Capítulo 3 - Do caos à crise.
Nunca pensei que gostaria tanto de matar alguém, foi algo mágico, não sei me expressar ao certo de como me senti, me perguntava "por que eu não estou me sentipo culpado?" "arrependido?" "Há algo de errado comigo?". Não me importei muito com minhas dúvidas. Eu tinha meus propósitos, faria de tudo para ter Romeu. Eu apenas as consequências do meu último ato, para ação dos meus próximos.
Antes de sair da sacada, dei uma boa olhada, no local, pois adorei sentir aquele frio inebriante, toda aquela soturnidade que me atraía, despertava um novo Romeu em mim, um Romeu reprimido por mim, preso em minhas amarras, em que só uma morte poderia libertá-lo. Fui a cozinha preparei um sanduíche para mim, logo fui ao quarto de Romeu, e o vi ali dormindo de bruços. Lindo como sempre (No passado já chegamos a dormir na mesma casa, mas nunca me propus a tentar algo com ele, pois eu não queria que acontecesse de tal modo), acariciei seu belo rosto, admirando seu contornos, e tinha que acordar ele para relatar a morte de Roberta.
- ROMEUUU! ACORDAAA!! - Eu chacoalhava desesperadamente.
- O que foi? Droga! - ele exclamou sonolento.
- A Roberta... ela...
- Fala logo! pô! - ele exclamou irrido.
- Ela morreu! - disse de uma vez.
- O quê?!! - ele exclamou - Para com essas brincadeiras Rô - ela dizia incrédulo.
Ele apenas balançava a cabeça negativamente, com uma expressão triste em meu rosto.
- Não ! - ele gritou - Não pode ser - continuava não aceitando - O que aconteceu? - ele esbravejou.
Ele se levantou da cama, se pois a minha frente, me segurou e me chacoalhou desesperado.
- ME DIZ O QUE ACONTECEU PORRA! - ele gritou.
- NÃO SEI DIREITO - menti falsamente - ELA ESTÁ LÁ NO TERRAÇO, ESTIRADO NO CHÃO! - gritei.
Imediatamente, ele saiu desesperado com a roupa que estava no corpo, uma calça folgada e regata branca.
- Não... - ele gritava de longe.
Apenas o segui com calma, o elevador estava ocupado, ele teve que descer as escadas, e eu fui logo atrás.
Logo chegamos no terraço, e os curiosos já estavam lá aos montes ao redor do corpo, aumentando a cada minuto, um verdadeiro pandemônio, eram como abutres atrás de sua carniça.
- SAIAM DA FRENTE! - Romeu gritava enfurencido com eles - ELA É MINHA NOIVA! - ele continuava desesperado, e empurrava quem estava por sua frente, até chegar ao corpo.
Eu entrava no meio da multidão para ver esta cena, e via Romeu chorando incontrolavelmente junto ao corpo ensanguentado e estraçalhado de Roberta, até beijou sua boca.
- POR QUÊ? - ele gritava inconformado aos quatro ventos - POR QUÊ?
Eu era apenas um espectador daquela intrigante cena, pela prmeira vez me senti culpado pelo que fiz, eu não queria ver o homem que eu amo sofrendo tanto, mas meu remorso desaparecia assim que me lembrava do motivo do meu ato, nada impediria de que ficássemos juntos.
Não demorou muito para que o local se enchesse de viaturas, ambulâncias, e repórte res. Eram câmeras para todo lado, com certeza eram as moscas atrás da carniça. Os policias afastaram os curiosos, e os paramédicos chegaram ao corpo e constaram o que não era mais novidade. Ela estava morta. A única coisa que me preoucupava era Romeu, ele estava em meio os veículos da polícia e da ambulância, e as luzes policromáticas desses veículos iluminavam o local em sintonia com o ensurdecedor dos veículos e o falatório das pessoas, ou seja, era o caos. Ele estava perdido na dor e no caos. Já que ele era epilético, isso o afetaria muito, e não demorou para isso acontecer.
Ele começou a se descontrolar, ela não comandava mais seu corpo, apenas se remexia aleatoriamente pelo chão, ele entrou em convulsão.
- ROMEU ! - gritei.
Tentei chegar perto dele, para ajudá-lo, mas os paramédicos chegaram antes, e o colocaram em uma ambulância, o que me deu certo alívio. Eu já estava com muita dor de cabeça com essa situação. Os repórteres me perseguiam para conversar com eles, mas antes tinha que explicar algumas coisas a polícia.
