As feridas causadas durante a nossa vida demoraram a cicatrizar, algumas mais que outras, mas um dia elas saram. O que não podemos evitar é ser surpreendidos por uma faca que um dia já nos furou o peito. Meu irmão, Fernanda e Osvaldo estavam em casa colocando o plano em ação. Minha mãe passa por eles, pois, estão concentrados e não prestaram atenção na campainha tocando. E quando abre a porta, a única reação é gritar e dizer...
- Não acredito! – gritou minha mãe com um enorme sorriso no rosto.
- Então gente... eu chego lá e... e...
- Meninos... – falou minha mãe interrompendo o raciocínio de Fernanda.
- Adivinha quem está aqui? – perguntou dona Paula.
- Quem? – perguntaram todos em coro.
Os olhos de Phelip quase saltaram das orbitas. Era ninguém mais... ninguém menos do que Duarte. Ele estava diferente... o ar dos Estados Unidos mudou ele. Os cabelos negros deram lugar a loiros fios. Seu físico também estava diferente. Mas era o Duarte. Fernanda não se conteve e correu para abraçar o amigo. Osvaldo também o abraçou. Phelip se aproximou e esticou o braço.
- Que bom te ver. – disse meu irmão sorrindo.
- Menino... porque você não me ligou? – perguntou Fernanda.
- Queria fazer uma surpresa... eu... cheguei ontem... soube do acidente do Pedro...
- Sim... eu contei para sua mãe. – falou minha mãe. – Vamos entrem...
Duarte contou a todos sobre os estudos e a vida nos Estados Unidos. Phelip permaneceu distante por vários minutos. Ele realmente estava preocupado com seu namorado.
- Bem... gente... o papo está ótimo, mas... Fernanda... precisamos terminar aquele negócio... – ele disse se levantando.
- É... podemos fazer depois... então amigo? Me conta mais... estava com tanta saudades...
- Fernanda... Osvaldo... precisamos ir... tenho que... precisamos ir.... – repetiu meu irmão.
- Amigo... precisamos ir ali... e... – disse Fernanda parada olhando fixamente para Duarte.
- O que foi? – ele perguntou.
- Eu sou a maior gênia... vamos... – ela disse puxando Duarte.
Na clinica eu mostrei a novidade para Rogério. Ele me carregou no colo e por uns segundos ficou me olhando nos olhos.
- Roger... não... não podemos. – disse olhando para baixo.
- Tudo bem... um homem pode sonhar né? – ele falou sorrindo.
Depois de algumas horas de treino fiquei cansado e pedi para ir à piscina. Ele entrou comigo e ficamos tomando banho pro alguns minutos. Tereza apareceu e disse que precisava sair mais cedo. Ela fechou a porta e ficamos brincando na água. Por causa dos exercícios fiquei com o braço mais tonificado.
- Ei barco... quero ir até a outra ponta. – falei me segurando na costa de Rogério.
- Está mal acostumado. – ele disse nadando até o outro lado.
- Acho que já deu. – falei rindo.
- Deixa eu pegar uma toalha para você. – disse saindo da piscina.
Rogério foi até a bolsa e pegou uma toalha. Ao chegar perto da piscina ele caiu feio e ficou desacordado no chão.
- Rogério!!! – gritei. – Rogério levanta... não tem graça... Rogério!! Socorro!!! Socorro!!! – gritei até perder a voz, mas estava preso na piscina.
Longe dali, Ezequias era forçado a fazer vários trabalhos. Desde ajudar um pedreiro até varrer e limpar do o complexo da instituição. Ele conversou com outro colega que explicou mais um pouco do lugar.
- Aqui vem vários jovens homossexuais... igual a nós... e ficamos aqui até aprendermos a ser homens.
- Isso é loucura...
- Eu sei... – disse o jovem varrendo o chão.
- E o que acontece... como saimos daqui?
- Quando o diretor decidir... que estamos aptos... – disse o jovem olhando para o céu.
- E a quanto tempo você está aqui? – perguntou Ezequias.
- Dois anos... – respondeu o jovem sem olhar para Ezequias.
De volta a cidade, Duarte e Fernanda estavam irreconhecíveis. Eles bateram na porta da casa de Ezequais e quem atendeu foi Eleonora. Simpática a senhora os convidou para entrar.
