Ninguém sabe o que se passa no coração dos outros. Creio que é praticamente impossível definir isso. Mas, e quando um segredo é revelado da pior forma possível? Quais são essas consequências?
- Ei... Jesus jovem... é o seguinte. – disse uma jovem morena encostando Ezequias contra a parede.
- Oi? – ele perguntou.
- Nem tenta converter o meu peguete...
- Converter? Peguete? Como assim? – perguntou novamente Ezequias sem entender.
- Você sabe de quem eu estou falando... o Phelip... acha que foi fácil pegar ele? O garoto mais bonito da faculdade... estou te falando fica fora do meu caminho... tive a sorte que ele terminou com o Duarte... e....
- Quem é Duarte? – perguntou.
- Pergunta dele... agora uma coisa eu te digo... não fica no meu caminho... – ela disse jogando os livros do rapaz no chão.
- Misericórdia. – disse Ezequias juntando seus livros do chão.
- Tá tudo bem? – perguntou Phelip ajudando Ezequias.
- Está... está tudo ótimo... precisa ir para a sala de aula. – disse ele sem olhar nos olhos de Phelip.
- Mas... – disse meu irmão sem entender.
Larissa era uma boa moça. Ela fazia o seu melhor sempre. Não importava a circunstância, ela sempre estava com um sorriso estampado no rosto.
- Oi.... – ela disse para os meninos e meninas.
- Tudo bom... tia Larissa!!! – todos gritaram.
- Calma... calma... como vocês sabem... o carnaval está chegando... então vamos fazer uma festinha de carnaval...
Todos gritaram e pularam. Ela contou com a ajuda de Paula e Judith para montar o baile de carnaval. Sim, estava tudo ocorrendo bem.
- Que bom que os meninos ficaram felizes... – disse Paula.
- Sim... mas, você está bem?! – perguntou Larissa.
- Bem... fico preocupada...
- Porque?
- Sempre quando a nossa família fica muito feliz... algo acontece.... – disse ela pegando nas mãos de Larissa.
-Sobre isso... essas coisas acontecem, por isso devemos amar sempre as pessoas que estão ao nosso lado.
- Isso mesmo Larissa... por isso vamos fazer essa festinha para as crianças. – disse Paula.
Na faculdade, as coisas não estavam fáceis para Phelip. No refeitório ele sentou com Fernanda e Osvaldo. Quando Ezequias passou ele acenou, mas o jovem sentou-se com os amigos no outro lado.
- O que aconteceu com o Sr. Certinho? – perguntou Osvaldo.
- Que estranho... – disse Fernanda.
- Deve ser algum trabalho de faculdade... – falou Phelip.
- Sr. Phelip... por acaso? – perguntou Fernanda.
- Não... não... não... agora pego apenas mulher.... – disse Phelip.
- Mas que comportamento estranho. – disse Fernanda.
- A senhorita nem pense em se intrometer. –interveio Osvaldo.
- Mas é a primeira vez que ele não almoça...
- Dona Fernanda... se ele fez novos amigos... tudo bem... – disse Phelip.
- Ok... vocês.... afff!!!
Phelip quase teve um torcicolo naquele dia de tanto olhar para trás. Até mesmo na hora da saída, Ezequias negou carona. O meu irmãozinho passou a tarde pensando no que poderia está acontecendo. Ele ficou na praça e esperou Ezequias e nada do jovem aparecer.
No outro dia, uma forte chuva caiu na cidade. Phelip estava preso no carro, pois, não conseguia sair. Até que ele viu Ezequias passar todo encharcado.
- Eiiii... entra aqui!!! – gritou Phelip.
- Não... eu consigo ir para casa sozinho!! – gritou o rapaz.
- Você está louco?!! Olha o vento!!! – disse Phelip.
Um forte vento derrubou uma árvore próxima a Ezequias que com o susto caiu no chão. Phelip correu e o trouxe para dentro do carro.
- Você é louco?!! – brigou Phelip.
- Eu consigo ir sozinho para casa... – disse Ezequias.
- Eu percebi... louco... – ele disse tirando a camisa molhada.
- O que você está fazendo?! – perguntou Ezequias.
- Eu não quero ficar doente... você quer?!
- Não... eu não... quero... – ele disse tirando a blusa também.
