Vamos Fugir (1)

Um conto erótico de Tom Danker
Categoria: Homossexual
Contém 1498 palavras
Data: 25/12/2012 23:16:22
Última revisão: 25/12/2012 23:26:32

Era noite de natal, as luzes coloridas dançavam e refletiam melancólicas nos vidros das janelas, Carlos estava no sofá e já perdera a noção do tempo, poderia estar ali a mais de duas horas, não saberia dizer se lhe perguntassem. Nunca fora fã da data, casa cheia, mesa farta e risadas madrugada adentro não lhe alegravam, a sensação de que algo estava faltando o afligia a todo instante no natal, algo lhe dizia que estava deslocado na presença da família.

Eram quase sete horas quando chegaram os primeiros convidados, tradicionalmente se organiza em sua casa uma grande ceia; tios, primos, vizinhos e os amigos da família que não casaram ou cuja família é pequena demais também se juntam ali para celebrar sabe-se lá o que e comentar sobre o ano anterior: quem casou, quem engordou, quem engravidou, quem passou no vestibular e essas coisas todas

- Carlinhos! E aí cara? - Diego, seu primo, chegou de bermuda, camiseta preta e um boné vermelho de skatista, a barba e cabelo castanho claro, na máquina 2, cara de malvado mas um grande zoador. O cheiro exagerado de perfume cítrico invadiu o recinto e ele se aproximou e cumprimentou-o com um abraço;

- Fala Diegão, tudo ótimo… - Carlos ficava ligeiramente tímido na presença do primo, já que sempre tivera uma atração sexual por ele; a voz grossa, as mãos grandes, o sorriso típico de quem está sempre pronto para pregar uma peça em alguém, e de quem, no fundo, não está nem aí pra nada, transbordava auto confiança e embora fosse um ano mais novo, Carlos sentia-se uma criança na presença dele, principalmente agora que ele tinha raspado o cabelo, e deixado a barba crescer, não tinha cara de 17 anos e nem atitude.

Diego sempre fora um sucesso na vizinhança e na escola, morava a duas quadras, viviam numa cidade média onde todo mundo era meio que conhecido no bairro. Estudavam na mesma escola, dividiam alguns finais de semana em família, mas Carlos jamais tentara nada com ele, pois não lhe restavam dúvidas quanto à sua sexualidade e o medo de que ele abrisse a boca para alguém era maior que o seu tesão.

Carlos, é claro, nunca assumira a sexualidade para os pais, e tinha plena noção de que isso lhe afastava de quase todo mundo na família, motivo pelo qual era visto como arrogante por alguns e tímido demais por outros. Tinha poucos e bons amigos, com quem dividia uma vida meio secreta, alguns deles sabiam que ele gostava de garotos, bebidas, drogas de vez em quando… ele e seu grupo de amigos eram os subversivos da escola de certo modo, pois não seguiam a maioria… em casa, porém, vivia mais sua vida na internet, recluso, onde mantia correspondência com amigos de outras cidades - grandes cidades, diga-se de passagem, onde um dia ele pretendia morar. Também usava a internet pra marcar encontros com caras, o que era raro, pois vivia numa cidade média. Carlos era um garoto alto, tinha completado 18 anos e era seu último ano no colégio, tinha o cabelo escuro e curto, era branco e com uma barba falhada que lhe dava uns 2 anos a mais, ele ficava feliz quando lhe davam 20 anos mas, mais que isso, tinha preguiça de tirá-la. Tinha preguiça de muita coisa. Ficava com meninas de vez em quanto, principalmente em festas, oportunidades não lhe faltavam, era um garoto bonito, jogava bem futebol e tirava notas razoáveis, qualidades que seu primo Diego tinha em dobro.

A medida em que as horas passavam, mais e mais pessoas chegavam em sua casa, algumas até então desconhecidas, novas namoradas e namorados de primos e amigos, no fim a casa estava cheia e Carlos estava distraído numa conversa com Diego, Jonas, seu vizinho e colega de sala cuja família resumia-se a ele e os pais; estava na sala também uma prima, Teresa, que estava ali mais como um enfeite, porque nada falava.

- Depende do que você quer fazer, eu penso em educação física… não é difícil de passar, e aí vou pra São Paulo, onde tem coisa pra fazer… ficar aqui não dá - Resmungou Jonas. Os dois estavam em ano de vestibular, Carlos pretendia fazer engenharia civil e também morar em São Paulo. Ultimamente só se falava disso, o resultado da Universidade que queriam sairia só dali dois meses, mas já haviam passado em algumas, e era nisso que Carlos pensava o tempo todo. Finalmente iria sair dali, viver sozinho, rodeado de gente nova, com idéias novas e caras gays - o mais importante. Jonas era o hippie da escola: maconha, MPB, ia pra aula de chinelo e cortava o próprio cabelo… tinha um coração enorme e era um grande amigo.

