Ele ficou imóvel... Parado como uma estátua. Os olhos dele se fixaram nos meus, enquanto eu ficava escorado na parede com os braços cruzados... A expressão dele era de choque emocional. As bochechas antes rosadas agora estavam sem cor, deixando o rosto de uma palidez extrema. Em mim um turbilhão de emoções eclodiram... Nós dois, finalmente, face a face.
-- En-Enzo... - ele disse em uma voz fraca.
-- Lorenzo para tu - falei com arrogância.
Ele com mão trêmula, levou até a boca que formava um O de susto. Ele sussurrava baixinho: "Eu não acredito".
-- Talvez não saiba, mas voltei para ficar - disse.
Louis arregalou os olhos verdes, arfando.
-- Enzo...
-- EU JÁ DISSE QUE PARA TU É SÓ LORENZO! - disse irritado.
Ele se encolheu, ficando com uma aparência diminuta, como um animalzinho acuado de susto. Os olhos dele lacrimejaram, fazendo-o abaixar a cabeça com as mãos no rosto. Ele levantou a face, com lágrimas descendo lentamente. Depois, foi chegando perto de mim...
-- Voltaste... Tu voltaste... Por mim? - ele falou emocionado.
Bufei de desprezo.
-- Não seja ridículo. Pra quê eu iria fazer isso? - disse sorrindo cinicamente.
-- Mas en-então... - ele balbuciou.
Andei me distanciando dele, fechando as portas do terraço para que ninguém nos interrompesse em nossa reunião particular.
-- Sabe, nesses três anos muita coisa mudou... - disse sentando na balaustrada. - Depois que me rejeitou... Por que aparentemente, você não foi criado para ser meu. E vi que estava certo. Nunca fomos feito um para o outro. NUNCA. - olhei para ele e vi que chorava silenciosamente.
-- Você sabe muito bem o por que disto - ele falou embargado de um choro contínuo.
-- Sei, que enquanto eu caia de amores por tu... Simplesmente me descartou como uma coisa inútil que não precisa mais. - falei me levantando.
-- Nã-não é ver-dade - ele soluçou.
-- Mas isso é águas passadas... Eu devo é lhe agradecer. Foste o impulso que faltava em mim para fazer o que deveria ser feito há tempos. - disse tirando a minha capa e estendendo a ele que tremia de frio. - Acho que foi um erro vires com esta roupa... Mangas curtas e mostrar os ombros e o colo neste frio é uma péssima ideia.
Ele fez uma careta.
-- Não preciso. - ele falou passando as mãos nos braços alvos parando o choro.
Bufei sarcástico.
-- Vamos pegue... Antes que congele - falei com a voz macia como um cavalheiro.
Ele estendeu os braços e colocou em volta de si... Ficou um contraste gritante do branco-perolado da roupa dele com o preto.
-- Lembra do titio Vespuccio? - falei sorrindo.
-- O que tem ele? - ele perguntou. Os diamantes da coroneta dele cintilavam na fraca luz das pequenas velas do jardim e a luz da lua. Mas fiz silêncio enquanto ele me olhou assustado, entendendo o que havia acontecido. - Tu o ma-mataste... - ficando boquiaberto.
Sorri.
-- Não sei do que falas... Eu só herdei a fortuna... Afinal era o único herdeiro caso ele morresse.
Ele empalideceu ainda mais.
-- E no dia seguinte depois de nosso ultimo encontro... Encontraram os restos mortais dele... Queimado. - ele falou assustado.
Dei os ombros.
-- Acidentes acontecem... - falei.
O fedelho virou-se de costas, apavorado.
-- Sabe, a pior coisa que se pode fazer é virar-se de costas para um inimigo... - falei me aproximando dele, segurando os ombros nus, e colocando o meu rosto no espaço do pescoço e cangote dele. Esqueça o que eu disse sobre a camisa de linho... O perfume dele, agora era liberado quente, preciso, e ainda mais maravilhoso. Tive de resistir o impulso de tocar os meus lábios naquele pescocinhoPor que vai que ele lhe mata?
Ele virou-se o rosto devagar.
-- Nã-não pode me ma-matar - ele disse fixando o rosto perfeito em mim. Próximo demais... Um sentia o hálito do outro. Peguei discretamente um estilete afiadissímo, encostando na base da cintura dele, enquanto acariciava admirado, a maciez da bochecha de sua bochecha.
-- Tem certeza? - sussurrei no ouvido dele. Desci a mão até o meio da cintura dele pressionando contra o meu corpo. Aquilo não estava em meus planos... Mas era um impulso. Meu corpo precisava do dele. Ele fechou os olhos e aproximou o rosto no meu.
-- Venha Louis. - disse agarrando o braço dele com brutalidade. No fundo tinha medo de quebrá-lo, por que parecia meio frágil demais caso aplica-se mais força.
-- Não por favor... - ele implorou.
-- Não estou perguntando. Eu estou mandando! - disse ríspido, descendo com ele as escadas até o jardim. O efeito das velas deixou o ambiente fantástico... Eu e ele passávamos por isso sem parar para olhar.
-- Para onde estamos indo? - ele perguntou.
