Uma chance para Recomeçar
Fugir de todos... Era esse o meu destino dali em diante. Confesso que ainda não me acostumei a estudar nessa escola. Já era o meu ultimo ano lá e olha só pra mim... Um garoto amedrontado em uma escola somente para garotos e ainda por cima integral, 24 horas por dia, era como ser preso sem cometer nenhum crime.
Eu me chamo James, mais meus pais e meus familiares me chamam de Jay os professores me chamam pelo sobrenome Throi. Sou um garoto normal, olhos castanhos, pele morena clara, cabelo castanhos escuros e o meu físico? Ai é um assunto complicado, pois embora toda rotina de exercícios que o colégio me obriga a fazer diariamente eu não sou lá tão musculoso... Digamos que tenho um corpo legal.
Como disse eu estudo em um internato, estou fazendo o meu ultimo ano, “3° ano do ensino médio” e aqui ficamos divididos em quartos, com dois garotos em cada. Por falta de companheiro de quarto e a maioria dos alunos não irem com a minha cara, eu ficava sozinho no meu quarto, pra mim isso era bom, pois tinha bastante privacidade, quer dizer... Quando não havia um dos professores entrando no quarto sem bater, só pra checar se estava tudo em ordem. Você deve estar se perguntando o porquê de me vigiarem de hora em hora, o motivo não e lá tão agradável de dizer, muito menos de se lembrar, mais fazendo um esforço eu posso dizer o que aconteceu sem que isso me leve ao choro como acontece todas as vezes que lembro desse terrível acidente.
“Tudo começou quando eu tinha sete anos, havia um ano que eu estudava ali, e como toda criança normal eu adorava brincar, principalmente com Brian que na época era o meu companheiro de quarto. Nosso quarto ficava de frente para a escada, por isso era fácil fugir durante a noite para fazermos nossas travessuras. Certa vez, nos saímos do quarto para brincar na escada, eu ainda me lembro como se fosse hoje. Era uma noite fria, assim como a maioria das noites por aqui, estava eu e ele enrolados nos nossos cobertores, saindo de fininho do quarto como dois ratinhos entrando em uma despena para roubar queijo fresco. Nós não iríamos aprontar aquela noite, pois o frio era mais forte do que nossa teimosia. Iríamos-nos apenas nos sentar no topo da enorme escada que dava acesso a parte inferior da escola, que era onde ficava o salão de raras festas e as salas de aulas. Eu fui o primeiro a me sentar, logo em seguida Brian também se sentou. Nós ficamos conversamos sobre vários assuntos, sobre futebol, garotas e as matérias das aulas que mesmo nos estado na 1ª série, a meteria já era bastante puxada, segundo o diretor ele queria formar alunos e não burros. Ficamos cerca de 2 horas lá, ate que finalmente o sono nos atingiu, estamos como se estivéssemos bebido varias doses de pinga pura. Fui o primeiro a me levantar e como estava quase caindo de sono, acabei tropeçando no corrimão da escada, o que causou um enorme barulho. Brian se assustou, tentou levantar e como estava quase dormindo ele acabou tropeçando e o pior aconteceu, eu ali segurando no corrimão da escada, vendo meu melhor amigo rolar escada abaixo. Eu fiquei paralisado, não sabia o que fazer, ate que vejo uma luz se acender e logo em seguida o diretor apareceu do meu lado e me olhar com aquele olhar de culpa que ele me olhava todas as vezes que nos pegava fora da sala de aula em horário letivo. O diretor sem dizer nada, desceu as escadas rapidamente e foi até o meu amigo caído no fim da escada. Ao escutar ele chama-lo pelo seu nome, eu finalmente caio em mim e corri escada o baixo com medo de ter acontecido alguma coisa com o meu melhor amigo.
- O que aconteceu aqui? – Perguntava o diretor me olhando com uma cara de reprovação, e como eu não consegui responder ele perguntou novamente, agora com um tom mais auto. – O que aconteceu aqui?
- Nada senhor diretor... Nós só estávamos conversando ai ele caiu e tropeçou – Tentei ser o mais convincente possível já que ele acreditava em poucas coisas que eu dizia.