- Se tudo der certo vamos todos, então, não sei se São Paulo, não gosto muito de lá, é bagunça demais - Disse Diego rodando o gelo dentro de um copo de Whisky e olhando para a varanda como que procurando alguém

- Como se você não gostasse - Respondeu Carlos, debochando.

- Tudo tem um limite, aquilo lá é o caos. Mas não nego que qualquer coisa é melhor que ficar preso nesse fim de mundo. - Matheus se inclinou, olhou em volta e diminuiu o tom de voz - vamos lá fora fumar um. - disse ele, com aquele sorriso safado e gostoso.

- Bora lá. - Os três garotos levantaram-se e saíram de fininho, Teresa estava vidrada na novela de modo que nem notou eles levantarem. Cruzaram a sala e a varanda, o som da TV e do rádio lá fora se misturava à conversa e as risadas altas, àquela altura havia de ter umas 40 pessoas na festa, ninguém notou-os. A noite estava quente e sem vento, Diego pulou subitamente por cima da escadinha da varanda e chutou o ar como se estivesse num clipe de música, Jonas estava distraído em seu celular checando o Facebook ou algo do tipo. Carlos agradeceu a idéia, estava louco pra fumar uma erva e relaxar, já tinha sido educado e falso com parentes demais naquela noite, sentar na grama e pensar em nada lhe parecia uma ótima idéia. Ele e Jonas faziam isso com regularidade, ele menos que o amigo, que fumava praticamente todo dia. Diego de vez em quando surpreendia e aparecia com um baseado.

- Vamos descer pra Santos no ano novo, Carlos, tu não quer vir? Eu achei que não ia ter lugar no carro mas o Eduardo e a namorada não vão mais, se tiver afim, vai ser irado, vamos ficar de graça na casa de uma amiga da Ju - Diego estava cortando a ponta do baseado com os dentes e falando ao mesmo tempo, com a outra mão ajeitou o boné.

- Vamos então, eu ia acampar com umas gurias num pico aí, mas nem tava muito afim, quem mais vai?

- No carro vai eu, a Juliana, o namorado dela… e você, se quiser levar alguém tá de boa - Ele disse enquanto sentava-se na grama, implicando, é claro, em alguma garota. Ele nunca tinha viajado com o primo, e só recentemente tinham realmente virado amigos, embora só tivessem saído para uma festa (que não fosse de família) juntos uma vez, em que acabaram os dois bêbados, cada um com uma menina, deitados na grama num churrasco de aniversário. Naquele dia ele se surpreendera com o primo, que era bem mais divertido quando estava com os amigos, embora fosse cheio de si em alguns momentos, a sorte é que Carlos sabia se virar e nunca ficava de lado. A idéia de viajar só com ele era excitante e um pouco intimidante, de certo modo; porém, o plano o animou, dali a alguns dias estaria na praia, bastante festa, longe da família e de todo mundo que ele conhecia. Oportunidade de conhecer gente nova sempre o deixava feliz e esperançoso, como se de repente algo pudesse acontecer e mudar toda a sua vida.

- Beleza então, faz um tempinho que não vou pra praia - Respondeu Carlos

- Legal, vocês pirando em Santos e eu preso numa fazenda com a minha avó. Não é justo. - Jonas estava deitado e olhando para as estrelas, Carlos percebeu que o céu estava excepcionalmente bonito e estrelado aquele dia, no lugar onde estavam não havia luz próxima, mas o luar estava forte e se via tudo. De repente a fumaça subiu, Diego acendeu o baseado e estava fumando de olho fechado, tinha esticado as pernas e apoiou-se num cotovelo, seu peitoral marcado na camiseta, uma corrente prateada refletindo a luz da lua.

- Temos que beber pra caralho hoje. Vai ser foda aguentar o bla bla bla, quem é toda essa galera? Nunca vi tua casa tão cheia, cara. - Falou Diego, levantando-se levemente para passar o baseado para Carlos.

- Todo ano a festa cresce, eu não conheço metade dessa galera - Disse ele rindo e tragando a maconha. O ardido na garganta aliviou-o, soltou a fumaça observando-a sumir no céu. A noite afinal não estava tão ruim quanto ele imaginou que estaria. As próximas semanas, contudo, seriam decididamente melhores que o esperado.

Continua...

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Comentários

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Adorei continua logo vejo que vai prometer

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