Fui para fora do casarão, ajeitando as minhas luvas de couro preparando-me para montar no cavalo.
-- Oh senhor, por favor os proteja e os salve... Oh senhor Louis deve estar tão assustado e indefeso! - ela disse de olhos arregalados.
-- Não Lorena... Se uma coisa que aprendi nesses últimos anos é que Louis nunca foi indefeso, medroso ou frágil. Ele é o homem mais corajoso que já vi, acredite, se duvidar é Oliver que tem que sentir medo dele... Mas agora é a minha vez de defender ele e os meus filhos. Não se preocupe... Os trarei de volta. - coloquei a mão no ombro dela.
-- O senhor é um cavalheiro... - ela sorriu.
-- Grazzie... Mas agora terei que ir. Fique aqui! - disse subindo no cavalo, vendo céu negro nublado, com ainda caindo alguns flocos de neve. O frio era gritante.
-- Pegue o corcel do monsieur Louis! Ele é mais rápido ainda signor... - ela disse. Pensei um pouco, e desci do meu indo até o cavalo dele. Depois de montar, respirei fundo e por fim dei partida a toda velocidade. Dado a posição geográfica e o clima, provavelmente estaria lá pelo o amanhecer... No caminho, comecei a pensar no que o infeliz do Oliver poderia fazer... Ele já tinha o fedelho com ele, mas sabia muito bem que ele não tinha nenhum interesse em relação as crianças. Mantê-los como refém até quando? Livrei esse pensamento da minha mente, me concentrando em chegar lá o mais rápido o possível.
Apesar do frio e da escuridão, e depois de algumas longas e angustiantes horas, cheguei no local quando deu os primeiros raios do dia. O castelo do tio Vespucci estava ainda de pé, mas de um aspecto abandonado... Nunca mais voltei quando eu o matei, e provavelmente mais ninguém. Observei cuidadosamente o chão e vi novamente a marca de roda neles. Saquei a espada com cuidado, girando o cabo entre a mão para mantê-la.
Entrei dentro do pátio, respirando o ar que ainda se mantinha frio... Tudo estava com uma aparência meio gélida, e azulada. E silencioso. Se uma coisa aprendi nesses últimos anos era que silêncio era um sinal de perigo mais alarmante que o barulho. A primeira coisa que queria saber era aonde Louis e as crianças estariam. Desci para as escadas que levavam até aos calabouços, revistando celas por celas, mas nada. Subi de novo, dessa vez vasculhando com cuidado alguns corredores e salas... Todas vazias e sem sinal de vida. Cada minuto que passava e aquele lugar me dava mais angústia. Subi a escada e por fim suspirei tenso.
-- Ele não está aqui. - soou uma voz feminina. Me virei, sentindo a incredulidade e a surpresa me dominarem.
-- A-Alice? O-o quê fazes aqui?! - disse incrédulo.
-- A quase a mesma coisa que Oliver... Lorenzo... Eu vim aqui para expurgar essa abominação que estais cometendo. - ela disse se aproximando. - E... Convencê-lo que sou a escolhida para ser a sua mulher. Como deve ser.
-- Alice... Eu não estou entendendo... - disse confuso.
-- Oliver havia me contado de toda a história... Eu não podia acreditar no que ouvi. Até que um dia em flagrei tu e o Louis... Se beijando. - ela disse em um rosto sério. - E é por isso que vim aqui. Vim te fazer voltar para o caminho certo.
-- Eu amo Louis. - disse firme, mas no fundo ainda chocado com o que ela disse.
-- Não, não, não... Um homem não pode amar outro. É ofensa grave com punição na fogueira pela Santíssima Igreja. - ela fez o sinal da cruz. - É abominável.
-- Alice... Entenda... Eu jamais poderia me casar contigo e ser feliz amando ele. Eu o amo mais do que tudo. E não vai ser tu, ou Oliver que irá me impedir. - falei.