Fui chamado para dar algumas explicações, lógico que eu mentiria, disse que estava no meu quarto fazendo meus trabalhos da faculdade, e Romeu estava dormindo como sempre, já que ele dormia cedo, e que não sabia onde Roberta estava, e não sabia como ela tinha morrido.
Esperava que eles se convencessem com minha explicação, mas eu e Romeu ainda teríamos que dar alguns depoimentomentos na delegacia, o suicídio paracia óbvio, mas a polícia não descartaria a hipótese de assassinato, e isso me tirava a paz. Eu teria que ser confiante, esperto, convicente e cautelo. Logo fui ver Romeu no hospital, ele tinha tomado alguns medicamentos e estava dormindo em quarto, pude visitá-lo e logo fui embora para casa, tinha que dar a infortuna notícia do acontecido para a família da minha vítima. Liguei para a família. Foi difícil explicar o acontecido a eles, não acreditavam em suicídio, e sim que alguém matou a filha deles, foi estranho não senti nada, quando a mãe dela deu grito de desespero pelo telefone "nãããããoooo!" , ela só acreditou quando viu aqueles noticiários sensacionalistas pela Tv, e logo pude ouvir seus prantos, sua voz trêmula, a dor imconformada de uma mãe que perdeu a filha. A família viria a capital para preparar o funeral.
Depois que terminei a conversa com os pais de Roberta, tive certeza, que eles nos culpariam pela morte da filha (eu e Romeu), e isso seria muito pior para Romeu. Comecei a pensar nos meus atos, não sentia culpa ou remorso algum, só me preoucupava com meu Amor, porém fiquei triste em pensar em que eu não era um ser humano normal. "como eu só posso ter afeto por uma pessoa?" , "um pessoa normal, sentiria culpa do que fiz?". Era estranho pensar que eu me encontrava dividido em duas pessoas, em dois Romeus, um mal e um bom, um frio e outro amoroso, um que amava e outro que odiava. "será que o amor me presenteou com uma mente insalubre?", já que tinha feito o que fiz, só me restava me entregar a insanidade em nome do amor.
Chorei o tempo todo pelo resto da madrugada, não por ter matado alguém, e sim por mim, por não aceitar meu novo eu, isso só provava o quanto eu era frio e egoísta, mas o meu amor por Romeu, fez me aceitar rapidamente. Precisava conter minha decepção e raiva, eu precisava de dor. Peguei uma faca na cozinha e comecei a me cortar, era os braços principalmente, não sabia por que fiz aquilo, senti muita dor física, mas acho que fiz para sentir uma dor maior que eu estava sentindo, era uma forma de usar a dor física para anular a dor interior que eu estava sentindo.
- Ai! - eu gemia de dor por cada corte que fazia. Não entendi ao certo, mas ver meu sangue escorrendo pelos braços era uma forma de relambrar nossa união, nosso pacto.
Depois de muito tempo de reflexão cheguei a conclusão de que eu e Romeu seríamos os principais suspeitos da morte de Roberta, porque haveria a possibilidade de descobrir que foi assassinato, porque Roberta não tinha motivos para se matar, e com certeza os investigadores achariam isso estranho, e nada que uma reconstituição do possível assassinato, confirmasse que não era suicídio. Pensei em várias coisas a se fazer, mas parecia arriscado, mas teria que arriscar, uma prisão poderia estragar todos meus planos para Romeu se apaixonar por mim.
De manhã cedo Romeu já estava em casa, ele estava visivelmente abatido, eu não gostava vê-lo triste, parecia um zumbi, mal conversamos, não perguntava nada à respeito de Roberta. Parecia que estava me ignorando, só me compritava com "Bom dia!" e "Boa noite", normalmente desanimados. Ele tinha perdido a vida, a alegria, foi nesse momento que me senti culpado, culpado por fazer ele sofrer, mas prefiria acreditar que era temporário, que ele superaria e esqueceria de tudo quando ele percebesse o meu amor. Isso consolva meu remorso. Era dia do velório de Roberta, eu estava o dia todo com camisas de mangas compridas para esconder meus cortes. Romeu foi ao velório mesmo sabendo que não era bem vindo, sabia que os pais dela o culparia, e não pode ver o velório dela, mas ele estava diposto a se despedir dela no funeral, e eu estava o acompanhando e vendo sua visivelmente irritação.
- Você está bem? - perguntei.
- É lógico que não - ele respondeu irritado - como você acha que estou, hein? - ele me confrontou - A mulher que amo morreu! - se exaltou.
- Desculpa - disse, já com os olhos marejados - não queria te irritar - me cortava o coração saber que ele estava sofrendo.
