CAPITULO 6
Na terça de manhã a aula passou normalmente, prestei atenção nas aulas e a cada breve pausa dos professores eu respondia mensagens do Bernardo no celular. Cuidadosamente é claro, nem um professor podia ver. A cada mensagem que eu lia, mais bobo eu ficava, primeiro amor sempre é assim. E pelo que parecia, Bernardo também estava apaixonado.
Almocei apenas com Rafa, meu pai só chegaria a noite. Eu havia planejado chamar Bernardo pra me visitar a tarde, depois que eu chegasse da monitoria com Matheus, e assim ficarmos um tempinho a sós, mas pro meu azar Rafa faltou a aula de judô.
Estava na sacada com fones de ouvido quando vi Bernardo estacionar o seu carro enfrente minha casa, pensei em correr e ir atende-lo, mas lembrei que provavelmente era Rafa quem havia o convidado, então era melhor deixa-lo atender a porta. Acenei pra ele sorri. Ele, olhando para cima, também sorriu, depois fez um coraçãozinho com as duas mãos. Dei muita trela pra isso. Entrei no quarto, liguei o ar condicionado e fechei a porta, se ele viesse falar comigo, teríamos uma desculpa pra ficar de portas fechadas.
Como eu desconfiava meia hora depois ele entrou no quarto, e fechou a porta. Eu estava na cama sentado lendo um livro. Estava vestindo um pijama azul claro com estampa do Sitch, eu amava pijamas com estampas infantis. Ele vestia uma polo branca e uma bermuda xadrez em azul, vermelha e branca. Logo ele disse:
- Rafa tá no telefone com uma fulana, aí aproveitei pra vir aqui. Tava com saudade.- Disse ele rindo e se aproximando de mim.
- Eu nem tava. – Disse brincando, e rindo como bobo.
- Ah não? Então nem vou ganhar beijo. – Disse ele fazendo bico, imitando uma expressão infantil.
- Aaaaah, é claro que vai. – Não aguentei, me aproximei mais um pouco, fiquei de joelhos e pus as mãos em seus braços o empurrando na cama. Rindo, me curvei sobre ele e o beijei. Sua boca tinha um sabor refrescante, devia ter chupado chiclete de menta ou lyptus, algo assim. Senti língua ser introduzida em meus lábios, ele beijava tão bem... Envolveu os braços dele em torno de mim e me abraçou me puxando mais pra perto dele. E alguns momentos depois ele nos girou, mudando-nos de posição e ficando sobre mim. Finalizou o beijo com vários selinhos e me olhou.
- Você é muito lindo. – Disse ele me olhando.
- Eu te adoro Bernardo.
Ele deitou o rosto no meu ombro e eu o abracei forte.
- Rafa vai chegar já já. Ele te pega em? É ciumento. – Eu disse rindo.
- HÁ HÁ HÁ , você acha mesmo? Eu dou um jeito nele só com um braço, e depois agente foge daqui.
- Você nem tem pra onde me levar garoto. – Disse eu rindo e empurrando-o.
Bernardo riu e ficou me olhando por um tempo. Depois disse:
- Bom é claro que não iria ser fácil no inicio, mas eu poderia trabalhar pra sustentar você e nossos sete filhos.
Começamos os dois a rir novamente e ele me deu outro beijo, mordeu meu queixo e me apertou carinhosamente em seus braços.
- Ber, tenho que me arrumar. Às duas tenho monitoria com aquele garoto novo do segundo ano, o Matheus.
- Aquele garoto é meio estranho, não olha nem para os lados, quando alguém fala com ele, ele meio que ignora. Não gosto dele. Bom eu tenho natação daqui a pouco também, quer que eu te deixe lá?
- Pode ser, só espere eu trocar de roupa, não demoro. - Falei enquanto me direcionava ao closet, percebi que ele não saiu da cama. Peguei uma polo com de rosa e uma bermuda branca com barras dobradas. Sai do closet e me direcionei ao banheiro, ouvi Bernardo rir.
- Se troca aqui mesmo seu bobo, já te vi só de cueca.
- Vou tirar a cueca também, dessa vez. Até parece que vou me trocar na sua frente. – Disse rindo. Entrei no banheiro e fechei a porta. Cinco minutos depois eu estava pronto. Perfumado, cabelo bem penteado e com um pozinho no rosto só pra ficar mais saudável. Peguei meus livros encima da escrivania e me virei pra Bernardo.
