Andei pelas ruas, procurando Miguel por todos os cantos, mas não o encontrei em lugar nenhum. Resolvi voltar em casa, precisava deixar um bilhete para meu pai, avisando que ia passar a noite no hospital, não podia me afastar de Mirela.
Assim que estacionei a scooter eu o vi, sentado na porta da minha casa, segurando uma garrafa de vodca na mão. Desci da scooter furioso ao ver a cena.
Bufei de ódio, quando me aproximei de Miguel, arrancando a garrafa de suas mãos e atirando-a longe.
É assim que você acha que vai resolver as coisas? É assim que reage a tudo que acontece com você? Acha que a bebida vai curar a sua dor? Você tá muito enganado, ela só vai te afundar ainda mais! Para de agir como um covarde e lute! Encare os problemas de frente, não fique tentando mascará-los! - despejei, não me preocupando se ia ofendê-lo ou não.
Miguel ergueu a cabeça lentamente, seus olhos estavam vazios e naquele momento eu soube que ele estava destruído. Tentei puxar o ar que faltava aos meus pulmões, mas não consegui.
Eu.. eu matei a minha irmã, Julho - Miguel soltou, as lágrimas rolando pelo rosto, dilacerando o meu coração.
Me abaixei e o encarei, mais do que nunca eu precisava que Miguel soubesse que estava ao seu lado, independente de tudo que havia acontecido entre nós.
Você não a matou, Miguel. Foi um acidente, você não teve culpa. Apenas aconteceu - murmurei, passando a palma da mão no rosto perfeito.
Miguel me lançou um olhar aflito, a boca se retorcendo nos cantos, tentando conter o choro incontrolável. Vê-lo daquele jeito estava me dilacerando por dentro, acabando com qualquer auto controle que havia dentro de mim.
E-eu estava em alta velocidade, o carro derrapou e aí não tive como controlá-lo... – Miguel começou, mas o choro começou a tomar conta da sua garganta, impedindo-o de continuar.
Miguel, cabe a polícia investigar se você vai ser culpado por isso ou não. Mas agora não precisa ficar se punindo, Mirela precisa de você, ela precisa que você esteja bem - sibilei e ele me lançou um sorriso débil, sem vontade.
Sou mesmo um canalha, não é mesmo, Julho? Aprontei uma boa e ainda assim você está aqui do meu lado - Miguel murmurou, sorrindo ironicamente.
Você realmente é um idiota por ter feito o que fez, mas isso já não importa mais, eu já esqueci. Não vale a pena brigar por nada, Miguel. Ainda estou magoado com tudo o que aconteceu, ainda acho que o que você fez foi uma canalhice das boas, mas não quero mais discutir sobre isso – suspirei e Miguel apenas me encarou, os olhos cada vez mais atormentados.
Quero que você saiba que em nenhum momento eu correspondi às investidas da Karol, Julho, nem sei como foi que tudo aconteceu, na verdade eu levei tudo na brincadeira e quando me dei conta ela tinha vindo para cima de mim e me beijado. Eu juro que não correspondi a esse beijo, não teria por que trair você. Você é importante para mim - sibilou, sua voz cada vez mais alterada.
Eu também te amo - foi tudo que consegui dizer, já que naquele momento, meu corpo estava inteiramente dominado por um turbilhão de emoções, tão complexas e intensas que não tinha condições de defini-las.
Miguel aproximou lentamente o rosto do meu e antes que pudesse compreender o que estava acontecendo, senti a boca macia e trêmula junto à minha. Meu coração deu um salto agudo dentro do peito, imediatamente alterando a respiração, deixando-a mais pesada, mais evidente. Soltei um suspiro sonoro quando Miguel moveu seus lábios sobre os meus, me beijando ternamente.
Nossas lágrimas se misturaram ao beijo e eu o abracei, tentando assim aplacar a dor que ambos estávamos sentindo. Meu coração oscilava entre pontadas agudas de tristeza e leves cutucadas de satisfação, à medida que meus lábios se perdiam nos de Miguel.
Ele me pegou no colo e quando eu percebi já estávamos no velho sofá da sala da minha casa, seu corpo sobre o meu, sua boca me beijando com uma urgência desesperadora. Não tinha percebido o quanto estava sequioso pelos lábios dele até aquele momento. Meu fôlego já estava quase se esvaindo por completo, mas parecia que não havia como desgrudar a minha boca dos lábios tentadores de Miguel.
