• 20x03 – O casamento
– Vamos, Walmir! Ainda está a metade da festa. – Fui acordado por José enquanto ainda chorava em seus braços.
– Eu preciso ir para a minha casa, amor. Papai precisa...
– Não ouviu sua mãe? – Ele me interrompeu. – Ela pediu-me para que eu cuidasse de você e eu vou fazer. Pra sua casa você não volta. Não hoje.
– E quem você pensa que é para mandar e desmandar em mim? Até onde eu sei, eu posso muito bem tomar minhas decisões.
– Walmir, me deixa cuidar de você, por favor?
– Pra que? Para você fazer o que sempre fez durante todo esse tempo de namoro? No final, você sempre me abandona, e eu fico com o coração partido. É sempre isso o que acontece. E quer saber a verdade? Pra mim, isso já está ficando chato.
Parei por um instante e olhei o rosto de José, seu semblante mudou. Antes preocupado comigo, agora triste pelas minhas palavras, de novo.
– Vamos! – Ele falou seco sem olhar pra minha cara e arrastando-me para o salão de festas.
– Não tem clima para que eu continue aqui...
– Com ou sem clima você vai ficar aqui, Walmir. Eu não posso passar por cima das ordens de sua mãe.
Voltamos para festa e nos encontramos com os nossos amigos. José havia fechado a cara e foi se sentar-se à mesa de seus pais. Aproveitei para puxar Sofia e Celina e comunicar a minha viagem para Colônia depois da virada do ano.
– Você não pode fazer isso com o José, Walmir! – Replicou Sofia.
– Minha decisão já está tomada, meninas. Eu não posso voltar atrás.
– E desde quando você toma decisões por si? Pois até onde eu sei, e você me ensinou, numa relação os dois tomam a decisão como se fossem um. Não acho certo esse jogo seu para cima do José. Tu sabes o quanto ele vai ficar ferido, não sabes?
– Por mim, eu te apoio. – Falou Celina. – Mesmo não achando certo, eu apoio. Só tenha a certeza de que você vai ficar feliz. Você tem certeza que longe dele estará feliz? – Fiquei calado por uns instantes.
– Eu sabia. – Manifestou-se Sofia – Você não está preparado para abandonar o José. Pela primeira vez o pequeno Stuart Little não sabe o que fazer. Na verdade sabe, mas não vai fazer. E sabe por quê? Porque você tornou-se uma pessoa mesquinha que só pensa em si. Acha que fechando o seu coração você vai se dar bem, mas eu vou te dizer uma coisa, Walmir: “Se você for embora depois do amanhecer, ele irá sofrer... E você também irá. Não tente se enganar.” – Aquele foi seu veredito final, e aquelas palavras doeram bastante em mim.
– Boa sorte, Walmir! – Celina falou, virando as costas e indo sentar-se próximo aos outros.
Meus olhos estavam marejados e minha consciência pesava. Eu tinha apoio de todos os meus amigos, menos o da Sofia. E aquilo me abatia. Saber que ele ficou contra mim foi o fim. Não pude deixar de conter algumas lágrimas, porém, rapidamente, enxuguei meu rosto. Permiti-me olhar para a mesa de José e observá-lo beber uma taça de uísque. Típico dele afundar as magoas em bebida. E dessa vez, a culpa era minha. De novo.
– Grandão, para de beber! – Falei serenamente, pondo a minha mão em cima da sua.
– Sem querer ser egoísta, mas... Você se importa? – Ele falou olhando-me com uma cara de cão sem dono.
– Eu me importo demais com você. – Sentei-me ao seu lado. – Você quer dançar comigo? É música de flashback. E você sabe que...
– Eu sei que você ama músicas de flashback, Walmir. Eu sei. – Ele deu um longo suspiro e abaixou a cabeça. – Não precisa demonstrar que as coisas estão bem quando não estão. Eu sou homem o suficiente para saber as merdas que eu fiz e as vezes que te magoei. Eu sou homem o suficiente para saber o que o meu parceiro está pensando e sentindo. Não precisa forçar um sorriso e tentar me tirar da fossa. Acho que você já fez demais por mim. E eu não sei o porquê de você ainda estar aqui.
