Eu acordei em um quarto branco. Sabia que não estava em casa. Ouvia um choro e comecei a procurar a fonte. Avistei Paula sentada em uma cadeira.
(Paula) – Pai?! Graças a Deus! Vou avisar a vovó!
Ela saiu em disparada pela porta. Eu sentia dores por todo o corpo. Parecia que eu estava destruído. Tudo o que fiz foi chorar. Meu interior estava acinzentado como os tristes dias de inverno. Será que nunca seria feliz? Será que não merecia ter uma vida normal? Eu me questionava e nunca encontrava as respostas de que precisava. Aos poucos, a dor e a tristeza deram lugar ao vazio. Fiquei como se estivesse morto em vida.
Demorou um pouco até que Andressa e minha mãe entrassem pela porta.
(Marina) – Meu filho, como você está? O que aconteceu com você? Quem fez isso com você?
(Andressa) - Marina, por favor, diminua o volume de perguntas!
(Marina) – Tem razão! Eu estou muito nervosa!
(Dominicky) – Alguém pode me dizer o que aconteceu?
(Andressa) – Ainda não sabemos. A Nanda te encontrou jogado na calçada perto da casa. Foi horrível! Em seu braço havia cortes que formavam a palavra “VADIA”. Quem fez isso com você? Eu posso arriscar um palpite!
(Dominicky) – Sim! Foi ele!
(Marina) – Vou ligar para a polícia imediatamente!
Minha mãe sumiu do quarto em uma velocidade espantosa. Odeio quando ela faz isso!
(Andressa) – Sinto muito! Eu deveria estar perto de você…
(Dominicky) – Não se culpe! A culpa não foi de nenhum de nós! Onde está minha filha?
(Andressa) – Ela está na sala de espera com o Ricardo e o Paulo. O Paulo queria vir mas…
(Dominicky) – Pelo amor de Deus, não deixe ele entrar! Não quero que nenhum deles me veja assim!
(Andressa) – Acalme-se! Eles não entrarão, pois o médico não permitiu!
(Dominicky) – Quanto tempo ficarei aqui?
(Andressa) – Acredito que alguns dias. Por quê?
(Dominicky) – Quero ir embora! Pra bem longe!
(Andressa) – Aquiete-se! Tudo vai dar certo!
(Dominicky) - Queria acreditar, mas não consigo!
(Andressa) – Descanse! Vou sair e mais tarde passo aqui para te ver!
Ela retirou-se do quarto deixando-me a mercê do silêncio. Minha mente estava torturada. Como ele fora capaz de fazer aquilo comigo. Eu precisava sair dali. Fugir. Era essa a minha missão.
Passei uma semana no hospital. Assim que tive alta, recebi a notícia de que o Marcelo havia sido preso. Aquilo me aliviou. Mas ainda assim, eu precisava fugir. Fugir para bem longe. Fugir de toda essa maldade. Fugir dessa tristeza sem fim. Apenas aqueles que passam por uma situação traumática dessas sabe o que se sente nesse momento.
Cheguei a minha casa. Descansei.
Eu já havia elaborado um plano de fuga e comecei a coloca-lo em prática. Minha mãe e Andressa foram trabalhar. Paula ainda não havia chegado da escola. Pedi a Nanda para comprar algumas frutas para mim. Nesse tempo, a solidão se tornou minha amiga e fiz o que era necessário. Arrumei minha mala, entrei em meu carro e sumi sem deixar rastros.