como de costume, aqui vai a continuação para os leitores assíduos...
Dia 24 de Dezembro, também conhecido como véspera de natal. A família inteira mobilizada em todos os preparativos da festa. Quando acordei, Enzo estava voltando de um banho já.
- Bom dia dorminhoco. Dormiu bem ?
- Não muito, mas o tempo acordado valeu a pena.
Enzo veio e me cumprimentou com um selinho. Em seguida, vestiu sua roupa, pois estava enrolado na toalha apenas.
- Aonde você vai piá ?
- Estou indo na cidade vizinha comprar alguns utensílios que estão faltando para festa.
- Ah sim... Vocês vão demorar ?
- Provavelmente agente só chegue lá para as seis horas da tarde.
- Nossa, vocês vão agora ? Ainda é oito horas!
- Pois é. São muitas coisas pra fazer...
- Eu posso ir ?
Enzo veio e se sentou ao meu lado, me beijou e ficou sorrindo para mim.
- Então polaco, agente vai buscar uns amigos também e o carro já vai vir lotado. Eu até queria te levar, mas me esqueci deste detalhe, tá bom polaco ? Gostei, vou te chamar de polaco...
- Sem problemas, a propósito, você tem um péssimo gosto para apelidos hein primo - rimos.
Enzo então se despediu de mim, e quando chegou a porta movimentou seus lábios para que eu adivinhasse o que ele dizia. Fiz a leitura que nada mais era que "tchau meu amor, te amo". Fiquei um bom tempo ali deitado sentindo o cheiro dele que ainda estava no travesseiro, até que de fato me levantei. Fui direto para um banho, e depois de me trocar, ouvi meu celular tocando. Era Flávio, então resolvi não atender. Fui para a sala e ela estava vazia. Na cozinha minha vó sozinha estava tomando conta dos fornos, os outros cômodos da casa estavam sem nenhum sinal de vida. Desci para o quintal então, e a parte da frente da casa, varanda e Jardim estavam completamente desertos. Fui até os fundos descalço pela grama, e fui atacado por aquele bando de pirralhos com pistolas de água. Todos estavam na piscina se refrescando do calor que castigava naquele dia. Fiquei sentando em um banco feito com troncos de árvores observando todos ali. Fiquei pensando em Enzo o tempo todo quando meu tio Olavo pergunta:
- Elza, onde está o Lorenzo ?
- Ele foi buscar a namorada dele para passar o natal conosco este ano.
Eu senti algo estranho quando minha tia disse aquilo, não era ciúmes, dor, raiva, ou qualquer outra coisa, apenas me senti muito estranho. Subi imediatamente para a casa, entrei no quarto de Enzo e comecei a rever seu álbum de fotos. Eu sabia que em alguma daquelas fotos, havia uma garota com quem ele estava beijando. Olhei a foto, seu verso e nenhum nome, ou prova de que ela era namorada, ou melhor, ex-namorada de Enzo. Então realmente comecei a ficar muito enciumado. Enzo não queria que eu fosse, demoraria, foi super perfumado e bem vestido e ainda me disse que traria amigos. Fiquei com muita raiva de Enzo, quando minha vó apareceu na porta do quarto:
- O que foi meu filho ? Aconteceu alguma coisa ?
- Não vó, não é nada não. Só estou meio chateado com algumas coisas, nada de mais.
- Sei meu filho, e este chateamento costuma aparecer sempre que seu primo não está ?
- Credo vó. Só porque ele não está aqui não significa que seja por ele.
- Gabriel, eu também sou mãe. Eu sinto as coisas. E eu também sei que essas coisas são normais.
Fiquei em silêncio então.
- Não liga para o que sua tia Elza diz, eu conheço muito bem minha filha e sei que ela não gosta nenhum um pouco de ver vocês dois juntos.
- Mas vó...
- Se você quiser conversar, pode vir falar comigo. E nada de mais vó não, vem comer um um pouco de doce que eu acabei de fazer. Você está muito magrinho.
Coisa de vó mesmo, mas era bom ter alguém pra conversar. Comendo aquele doce de abóbora muito gostoso, contei tudo o que nós aprontamos, claro que sem todos os detalhes. Passamos um bom tempo ali conversando, até que ela pediu para que eu terminasse depois, pois iria terminar de cozinhar os pratos da ceia. Me vi então sozinho naquela casa, Enzo estava longe, não tinha ninguém para conversar, e ainda era meio dia. Peguei então meu celular, minha câmera, e fui fotografar a família na piscina, o Jardim depois fui aos trilhos fotografar a Ponte enferrujada. Quando estava no caminho, Flávio me ligou novamente. Não vi nenhum problema em não atender, e foi o que fiz:
- Fiquei sabendo que tem um belo garoto em uma cidade pacata sem nada o que fazer... Será o que você conhece esse garoto, que pelo que dizem, é um gatinho ?