- Boa tarde... – disse Fernanda atendendo pelo nome de Maria dos Anjos. – Somos missionários da Igreja Apostólica dos Anjos e Arcanjos. – Estamos distribuindo no bairro panfletos da nossa missão.
- Posso ver? – perguntou Eleonora.
- Na verdade a missão é voltada para os jovens... sabe... nesse mundo existe muita corrupção... drogas... prostituição... homossexualismo... – disse Duarte atendendo pelo nome de Miguel.
- Sim é verdade... – disse ela tentando não chorar.
- Você tem filhos? – perguntou Fernanda.
- Sim... um casal... mas o meu filho precisou fazer uma viagem.
- E presumo que a senhora tem uma filha? – perguntou Duarte sorrindo. – Podemos conversar com ela?
- Claro... vou chama-la... ela está no quarto estudando... – disse Eleonora subindo as escadas.
- Ou melhor presa... – disse Fernanda.
- Fernanda... quem é esse menino? – sussurrou Duarte.
- Ele é um amigo nosso... durante esse tempo que você ficou fora algumas coisas aconteceram... – disse Fernanda.
- Entendo... ei... lá vem a mulher...
Daniele estranhou e sentou na poltrona. Eleonora perguntou aos jovens se eles aceitavam alguma coisa.
- Eu aceito um chá de Camomila... – disse Fernanda.
- Hummm... – disse Duarte pensando em uma receita que demorasse alguns segundos. – Eu aceitaria um chá de Hortelã.
- Uau... tão jovens e com um gosto encantador para bebidas. – disse Eleonora indo em direção a cozinha.
- Daniele... – falou Fernanda.
- Como você sabe meu nome? – perguntou a jovem.
- Sou eu... Fernanda... amiga do Ezequias... precisamos saber para onde seu pai o levou.
- Eu não sei... o meu pai não disse, mas eu creio que há uma pista no quarto deles...
- E como podemos achar essa pista? – perguntou Duarte.
- Um de vocês vai ter que subir e procurar. Rápido... – pediu a jovem.
Fernanda não hesitou e correu para o segundo andar. Duarte e Daniele ficaram se olhando sem saber o que fazer. A jovem revirou em várias gavetas e nada de encontrar a tal pista.
- Vai... me ajuda.... – ela disse torcendo para encontrar.
Eleonora surgiu assustando Daniele e Duarte. Ela perguntou por Maria dos Anjos.
- Ela foi no banheiro mãe... está com problemas de meninas. – disse Daniele rindo.
- Então... Daniele... como eu falava... ehh... existe uma diferença muito grande entre pecar e funicar... – disse Duarte sabendo que estava fazendo papel de bobo.
Meu peito estava vermelho e com vários arranhões, eu não conseguia o impulso necessário para subir para a beira da piscina. Nadei até a escada e procurei novamente uma oportunidade.
- Rogério... acorda droga!! – gritava enquanto tentava subir.
Juntei todas as minhas forças e com um grito abafado de dor subi. Descansei por alguns segundo e me arrastei até ele.
- Ei... acorda... – disse até que percebi uma mancha de sangue vindo de baixo dele. – Droga... Socorro!!! – gritei enquanto me arrastava até a porta.
Como de costume não alcancei a maçaneta. Peguei um banco e coloquei próximo a porta e subi. Tive que fazer isso com as outras duas portas. Me arrastei por vários corredores até achar sinal de vida. Avisei o que havia acontecido e alguns enfermeiros seguiram para a piscina. Algumas pessoas me sentaram em uma cadeira. Estava sujo e preocupado com Rogério.
- Como eu ia dizendo... se um homem ama uma mulher... e a mulher sente a mesma coisa pelo homem... não se podem dizer que os dois estão afim... tipo... de um namoro celestial... – falou Duarte tentando ganhar tempo.
- E a sua amiga? Está demorando muito no banheir... vou ver se ela precisa de alguma coisa...
- Não precisa... estou bem. – disse Fernanda com um enorme sorriso no rosto.
- Que bom... – disse Duarte aliviado.
- Bem dona Eleonora... agora precisamos ir, mas que Deus fiquei e abençoe vocês...
