Olá, meus leitores. Este é o meu novo conto. Ele será bem diferente da saga Garotos como Eu, também será muito maior. Os primeiros capítulos contara a infância do protagonista, é preciso isso para que o resto da história faça sentido, então peço que tenham paciência e continuem acompanhando a história. Votem e comentem o que acharam, a opinião de vocês é muito importante para mim. Um abraço, agora aproveitem o conto.
Prologo:
Como Tudo Começou
26 de Dezembro de 2004
Eu adorava os domingos que o vovô vinha nos visitar. Era sempre uma festa em minha casa, minha mãe preparava um belo almoço, meu pai ajudava-a limpando a casa e eu só ficava sentado esperando ansiosamente a chegada do meu avô. Ele morava na cidade de São Paulo, sozinho, pois minha vô faleceu há três anos atrás.
Eu gostava principalmente, por que o vovô Cid (apelido de Alcides) era meu melhor amigo. Eu gostava de estar com ele, sempre muito atencioso e carinhoso comigo. Eu amava muito o vovô e não sei como poderia viver sem ele.
Um carro buzina na frente da casa, era o vovô. Sai correndo para recebe-lo. Cruzei o jardim rapidamente, estando em poucos segundos na porta do carro dele.
- Vovô!
Ele sai de dentro do carro e me abraça.
- Olá, Dan. Que saudades que eu estava de você – disse ele me abraçando fortemente.
- Nossa, vovô tenho tanta coisa pra te contar...
- Tudo bem, Dan. A gente já conversa, mas, antes abra o porta luvas e olha o que eu trouxe pra você – interrompeu ele me indicando aonde ficava o porta luvas do carro.
Exasperado abri o porta luva e atônito agarrei um embrulho azul de tamanho médio.
- O que é vovô? – perguntei sorrindo.
- Abra – disse ele brandamente.
Obedeci a ordem, e meus olhos brilharam intensamente ao descobrir o que havia naquele embrulho azul: um carrinho de madeira talhado pelo meu próprio avô.
- Muito obrigado, vovô – disse beijando o seu rosto.
- Por nada. Agora vamos entrando, preciso falar com seus pais e depois podemos brincar.
- Tudo bem – pulei do colo dele e sai correndo para mostrar o meu presente aos meus pais.
[...]
O almoço ocorreu bem como sempre. Todos aparentavam estar muito felizes e meus pais também gostavam da presença do meu avô.
Após todo mundo terminar de comer o frango ao molho pardo com macarrão. Minha mãe serviu a sobremesa: petit gateau. Meu doce favorito. Estava tudo indo muito bem quando meu vô gentilmente pediu para que eu deixasse eles sozinhos na cozinha.
Antes de sair cômodo não pude deixar de perceber que o semblante sempre tão alegre de meu avô havia ficado sério e triste. Sai da sala e fui assistir um pouco de TV. A imagem triste de meu avô não saia da minha cabeça. Eu não sabia o que eles iriam conversar, mas julgando que eu precisei sair do recinto para eles poderem conversar em paz, presumi que não era algo bom. Fui até a porta da cozinha e me escondi de maneira que eles não conseguissem me ver e eu conseguisse escutar a conversa:
- Pai, como assim? O que aconteceu? – indagava meu pai desesperado, seu tom de voz expressava aflição.
- Eu fui ao médico esses dias e eles me disseram isso. Simples assim – respondeu vovô Cid. Ele aparentava tristeza, mas estava calmo. Não parava de passar a mão em seus cabelos grisalhos cinza chumbo, seu ar aparentava cansaço.
- Eu ainda não acredito – disse minha mãe levando a mão a boca.
Eu não conseguia entender o que era, mas pelo visto era algo muito grave. Fiquei mais aflito do que já estava.
- E tem algo que a gente possa fazer para te ajudar – perguntou meu pai.
- Não, o médico disse. Não tem cura, a única coisa que posso fazer é sentar e esperar... – respirou profundamente – a minha morte.