- O que vocês estavam fazendo fora do quarto? Existe uma regra bem clara sobre o toque de recolher que é lembrada todos os dias no juramento da bandeira – Gritava ele comigo, e nesse momento eu não resisti e comecei a chorar sentindo a culpa caindo sobre mim.
Enquanto minhas lagrimas rolavam sobre meu rosto, eu senti uma pequena mão limpá-las, impedindo que saíssem do meu rosto, eu vagarosamente abri meus olhos, e vi Brian Olhando fixamente pra mim, com os bem abertos e um sorriso torno no rosto, ele passava a mão sobre o meu rosto, e repetia sussurrando: “Eu vou ficar bem”. Ele vagarosamente foi afastando suas mãos de mim e fechando seus olhos e antes de fecha-los completamente ele sussurrou de novo, só que agora foi algo diferente. Algo como um “Adeus”. Ele finalmente fechou seus olhos por completo, o Diretor assustado com a cena colocou rápido sua mão sobre o peito de Brian que já não dava mais sinal de vida. Ele somente abaixou sua cabeça e deu um suspiro calmo que quase não pode ser ouvido.
-Vá para o seu quarto e durma, não conte a ninguém o que aconteceu, amanhã você vai para a sala escura – Dizia ele agora mais calmo, com a voz fraca e baixa.
- Mais senhor... o que aconteceu com ele? Eu tenho que saber – Disse eu sem muita animação, pois no fundo eu sabia o que havia acontecido.
- Vá logo para seu quarto, Eu não quero ter que expulsar você. Amanhã bem cedo conversamos – Disse ele no mesmo tom fraco de antes.
Eu apenas me levantei de onde estava ajoelhado e segui para meu quarto.
A noite foi bastante longa, eu revirei durante horas na cama, me sentia culpado pelo fato ali acontecido. Eu não estava com medo, estava triste, estava triste por perder meu primeiro amigo, o único que me fazia sorri e que me fez bastante falta.
Na Manhã seguinte eu ainda não havia dormido quando escutei o toque para que todos acordassem. Eu me levantei vagarosamente, fui até o banheiro do quarto, escovei meus dentes, penteei meu cabelo que estava bastante bagunçado e ao me concentrar no espelho de verdade, pude ver o reflexo do medo no meu rosto, era algo inconsolável, uma criança com a pior cara do mundo. Eu era novo demais para ter que passar por isso, mais eu tentei não me abalar. Fui de volta para o quarto, vesti meu uniforme e segui em direção à porta, Quando escuto uma movimentação estranha, vinda do lado de fora. Eu abri a porta, estavam todos indo em direção ao salão, eu sem pestanejar foi nessa direção também. Ao chegar no fim da enorme escada, eu me deparei com uma sena deprimente, os pais do um amigo ali, parados, chorando e perto de um pequeno caixão branco, a mãe de Brian ao me ver, soltou do seu marido e veio em minha direção. A principio eu achei que ela iria brigar comigo, que ela já sabia de tudo, mais não, ela me abraço fortemente, me pegando no colo e chorando ainda mais.
- Você me lembra tanto ele – Disse ela apertando ainda mais seu abraço – O diretor disse que você foi a ultima pessoa com quem ele falou.
Nesse momento eu achei que estava tudo perdido, ela já sabia de tudo, o que fez minhas lagrimas caírem ainda com mais intensidade.
- O que ele falou antes de sair para beber água? – Desse ela me surpreendendo, com certeza do diretor havia inventado essa história já que ele não queria que eu saísse na escola, pois meus pais eram pessoas muito importantes na cidade, me ter nesse colégio era marketing na certa.
- Que... estava... com... com... muita saudade da senhora – Foi a única coisa que eu consegui inventar assim de uma hora para outra.
- Coitado do meu filho... Ele tinha tanta vida pela frente – Disse ela me soltando no chão, e me guiando até o caixão.
Ele estava lá, com a mesma expressão que estava ontem quando o diretor me mandou subir para meu quarto.