– Porque eu te amo. – Falei enxugando uma lágrima que caia de meus olhos. Ele sabia exatamente o que se passava por nós.
– Você me ama e pretende me deixar. Que amor louco esse, hein? – Ele sorriu tristonhamente.
– Olha pra mim! – Falei segurando seu rosto. – É só questão...
– É só questão de tempo para que as coisas se resolvam, certo? Não, não é, Walmir. Não importa o que eu faça, você sempre dará um jeito de ir embora e por a culpa de tudo em mim. Eu não sei o que está acontecendo com a gente. Eu acho que a palavra casal não se aplica mais a nós.
– O que você está falando? – Intervi.
– Todas as vezes que faço uma burrada, eu assumo meu erro. E você? O que faz? Você fica calado. Sendo sempre o dono da verdade. Fazendo-me sentir a pior pessoa do mundo. Para todas as pessoas você nunca errou em nossa relação, mas você sabe que nós dois temos uma pequena parcela de culpa em tudo. Nós estamos nos afundando aos poucos, mas sabe o que eu estou percebendo? – Acenei negativamente. – Só eu estou me importando com o “nós”, enquanto você finge que está tudo bem quando na verdade não está.
– Sinto muito por...
– Não fala mais nada, Walmir! Não piora o que eu estou sentindo! Não piora essa dor. A culpa é toda minha. Me deixa beber, em paz!
– Não vou deixar você estragar sua vida em um copo de uísque. – Falei batendo minha mão na sua e derrubando o copo no chão. – Quando o Walmir quer dançar, ele dança. – Puxei-o para mais perto de mim até que, mesmo relutando, ele tocou em meu corpo. – Eu quero dançar. E quero dançar agora... E com você.
José, por sua vez, pôs seus braços em volta a minha cintura e começou a mover-se de um lado para o outro ao som de músicas como: Take My Breath Away, Total Eclipse Of The Heart, Always, Because You Loved Me e True Colors. O clima estava chato, tenso e pesado. Os nossos olhares diziam isso. Em momento algum deixamos de olhar um no olho do outro. Um vendo a alma do outro. Eu mergulhava em seus olhos azuis – que antes pensava ser castanho, por causa da claridade – e ele mergulhava em meus olhos cor de mel – talvez eles estivessem dourados.
Depois de ouvir e dançar todas essas músicas, a noiva decidiu jogar o buquê. Perdi-me no meio das convidadas e minhas esperanças de agarrar aquele lindo enfeite foram ao chão. Quando Silvia jogou o buquê, uma muralha entrou no meio de todos e pegou o buquê no ar. Sim, era ele. José ajoelhou-se e entregou-me o ramalhete, fazendo com que eu ficasse corado instantaneamente.
A comemoração veio acabar por volta das 05h00min. Otávio levou-me até a sua casa em seu carro vermelho. Em nenhum momento da viagem fora proferido qualquer palavra. E aquilo me doía. Aliás, tudo ultimamente me machucava. E depois do que a Sofia falou, meus sentimentos de culpa foram se intensificando. Será que eu estava sendo egoísta e nem percebi? Ou talvez eu tenha percebido e não quis admitir.
Chegamos à sua casa e fomos direto ao seu quarto.
– Não tenho roupas para dormir. – Falei lembrando que havia levado todas as minhas roupas que ali estavam para a minha casa.
– Pega algumas peças de roupa em meu armário! – Ele falou, ainda sem olhar para mim.
– Sua blusa eu ainda visto, pois gosto de pijamas folgados. Mas... E o resto? Pois por maior que minha bunda seja, a sua é o dobro.
– Espera só um momento!
Em passos longos ele desceu a escada e eu fui tomar banho. Ao sair do banheiro, avistei uma cueca minha e um calção de algodão fino. José estava deitado em sua cama e tomado banho.
– Você foi à minha casa buscar roupas para mim? – Falei surpreso e me vestindo.
– O que eu não faço por você, né? – Ele sorriu e fechou os olhos como se estivesse descansando.
Após vestir-me, subi em cima de sua barriga e aproximei-me de seu peito.