“Que? Meu avô iria morrer. Eu não acredito, a pessoa mais especial para mim nesse mundo iria morrer. Porque? “– pensei desesperado. Comecei a chorar baixinho atrás da porta.
- Pai... – correu meu pai chorando para abraçar Alcides. Minha mãe também se levantou e abraçou os dois. Não chorava mas estava pesarosa e triste.
- Não sei como irei contar isso ao Dan e também não sei se ele entenderia. Eu poderia sair daqui agora e morrer, ou poderia viver anos e anos e morrer por qualquer outra motivo. Não aguentaria não poder me despedir do meu menino.
Ao escutar aquilo meu coração pesou, e sem querer esbarrei na porta. Sai correndo para meu quarto, mas consegui escutar passos rápidos e desajeitados “limpando a cena do crime”. Sentei me na minha cama, limpando as lágrimas do rosto e folheava um livro quando meu vô entra pelo meu quarto e se senta na minha cama.
- Que foi campeão? Você parece um pouco triste – indagou ele. Era visível que ele havia chorado a pouco.
- Não é nada não, vovô – menti.
- Sabe... A vida é uma caixinha de surpresas, né? – pôs se a filosofar.
- Por que? – perguntei surpreso.
- Pense, ao mesmo tempo que há tantas coisas belas também há tantas coisas ruins. Ela dá a vida e também pode tira-la. Tantas surpresas, tantos paradoxos.
Escondi o rosto para não deixa-lo ver que uma lágrima escorria do meu rosto.
[...]
- Vovô? – batia a porta.
- Dan?! O que você faz aqui? – perguntou meu vô surpreso e aliviado.
- Eu vim morar com você – afirmei.
- Dan, entre e vamos conversar. Irei ligar para os seus pais.
Entrei na casa, estava escuro lá fora e eu estava estremecendo um pouco. Limpei os pés no tapete e entrei na sala de estar.
- Venha aqui meu filho – falou meu vô me abraçando – Você está louco? Como conseguiu chegar até aqui?
- Simples, eu peguei minhas coisas e fugi de casa. Peguei o mesmo ônibus que meus pais pegam para vir te visitar e estou aqui – disse com clareza.
Meu avô deu uma risada gostosa e me fitava com ares de “que garoto esperto”.
- Vou ligar ao seu pai, ele deve estar muito preocupado...
- Não! – gritei interrompendo ele – Antes precisamos conversar... – sentei me no sofá e fitei os olhos pretos de meu avô – Eu sei de tudo.
- O que? – perguntou vovô.
- Eu escutei sua conversa com os meus pais hoje na hora do almoço. Eu já sei que você vai morrer. Agora me conte o que você tem...
- E-Eu..E-E-Eu não sei o que dizer... Dan! – tentou dizer ele tremendo e chorando – Venha aqui irei contar tudo, mas me prometa que não vá chorar.
- Tentarei – prometi.
- Bom, o vovô tem um aneurisma cerebral – fez uma pausa e respirou profundamente.
- O que é um aneurisma?
- Imagina uma bola de sangue na sua cabeça – disse ele afagando meus cabelos – Ela pode explodir a qualquer momento. Se ela estourar, eu morro. Mas não tem momento, ela pode estourar daqui há uma semana como também pode estourar daqui a anos.
Eu segurava o choro, mas estava difícil.
- E é isso. Descobri recentemente, mas ele já está bem avançado.
- Vovô, eu também tenho algo a te contar...
- E o que é?
- Daqui pra frente eu vou morar com você.
- Tudo bem – concordou Alcides – Mas e seus pais?
-Eles podem se cuidar. Eu largarei tudo que eu tenho pra ficar contigo. Você pode morrer a qualquer momento e eu quero estar contigo até o fim.
[...]
Os pais de Dan permitiram que ele morasse com o avô até o fim das férias. Eles juravam que o menino iria ligar querendo voltar pra casa bem antes disso, o que não aconteceu.