O enterro ocorreu normalmente, muitos alunos ficaram visivelmente chocados, as aulas foram suspensas e quando o funeral finalmente acabou e o corpo foi levado para o cemitério da cidade eu resolvi voltar para meu quarto. Por volta das 15:00 o diretor apareceu no meu quarto, ele pediu que eu tomasse banho, e pegasse uma roupa de cama, já que eu passaria a semana na sala escura. Eu fiz isso, foi até bom, pois nesse meio tempo pensei em todos os assuntos pendentes na minha vida, eu com certeza sai de lá completamente mudado.
Depois que eu sai da sala, os boatos que corriam pelo colégio era de que eu que tinha empurrado Brian da escada, já que assim que acabou seu enterro eu fui trancafiado em tal lugar onde só em extremas situações levava alguém para lá. O Diretor tentou colocar outra pessoa como meu companheiro de quarto, mais todos se recusavam, provavelmente com medo de acabar com o mesmo fim trágico do pobre Brian. E por isso tento ignorar a todos hoje com 17 anos não sinto mais culpa, pois não fui eu quem o empurrou, sinto apenas saudade pois ele foi meu primeiro e único amigo.”
57, 58, 59, 00 – Pronto, Já começava um novo ano, já era meia noite, hoje era um dos raros dias de folga do colégio, então teria que aproveitar meu quarto o Maximo possível, já que amanhã as aulas já voltariam.
Lembrei que naquele dia durante a tarde a escola estaria muito movimentada, já que os alunos novos chegariam para se instalar em seus devidos quartos. Estava completamente confiante de que eles farão como todos os anos. Ignoraram meu quarto como se estivesse completamente lotado. Eu estava com a janela do meu quarto aberta, vendo os fogos coloridos que geralmente os professores soltavam para despertar os alunos para um novo ano, durou pouco, e só assim então eu consegui dormir.
7:30 - eu já estava acordado quando o sinal para acorda-nos tocou, era um dia de folga mais não quer dizer que podíamos dormir durante o dia todo. Como já estava pronto há algum tempo eu rapidamente desci para tomar o café da manhã, quando desci não havia ninguém no refeitório, apenas o diretor.
- Acordou cedo senhor Throi – Disse ele com seu tom de sarcasmo matinal, já que eu sempre era o primeiro a chegar lá todos os dias.
- Bom dia senhor Fowks – Eu disse no mesmo tom de sarcasmo que ele.
- Preparado para receber os novos alunos? – Disse ele com um sorriso torto no rosto.
- Tenho certeza que não vou precisar lhe dar com nenhum deles. – Eu disse com muita confiança no que falava.
- Acho que esse ano você vai ter uma surpresa – Disse ele rindo e se levantando, indo em direção à cozinha.
- Idiota... – Eu sussurrei baixo de jeito que ele também ouvisse.
- Eu escutei viu? – Disse ele de dentro da cozinha.
Ao contrario do que muitos estão pensando, o senhor Fowks não é chato, nem arrogante, pelo menos não quando estamos apenas nos dois conversando. Ele tem esse jeito durão só quando os outros alunos estão juntos, acho que é algo para defender sua imagem de diretor.
Aos poucos a enorme mesa do refeitório foi se enchendo, e como eu imaginava ninguém queria sentar perto de mim, os lugares vagos eram os que os garotos do 3° ano do ano anterior sentavam. Nem sempre era assim nosso café da manhã, geralmente eram varias mesas, e todos se sentavam de grupinhos, somente eu ficava sozinho, esse negocio de uma mesa só para todos os alunos eram somente em datas especiais, como natal, ano novo e aniversário. Mais os aniversários eram assim somente quando a pessoa permitia. Como esse era meu ultimo ano o diretor disse que me abrigaria a aceitar, mais nesse meio tempo eu tentaria prova-lo o contrario.
Em poucos minutos o refeitório se encheu, e os únicos lugares que sobraram fui os que estavam perto de mim. Antes dos cozinheiros virem colocar o café na mesa, o diretor quis dizer algumas coisas.
- Bom dia garotos! Bem como todos já perceberam esse é um novo ano... – Ao dizer isso todos deram uma risadinha de deboche, menos eu e claro. Ele olhou feio e começou a falar novamente – Diferente de todos os anos, esse ano os alunos novatos chegaram mais cedo, e em todos os quartos que estiver somente um aluno “morando” um novo aluno dividira com vocês.
