocado... Lembrei do momento que eu senti a sua ereção e corei vergonhosamente. À luz do dia aquilo era embaraçoso demais.
Passei as mãos pelo rosto, tentando clarear minha mente, era incrível como Miguel me perturbava, ainda mais depois de acordar e dar de cara com ele.
Oh meu Deus, como eu pude deixar que isso acontecesse?
Mas... pera, não aconteceu nada. Se tivesse acontecido algo mais do que um simples amasso eu teria lembrado, não teria? E além do mais isso não seria nenhum problema, somos namorados afinal.
Minha cabeça estava zonza, nem conseguia pensar direito nas coisas naquele momento.
Me aproximei da escada e dei um grito:
Pode descer, Miguel, meu pai já foi pro trabalho! - suspirei, cansado. Miguel me deixava exausto.
E então ele desceu, seu rosto estava perfeito, os olhos castanhos estavam com um brilho diferente, na boca havia um sorriso torto maravilhoso. Arfei, completamente besta com a visão que eu tinha à minha frente
Deus, ele era deslumbrante!
Espero que você não se importe, mas eu usei seu banheiro. Precisava lavar meu rosto - sussurrou e eu senti minhas pernas bambas.
Pelo amor de Deus, alguém deveria proibir Miguel de sair na rua! A beleza dele deixava as pessoas hipnotizadas. Ou será que isso só acontecia comigo?
T-tudo bem, Miguel - balbuciei, minha voz falhando.
Miguel sorriu e me encarou:
E aí, o que temos pro café da manhã?
Eu o olhei atônito. Ele não estava falando sério, não é mesmo?
Como é que é? Você não tá pensando que vai tomar café da manhã aqui, está? - perguntei, ainda chocado.
Miguel devolveu o olhar, surpreso, seus olhos brilhando de curiosidade.
E por que não? Por um acaso tem algum mal nisso? - retrucou e eu abri a boca para responder, quando ouvi o barulho do carro do meu pai estacionando na frente de casa.
Congelei no lugar, meus olhos muito arregalados, minha face muito pálida.
Pai? Meu Deus, meu pai voltou! Ele deve ter esquecido alguma coisa. Miguel, sobe pro meu quarto e fica lá, quieto, pelo amor de Deus, ou você vai sair daqui direto pra o hospital! - gritei, empurrando-o para as escadas.
Miguel ria do meu jeito nervoso e isso só serviu para me irritar ainda mais.
Calma, amor, relaxa. Eu posso lidar com o sogrão - brincou, enquanto eu sentia meu peito arfando, à beira de um ataque de pânico.
Um travesseiro fofo, alguém me dá um travesseiro fofo!
Cala a boca, Miguel, e sobe pro meu quarto já! - sussurrei, já ouvindo a chave se encaixando na fechadura.
Eu ia cair duro a qualquer momento, o pânico já tinha tomado conta de mim totalmente.
Tudo bem, tudo bem, tô subindo - Miguel falou, subindo as escadas com uma calma exagerada. Mas como adorava me torturar!
Corri para a cozinha, pegando a primeira coisa que vi na geladeira. Só depois de um tempo eu fui perceber que o que peguei era uma lata de cerveja.
Tarde demais para colocá-la de volta; meu pai já estava na cozinha e me olhava surpreso.
Jujuba, bebendo de manhã cedo? - perguntou e eu corei, querendo me enterrar.
Quase pude ouvir uma risadinha de Miguel, que provavelmente deveria estar escutando tudo.
C-claro que n-não, pai. Acho que ainda não acordei direito e acabei pegando a lata errada - falei, jogando a cerveja de volta para dentro da geladeira.
Senhor, me dê forças, não deixe que as minhas pernas fraquejem, não agora. - rezei, minhas mãos estavam trêmulas.
Pai, o senhor tem um minuto para mim? - perguntei, um súbito surto de coragem me dominando.
Precisava escancarar logo as coisas, meu pai precisava saber que eu estava namorando Miguel, antes que a noticia se espalhasse ainda mais.