Ignorei a pergunta dele e paramos num lugar afastado, em que tinha um banco e um canteiro de flores que subiam em cima de uma velha estátua. A única iluminação era a lua e o céu salpicado de estrelas... Apertei o pulso dele fazendo-o arfar de dor.
-- AAAAIIIII PARA! ESTÁ ME MACHUCANDO!
Soltei ele, o empurrando-o de leve fazendo cair no banco. Na luz da lua Louis ficava quase um ser divino. A pele rosada clara agora estava de um branco marmóreo de aparência macia, os olhos verdes estavam translúcidos e o cabelo loiro agora meio prateado... Os delicados cristais bordados na roupa e no saiote cintilavam discretamente, emitindo leves feixes de luz prata. Ele estava em pânico.
-- Sabe "fedelho" nesses três anos, aprendi que o mundo dá voltas, e voltas, e mais voltas e muitas voltas... - disse rodeando ele sorrindo sarcástico, vendo-o terror nos olhos dele.
-- Eu vou sair daqui! - ele ameaçou levantar.
-- SENTA! - gritei. Ele voltou para o lugar dele quietinho.
-- Como eu disse tenho que lhe agradecer... Louis... - me ajoelhei de frente para ele pegando a mão e entrelaçando nos meus dedos. Meu coração batia forte a todo instante - Não tem ideia de como eu te amei... Desde o primeiro momento me provocou fáscinio, esse teu jeito frívolo, insensível e sincero. Eu pensava que nunca iria me decepcionar contigo. Que nunca tu iria me rejeitar... Mas aconteceu.
Ele me fitava atônito. Me levantei e fiquei de trás dele.
-- Olha para as minhas mãos... - disse passando os braços por cima dos ombros dele, estendendo minhas duas mãos. - Sou com certeza muito mais forte que tu... Mais alto... Mais capacitado... - coloquei as duas nos lados da face dele, que cobria desde o queixo até a o meio da testa. - Eu poderia facilmente espremer esse seu rostinho de boneco de porcelana, como se fosse uma noz podre até esmagá-lo... - falei comprimindo lentamente a cabeça dele.
-- Tire. As. Suas. Mãos. De. Mim!!! - ele disse desafiador. Me afastei dele balançando a cabeça.
-- Não se preocupe. Eu não quero e não posso por um dedo se quer em tu. - falei sincero. - Nunca poderia te machucar, apesar dos pesares.
-- O que queres de mim Lorenzo?! - ele indagou.
Suspirei.
-- Nada. Se eu foste tu tomaria mais cautela. - disse.
-- Estás ameaçando-me? - ele falou erguendo a sobrancelha em um tom arrogante.
-- Lógico que não. Só aviso como um amigo... Pelos velhos tempos. - disse sorrindo, me aproximando dele tirando uma mecha do cabelo dos olhos dele.
-- Como assim? - ele perguntou.
-- Como eu disse esse mundo dá voltas. Eu por exemplo, antes não tinha nem a onde cair morto, mas agora... Tudo muda muito rápido. O amanhã não nos pertencem. - falei.
-- O por que de tudo isso? Desse baile... Dessa conversa? - ele perguntou.
-- Eu vim para ficar. E o que é melhor do que uma festa para animar as coisas, não é?
Louis se levantou do banco desatando o laço de minha capa, entregando a mim.
-- Fique com ela... Não quero que fique com frio. - falei cordial.
-- Merci, mas não é necessário. - ele disse.
-- Eu insito. Minha educação não permite tal coisa. - me reverenciei.
Louis chegou perto de mim ficando na ponta dos pés, segurando os dois lados do meu rosto e me beijou lentamente. Meus braços automaticamente rodearam o corpo dele o puxando para mais perto de mim... Apertando-o, comprimindo contra o meu peitoral, enquanto as mãos dele seguravam os cabelos da minha nuca, e os ombros. A minha boca e a dele juntas, mais uma vez.
Perdia o meu controle... A boca dele agora era mais deliciosa, com um gosto tão visceral que devastava todas as barreiras que construí para reprimir a saudade dele. Mas voltei a realidade, saltando uns passos longe dele.
-- O que pensa que estás fazendo? Acha mesmo que com um beijo, vai fazer eu esquecer de TUDO? - disse nervoso.
-- Sim eu acho sim. Me chama de pequeno hipócrita, mas é do mesmo jeito que eu! Fala que eu sou página antiga de sua história, mas me olha com desejo... Sua boca dizem que me odeia, mas seu beijo me diz que ainda me ama. - ele falou.
-- Mentira! NUNCA MAIS OUSE FALAR ISSO!!! OU ESQUEÇO O QUE SIGNIFICOU PARA MIM E TE DESTRUO COMO UM INSETO!!! - gritei nervoso.
Ele chegou perto de mim e pegou a adaga fazendo a lâmina afiada brilhar, e colocou a ponta no peito dele.
-- Vem... Anda... Me mata logo já que eu não significo nada para tu. - ele falou chorando. - Está esperando o quê?
Fiquei parado. Ele largou aquilo no chão... Continuando a chorar.