- To pronto.
- To vendo, que gatinho você. Me dá seu telefone? – Disse ele me deixando bobo, levantou e me deu um beijo. – Vambora.
Avisamos a Rafa que estávamos saindo e dez minutos depois estávamos no colégio. Me despedi de Bernardo e entrei no colégio, faltavam 5 minutos para as duas, eu não estava atrasado. Entrei na biblioteca e me sentei em uma das mesas pra espera-los, depois iríamos a um reservado, eu não poderia ficar falando ali, então não havia como explicar nada.
Mexia no celular enquanto o esperava, até que ele chegou as duas e quinze. Usava uma camiseta branca, bermuda de tactel listrada em várias cores e na cabeça, um boné de aba reta. Se ele não fosse extremante irritante, ele seria lindo. Carregando sua mochila nas costas ele se aproximou olhando sempre em meus olhos, havia um meio sorriso no rosto dele. Ele sem duvida possuía um jeito de ser muito desafiador. Sentou-se na mesa, ficando de frente a mim, e me deu oi.
- Trouxe todo seu material? – Perguntei.
- Sim, trouxe. – Disse ele me olhando, depois tirou o celular do bolso e ficou mexendo, parecia digitar algo.
- Vamos para um reservado, não podemos ficar conversando aqui. – Levantei e segui para os reservados. Matheus nada respondeu, apenas me seguiu. O que havia acontecido com ele? Porquê ele nunca falava? E quando falava eram apenas duas ou três palavras? Ele me irritava de uma forma anormal. Chegando no resevado, me sentei novamente.
- Em que matérias você tem dificuldade?
- Todas. – Ele possuía uma expressão cínica no rosto quando disse aquilo e começou a rir, meu sangue ferveu.
- Bom, só tenho tempo pra ajudar você com no maximo três matérias. Então vamos ficar com Química, Física e Matemática. Em vésperas de provas posso te ajudar com Biologia, dependendo do meu tempo. – Disse eu com rispidez.
Matheus nada respondeu, continuou me olhando por um tempo, depois abaixou a cabeça novamente e voltou sua atenção para o celular. Eu respirei fundo e fiquei olhando pra ele. Ninguém me tratava daquele jeito, as pessoas eram educadas e simpáticas comigo, e eu sempre fora com elas. Perdi a paciência e, ficando fora de mim com tamanha falta de educação e tão pouco caso que ele fazia da situação levantei, me curvei sobre a mesa e tomei o celular de suas mãos. Minha expressão era de ódio.
- Nossa garoto, ta pirado? Vê se toma um remédio pra se acalmar. – Matheus falava espantado com minha atitude.
- Olha aqui, sou EU quem está fazendo um favor a você, e não você a mim tá ligado? Então por favor, me trate com educação assim como eu trato você. Me passe seu caderno, quero ver suas anotações.
Ainda me olhando com uma expressão parecida com a de susto, ele empurrou o caderno pela mesa até chegar a mim. Dessa vez eu quem me calei, peguei o caderno e folheei matéria por matéria. Era incrível o quanto ele anotava pouco, o caderno estava praticamente intocado.
- To vendo porquê você está tão na pior. – Debochei rindo. – Você ao menos assistiu aula?
- Não me dei ao trabalho, mas se eu tivesse prestado atenção, com certeza eu saberia mais do que você. – O seu tom era desafiador. Eu apenas ri.
- Ok espertão, então é bom que você encarne o Einstein mesmo. Vamos começar com Química.
Trocamos farpas o tempo inteiro. Eu odiava o jeito dele, mal educado, rebelde, grosso, nossa. Que menino chato. E aqueles olho azuis dele, que sempre penetrava os meus olhos e deixava nervoso, desconcertado... Expliquei a matéria para ele e depois tirei suas duvidas enquanto ele resolvia as listas de testes que o professor havia passado. Na verdade discutimos o tempo inteiro, por quê ele insistia em resolver os problemas de formas bem diferente das minhas. No final ainda acertava.
Acabou que mais uma vez fui embora fumegando de raiva. Só fiquei mais calmo na madrugada, quando eu já deitado tentando dormir e pesando no quanto Matheus tinha sido grosso e que eu ainda teria que aguenta-lo por bastante tempo, recebi uma mensagem de Bernardo dizendo que estava na porta da minha casa me esperando.
CONTINUUA.