Claro. Algum problema? – meu pai me olhou, preocupado.
Sentei em uma cadeira, quase suspirando de alívio. Muito melhor assim.
Não, nada de problemas. É só que eu queria que... é, eu preciso falar uma coisa para você.. é que eu.. - não conseguia arranjar palavras para formar a frase.
Não conseguia ou não queria? Provavelmente as duas coisas.
Fale, pode falar. Eu preciso ir trabalhar, esqueceu? - perguntou, já enervado.
Claro, pai, então deixa pra mais tarde - sibilei, passando as mãos pela minha testa. Estava suando.
Meu pai puxou uma cadeira e se sentou à minha frente. Se tinha uma coisa que eu tinha que colocar na minha cabeça era nunca pedir para conversar com meu pai quando eu não me sentia preparado. Ele era curioso demais e eu sabia que ele não ia me deixar em paz enquanto não contasse tudo para ele.
Agora que você começou, termine Julho - falou, cruzando as mãos em cima da mesa, me olhando.
Pigarreei, tentando com isso limpar a garganta, mas não adiantou de nada. Eu estava literalmente tremendo nas bases.
Bom, pai. É que eu.. bem.. eu estou.. hum.. eu tenho um.. - comecei, mas não tive mais condições de continuar. Respirei fundo e tentei me acalmar, para em seguida despejar tudo de uma vez - É que eu estou namorando - prontofalei.
Baixei a cabeça, estava apavorado com a reação do meu pai.
Uau, isso é uma grande notícia! Quem é a garota? - meu pai perguntou e eu fechei os olhos, contando até três.
Agora estávamos na parte mais difícil.
Olhei para o lado, fitando a nossa geladeira que já teve seus melhores dias e falei, tentando não gaguejar.
P-pai é que eu tenho outra coisa para contar. Então, não sei exatamente como falar isso com você, se é melhor dar uma enrolada antes, ou ir direto ao ponto. Minha mãe já conversou comigo desde a ultima vez que ela veio aqui. Sobre você ter perguntado pelo telefone sobre eu ter namorada ou coisa do tipo, ter achado estranho eu nunca ter te apresentado nenhuma garota, e, bem, se você algum dia já desconfiou, eu te falo: eu sou gay. E eu espero que o senhor aceite isso.
Eu não sabia de onde eu arrumei tanta coragem, depois daquele momento um silencio quase torturador se instalou naquele cômodo da casa, meu pai me encarava sério.
Não foi fácil, não é fácil, é complicado pra caramba até pra mim, te contar isso – murmurei e abaixei a cabeça.
Meu pai ficou calado por um bom tempo até que eu decidir que era hora de fitá-lo, vai que eu matei o meu pai involuntariamente.
Olhei para meu pai e percebi que ele estava boquiaberto, seus olhos estavam um pouco arregalados e sua expressão era de surpresa.
Ufa, pelo menos ele não estava morto!
Pai? - sussurrei e meu pai se voltou para me encarar, sua testa estava franzida.
Nossa! Isso realmente foi surpreendente. Claro que eu não vou achar isso legal e maneiro como vocês dizem, mas aceitarei. Claro que eu queria ter uma nora e um filho jogador de futebol, mas a vida é sua, eu sou seu pai não o dono da sua vida. E nunca esqueça, TE AMO E SEMPRE TE AMAREI SEMPRE, do jeito que Deus te mandou (...)
Mas quem é o rapaz? – meu pai perguntou com uma cara não das melhores.
M-Miguel Guimarães – falei gaguejando.
Miguel Guimarães? Aquele Miguel Guimarães? - perguntou, ainda incrédulo.
Fechei os olhos, querendo me enterrar. Agora que eu ia passar como louco mesmo, namorando um garoto que há mais ou menos uns 5 meses atrás tinha saído na porrada.
É, pai... é aquele Miguel - murmurei, evitando o olhar do meu pai.
Ele soltou um longo suspiro e depois sibilou:
Nossa, Julho, quando eu acho que já te conheço, aparece algo novo para me fazer ver que você é imprevisível – meu pai permanecia serio e eu o encarei, agora era a minha vez de ficar confuso.