– Olha pra mim! – Supliquei quase chorando.
José abriu os olhos e ficou preocupado a me ver chorando.
– Por que...
– Você me rejeitou a noite inteira, José Otávio. Você não sabe o lixo que eu estou me sentindo.
– Eu só fiz o que me foi pedido. Você escolheu que fosse assim, Walmir; cada um pro seu lado. Eu sinto muito.
– Eu não quero mais isso. Eu só quero você. – Puxei-o e dei um beijo, em sua boca, com urgência. – Eu só preciso de um tempo para que eu me entenda. Para que eu entenda os meus princípios.
– Eu estou disposto a te dar todo o tempo do mundo. Mesmo sabendo que você pode um dia me deixar. – Eu segurei em seu pescoço e fiz um carinho em sua orelha. Sorri ao ver seu sorriso se expandindo.
– Você fica tão lindo quando ri. Fica lindo quando tira essa armadura. – Ele ficou em silêncio e olhou em meus olhos. Seus olhos agora estavam negros (os olhos dele também são florescentes, tal como o meu e o da Cecília). – Faz amor, comigo? – Sussurrei.
– O que você disse?
– Eu disse: “Faz amor, comigo?”.
– Você tem certeza que é isso o que você quer?
– Não. Eu estou morrendo de sono.
– Então deita aqui que eu vou cuidar do seu sono. Depois a gente se preocupa com isso.
José virou-me de lado e dormimos de conchinha, como sempre. Em minha cabeça, eu pedia a Deus para que aquela cena se repetisse até o dia em que eu fosse emboraPor hoje é só, gente. Eu, Walmir, estou muito feliz com as coisas estão acontecendo em minha vida. Estou em recesso no trabalho e curtindo as férias com a minha família (45 dias de FOLGA é pra poucos :D). Pode-se dizer que o Bruto está pensando o mesmo. Lindos em Porto de Galinhas, só digo isso :P
Respondendo à alguns comentários:
foguinho99 - Por sermos um casal, a culpa é dos dois. E, às vezes, tanto o Bruto como eu erramos sozinhos, e isso não pode acontecer. É mal de passivo ser submisso. E também é de praxe que o passivo seja a cabeça da relação. Falo isso, pois, na maioria dos casos, é sempre assim.
A todos os que comentaram sobre meu pai - Muita coisa ainda vai acontecer. E ele teve ciúme de mim, pois, naquela época, eu era o filho mais novo dele. ERA. :D
Docinho21 - Obrigado pelo elogio, mas santo eu estou longe de ser. hihi ;)
¤$€MI¤@L@DO¤ - Ela está grávida, mas o filho não é do José... Grande história, mas tentarei resumir: Fizemos o exame de gravidez e o de paternidade, o primeiro foi positivo e o segundo negativo (Imagina a alegria do meu grandão, né?); Pois bem... A policia apreendeu um vídeo onde mostrava toda a safadeza ocorrida naquele dia. As cenas eram horríveis, de boa? Prefiro nem lembrar. Enfim, José não participou daquele sujeira, provando, assim, que ele foi fiel esses 5 anos e 5 meses (Sorry, Bê, mas eu me lembro como se fosse hoje...).
Jhoen Jhol - Demorou demais para que houvesse o sequissu. hihi. Beijinhos ;*
¤netinho¤ - Não tinha como me impor em uma briga que não era minha, lindo. Era o meu pai e o meu noivo disputando o meu bem-estar. E olhando agora, eu percebo que o José estava correto em ter tentado me afastar de papai aquele dia... Vocês vão saber o porquê.
Um beijo a todos os leitores lindos e as pessoas que comentam ;*
O ogro já está preparando o próximo, do ponto de vista dele... Acho que minha jornada acaba aqui :( mas antes preciso esclarecer algumas coisas. Meus olhos são fluorescentes e vão do mel ao azul. Minha altura... O Burrão errou, eu tenho 1,58, acreditem se quiser... O resto das descrições são quase perfeitas e eu continuo do mesmo jeito, só que agora um pouco mais pesado por causa da adesão de massa muscular. São cinco anos de academia, né gente? Peso quase 70. Beijão!!!