- Desculpa cara - se arrependeu - é que estou sofrendo muito, não me conformo - disse com um semblante triste - eu sei que ela não se matou, alguém a matou e vou descobrir quem é - ele disse em tom mais agressivo.
Por mais, que ele acreditassem que fosse realmente um assassinato, ele não suspeitaria de mim em hipótese alguma, ele confiava cegamente no seu melhor amigo, e isso me tranquilizava.
Como estávamos no cemitério, não fomos barrados desta vez, entramos tranquilamente, mas Romeu não se importava de procurar briga, ele se aproximou do caixão, e já começava a chorar intensamente.
- O que você está fazendo aqui? - esbravejou o pai de Roberta.
- Vim me despedir da mulher que amo - ele respondeu na cara do pai dela.
- Você é o culpado disso! - o pai de Roberta exclamou.
- Eu não a matei! - ele gritei.
- Eu sei que a mataram! - o pai dela gritou - ela nunca se mataria - ele acrescentou - Ela era feliz - o pai dela estava aos prantos, chorando incontravelmente - e só pode ter sido vocês dois - ele nos acusou e apontou para gente - vou levar vocês a justiça - ameçou.
A mãe de Roberta chorava muito mais que o marido dela, a tristeza e a dor eram aparentente, ver todos os seus parentes se despendido dela para sempre, por incrível que pareça não me tocava, eu continuava indiferente à tudo.
- Não vou conversar besteira com você - Romeu indagou - eu a amava e nunca mataria o amor da minha vida - ele disse convicto - e se me dá licença eu vou me despedir dela.
Ela foi pra perto do buraco onde estava o caixão, via lágrimas correndo por seu rosto, e jogou uma rosa para se despedir.
- Eu te amo - ele sussurrou.
Do nada vieram alguns primos de Roberta e tentaram tirar Romeu de lá. Começou uma briga, onde ele ficou com um olho roxo, mas conseguiu bater o suficiente neles.
- Romeu, já deu! - gritei - vamos embora - me aproximei dele e o puxei pelo braço.
- Não ! - ele retrucou.
- Não vamos ficar, vamos embora logo - eu disse irritado e levando ele para o carro, ele não contrariou mais.
No dia seguinte, Romeu continuava triste e deprimido, um zumbi, não queria saber de mais nada, apenas chorava escondido, o que me entristecia, mas o que mais me preoucupava era o fortalecimento da hipótese de assassinato, ainda mais com a família da vítima pressionava as investigações, meus depoimentos e do Romeu convenceram, mas continuaríamos como suspeitos. Romeu não poderia ser preso injustamente, e eu ser preso? Nunca deixaria, porque atrapalharia meus planos para que Romeu se apaixonasse por mim. Pensei bastante e cheguei a conclusão de que iria fugir e levaria Romeu comigo, antes que nos acusassem de assasinato.
- Romeu? - o chamei - estava pensando...se nós fossemos viajar um tempo, eu conheço um lugar tranquilo, bem sossegado, onde a gente poderia ficar um tempo, serviria para você ficar melhor, e esquecer dos seus problemas, além do mais porque os pais de Roberta não nos querem mais aqui - dei minha proposta a ele.
Ele ficou pensativo por um tempo, e finalmente respondeu:
- Está bem.
- Obrigado por aceitar - agradeci - amanhã partimos, ok ? - queria a confirmação.
- Ok! - ele confirmou.
No dia seguinte, estávamos preparados para viajar, Romeu pensava que ficaríamos longe por pouco tempo, mas seria por tempo intederminado. Abandoríamos o nosso trabalho e a faculdade, peguei tudo o que precisava para a viagem e meus planos. Não importava o resto, a única coisa que me importava era ele. Ele nem ao menos sabia para onde viajaríamos, mantive segredo, pois era um lugar meio desabitado, longe de tudo e de todos, onde não pudessem nos encontrar, eram um verdadeiro fim do mundo. Tive todos os cuidados necessários para que não encontrasse-nos, ninguém mais além de nós dois sabia da viajem, troquei a placa de identificação do carro. Estava tudo pronto. Para uma pessoa que aparentemente parece inócua, sequestrar não é nada diante de matar. Eu sequestraria sim, não estava me importando com às consequências. Ele seria meu por bem ou por mal.
- Tudo pronto? - perguntei.
- Sim - ele respondeu.
- Então vamos! - exclamei.
Entramos no carro, e fomos viajando pela estrada afora, onde muitas emoções estavam por vim...
CONTINUA....