Com um esforço enorme, consegui me afastar, puxando o ar em grandes lufadas, tentando normalizar a respiração e aplacar a urgência com que o coração batia, quase saltando pela boca. Ergui os olhos lentamente e dei de cara com o castanho, agora obscuro, que sombreava as íris de Miguel. Levei as mãos ao rosto e afastei a franja molhada de suor e lágrimas, que estava grudada na minha testa e irritava meus olhos.
Eu te amo. Muito, muito mais do que eu devia. E nada que possa acontecer vai mudar esse sentimento. Mas eu também me amo e juro que se você aprontar mais uma dessas vai ser o fim, Miguel - murmurei, a rouquidão na minha voz a tornando mais séria, mais sombria.
Miguel suspirou alto e, com uma certa hesitação, à julgar pela forma como seus dedos tremiam, tocou meu rosto e sorriu, enquanto afagava a minha pele lentamente.
Amo você demais para cair na burrice de te magoar outra vez, Julho - sibilou e em seguida, desceu o rosto na altura da minha clavícula, depositando pequenos beijos na pele exposta do meu pescoço.
O ar voltou a faltar dentro dos pulmões assim que senti o hálito quente roçando logo abaixo do meu queixo, obrigando o peito a arfar visivelmente. Sem perceber, tombei a cabeça para o lado e deixei que Miguel beijasse meu pescoço, explorando cada cantinho com uma lentidão exagerada. Já sentia o desejo tomando conta de mim, o que sempre acontecia quando Miguel me tocava daquela forma.
Minha boca foi de encontro a sua com uma voracidade que me surpreendeu, minhas costas arquearam, buscando um contato maior com o corpo dele. Suas mãos subiram pelas minhas costas, me segurando bem junto ao seu peito, enquanto nossas bocas se tocavam, perdidas em meio a beijos sôfregos e desesperados.
Gemi baixinho quando senti os lábios sedutores se afastando dos meus e tentei puxá-los de volta, mas Miguel me segurou e em seguida, desceu novamente o rosto até meu pescoço, a boca e a língua traçavam um caminho que me fazia perder a cabeça. À essa altura, meu coração bombeava sangue por meu corpo com tanta força, que eu sentia o corpo inteiro em chamas.
Miguel puxou a barra da minha camisa para cima, retirando-a com habilidade e rapidez incríveis. Meu corpo tremeu um pouco ao sentir a corrente de ar gelada que soprava pelas janelas abertas, deixando meus tórax túrgido de frio. Corei de vergonha assim que me vi seminu e tentei cobrir-me, mas ele me segurou, enquanto me encarava de um jeito determinado.
Nunca faça isso. Nunca se esconda. Você é lindo demais, Julho - sibilou, passando os dedos lentamente pela pele exposta do meu colo, que subia e descia conforme à minha respiração irregular escapava.
Seus olhos agora brilhavam de forma intensa e estavam cravados em meu rosto. Soltei um suspiro alto quando Miguel desviou os olhos dos meus, mas logo em seguida o ar faltou novamente aos meus pulmões, já que senti os lábios quentes descendo vagarosamente por meu colo, plantando beijos pela pele em brasa. A perdição do raciocínio se deu quando senti Miguel abocanhando um dos meus mamilos, sugando a pele sensível de forma lenta e extremamente delicada. Não estava preparada para o turbilhão de sensações que perpassaram meu corpo em frações de segundos.
Senti meu corpo inteiro pegar fogo, da minha garganta escapou um gemido alto, quando Miguel mordiscou meu mamilo. Minhas mãos voaram até os cabelos em perfeito desalinho, puxando grandes tufos, à medida que a boca faminta investia contra minha pele, sugando-a, mordendo-a. Miguel repetiu a tortura no outro, me deixando inerte, completamente rendido às suas ações. Aquilo era bom demais e eu não queria que ele parasse nunca.
Mas logo em seguida, a aura de encantamento foi quebrada e Miguel se afastou de mim, me encarando com um misto de confusão e arrependimento.
M-me perdoe, eu não deveria ter feito isso, n-nã - A frase morreu no ar, assim que calei Miguel com meus lábios. Meu corpo ainda tremia, reflexo das novas sensações que ele tinha me proporcionado. Estava sedento demais e exigia muito mais.
