-Por quê eu vou morar aqui?
Minha mãe olhou pra mim e respirou fundo.
-Sua mãe vai ser liberada depois de amanhã.Mas ela se recusa ir para casa sabendo que vai encontrar você.Ela disse que na primeira oportunidade te mandaria pra aqueles religiosos fanaticos que acham que encontraram a cura de homossexualidade.Eu intervir e disse que se ele aceitasse,eu ficaria com a sua guarda legal.
Breno ficou olhando estatico digerindo tudo aquilo.Eu mesmo estava custando a acreditar no que ouvia e ainda tinha mais.
Depois do meu plantão,fui até o escritório do doutor Miguel e ele fez questão de ajudar.Ele disse que você pode morar aqui até sair a papelada.
-Ela não quer nem conversar comigo?
- Não.E um outro ataque histérico dequeles,pode ser muito prejudicial.
Breno respirou fundo.
-Eu posso mesmo morar aqui?
-Até onde eu sei,seus parentes mais proximos moram em outro estado e se você for pra longe eu vou ter que aturar um adolescente carente.
Breno sorriu e me olhou de rabo de olho.Abracei Breno e beijei sua nuca.
Mamãe revirou os olhos e foi colocando as malas perto do sofá.
-Além do mais,Mauricio não vai conseguir nada melhor que você.Você é um genro perfeito!
Breno ficou corado o que fez minha mãe gargalhar.Depois ficamos discutindo onde Breno dormiria,mas por fim acabou no meu quarto.Na manhã seguinte,acordamos cedo e fomos buscar as coisas de Breno,embrulhariamos tudo e a tarde minha mãe viria buscar.
Breno pegou seus cds,dvds,o resto das roupas,mangás,livros e lá pelas 11 da manhã já tinhamos embaldo tudo.
-Agora é só esperar minha mãe.
Ficamos sentado no chão do quarto vazio.A cama estava arrumada,o armario vazio,ainda podia se ver a marca dos posters recém tirados.Levamos as caixas até a varanda e ficamos dando respostas vazias para os vizinhos.Sentamos no chão da sala e lá ficamos.
-Breno,como você tá com isso tudo?
-Sei lá.Sempre imaginei eu indo embora pra estudar em outro estado.Eu indo embora e minha mãe fazendo escandalo.Mas mesmo assim,me amando.
-Me sinto culpado.
-Mas você é.E eu também.Até minha mãe é.Eu por não ter tido coragem de ser eu mesmo.Minha mãe por ter deixado o preconceito deixa-la cega.E você por me deixar apaixonado.
Sorrimos e nos beijamos.Minha mãe chegou e comprou comida pra um pelotão,para comemorar o novo membro da familia e declarando Breno e eu como "namoridos".
Depois de muito bate-boca com a minha mãe,Breno e eu dividiriamos o quarto,mas o sexo tinha que ser praticamente com hora marcada.Minha mãe chegava do plantão,dorme o odeia qualquer tipo de barulho.Breno tem um curso de informatica diariamente no fim da tarde.Transavamos e ele ia para seu curso.
-Mauricio,você fez o jantar?
-Não mãe,hoje é sua vez.
-Droga!Eu tinha esquecido.Vai buscar o Breno e me encontra naquele restaurante italiano.
-Ok.
Breno saia 7:30pm,eu cheguei faltando 10 minutos.Esperei do outro lado da rua e de longe reconheci aqueles cachinhos.Sorri e quando levantava meu braço para acenar,até reconhecer a figura do lado deleEra o mesmo babaca que estava no quarto dele no jogos escolares.O babaca me viu e sorriu.Deu um beijo no rosto de Breno e saiu andando.Breno o acompanhou com os olhos,me deixando ainda mais bravo.Quando ele se virou,deu de cara comigo.Seu sorriso desapareceu e ficamos nos encarando sérios.Breno caminhou até mim com um olhar de cão sem dono.
-Mauricio...
-Vamos jantar fora hoje.Minha mãe está nos esperando.