-- Então eu terei que... - ela disse remexendo os bolsos do vestido.
-- Terá o quê Alice? - disse cheio de desconfiança.
-- Que dar isso para ele comer... - ela tirou do interior do vestido, uma maçã vermelha. - Cheia de veneno, recheada e perfurada com agulhas finas e navalhas que na primeira mordida o fará sangrar, com a deve ser feito com um sujo endemoniado.
-- Foi tu... Tu que me enviou aquela cesta de frutas... E para o Louis também. - disse sentindo o sangue circular mais rápido. - Tu quase me mataste envenenado!
-- Não! Eu só banhei as tuas em sonífero... Foi o Oliver que colocou... - ela disse alisando o meu rosto. Me afastei. - O Louis acha que eu também fui sequestrada... Nã sei se é inocência ou burrice... Mas afinal de contas o que tu viste nele que eu não possa te dar?
-- Nada que valha a pena ser discutido. - falei duro. - Saia da minha frente, por que eu não quero ser rude.
-- Enzo... Isso é... - ela disse vermelha.
-- AH JÁ CHEGA! SAIA DA MINHA FRENTE! - perdi a paciência. Ela se postou na minha frente.
-- Não vou permitir. - gritou.
-- Saia. Da. Minha. Frente! - me exaltei.
-- Ahh então ele sobreviveu... - disse Oliver sorrindo, subindo as escadas. Ele parecia mais... Não sei explicar bem ao certo. Era como se fosse outra pessoa... Não tinha o mesmo tom de voz amigável de antes, e sim em um tom que lembrava gelo seco rachando.
-- Onde. Estão. Eles? - falei devagar.
-- Eu não sei. - ele riu dando os ombros.
-- Fala aonde está eles seu... Ou se não eu juro por tudo o que é mais sagrado que eu arranco a seus olhos e faço tu engolir. - ameacei.
-- Uh que medo! - ele disse. - Relaxa grande Lorenzo. Eles estão ali - ele apontou o dedo para a janela que dava para a torreão.
-- Espere! Isto é para... Tu quer matar o meu Enzo?! - Alice falou assustado.
-- Sim sua tolinha! Pensavas o quê? Que eu iria gastar o meu tempo para tu teres uma historiazinha de amor? - ele riu sarcástico.
-- Então, para quê precisavas de mim? - ela perguntou.
-- Ah, para fazer para mim essas belezinhas aqui e... - ele chegou perto dela. - Tu pensas que sou imbecil ao ponto de deixar matar Louis com essa frutinha sua bruxa?
-- Eu vou matar aquele... - ela murmurou ríspida.
-- Não. Antes eu te mato primeiro. - Oliver levantou um punhal e acertou o peito de Alice, fazendo o corpo dela dar um solavanco para trás. Me ajoelhei ao lado do corpo dela enquanto Oliver limpava a lâmina. Tentei fazer o possível, mas ele tinha perfurado o coração... Alice morrera.
-- ALICE!!! SEU DESGRAÇADO O QUE FEZ?! – gritei possesso de ira.
-- Ela merecia. Garotinha insuportável. – ele falou com repugnância.
-- O que tu quer? - disse assustado, vendo o sangue vermelho escorrer pelo piso.
-- Um duelo. Se conseguires me derrotar, eu libertarei o príncipezinho e os diabos das crianças. Se eu ganhar... - ele disse.
-- E como termina? - disse.
-- Tu sabe muito bem... Só ganhará aquele que conseguir matar o adversário. Matar ou morrer! - ele riu, depois olhando para a esquina do corredor que dava acesso a outra parte do andar. - Louis meu amado, eu agradeceria se parasse de tentar fugir de novo. Está me cansando.
-- Vá para o diabo!!! - a voz do fedelho ecoou primeiro, para depois ele apareceu.