Julho.. você tem certeza? - Miguel perguntou, se afastando mais uma vez, me segurando pelos ombros de forma delicada, enquanto me encarava de um jeito tenso, hesitante.
Miguel, cala a boca e curte o momento, ok? - suspirei, aproximando meu rosto novamente do seu.
Ouvi um suspirar pesado escapando dos lábios dele e em seguida, Miguel voltou a me beijar com entusiasmo, sua língua trançando meus lábios, me enlouquecendo completamente.
Miguel me pegou no colo em um único movimento, subindo as escadas praticamente correndo, escancarando a porta do meu quarto com os pés. Sua boca parecia não querer se desgrudar da minha e eu ficava grato por isso, pois não sabia o que iria acontecer caso ficasse longe da maciez daqueles lábios tão sedutores.
Ele me deitou na cama e antes que eu pudesse me manifestar, me beijou novamente, me fazendo perder o juízo. Passei as mãos lentamente pelo peito forte de Miguel, parando pra afagar a curva do seu pescoço, subindo até a nuca, puxando seus cabelos. Enquanto isso, Miguel voltara a torturar meus mamilos, sua língua me matando de tanto prazer.
O fogo estava alto demais e eu já não aguentava mais aquilo, meu corpo estava à ponto de entrar em colapso! Ao contrário de mim, Miguel parecia bastante controlado, seus dedos agora se encarregavam de abrir o zíper da minha calça.
Santo Deus, como ele podia estar tão calmo, quando eu estava mais desesperado do que nunca?
Miguel puxou a calça jeans lentamente e eu pensei que fosse morrer quando fiquei apenas de cueca na sua frente. Ele lançou um olhar lânguido por meu corpo, percorrendo com os olhos cada centímetro da minha pele, me deixando completamente corado.
Lindo.. - sussurrou, ao mesmo tempo que me puxava em mais um dos seus beijos devastadores de sentidos. Dos meus frágeis sentidos.
Puxei sua camisa, completamente desajeitado e Miguel percebeu o quanto eu estava nervoso, por isso me ajudou, retirando a camisa num movimento rápido, jogando a peça longe. Baixei o rosto até seu pescoço e me atrevi a passar a língua pela pele branca e perfeita, fazendo o mesmo que ele tinha feito comigo. Desci por seu peito musculoso, me detendo nos contornos da sua barriga torneada e seus pelinhos. Como ele era perfeito! Um verdadeiro Deus grego.
Assim que cheguei na sua calça, tentei abri-la, mas não tive sucesso. Meus dedos tremiam demais e eu estava extremamente ofegante.
Miguel deu uma risada baixa e depois sussurrou, sua voz era extremamente sexy:
Deixa que eu resolvo isso - ficou de joelhos na cama e se livrou da calça em um movimento rápido e preciso.
Arfei quando contemplei o volume que estava à mostra no meio das pernas musculosas, disfarçado apenas pela boxer azul que ele usava. Ele sorriu e me beijou ternamente, sua boca exigente de encontro a minha, enquanto suas mãos desciam para o caminho do meu umbigo, entrando na minha cueca.
Tremi quando eu senti seus dedos tocarem a minha parte mais sensível. Me contorci em um gemido louco, quando ele passou o dedo em meu sexo, me acariciando lentamente. Senti o corpo amolecer .
O corpo já dava sinais de desespero, à medida que a língua sugava o hálito de Miguel, cada vez mais ávido, cada vez mais exigente. Não ia suportar nenhum segundo mais.
Levei um susto quando ouvi a voz rouca escapando dos meus lábios, balbuciando em um timbre novo e determinado:
Miguel.. p-por favor. Eu vou pirar! - Estava completamente entregue às suas mãos, eu era refém daquele homem.
Miguel retirou a minha cueca calmamente, ignorando minha aflição. Fechei os olhos quando o senti repousar a boca na minha testa, depositando uma série de beijos na minha pele úmida de suor.
Prometo não machucar você, Julho - sussurrou e em seguida, se afastou, apenas o suficiente para se livrar da cueca, me deixando cada vez mais enlouquecido.
Não sabia quanto tempo mais eu suportaria. Estava quase perdendo o juízo, meu corpo inteiro tremia em antecipação.
Miguel acariciou minhas coxas e as afastou lentamente, sempre agindo de forma delicada, medindo cada pequeno movimento seu. Antes que eu pudesse imaginar, o senti dentro de mim. Com a penetração veio uma dor aguda, que me fez recuar imediatamente, me fazendo gemer baixinho.