Phelip fez força para não olhar para o corpo de Ezequias, mas era impossível. Ele pegou uma toalha e passou no corpo do jovem. Phelip sentia o coração de Ezequias pulsando rápido. Ele se aproximou e deu um beijo.
- Eu... não... não.... não....
- Tudo bem...
- Para você está tudo bem? – perguntou Ezequias. – Quer dizer que para você eu sou uma transa de carro?!! Como uma daquelas periguetes que... em pensar que eu....
- Eu... eu... – tentou se justificar Phelip sem sucesso.
- Você é um egoísta... que só pensa em se satisfazer e caí fora!! Sei bem como é o teu tipo. – disse Ezequias tentando sair do carro.
- Espera... não vai. – disse Phelip segurando no braço do jovem. – Eu te levo para casa.
A viagem toda foi em silêncio. Ezequias saiu do carro e bateu a porta com força. Phelip colocou a cabeça sob o volante e começou a chorar. Ele sabia que ia transar com Ezequias, mas não queria que fosse daquela forma.
Na Bahia o sol nos beijava. Sim... estava muito quente. Estávamos jogados na praia. A única que ficou descansando no hotel foi a Priscila, pois, ela queria aproveitar a micareta. Eu e Mauricio entramos na água e ficamos nos bulinando por debaixo da água. Olhávamos com cumplicidade. Sempre gostei dessa parte da relação, com um olhar já sabia de tudo.
- Poderíamos viajar para a Europa... fazer um tour... o que acha? – perguntou Mauricio.
- Agora que temos filhos... gostaria de ir para a Disney... na verdade depois do carnaval... – ele disse rindo.
- Nunca fui a Disney...
- Vishi fui umas 6 vezes. – me gabei.
- Nem todo mundo tem pai ou mãe rico... – disse Mauricio me afundando de baixo d’água.
O puxei para debaixo d’água e dei um beijo nele de quase dois minutos. Mas, infelizmente tive que voltar para a superfície se não morreríamos afogado. Aquele momento só nosso estava sendo maravilhoso. A tarde fomos para uma praia deserta, um conhecido nosso indicou. Realmente era o paraíso. Ficamos brincando no mar, adoro viajar com meus amigos.
- Adoro essa sensação. – falei para Mauricio.
- Qual? – ele me perguntou balançando o cabelo igual a um cachorro.
- O vento batendo no nosso corpo... essa sensação de paz de espírito... me faz perder o medo da vida...
- E você tem medo da nossa vida? – ele perguntou deitando próximo de mim.
- Não dá nossa... mas ela como um todo. – falei me explicando.
- Estou tão ansioso...
- Porque? – ele perguntou.
- Não sei... estou...
Judith, Bernardo, DJ, Dora, Isabel e Paula trabalhavam bastante para fazer um excelente baile de máscaras para os meninos do orfanato. Eles compraram enfeites lindos, preparam músicas de festa e convidaram alguns amigos e colaboradores do orfanato “Novo Horizonte”.
- Será um evento inesquecível. – disse Judith.
- Pena que o Pedro e Mauricio não estarão aqui. – falou Dora arrumando uma ornamentação.
- Mas, eu já falei com Pedro... ele disse que quer ver muitas fotos ouviu filho. – Minha mãe falou enquanto arrumava os convites.
- Sim... já preparei todo o equipamento. – disse Bernardo.
- Vou convidar alguns vizinhos também. – falou Paula.
- Sim... precisamos fazer esse povo se movimentar... meu antigo bairro... apesar de humilde era tão movimentado. – disse Dora.
- Eu tenho que ir pegar minha fantasia... – disse Judith.
- Vou falar com o seu tio... talvez... ele vá. – falou Paula.
- Ele anda tão esquisito mãe... tentei falar com ele, mas... sei lá...
- Amor... você é adolescente ainda... quando chegar nessa fase da vida... vai saber o que é drama de verdade. – disse Paula sorrindo.
- Espero não passar por muitos dramas... – ele disse se embolando com algumas fitas da decoração.
- Você é um bom menino... tenho certeza que não vai acontecer nada com você. – falou Paula sorrindo.
- Está bom assim? – ele perguntou colocando a fita em um lugar alto.