-- A verdade é que... Eu... Te amo. - ele falou com o rosto corado.
-- Vamos voltar. - disse inflexível.
-- Não dirá nada? Eu digo que te amo e é assim que reage?! - ele falou indignado.
-- O seu amor para mim de nada vale. Se provou tão inútil quanto tu... Os outros tem razão... - falei com rancor.
-- Não sabe... Não sabe o que eu fiz!!! - ele gritou.
-- Não sabe o bem enorme que faria se morresse... O mundo seria um lugar melhor.
Com lágrimas nos olhos, saiu de lá em passos rápidos. Suspirei fundo e sai daquele lugar, com um peso estranho. Aquele encontro foi uma sequencia de lembranças dolorosas... Levei a minha mão até os meus lábios, lembrando do beijo. Cheguei na festa que ainda continuava animada, e com a música alegre... Fui para perto do Signore Rafael que me olhou curioso:
-- Meu rapaz, sumiste por tanto tempo... Está tudo bem?
-- Sim... Eu só fui para fora tomar um ar... - disse sorrindo
-- Oh sim. - ele sorriu. - Chegaste tarde para ver uma lamentável cena... Louis saiu daqui correndo aos prantos, e enquanto corria tropeçou e caiu numa poça de lama... Senti pena quando todos riram. - ele balançou a cabeça negativamente.
-- Foi muito bem merecido para aquele porquinho francês, que temos de chamar de duque! - disse a velha Petúnia abanando o leque.
Isso foi... Muito chocante.
-- Signore, eu estive pensando... Me diga, o que o senhor quis dizer com "os Garleranni não são mais os mesmos"? - perguntei.
-- Bem, me prometa que fará segredo!!! Pareces ser confiável... Posso confiar em tu? - ele disse.
-- Claro... É que eu sou um antigo amigo da família deles... E... E isso me pareceu um tanto preocupante. - menti.
Ele suspirou.
-- Lembra de Vittorio Garleranni? - ele disse aos cochichos.
-- Sim... O irmão de Cecília? O que tem ele? - perguntei.
-- Logo após o casamento de Louis, o Signore Garleranni faleceu deixando tudo para ele, por que era o único filho varão e Cecília não poderia herdar nada, devido ser mulher. Acontece que o casamento de sua filha foi o último golpe de mestre de Garleranni, garantindo assim a sobrevivência de sua filha juntamente com o título de nobreza. - ele falou ainda cochichando.
-- Mas eu pensei que os Garleranni eram ricos... Por que a "sobrevivência"? - perguntei confuso.
-- De uns anos para cá a fortuna deles diminuíram consideravelmente... Mas isso piorou quando Vittorio herdou tudo. Ele sempre torrou o dinheiro com jogos de azar criando dividas colossais... - ele falou bebendo um cálice de vinho - Foi então que Louis, foi pagando parcela por parcela, tendo que se desfazer secretamente de alguns imóveis, até mesmo de algumas jóias.
Fiquei estarrecido.
-- Então... Eles estão falidos? - perguntei.
-- Não... Eles estão já um passo de decretar falência total. A última parcela é de um valor absurdo.
-- Quanto?
-- 10 mil florins de ouro... Ele teve que hipotecar o casarão da família para ter que pagar - ele disse. (Nota do autor: esse preço, levando em consideração a cota de ouro por kg, e o custo em si, equivale a cerca demil reais O.O)
-- Tudo isso?!
-- Sim... Durante todo esse tempo o jovem manteve a administração da casa, e com Cecília doente, ainda tinha que cuidar da filha... Deus sabe o quanto ele é fútil, mas eu fico pensando como foi difícil para ele que era quase uma criança quando chegou aqui e enfrentar tudo isso. - ele disse. - Ele sempre me pediu para manter segredo... E a sociedade sempre o menosprezou...
-- Senhor eu quero que me acompanhe... - falei.
-- Tudo bem. - ele colocou a taça do lado.
O direcionei até o escritório e dei um pequeno saco contendo o dinheiro...
-- Isso paga? - falei.
-- Sim... Meu jovem por que fez isso? É uma fortuna!!! - ele disse estupefato.
-- Por que eu tenho uma divida com a família Garleranni... E eu queria recompensa-los. Poderia assinar uma nota que declarasse o valor da divida paga? Bem assim a hipoteca do casarão onde eles vivem seria de minha propriedade e seria mais seguro para eles terem um amigo como aliado. - falei.
-- É um homem muito generoso... Farei sim, tem um pergaminho? - ele perguntou.
E depois de escrito, assinado e autentificado, a escritura da casa de Louis passou a ser minha... E era esse o meu empurrãozinho, para a queda final do fedelho.
CONTINUA
bernardodelavoglio123@hotmail.com
Um abraço especial a Syaoran e Iky kkkkkkkk Sejam bem vindos como meus novos migões do peito kkkkkkk Um tbm ao Lord D. e ao Realginário (sou teu fã guri). E a todos vocês leitores e comentaristas, e é claro vocês que lêem anonimamente ae mesmo do celular, pc, tablets e blá blá blá. Obrigado gente! E comentem o que acharam... É importante!
Abraços.