Ai! - sussurrei, fechando os olhos, ofegante.
Respirei fundo e tentei não me mexer, precisava me acostumar àquela nova sensação, que era diferente de tudo que havia vivido na minha vida inteira. Miguel percebeu a reação do meu corpo e procurou não jogar seu peso em cima de mim, se sustentando com os braços, que estavam fincados no colchão, em cada lado da minha cabeça. Seus olhos buscaram os meus e eu encontrei a preocupação brilhando em suas pupilas, levemente dilatadas.
Machuquei você? - Miguel perguntou, ao mesmo tempo que tentava se retirar de cima de mim.
Mas eu fui mais rápida e envolvi as minhas pernas em sua cintura, ignorando a dor que insistia em me acompanhar.
Não pare, por favor. Eu imploro, não pare agora! - murmurei, quase sem respirar.
Miguel sorriu e me beijou ternamente na boca, enquanto se movimentava de forma lenta, quase exagerada. Resolvi ignorar a dor que sentia, cada vez que o sentia se mover no meio das minhas pernas, e decidi me concentrar no prazer que estava começando a aumentar.
Miguel investia contra meu corpo de um jeito tão delicado e suave, balançando meus quadris, tentando facilitar o encaixe dos nossos corpos. Cada vez que me ouvia gemer, por causa do incômodo natural que estava sentindo, ele sussurrava palavras doces e carinhosas, tentando me fazer relaxar, permitindo que o ato se tornasse prazeroso para ambos.
A dor foi esquecida completamente no momento que Miguel intensificou os movimentos de vai e vem, já tendo rompido qualquer barreira que o impedia de se mover dentro de mim.
Minha cabeça dançava no travesseiro, enquanto eu gemia loucamente, sentindo-o por inteiro, pulsando em meu anus, acabando com a minha sanidade.
O ritmo aumentava cada vez mais e eu sabia que estava prestes a enlouquecer. Ele me beijava lentamente, a língua repetia em minha boca, o que o seu membro fazia em meu anus. Não aguentei mais nenhum segundo, meu corpo tremeu e eu senti alguma coisa escorrer pelas minhas pernas, no momento que percebi Miguel relaxar dentro de mim.
Fechei os olhos, enquanto Miguel me beijava loucamente no rosto, sua boca passava por todos os cantos da minha face.
Eu amo você, Julho. Você é a minha vida. Nada no mundo é mais importante para mim do que você - Miguel sussurrou, me fazendo sorrir. Meu coração estava bastante acelerado e havia uma nova sensação dominando meu corpo. Estava me sentindo pleno e bastante satisfeito.
Meus olhos ficaram pesados no momento que senti Miguel se retirar de dentro de mim e me puxar em um abraço carinhoso.
Sorri e balbuciei, não tendo certeza se ainda estava consciente ou não:
Eu também amo você, Miguel. Só você - me aconcheguei no seu peito forte e deixei o sono tomar conta de mim, a exaustão finalmente me vencendo.
[...]
Acordei tremendo de frio e percebi que estava descoberto, ou melhor, eu estava descoberto e nu. Tentei me levantar, mas fui impedido por um braço forte, que me prendia pela cintura. Olhei para o lado e vi a cabeça de Miguel encostada no meu travesseiro, seu corpo colado ao meu, sua respiração serena e harmônica.
Me levantei lentamente, recolhendo as roupas que estavam espalhadas pelo chão.
Em seguida, procurei pelo meu pijama, vestindo-o assim que eu o encontrei. Quando me virei para a cama, dei de cara com um par de olhos inconfundíveis. Arfei com a lembrança do que tinha acontecido.
Serve um pedido de desculpas? - Miguel balbuciou, sua voz estava pesada, ainda muito sonolenta.
O olhei, confuso, não entendendo a que ele se referia.
Não estou entendendo - falei, enquanto Miguel se levantava, expondo a sua nudez, me fazendo corar de imediato.
Miguel se enrolou em minha coberta, me encarando:
Julho, eu não deveria ter feito isso com você, não era o momento certo - sussurrou, enquanto recolhia as suas roupas.
Lancei um olhar para o rosto atormentado, sem entender. O que eu tinha feito de errado? Será que ele não tinha gostado? Eu tinha amado tudo, a maneira como ele tinha me tocado, como tinha me enlouquecido com seus lábios e suas mãos. Será que Miguel não tinha sentido o mesmo que eu?
