Olá gente, só queria informar a vocês que essa é a penúltima parte do conto. Eu tinha feito um rascunho para mais cinco partes. Só que eu realmente me irritei por ver pessoas fazendo pouco das histórias (ou estórias né? rs) das outras pessoas. Que coisa triste essa. Deprimente. Tão deprimente que quase me deixou doente. Eu sei que não deveria ligar para isso, mas, eu me magoo facilmente rs. Então joguei fora os rascunhos e mudei o final. Decidi que agora só irei acompanhar os contos, e fazer um comentário com certeza incentivador. Um beijo, e adeus.
Parte 12 - Sonhos
Eu estava pensando em não sair mais. Queria ficar com minha mãe, mas ela disse que eu tinha que me divertir. Depois de muita insistência, eu concordei. Talvez ela precisasse ficar um tempo sozinha para refletir sobre tudo isso. Dei um último beijo na sua bochecha, e um sorriso sem graça surgiu no canto da sua boca.
— Volto o mais cedo possível, não se preocupe. – disse abrindo o portão.
Eu ia para casa da Clara, que me obrigou a isso. Eram seis horas, quando cheguei a sua casa. Ela logo me arrastou para o seu quarto, sem nem me apresentar seus pais. Eu apenas acenei com mão para eles. Clara era bastante parecida com sua mãe. Cabelos negros cacheados, e olhos castanhos. O Seu pai tinha cabelo escuro, mas os olhos tinham um tom mais claro do que o dela.
O quarto dela me lembrava o quarto de uma amiga minha de Salvador. Era um pouco maior do que o meu, tinha um pintura com um bege claro bem reconfortante. Sua cama era de casal e ficava perto de um guarda-roupa enorme preto com detalhes de madeira e uma porta com espelho. Ajudei Clara com as roupas, e quando terminamos, já eram sete e quarenta. A casa do Pedro era um pouco distante.
— E o Henrique? – perguntou ela balançando o seu vestido branco, que ia até a metade de suas coxas.
— O que tem ele? – indaguei como se ele não importasse.
— Como vocês estão?
— Eu não o vi faz dois dias. – respondi dando de ombros.
Ela ficou com uma careta de reprovação que eu tive de rir. Ela começou a dizer que era melhor eu correr atrás dele, porque ele era muito mulherengo e tal.
Depois disso, não me surpreendeu vê-lo beijando a boca da Carol no meio da sala do Pedro. Excelente. Para um primeiro namorado, um corno depois de alguns dias de namoro, não era essencialmente uma surpresa. Não se seu namorado fosse Henrique. Ele com certeza veio com o Bruno, e não hesitou em trazer sua namorada, ficante seja lá o diabo de que for.
Suspirei de dor, e meus olhos ardiam de puro ódio. Mas não deixei que nenhuma lágrima sequer aparecesse agora. Senti as mãos da Clara na minha cintura, me puxando. Colocou-me sentando em uma cadeira bem confortável na varanda, e admirei o belo jardim do Pedro, que até a noite era lindo. Seus dedos passeavam pelos meus cabelos.
— Hugo... – começou ela. Só que eu não escutava mais nada. Foquei meu olhar apenas em uma borboleta amarela que balançava no ar majestosamente até pousar em uma folha verde molhada pelo fresco chuvisco, que agora me caiu muito bem.
Levantei e andei lentamente até a borboleta com cuidado para não assustá-la. O chuvisco não a intimidava, e observava com curiosidade. Suas asinhas balançavam deliberadamente, e depois se sobressaltou com a chuva forte que eu não sentia. As lágrimas agora se misturavam com a água da chuva e cai de joelhos no chão. Olhei para a luz branca e forte que iluminava o jardim da noite, e escondi meu rosto com as mãos, segurando um soluço. Clara já me puxava de volta para a varanda.