- Esperem... vocês não vão fazer uma oração para abençoar o meu lar? – perguntou Daniele com um sorriso no rosto.
- Bem... é... é... Jesus amado... quero te pedir... abençoe todos que moram aqui. E mesmo que um dia um pecado venham cometer... ajude a encontrar o caminho do céu.... bem é isso... agora adeus e fiquem com o cara lá de cima. – disse Fernanda saindo em disparada.
Graças a Deus que o tombo de Rogério foi apenas um susto. Ele estava bem e nada aconteceu de errado. Depois que foi liberado ele me agradeceu e me deu um beijo no rosto.
- Obrigado você salvou a minha vida. – ele disse.
- Nada... graças a você... depois de tudo o que passamos... estou sentindo a minha perna novamente. – falei me emocionando.
- Que ótimo... vamos falar para os outros e...
- Não... eu quero que continue sendo uma surpresa... vamos intensificar os exercícios... vou treinar em casa também... eu é que te agradeço... – falei retribuindo o beijo.
Minha mãe estava deixando a Priscila maluca. Ela decidiu assumir as rédeas do casamento. Afinal era o primeiro casamento de Priscila... a filha única. Então deveria ser especial.
- Mãe... eu não quero nada chamativo...
- Não... seu casamento será espetacular... você é especial minha filha... você não me deu o prazer de fazer seus 15 anos... vamos fazer o casamento do meu jeito...
Em casa, os meninos subiram as escadas correndo. Phelip e Osvaldo esperavam no quarto.
- Pera aí? Esse que passou correndo foi o Duarte? – perguntou Priscila.
- Sim... ele vai passar uns dias aqui...
- Nossa que legal...
- E ai? Conseguiram alguma coisa? – perguntou Osvaldo.
- Melhor que isso... conseguimos o endereço e o horário de visita... – falou a menina sorrindo e sentando no computador.
- Então... esse tal de Ezequias é tipo... teu ficante? – perguntou Duarte para Phelip.
- Ele é mais do que isso... ele é o amor da minha vida.
- Que estranho... você dizia isso para mim antigamente... – disse ele baixando a cabeça.
- Muitas coisas mudaram... sofri muito, mas o Ezequias me trouxe de volta a vida. – falou Phelip se aproximando do computador. – E então?
- É o seguinte... ele está em uma clinica de reabilitação... nossa! – exclamou Fernanda. – Eles prometem “curar” o homem do homossexualismo.
- É a coisa mais ridícula que eu já ouvi... – disse Osvaldo.
- Precisamos ir lá. – disse Phelip.
- Você é louco? – perguntou Fernanda.
- Devemos muitas coisas para ele... não estou falando como namorado... estou dizendo como amigo... ele fez você Osvaldo se entender com o teu pai... ele sempre foi carinhoso com você Fernanda... finalmente encontramos a cola do nosso grupo e não podemos ficar de braços atados.
- Eu concordo com ele. – falou Duarte. – Esse menino precisa da nossa ajuda.
- E como faremos? – perguntou Fernanda.
- Precisamos conhecer o local... podemos dizer para os nossos pais que vamos levar o Duarte para passear ou algo do tipo... vamos partir hoje a noite.
- Pode ser essa semana quase não temos aulas... vamos sim... vou avisar a minha tia. – disse Osvaldo.
- E eu aos meus pais. – disse Fernanda.
- Bem... então vamos amor? – perguntou Osvaldo. – Precisamos organizar nossas coisas.
- Claro... Tchau gente... Duarte é bom ter você de volta. – disse Fernanda o abraçando antes de sair.
Duarte ficou observando algumas fotos de Phelip e pegou um porta retrato que estava perto de sua casa.
- É esse o meu substituto?
- Claro que não... você foi único na minha vida... mas as coisas mudam...
- Oi meninos. Atrapalho alguma coisa? – perguntou Priscila entrando.
- Claro que não. – falou Phelip. – A mãe está lá em baixo?
- Sim...
- Vou lá... pode ficar a vontade. – ele disse descendo.
Sim... Phelip estava totalmente fissurado em tirar Ezequais do Centro, mas não seria uma batalha fácil... ahhh não séria....