Senti as lágrimas tomarem conta dos meus olhos, me fazendo arfar.
Miguel, o-o que eu fiz de errado? - gaguejei ao perguntar, minha cabeça baixa, não queria encará-lo.
Ele se aproximou de mim e imediatamente me abraçou, fazendo com que eu inalasse aquele perfume inebriante, que emanava de cada pequeno poro da pele macia.
Não, meu amor, você não entendeu direito. Você não fez nada errado. A noite foi fantástica, você foi perfeito. Eu só acho que devíamos ter esperado um momento mais apropriado – Miguel sibilou, enquanto acariciava a minha cabeça, afagando os meus cabelos.
Eu o olhei fixamente, tocando no seu rosto, exigindo que ele me encarasse. Pelo visto o cavaleiro do século xix, voltara a encarnar no Miguel, ele realmente séria um Edward.
Miguel, nós só fizemos o que era para ter sido feito há muito tempo! O momento certo já tinha chegado e você sabe disso. Nós só estávamos adiando o inadiável - falei e ele sorriu, beijando a palma da minha mão.
Vamos fugir? - Miguel falou e beijou minha bochecha
Ai, Miguel você é louco? como assim fugir? - falei incrédulo.
Sabe, fugir eu e você, eu vendia meu carro e iriamos para algum lugar, até arrumarmos um emprego e morarmos juntos - Miguel disse, com um sorriso torto.
Isso é um pedido de casamento, senhor Guimarães? - balbuciei, segurando meu riso.
Ah, tipo isso - ele disse, e sorriu.
Ta bom, eu aceito o pedido de casamento, mas não aceito fugir! já imaginou? meu pai me mataria quando me achasse! - Rimos imaginando aquela situação.
Ah, se formos morar juntos, eu tenho que fazer a decoração da casa e tem que ser em uma cidade grande - falei, exigente.
Como você quiser, caro Albuquerque - Miguel sorriu.
Retribui o sorriso de bom grado e continuei acariciando o rosto de traços perfeitos. Mas de repente, o sorriso de Miguel se esvaiu, fazendo com que eu o encarasse, mais confuso do que nunca.
Ele se afastou de mim e eu fiquei paralisado, sem entender absolutamente nada.
Julho, nós precisamos conversar sobre o que aconteceu na escola. Eu preciso me explicar, você precisa entender que.. - começou e eu corri para o seu lado, tocando-o nos lábios, exigindo que ele parasse de falar.
Miguel, isso já é passado. Deixe o passado para trás, não pense mais nisso. Eu confio em você - sussurrei, meus olhos cravados nos seus - Já disse a você, eu te amo e nada no mundo vai mudar o que sinto.
Ele abriu um amplo sorriso, me pegando no colo, fazendo com que a coberta deslizasse pelo seu corpo, deixando-o nu. Corei ao sentir sua excitação, já experimentando antecipadamente a sensação de tê-lo dentro de mim.
Amo você demais – Miguel sussurrou, acariciando o meu rosto lentamente.
Seus lábios eram ternos ao tocarem os meus, sua boca se movia bem devagar, enquanto eu me encaixava na sua cintura, meu pijama era a única coisa que nos separava. Miguel me deitou na cama, passando as mãos pela minha cintura, sem parar de me beijar, me fazendo enlouquecer incontáveis vezes.
De repente meu celular tocou, quebrando o clima.
Miguel se afastou de mim, gargalhando e se cobrindo novamente, enquanto eu pegava o aparelho, as mãos tremendo, minha respiração completamente desregulada.
A-alô!
Jujuba? Onde você está? - a voz de meu pai era preocupada e eu de repente voltei ao mundo real. Que horas eram? Será que meu pai já estava voltando pra casa?
E-u estou em c-casa, pai - gaguejei, ao ver Miguel se levantar novamente, seu corpo nu se movimentando enquanto ele procurava suas roupas, que mais uma vez tinham sido espalhadas pelo quarto.
Julho, eu estou no hospital.. – meu pai começou e eu prendi minha respiração, tentando evitar a dor que espetara meu coração.
Aconteceu.. algo... com..? - não consegui completar a pergunta, já temendo a resposta.
Julho... – meu pai falou e eu senti as lágrimas quentes rolando pelo rosto, escorrendo pelo queixo até o pescoço.