Forcei algumas risadas enquanto Gustavo contava como foi a sua primeira vez com uma menina do colégio. Ainda bem que a namorada dele não estava. Estava todo mundo na sala, e tentei não olhar muito para Henrique e Carol. Como ele não tinha vergonha? A cada toque que ele dava nela, meu corpo tremia de fúria. Sara e Bruno foram para casa onze horas, Clara disse que ia comigo. Portanto apenas sobraram, eu, Pedro, Clara, Gustavo, Henrique e Carol. Como eles não eram tão amigos, decidiram sair também. Mas antes disso eu queria falar com Henrique. Antes que ele saísse pelo portão, o puxei pelo braço, e o levei para longe daquela... garota.
— Então é assim? Você some dois dias e depois me aparece aos beijos com aquela ordinária? – perguntei baixo e com um tom nervoso.
— Olha como você fala dela!
Eu não acredito nisso. Afastei-me dele e ri de puro nervosismo.
— Deveria ao menos ter me avisado que tinha me trocado por uma puta qualquer. – virei, no entanto ele segurou meu braço. Tentei me soltar da sua mão, o que o fez ficar ainda mais violento e me jogar contra a parede.
— Você acha mesmo que ia ficar eternamente com você, idiota? – perguntou maldosamente. — Esses dois dias em que sumi, pensei em como não podia me deixar levar por um sentimento ridículo que sentia por você. – isso sim era uma surpresa.
— Sentimento ridículo? – perguntei com a voz fraca.
Ele não respondeu.
— Você disse que me amava! – quase gritei. — Isso é ridículo para você?
— Pior do que você imagina.
Eu estava desesperado por dentro. Não queria perdê-lo. E ele acabou de dizer com todas as letras que não me amava. O abracei com todas as minhas forças e agarrei suas costas.
— Não faz isso comigo... por favor – implorei tentando beijar seu pescoço. Porém ele me separa do seu corpo serenamente e diz:
— Eu já fiz.
Meus olhos piscavam em descrença. Eu sentia agonia. Eu sentia fraqueza. Ele sumiu pelo o portão. E minha vontade de viver também.
***
Olhei a platéia calada, enquanto eu andava em direção ao piano de cauda preto e reluzente bem no meio do palco. Vestia uma camisa lisa branca, com mangas longas que se dobravam e apertavam em meu pulso com um simples botão transparente. Usava também um short jeans verde escuro que escondia apenas três quartos da minha coxa. Estava descalço e meu cabelo estava cacheado e tapando meu olho esquerdo.
Sentei no banquinho acolchoado e suspirei. Coloquei meus dedos sobre o teclado e meu pé sobre o pedal gelado. E comecei a tocar Sonata ao Luar 3º Movimento do meu queridíssimo Ludwig van Beethoven ( http://www.youtube.com/watch?v=zucBfXpCA6s ). Essa música representava o que sentia agora. Agora eu lembrei, a música da Henrique tocou para mim também era uma Sonata, mas não tinha certeza qual era.
Eu ficava arrepiado toda vez em que a musica era tocada em fortíssimo. O som da musica ecoava pelo salão harmônico. A Cada nota, meu coração parecia que queimava. Era como se os martelos do piano estivessem pegando fogo e acertasse meu peito, ao invés das cordas. Eu me senti sádico por um momento. E na metade da música eu já tinha me soltado, e arrisquei tocar sem olhar. Joguei a cabeça para trás, e depois agitava a cabeça no ritmo da música.
Quando cheguei a um momento em que a música parava por um momento (em 5:30 aproximadamente) cai no assoalho do palco. Doía tudo. Afastei-me do piano com medo, e depois não conseguia me mexer. Gritei por ajuda, mas nada acontecia. Olhei para as pessoas sentadas e olhando fixamente para o piano. E assombrosamente, o piano voltou a tocar de onde tinha parado. Explorei minha força, e consegui virar. Minha vó, Anabeth, tocava perfeitamente. Ela estava feliz, como sempre era. Mas ela não tocava piano. Eu tentei ensiná-la, quando morava com ela em Salvador. Ela que foi minha mãe para todos os efeitos quando eu era pequeno. Meus pais não tinham tempo para cuidar de mim, e minha vó não hesitou em me aceitar em sua casa até os meus 14 anos.
Quando a música acabou, uma salva de palmas forte encheu o salão. E eu deixei um sorriso de orgulho escapar. Ela virou para mim, e sorriu. Seus cabelos brancos curtos pareciam menores e mais charmosos. Seus cansados olhos verdes pouco brilhavam, e suas rugas em seu rosto de pele frágil, era visível dessa distância.