-- Louis! - disse exaltado, correndo até ele o abraçando. Dei um beijo na boca dele onde fui correspondido com gosto. Terminei o beijo olhando firme para ele vendo se estava algum ferimento ou arranhão. Ele estava intacto. - Tu está bem?
-- Sim, graças à Deus tu está aqui... - ele disse dando beijos na minha bochecha. - Onde está Alice?
Ele olhou para o lado até que viu o corpo de Alice no chão. Louis colocou a mão na boca em horror.
-- CHEGA!!! NO PÁTIO, AGORA!!! - Oliver gritou, empunhando a espada e andando de costas ao mesmo tempo. Virei o rosto de Louis e fixei os olhos dele nos meus.
-- Amor, olha... Eu não sei o que vai acontecer, mas... Caso alguma coisa dê errado, pegue Bella e Fabrizio e fuja daqui... - sussurrei. - Se esconda.
-- Tu vai ganhar... Eu sei que sim.
-- Me promete! Por favor - segurei a mão dele.
-- Eu... Eu prometo. - ele disse.
Tirei o escudo do ombro ajustando ele no meu antebraço. O metal dele era leve mas muito rígido, e na outra a espada Meo Immortalis Dielectus. Respirei fundo indo até o pátio de entrada, com Louis ao meu lado... Antes mesmo que pudesse dizer alguma coisa, Oliver avança para mim empunhando a lâmina, mas fui mais rápido e me defendi brandindo o escudo e usando o impulso do impacto para empurra-lo e ataca-lo. Oliver apesar de não ter algo que servisse para a defesa, se defendia com a espada.
Em um dado momento a lâmina cortou um lado da bochecha dele, fazendo-o ficar ainda mais furioso. Ele avançou mais uma vez, e tentei desviar mas acabou por cortar de leve a minha perna... A medida que a luta avançava, o barulho das lâminas aumentava ainda mais. No geral eu era bom em defesa e ataque, tanto que Oliver estava com mais cortes que eu, espalhando alguns filetes e pingos de sangue na neve. Mas Oliver não era fraco. Ele tinha reflexo, e isso era notável dado a rapidez que ele se recuperava de cada ataque que eu dava.
Ninguém perdia e ninguém ganhava. Só restava esperar quem iria se entregar... Quem resistir ganha, quem se cansar primeiro morre... Em um dado momento ele me empurra e nós dois ficamos nos debatendo no chão, com ele tentando perfurar o meu rosto com a espada e eu querendo acertar a garganta dele. Ele tentou ficar por cima de mim, mas empurrei ele com as pernas jogando-o para longe... Peguei a espada antes que ele pudesse levantar, cravei a capa dele prendendo-o no chão. Mas antes que pudesse empunhar uma adaga para atirar no pescoço dele, foi o tempo o suficiente para ele chutar a dobra do meu joelho me jogando no chão. Depois ele pega a minha espada e a dele empunhando-as juntas e se empunha no meu peito... Oliver tinha ganhado.
-- PARE!!! - disse Louis, andando até nós. - Oliver... Tu tens razão...
-- Mesmo?! - ele respondeu sorrindo.
-- Sim... Eu não posso mais ficar com um perdedor feito Lorenzo. Preciso de alguém esperto, e sagaz... Alguém como tu. - Louis segurou os braços de Oliver afastando ele aos poucos, e depois colocando as mãos do outro na cintura dele. Aquilo me chocou.
-- Lo-Louis tu não po-pode... - disse ficando de joelhos, com as minhas mãos estremecendo.
-- Cala-te Lorenzo. Pensas o quê? Que posso viver feliz ao lado de um verme como tu? - ele disse cheio de rancor. Oliver sorriu admirado. - Sinceramente, nesse tempo que passou, só serviu para me ver o grande parvo que és. Eu mereço alguém como... Alguém como Oliver ao meu lado. E honestamente, quero que tu vá para o diabo!
-- Não pode estar falando sério! - disse entrando no jogo dele.