Miguel me olhava atentamente, seus olhos já estavam marejados. Ele sabia do que se tratava.
Julho, Mirela ela piorou – meu pai sussurrou e eu senti minhas pernas fraquejarem, meu coração ameaçando falhar.
Não, Mirela não podia morrer. Ela não poderia fazer isso comigo, não poderia fazer isso com Miguel.
Desliguei o celular, incapaz de falar mais uma palavra, os soluços já tomavam conta de mim. Miguel correu para me abraçar, chorando comigo.
Miguel... Mirela.. ela.. ela.. - não consegui terminar a frase, a dor no meu peito estava me impedindo de falar.
Ele me abraçou forte, soluçando no meu ombro.
Não, Julho, não diz que a Mirela morreu, por favor - implorou e eu imediatamente tentei me acalmar, Miguel precisava de mim agora mais do que nunca.
Eu o encarei, meus olhos grudados nos seus, que estavam arrasados.
Não, meu amor, Mirela não morreu. Ela não vai morrer - falei e ele deu um longo suspiro - Mas ela.. ela piorou, Miguel - terminei de falar e ele fitou o nada, seus olhos eram a imagem da tristeza.
Meu coração ficou mais despedaçado ainda.
Num impulso, Miguel se afastou de mim, andando pelo quarto, agitado, passando as mãos pelos cabelos em um gesto desesperado.
Eu preciso ir para lá, Julho, quero estar ao lado da minha irmã, Mirela está precisando de mim – Miguel falou, enquanto eu me levantava, concordando com um gesto de cabeça.
Claro, nós vamos para lá agora - murmurei, tirando o meu pijama, vestindo uma calça e uma camisa qualquer.
Me virei e o encontrei encostado na parede, seus rosto estava transtornado, ele chorava em silêncio. Corri para abraçá-lo, tentando acalmá-lo de todas as formas possíveis.
A culpa é minha, Julho. Era eu quem deveria estar no lugar da Mirela - Miguel soluçou, em meio às lagrimas.
Shhh, namorado, não fale isso. Você não tem culpa de nada, foi um acidente - garanti, beijando seu rosto com carinho.
Miguel me apertou contra o seu peito e sussurrou:
Não sei o que faria sem você na minha vida, Julho. Eu adoro você - sorri, triste, meus olhos se enchendo de lágrimas.
Eu também adoro você, meu amor. Confie em mim, vai ficar tudo bem - falei, puxando-o para fora do quarto.
Seguimos para o hospital em silêncio, eu tentava ao máximo me concentrar na estrada, enquanto rezava por Mirela.
Eu realmente esperava que tudo ficasse bem.
[...]
Narração do Miguel:
Era incrível o turbilhão de coisas que tinham acontecido na minha vida em pouco mais de 24 hs. Eu estava zonzo com tudo que se passava, minha mente não conseguia acompanhar os novos acontecimentos que surgiam a cada segundo.
E aqui estava eu, sentado em um banco de hospital, ao lado do garoto da minha vida, que há algumas horas atrás eu tinha perdido, mas que como num passo de mágicas tinha voltado para mim e me feito o homem mais feliz do mundo, mesmo que no segundo seguinte eu voltasse a ser o canalha de antes. Minha irmã estava em coma por minha causa e eu não podia fazer absolutamente nada para reverter isso.
Olhei para Julho e vi como ele estava abatido. Aquilo era de cortar o coração. Sua pele branca estava muito pálida e as olheiras tomavam conta dos olhos, deixando-os completamente sem vida. Sua boca em formato de coração estava sem cor e se eu olhasse atentamente dava para vê-la mordiscando o lábio, na tentativa de conter o choro.
Aquilo tudo estava me massacrando, minha família estava passando por esse terror todo e eu era o babaca responsável por tanto sofrimento, mesmo que eles tentassem me fazer pensar o contrário.
Deixei as lágrimas escorrerem silenciosamente por meu rosto, não me importando em parecer fraco demais por causa disso. A verdade é que eu estava me sentindo muito fraco, já não tinha mais nenhum ânimo no corpo.
Julho percebeu meu estado e sem dizer nada envolveu a minha mão na sua, apertando-a levemente. Eu o encarei e ele passou os dedos da sua outra mão pelo meu rosto, secando as lágrimas. Aquilo me deixou sem ação. Como ele poderia ser tão perfeito? Como ainda podia me amar depois de tudo que eu tinha feito? Realmente não o merecia.