Quando as palmas cessaram, ficou tudo em silêncio total. Então o piano explodiu, me jogando para longe de vovó.
Gritei. Berrei. Mas nada saia da minha boca.
— Hugo... – era a voz da minha mãe. — Hugo, acorda...
Tombei meu corpo para frente, e coloquei a mão no peito. Meu coração parecia uma metralhadora. Os braços da minha mãe me rodearam numa tentativa de me acalmar. Era só um sonho. Só um sonho. Enquanto minha mãe foi pegar um copo d’água para mim, fui lavar meu rosto e tentar parar de tremer. Não contei a ela sobre o sonho.
Caí embaixo do chuveiro tentando clarear as coisas, que nunca clareavam. Eu estava só agora. Minha mãe se trancava no quarto o quanto podia. Eu não tinha Henrique. Nem pai e nem mãe. E minha vó estava muito longe agora.
Apenas eu.
Aos poucos, parei de ir ao colégio, alegando uma enxaqueca, ou qualquer outra coisa. Isso era uma coisa que pouco me importava agora. Eu estava praticamente passado.
Abri o guarda-roupa roupa branco, que se antes já era bagunçado, eu já não tinha adjetivos nem comparações para expressar o que era agora. Vi alguns livros misturados com roupas e papeis e parei quando achei o casaco do Henrique. Agarrei o tecido como se fosse minha vida, e cheirei profundamente. Parecia que ele estava aqui. Era outro sonho meu? A saudade escorreu pelos meus olhos e cai sem forças no chão do meu quarto. Gritando por ele, e por minha vida.
Depois que acordei. Me senti pior. Queria dormir para sempre. Fugir desse mundo cruel e egoísta. Só que essa não era uma escolha fácil. Isso parecia um impasse. Sorri com essa idéia. Como a vida era generosa...
Andei lentamente até o banheiro e vi minha magra imagem no espelho. Dava até para contar minhas costelas. Devia ter emagrecido uns cinco quilos nesses últimos dias. Claro que sim, eu não comia quase nada agora. Apenas água. Abaixei para o pequeno armário embaixo da pia e peguei uma tesoura grande e toda de prata e um pente. Comecei a cortar meu cabelo e cantarolar o refrão da música Lost in My Bedroom. Meu cabelo negro caia na pia, e fazia contraste com a pia branca.
— Lost in my bed, and I’m lost in my head, and I’m lost in bedroom again... It’s just what a imagined...
Cortava sem piedade. Não ficou o melhor de todos os cortes. Mas estava melhor. Sem cabelo nos meus olhos finalmente. Comecei a dançar no banheiro e cantar a música mais alta, tocando um piano imaginário no ar. Eu com certeza não estava bem. Parei, porque tinha ficado tonto. Coloquei as mãos sobre a pia e vi a tesoura brilhando, como se me chamasse. A peguei e tirei os restos de cabelos que ainda estavam lá. A abri, fazendo 90º. E a imaginei aquela coisa afiada cortando meus pulsos.
“Dormir para sempre”
Balancei a cabeça negativamente e joguei aquela droga no espelho, o fazendo estraçalhar em milhares de pedaços. Fiquei desesperado, comecei a tremer e tentar juntar os cacos no chão. Que idiotice. Não demorou muito para que minhas mãos começassem a sangrar. Chamei pela minha mãe baixinho, e depois gritei.
Ela apareceu com uma cara preocupada. Tirou-me do chão e me pôs na cama. Foi rapidamente no banheiro, molhou uma gaze e limpou minha mão.
— Desculpa, mãe.. eu... – tentei dizer, mas ela colocou o dedo na minha boca, e sua mão passou pela minha cabeça, alisando os cabelos agora curtos.
— Shhhhhhh – sussurrou enquanto me abraçava. Abracei-a de volta e fechei os olhos.
Senti uma agulha no meu braço, e uma última lágrima correu meu rosto pálido. Minha visão ficou embaçada, então novamente fechei os olhos. Não sentia mais nada.