-- Sim. Estou. - ele me olhou com frieza.
-- Já que é assim, eu vou terminar isso... - o outro disse caminhando com a espada.
-- Espere! Me beije antes... Assim antes dele morrer verá que somos feitos um para o outro. - Louis disse com as mãos pousadas no ombro dele.
-- Bambino maldoso... Gosto desse jeito! - ele disse.
-- Tu nem imagina o quanto. - Louis disse.
Oliver curvou o corpo do fedelho e o beijou... Na minha garganta havia um nó, vendo o meu bambino beijando aquele infeliz... Enquanto isso, Louis subiu devagar o saiote da roupa dele, exibindo as pernas grossinhas e os meiões, e pegando devagarinho uma adaga. Oliver ainda de olhos fechados, não percebia nada. De repente tive uma vertigem, vendo ele levantar aos poucos a adaga fazendo a lâmina afiada cintilar na luz. E cravou fundo nas costas de Oliver que soltou um berros.
-- SEU DESGRAÇADO! - e tossiu, expelindo filetes de sangue pela boca. Louis pegou a espada empunhando-a com graciosidade.
-- Se pensas, por um momento, que iria deixar ele para ficar contigo estás muito enganado monsieur. E só um aviso... Nunca se meta no meu caminho e ninguém daqueles que eu amo. - ele disse apontando para o pescoço. – Essa lâmina foi banhada no veneno que fabricas... Se não morrer por ele, morrerá pelo ferimento dado que acertei em veias cruciais para o batimento cardíaco. Vá para o quinto dos infernos em paz, Oliver.
Ele se arrastou na neve, deixando para trás uma trilha de sangue. Levantei devagarinho, mancando até a direção do fedelho. Ele me abraçou chorando, escondendo o rosto dele no meu ombro. Abracei ele com força, beijando o pescoço dele, agradecendo no fundo do meu peito por tudo ter dado certo.
-- Me perdoe, eu sinto tanto... Eu não... Eu não queria... Eu não... - ele disse soluçando. - Eu ma-matei.
-- Shiii... Ei calma... Acabou de salvar todos nós. - beijei a testa dele.
-- Eu não queria beijar ele... Eu senti tanto nojo... - ele disse escondendo com as mãos o rosto, sentamos em um banco de costas para o corpo - E eu ainda o matei... Céus, eu matei uma pessoa... E o pior é que nem sinto remorso... Foi bom! O que eu estou dizendo?! Mas foi... Bom?!
-- Está em estado de choque... Vem cá, senta aqui. - disse colocando ele no colo como um bebê. - É assustador fazer isso, mas preciso que fique com calma.
-- Se é para tu me tratar desse jeito... Então vou matar uma pessoa por dia. - ele riu nervoso.
-- Pare de dizer besteira. - ri um pouco.
-- Eu não digo besteira. - ele retorquiu.
-- Diz sim.
-- Digo não. - rebateu.
-- Diz sim. - respondi de novo para irritá-lo.
Ficamos os dois, nos abraçando e nos beijando por um tempinho. Mais tarde peguei os corpos dos dois, e colocando o punhal ao lado de ambos... Assim parecia um suicídio amoroso, quem sabe dois jovens terrivelmente apaixonados, que encontraram na morte a liberdade... Forjei com cuidado um poema de amor, falsifiquei a assinatura dos dois: "Oliver Rommeu et Alice Giulietta", como se fosse uma autenticação da teoria, senti pena do Signore Rafael pois era tão bondoso. Mas com o tempo, todos se esqueceriam dessa "trágica história de amor". Depois, eu e o fedelho saímos na carruagem em direção a nossa casa... Tudo estava bem, eu acho... Quem sabe?
ESTÃO PREPARADOS PARA O GRAND FINALE???
CONTINUA.
ps: Dedico a três pessoas: Docinho-21, !¡!R*¡*Q*U*€!¡! e DW-SEX. Até logo.