Miguel, vai ficar tudo bem - Julho sussurrou, em meio a um sorriso fraco que tentava exibir no rosto cansado - Não tente se punir, isso não vai fazer com que Mirela melhore. Esqueça tudo por um momento e só pense no bem estar da sua irmã - completou e descançou sua cabeça no meu ombro.
Olhei para minha mãe, e pude ver como ela estava sofrendo. Me levantei e fui sentar ao seu lado, abraçando-a com força. Ela aceitou o gesto e nós ficamos assim por um bom tempo, o silêncio era a melhor palavra a ser dita.
Julho nos observava, seu rosto estava mais sereno, sabia que era assim que ele queria que eu ficasse.
De repente, meu pai e um policial apareceram, conversando alguma coisa não muito agradável, a julgar pela cara de meu pai.
Miguel, precisamos conversar – meu pai falou, me encarando seriamente.
Aconteceu alguma coisa? - Julho perguntou, olhando para o oficial de policia.
Miguel vai ter que vir comigo até a delegacia, ele precisa prestar alguns esclarecimentos – o oficial informou e isso fez Julho dar um pulo da cadeira, completamente agitado.
Você não vai prender o Miguel, né? - Julho praticamente gritou, fitando o policial com raiva.
Calma, Julho, ele só vai levar Miguel para conversar sobre o acidente – o meu pai tranquilizou, mantendo o tom sereno de sempre na voz.
Eu olhava aquilo tudo em silêncio, ainda não tivera oportunidade para me manifestar.
Não se preocupe, seu amigo não será preso - o policial garantiu e eu vi que Julho me encarava agora, seus olhos estavam atentos, totalmente concentrados em mim.
Quer que eu vá com você? – perguntou
Não precisa, Julho. Preciso resolver isso sozinho - sussurrei, para em seguida me levantar - Podemos ir agora, policial?
Claro, quanto mais cedo resolvermos isso, melhor – o policial comentou .
Fim da narrativa do Miguel.
[...]
Meus dedos tamborilavam no encosto da cadeira em que estava sentado, a mente vagava longe. Era incrível como o tempo poderia ser relativamente lento quando tudo que você mais quer é que ele voasse. Duas semanas. Havia duas semanas que tudo aquilo tinha acontecido: a minha briga com Miguel, o acidente, a nossa primeira noite...
Todas as piores e as melhores coisas da minha vida tinham acontecido naquelas duas semanas que pareciam tão distantes agora.
Nunca mais tive a oportunidade de ficar a sós com Miguel, nossas vidas se resumiam aquele hospital, na espera de alguma reação de Mirela. E quando eu saia de lá, me afundava em pilha de livros e deveres. Ela estava fisicamente saudável, só que ainda permanecia internada, por isso seu estado ainda era considerado grave.
Miguel agora passava quatro horas diárias prestando serviços comunitários para a prefeitura, sua punição por causa do acidente. Miguel não ia à escola desde que tudo acontecera, o diretor tinha o liberado de suas obrigações, graças e um pedido do seu pai.
E agora aqui estávamos, em mais um dia tenso e de esperanças, como havia acontecendo. À cada novo raiar do sol, a tensão tomava conta dos nossos corpos e enchia o peito de expectativas, sonhando o momento em que teríamos uma boa notícia sobre Mirela.
Miguel estava sentado ao meu lado, fingindo ler um livro, mas eu sabia que ele não estava conseguindo se concentrar, sua mente devia estar vagando, assim como a minha estava. Respirei fundo, cansado do ambiente hospitalar, das cores neutras, do cheiro de remédio, do silêncio perturbador. Aquilo estava mexendo demais com a minha cabeça, a qualquer momento eu iria pirar de vez.
Levei um baita susto quando o Dr. Roberto/pai do Miguel abriu a porta do quarto de Mirela, no seu rosto havia um sorriso largo, seus olhos brilhavam como há muito eu não via, sua respiração estava alterada por conta da ansiedade.
Ela .. acordou... acordou agora- ele comunicou e no segundo seguinte eu já estava de pé, ao lado de Miguel e de Morgana, incapaz de conter a minha felicidade, o alivio e a alegria.
Mirela acordou em uma manhã extraordinariamente ensolarada, um dia lindo, um verdadeiro presente da natureza. Graças a Deus minha amiga não teve sequela alguma, estava perfeita, exatamente como antes. Miguel era o mais eufórico com aquilo tudo, ele ria e chorava como uma criança feliz. Eu só podia ficar ali admirando-o, completamente tomado pela emoção.