O restaurante não ficava muito longe,mas mesmo assim a caminhada foi longa.
-Mauricio...
-Não quero falar com você agora.
-Mas...
-NÃO!
Minha voz saiu mais alta que eu pretendia atraindo a atenção de algumas pessoas.
-Em casa conversamos.
O jantar foi animado igual a um funeral.Eu brincava com a comida enquanto Breno me encarava,parecendo que choraria a qualquer momento,já minha mãe só observava.
Chegamos em casa e fui direto pro banho.Gelado.Iria ter uma longa noite e eu tinha que esfriar a cabeça.
Quando sai do banheiro,minha mãe saia do quarto com sua roupa de médica.
-Mauricio,teve um problema na clinica e eu to correndo pra lá.Seja lá o que aconteceu entre voces,pega leve,ok?
Olhei pra ela e sorri.
-Não vou garantir nada.
-Mas eu tenho certeza que não vai me decepcionar.
Mamãe sorriu,piscou o olho e saiu correndo.Caminhei até meu quarto,Breno estava sentado na cama e achei engraçado o fato de quando eu entrei no quarto molhado e sem camisa,Breno me olhou de cima abaixo.
-Mauricio,eu posso explicar.
-Por que ele estava lá?!
-O João apareceu do nada lá!Disse que que acabou de mudar pra cá!
-Quanto tempo?
Breno desviou o olhar.
-QUANTO TEMPO?!
-Ele apareceu...três semanas depois dos jogos escolares.
-O QUE?!ISSO JÁ FAZ MESES!IRIA ME ESCONDER ATÉ QUANDO?!
-Eu ia contar mas sabia que você reagiria assim!
-COMO VOCÊ QUER QUE EU FIQUE?!MENTIU PRA MIM!
-MAURICIO,ESSE CURSO É IMPORTANTE PRA MIM!EU E ELE SÓ ESTAMOS TRABALHANDO JUNTOS E...
-ESPERA,ESPERA,ESPERA!Que história é essa de trabalhar juntos?!
-Ele é meu sócio em um jogo.Estamos participando de um concurso,se ganharmos faremos contrato com uma grande empresa.
O banho esfriou minha cabeça por pouco tempo.Eu estou fervendo.Joguei as coisas da cômoda e sai soltando fumaça,batendo a porta ao sair.Não sabia onde ir,mas tinha que consegui um lugar pra pensar.
Fui até a clinica e encontrei minha mãe assistindo um filme em seu notebook.
-Essa era a emergência?
-O que faz aqui?
Contei tudo.Senti um alivio no peito ao falar.Nunca tinha conversado dessa maneira com a minha mãe.Quando terminei,ela começou a rir e pareceu estranhamente jovem.
-Qual a graça?
-É que...esse menino mudou você...tinha medo que você fosse incapaz de amar igual...
-Ao meu pai?
-Sim.Você antes parecia tanto com ele.Mas agora,está tão diferente que ficou cego de ciumes e veio falar comigo.
-Como pode ter tanta certeza?
-Porque eu tenho certeza que irá sair daqui para encontra-lo.Porque seu pai não,mas você é assim.Não deixe algo bobo estragar a melhor coisa que já lhe aconteceu.Lute!
Beijei minha mãe e sai de correndo da clinca.De onibus chegaria em casa em dez minutos,mas decidi correr.Começou a chover enquanto eu corria.Mas eu me sentia bem.Pela primeira vez em muito tempo.Cheguei em casa e encontrei Breno na porta.
-Mauricio!Você tá ensopado!Eu ia sair pra te procurar!Me deixa explicar!Por favor!Eu to implorando!Por favor!
-Você teve qualquer tipo de contato com ele?
-Não!Eu não conseguiria!Eu amo você!Apenas você!
Joguei Breno contra a porta já arrando sua camisa.O beijei o mais forte que pude.
-Eu acredito em você Breno.
Deitei Breno no chão em frete ao sofá.Estava na hora de fazer as pazesVoltei...