Dra. Alexis pegou folga do hospital e decidiu ficar em casa e curtir uma tarde em família com seu sobrinho. Eles alugaram alguns filmes e fizeram pipoca. ]
- Tia? – ele perguntou deitado no sofá.
- Oi filho? – ela perguntou fazendo carinho nos cabelos dele.
- Eu fui uma má pessoa? – ele perguntou.
- Não existem pessoas más... existem pessoas que não tem um norte na vida. – ela disse.
- Tipo... meu pai... mesmo depois de tudo que eu passei... ainda não me perdoou pela morte da minha mãe.
- Amor... ele tem a verdade dele... queria que ele te visse pelos meus olhos... como você evoluiu...
- É uma luta diária tia, mas graças aos meus amigos e a senhora... fica cada dia mais fácil. – ele disse a beijando.
- Graças a Deus... eu orava muito para você entender isso... não precisa se render ao vicio... existem formas de lutar... e vencer...
- Ainda não me acho vencedor... serei um quando meu pai me perdoar... e me chamar de filho... – ele disse abraçando a tia forte.
- No fundo... no fundo... você continua aquele mesmo menino... solitário... assustado... carinhoso....
- Posso ser assustado e carinhoso, mas só eu não sou... tenho vocês na minha vida. – ele disse fechando os olhos.
Na manhã daquela sexta-feira, Phelip acordou cedo para ajudar nos preparativos da festa de carnaval. Ajudou Judith e Bernardo com as fantasias. Levou a nossa mãe em vários lugares. E quando chegou encontrou Ezequias e outros rapazes brincando de futebol na rua. Ele juntou coragem e foi até eles.
- E ai? – ele disse meio desconfiado.
- Oi... – respondeu Ezequias.
- E ai, primo? Quem é o colega? – perguntou um jovem.
- Gente... esse é o meu vizinho... o nome dele é Phelip.
- E ai? Paz do senhor. – disse um outro jovem. – Eu me chamo Adam, este é Lucas meu irmão.
- Prazer galera... – disse Phelip cumprimentando os dois.
- Ei... Phelip... você joga futebol? – perguntou Adam.
- Sim... jogo... não sou muito bom, mas jogo sim... – ele disse.
- Vamos jogar com a gente... – pediu Lucas.
- Gente... o Phelip é ocupado... ele deve...
- Não... não... precisamos de quatro jogadores... nem vem... vocês dois sem camisa e nós dois de camisa. – disse Adam.
Meio a contra gosto, Ezequias tirou a camiseta. O jogo começou e para sacanear em todos os momentos Phelip se esfregava no amigo. Phelip surpreendeu e deu um show em todos os colegas.
- Puxa cara... misericórdia... – disse Adam recuperando o fôlego.
- Você manda bem... – disse Ezequias tentando evitar olhar para o corpo de Phelip.
- Obrigado... então... hoje... vai ter um baile a fantasia... ali no orfanato “NOVO HORIZONTE”. – ele disse apontando para a direita.
Os rapazes se olharam e negaram com a cabeça. Eles explicaram que em época de carnaval eles participaram de um retiro da igreja. Desanimado, ele voltou para casa, sem antes homenagear Ezequias no banheiro.
No hotel, eu fiz uma ligação para minha mãe que estava animada com a festa. Eu queria poder estar presente, mas a nossa festa também estava começando. Todos de tênis, bem hidratados e alimentados.
- Estão preparados? – perguntou Priscila.
- Sim!! – gritamos juntos.
- Amor... – falei puxando o Mauricio e coloquei 50 reais na cueca dele.
- Para que.... – ele disse sem entender.
- Precaução... – falei batendo na bunda dele.
- Eiiii.... me senti um garoto de programa agora... – ele disse me beijando.
- Meu garoto de programa.... agora... vamos.... quero me jogar...
Chegamos na concentração dos trios elétricos cedo... afinal não queríamos perder nenhum detalhe. Para a nossa surpresa, uma chuva torrencial acabou atingindo a cidade. Mas, quando a música começou a tocar... ninguém se segurou. Sem dúvidas o carnaval é a melhor coisa que inventaram, quando feito com responsabilidade. Infelizmente vimos algumas brigas no meio do caminho, mas nada muito sério. Aquela experiência foi demais para mim... a sensação de liberdade... a música... o rosto das pessoas felizes... aquilo deixaria saudades para mim... ahhh como deixaria....
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