No terceiro dia após Mirela acordar do coma, eu tive permissão de visitá-la. Não contive a emoção ao vê-la, ainda frágil, mas viva.
E aí, Bela Adormecida, como se sente? - perguntei, sentando ao seu lado, mexendo nos cabelos curtos e desfiados que eu tanto amava.
Estou pronta para outra, amigo. Eu estava mesmo precisando de um descanso - Mirela brincou, sua voz ainda muito fraquinha.
Miguel estava do outro lado da cama e não largava as mãos da irmã. Seu pai tinha ido para casa, descansar um pouco.
Eu senti a sua falta - sibilei e Mirela sorriu amplamente, o mesmo sorriso que Miguel sempre mostrava quando estava muito feliz. Senti meu coração se aquecer.
Também senti a sua falta, Julho. E a desse menino aqui – Mirela murmurou, enquanto apertava a mão de seu irmão com a sua mãozinha tão pequena e frágil.
Miguel beijou o rosto de Mirela e sibilou:
Sabia que eu amo você demais, sua nanica? – Mirela fez uma careta engraçada e eu não pude deixar de sorrir.
Sim, ela estava de volta.
Tava bom demais para o meu gosto. Lá vem você e essa sua mania de me chamar de nanica - Mirela resmungou, fingindo raiva.
Miguel deu uma gargalhada alta, como eu há muito tempo não ouvia e eu soube que aquilo era o prelúdio para dias melhores.
Sorri e sibilei:
Vejo que tudo vai voltar ao normal logo, logo.
Mirela se remexeu na cama, agitada como sempre, e murmurou:
Mas é claro que vai voltar ao normal, eu tô de volta, amigo! E juro que não vou largar do pé de vocês. Falando nisso, vocês reataram, não é mesmo? - e ao dizer isso lançou um olhar inquisidor pra mim e Miguel, nos avaliando com atenção.
Miguel ficou sério, ele sabia que o nosso término tinha originado aquilo tudo.
Sim, nós estamos namorando novamente - falei ao perceber que Miguel não iria se manifestar.
O sorriso de Mirela se alargou e ela juntou as mãos, toda alegrinha.
É assim que eu gosto. Sem brigas - ela sibilou e Miguel passou as mãos pelos seus cabelos cor de bronze, claramente desconfortável.
Mirela, eu preciso que você saiba que o acidente foi...- Miguel tentou começar, mas Mirela o interrompeu com um resmungo.
Nem comece, Miguel! Como você disse foi um acidente. Eu estou bem, não está vendo? Sem mais palavras - ela decretou, mandona.
Mas Mirela se não fosse por mim você não teria... - Miguel ainda tentou retrucar, mas foi a minha vez de interrompê-lo.
Chega Miguel, pare de se culpar! Tudo já está bem, Mirela está fora de perigo, você não precisa mais se punir.
Mirela tocou no rosto do irmão e murmurou:
Sem essa de culpa, maninho. Você sabe que eu te amo e que isso num vai mudar nunca - Mirela garantiu e eu sorri, sentindo as lágrimas brotarem nos cantos dos olhos.
Miguel beijou o alto da cabeça da irmã e sussurrou:
Eu também amo você, nanic... - parou no meio da frase, rindo, meio sem graça.
Mirela revirou os olhos e resmungou:
Tá, tá, pode me chamar de nanica, pelo menos por hoje. Mas não se acostume muito com essa ideia, isso foi só uma trégua! - ao ouvir aquilo, eu gargalhei, enquanto as lágrimas escorriam dos meus olhos.
Como eu amava aquelas duas criaturas! E como tinha sentido falta de tudo isso.
Mirela me olhou e percebeu que eu estava chorando.
Olha, Miguel, o Julho está com tanto ciúmes que está chorando. Amigo, você sabe que o seu namorado é todinho seu! - brincou, sorrindo e eu enxuguei as lágrimas, ainda gargalhando.
Você realmente é impossível, Mirela - sibilei, pulando ao seu lado, puxando-a em um abraço apertado. Como eu amava aquele toquinho de gente!
Eu sei disso, Bella. É por isso que todos me amam! - Mirela murmurou, enquanto Miguel e eu caiamos na gargalhada, como nos velhos tempos.
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