Eu continuava sem saber o que fazer, embora soubesse que precisava agir.
(Marcelo) – Dominicky, me conte o que aconteceu.
Ele se levantou um pouco, aprumando-se encostado ao piano. Colocou seu rosto sobre os joelhos, recolhendo-se como em uma concha e contou-me todo ocorrido.
(Dominicky) – Quando eu tinha 17 anos, estava em casa conversando com minha melhor amiga. Contei a ela sobre minha primeira paixão e o que pretendia fazer. Mal sabia que meu pai ouvia cada palavra que saia da minha boca. Assim que Marcela saiu da casa, meu pai me segurou pelo pescoço e me disse coisas terríveis. Disse que nunca aceitaria uma aberração dessas, que eu era uma criação do mal, que não suportaria a vergonha de ter um filho homossexual. Ele me espancou sem o menor remorso. Minha mãe chegou a casa e avançou sobre ele, na tentativa de me defender. Ele a atacou, deixando-a inconsciente. Correu até o escritório, pegou uma arma e decidiu me matar. Minha mãe recobrava os sentidos ao ouvir meus gritos de misericórdia. Ela atracou-se com ele mais uma vez. A arma caiu na minha frente. Ele a espancou ainda mais, parecia que a mataria. Peguei a arma e, na tentativa de afastar aquilo de mim, o acertei bem na cabeça. Foi uma morte instantânea. A família dele quis me agredir e nunca mais falou comigo. Eles me odeiam. Fui levado à julgamento, mas inocentado por tê-lo feito em legítima defesa. É por isso que sou chamado de rouxinol escarlate. Minhas mãos sempre estarão sujas de sangue.
(Marcelo) – Sinto muito!
(Dominicky) – Até hoje, não sei se ele me perdoaria ou não. A culpa pelo ocorrido me levou a um profundo quadro de depressão. Minha mãe e meus avós maternos me levaram para Londres e vivemos lá por cinco anos. A decisão de voltar foi minha. Eu precisava encarar o passado. Mas pelo jeito sou fraco demais.
Eu não podia suportar tamanho peso. Ele enfrentou tudo isso para voltar para o país. Eu precisava ajuda-lo. Fui a sua direção e o abracei com todas as minhas forças.
(Marcelo) – Meu amor, se acalma. Eu estou aqui. Nós vamos superar isso juntos. Eu não vou deixar nada te acontecer.
Enquanto eu o consolava, Marina e minha irmã entraram pela porta. Aproximaram-se e perguntaram o que aconteceu. Contei o que houve e fiz o que eu mais queria naquele momento.
(Marcelo) – Marina, eu gostaria de lhe fazer um pedido.
(Marina) – Diga.
(Marcelo) – Você me autoriza a namorar o seu filho?
Dominicky levantou seu rosto avermelhado pelo choro e ficou pasmo com a minha atitude.
(Marina) – Acho que quem pode responder essa pergunta é você, Dominicky!
(Dominicky) – Tem certeza de que quer encarar essa barra?
(Marcelo) – Se eu não quisesse não teria feito o pedido. E então? Aceita?
Ele continuava parado me olhando. Todos estávamos tensos com aquilo. Ele simplesmente me deu um beijo. Um beijo doce, meigo, entregue. Sabia que ele realmente me desejava e agradecia toda a minha atitude. Acho que finalmente consegui subir um pouco em seu conceito.
Faz dois meses que tudo isso aconteceu. Dominicky voltou a ser aquele anjo-rouxinol que sempre foi. Passei a acompanha-lo em suas apresentações. Ele me surpreendia cada dia mais. Ele é incrível, sincero. O homem da minha vida. Meu doce rouxinol escarlate.
Há algumas semanas, ele me ligou anunciando a apresentação de música pop e comentando sobre uma surpresa que me faria. Ele não permitiu que eu acompanhasse os ensaios e fiquei muito desconfiado disso. Eu o amo, mas não sou cego e vejo os olhos gulosos de muitos marmanjos pra cima do meu anjo.
Finalmente a tão esperada “Noite Pop” chegou. Fui à sua casa pega-lo. Ele apareceu com sua roupa mais simples, mas dessa vez com uma mala maior que as de costume.
(Marcelo) – Puxa amor, que mala grande! O que você está escondendo aí?
(Dominicky) – Não estou escondendo nada! São apenas as roupas da apresentação. Garanto que você vai se divertir muito hoje.
Dito isso, me deu um beijo um tanto quanto fogoso. Confesso que nunca havia tido nenhum pensamento lascivo com relação a ele até aquele dia. Aquele beijo parecia um incêndio. Tive que disfarçar muito para que ele não percebesse minha ereção. Ele é moderno, mas quando o assunto é relacionamento as regras são ditadas por ele. Eu realmente o amo muito pra suportar tudo isso.