Eu revirei os olhos, e ele percebendo resolveu provocar.
- Inclusive o quarto do senhor, senhor Throi. – Ele disse serio, mais no fundo ele estava com medo de como eu reagiria.
Eu dei de ombros e passei a observar o que os alunos faziam. A maioria cochichava, os que estavam mais pertos de mim ficavam me olhando com uma cara de medo e nojo. Não era difícil imaginar o que eles pensavam o que com certeza era “Coitado do novato”.
Assim que o diretor viu que eu não faria absolutamente nada, ele se recolheu de volta para a cozinha e logo em seguida os cozinheiros começaram a adentrar o refeitório com grandes vasilhas com Paes e outros tipos de comida.
Todos tomaram café, os cochichos sobre o novato que “momaria” comigo ainda continuavam, só que dessa vez com uma intensidade menor. Assim que todos acabaram, a sala foi se esvaziando ficando somente eu ali.
- Não vai para o seu quarto hoje? – Disse Pedro, uma das poucas pessoas que conversavam comigo naquele colégio.
- Que susto! – Eu disse me levantando da cadeira, mais depois que eu vi de quem se tratava me sentei de novo. – Quero terminar de tomar meu café, é meio difícil fazer isso com todos aqueles olhares para cima de mim.
- Você deveria tentar se aproximar deles. – Disse ele com cautela, já que eu não era uma pessoa fácil de lidar.
- E você acha que algum deles ia querer aproximação comigo? – Respondi dando de ombros e comendo um pedaço de pão.
Pedro negou com a cabeça e se afastou de mim, mais antes de sair pela porta da cozinha ele me encara e questiona.
- Quem sabe esse novo aluno possa mudar seu jeito de pensar. – Disse ele se virando e entrando pela porta, logo em seguida o diretor sai pelo mesmo lugar.
- Achei que já tinha ido pro seu quarto. – Disse ele puxando uma cadeira e se sentando do meu lado.
- Não tomei café quando eles estavam aqui, não consigo fazer isso co tantos olharem encima de mim. – Eu disse o encarando nos olhos.
- Achei que já tivesse aprendido a ignorar eles. – Comentou ele, desviando seu olhar ao ver minha expressão de sarcasmo. – Mais e ai, o que achou de ter alguém pra te fazer companhia depois de tanto tempo?
- Um saco – Eu disse sem expressão nenhuma no olhar.
- Bom... Vou indo receber os novos alunos, eles já devem ter chegado. – Disse ele tentando cortar o assunto.
- Já chegaram? – Perguntei
- Disse que eles chegariam mais cedo. – Respondeu ele já se levantando para sair do refeitório.
Eu não demorei nem mais um segundo para sair do refeitório e ir para o meu quarto, aproveitar os últimos minutos de privacidade. Ao passar pelo enorme saguão eu vi a quantidade de novos alunos que havia ali, a maioria era pequenos, na idade de 6 e 7 anos, provavelmente do pré-escolar. Em outra parte estavam os já grandes, provavelmente do ensino médio.
Ao passar pelo saguão, todos me encararam, o diretor chamava o nome da pessoa e falava a ala e o numero do quarto, eu entrei no meu quarto quando ele estava começando a falar o nome do pessoal do ensino fundamental 2 (Da 5ª a 8ª Serie). E logo em seguida seria a minha ala. Antes de qualquer coisa eu tinha que arrumar a outra cama, já que havia varias coisas minhas lá. Ao fazer isso e organizar tudo no meu lado do quarto, eu me sentei encostado na cabeceira da cama, queria me preparar emocionalmente agora já que teria que aturar algum menino que iria me encher o saco durante o resto do ano.
Ali deitado na cama, eu acabei pensando em tudo que havia me acontecido desde o dia da morte do Brian ate o dia de hoje. Eu não sabia se seria bom me aproximar de outra pessoa, eu tinha medo do que podia acontecer. Foi com esses pensamentos que eu acabei sendo surpreso por meu novo “Companheiro de quarto”