Nossa, pai eu achei que você me daria uma surra e me mandaria para a prisão ou coisa do tipo. Está bem? - falei estranhando aquela reação do meu pai.
Claro que está tudo bem, Julho, já estava meio preparado para um dia você entrar por aqui e me dizer que estava namorando, ou contar essa coisas. Você já tem quase 18 anos,você sabe o que faz da vida, e eu tenho orgulho de quem você é e de quem você se tornou. Confesso que a ideia de pensar no meu garotinho sendo beijado por um marmanjo não me agrada, mas a vida é assim mesmo, eu preciso me acostumar - à medida que meu pai falava, eu sentia os meus pulmões relaxarem, o ar saindo, me deixando mais aliviado - E pode dizer ao Guimarães que eu não tenho nada contra ele. Até admiro muito a sua família, seu pai é um excelente médico e é um grande homem.
Balancei a cabeça, concordando, me sentindo mais calmo outra vez.
E aí, quando você vai trazê-lo aqui? – meu pai perguntou e eu senti a tensão voltar ao meu corpo.
Ia ser no mínimo muito interessante falar "Pois é, pai, se você quiser eu posso te apresentar a ele agora, já que Miguel está lá no meu quarto. Ah! Esqueci de mencionar, ele passou a noite aqui, dormiu comigo."
Meu humor definitivamente era negro demais. Como eu ousava brincar com uma coisa dessas? Tava querendo morrer mesmo.
Hum... não sei, pai, quando o Sr quiser - respondi a coisa certa. Nada de piadinhas. Resposta clara e objetiva.
Meu pai se levantou e eu sabia que a tortura estava terminando.
Bom, que tal trazer o rapaz hoje para jantar com a gente? - perguntou e eu tremi.
Hoje era recente demais. Eu não sabia se estava preparado para um jantar formal de apresentação do meu namorado, meu ex inimigo, ao meu pai.
Hum.. vou falar com ele - sibilei, querendo me enterrar em algum lugar.
Tudo bem, então, Julho. Vou ter que voltar ao trabalho, esqueci alguns documentos em casa, por isso voltei para buscá-los – meu pai sibilou, pegando a pasta que estava em cima da mesa.
C-claro, pai. Bom trabalho - acenei, ansioso para ficar sozinho
Fechei a porta com força atrás de mim, respirando várias vezes, tentando me aclamar. O pior já tinha passado, graças a Deus.
Tomei um susto ao ver Miguel parado no pé da escada, seus olhos estavam divertidos e ele lutava para conter uma risada.
você ouviu tudo, não ouviu? - perguntei, passando as mãos nos cabelos, agitado.
Cada palavra - murmurou, alargando aquele maldito sorriso cheio de dentes - Bebendo de manhã cedo? - repetiu a pergunta de meu pai, me fazendo corar violentamente.
Cala a boca, Miguel e some daqui, você já me causou problemas demais por hoje! - falei, irritadiço.
Miguel gargalhou ao me ver corado e se aproximou de mim.
Eu realmente tenho crédito com o sogrão, acho que o meu triste passado fez com que ele me desse uma chance - comentou, os olhos baixos ao estilo cachorro pidão, e eu revirei os olhos.
Não cante vitória antes do tempo. Se eu bem conheço meu pai, ele deve estar agora fazendo uma ficha com perguntas que irá lhe fazer. Sabe como é né? É melhor prevenir do que remediar - sibilei e Miguel me puxou em um abraço, me deixando imediatamente em alerta.
Jantar hoje à noite? Eu vou adorar - ignorou o meu comentário e murmurou bem junto ao meu ouvido, e eu me afastei, novamente tenso.
Nem ouse aceitar. Eu já pensei em tudo, quem sabe na semana que vem ou.. - não me deixou completar a frase, pois já se encaminhava para a porta.
Diga a seu pai que estarei aqui às 8 - sibilou e eu fiquei vermelho de raiva.
Miguel não.. - ainda tentei retrucar, mas ele sorriu, me interrompendo.