- Oi Flávio, como é que está ?
- Nossa, que seco. Tá tudo bem ?
- Esta sim, só estou com saudades do meu namorado.
- Namorado ? Arranjou um caipira por ai ?
- Engraçadinho, encontrei sim. Gosto de másculos, e me identifiquei com um peão aqui...
- Há Há. Sei... Você devia parar de perder tempo ficando com moleques e deixar um homem de verdade te fazer feliz.
- Nossa, o dia que eu encontrar um, te comunico, pode ser ?
- Você meche comigo no avião, me dá esperanças, me liga, e ainda é todo arisco ? Só quero te conhecer melhor, não vejo nada de mais nisto.
- Eu volto na primeira semana de janeiro. Agente combina então um passeio sem compromisso, ok ?
- Agora sim, vou esperar sua ligação. Um abraço.
Me arrependi de ter atendido, mas agora era tarde. Voltei a caminhar em direção a ponte, e lá fiquei sentado pensando em Enzo. Tirei algumas fotografias para levar de recordação e fui em direção ao barranco para esperar o por do sol para fotografa-lo. Eu não tinha nada para fazer, então fiquei sentado no mesmo barranco em fiquei curtindo com Enzo anteriormente. Pensar nele já estava começando a me irritar, e depois de conseguir as tais fotos. Comecei a voltar lentamente para casa. Eram seis e vinte da tarde, e enzo já devia ter chegado. Assim que me aproximei da casa já vi o carro estacionado. Entrei na casa e havia grande movimentação, arrumação e decoração do ambiente, montagem de alguns pratos mais complexos. Não vi meu primo em lugar algum, entao fui tomar um banho pois o mato havia deixado minhas pernas coçando muito. Quando entrei no quarto, Enzo estava com uma garota conversando sentados na cama com as pernas esticadas, lado a lado. Fui cumprimentado friamente pelos dois que gargalhávam bastante enquanto conversavam. Separei minha roupa e fui tomar banho. Fiquei bastante enciumado em ver os dois, e Enzo nem havia me dado atenção. Assim que terminei meu banho, me troquei e fui para a sala assistir TV. Enzo logo em seguida passou por mim levando a tal garota para a varanda para conversarem a sós. Eu ignorava aos dois, e minha vó me observava da cozinha enquanto dizia, "calma filho, não é nada demais". Peguei meu celular e liguei para Flávio, que atendeu na primeira chamada:
- Se deu conta do homem de verdade que te espera ?
- Segura a onda amigo, só quero conversar um pouco.
Conversamos durante quarenta e dois minutos, e neste intervalo de tempo, nenhum sinal de vida do meu namorado. Voltei para a sala, e ele ainda estava com a garota na varanda. Minha tia Elza começou a perguntar por ele, pois estava preocupada de ele estar comigo. Assim que o viu com a garota, que eu nem quis saber o nome, e eu sozinho na sala, pediu para que eu o chamasse que ela queria falar com ele. Tive vontade de mandar ela à merda. Ela tem as próprias pernas, podia muito bem ir lá. Mas fui:
- Lorenzo - disse eu da porta, sem me aproximar - sua mãe te chama da cozinha.
- Lorenzo ? É Enzo, Enzo entendeu ? - ele riu, e foi em direção a cozinha.
A garota era a mesma da foto em que Enzo estava beijando na boca. Ela então perguntou meu nome, respondi virando as costas e me dirigindo para a sala novamente. Enzo logo voltou para a varanda para conversar com aquela garota novamente. Eu estava muito, muito Bravo, acho que não estava conseguindo nem disfarçar, pois minha vó estava desesperada tentando sair da cozinha para falar comigo, mas não a deixavam. Fui então para o quarto, e fiquei deitado de bruços em cima da cama. Comecei a lembrar de todos os atos de Enzo aquela noite, e derrubei poucas lágrimas. Enzo entrou de mãos dadas com a garota no quarto, e ao me ver, soltou um "opa, não sabia que você estava aqui". Forcei um sorriso, e fui super simpático com os dois:
- Para, podem ficar aqui, eu já estava criando coragem para levantar. Estou com uma preguiça lascada!
Enzo esperou que eu saísses fechou a porta. Fui para o banheiro e chorei, chorei muito, muito mesmo. Fiquei trancado ali dentro até a meia noite, pois eu era obrigado a aparecer, se não nem saía do banheiro, nunca mais. Lavei meu rosto, ensaiei minhas expressões como sempre, e voltei a sala. Logo todos nos reunimos na sala de jantar, fizemos um enorme círculo e começamos as orações. Eu havia ficado em um ângulo em que não pudesse ver Enzo, para que não ficasse ainda mais chateado. Depois das orações, nos dirigimos ao Jardim, onde já tinha uma bancada com champanhes, espumantes e cídras. Eu logo fui direto no Chandom, bebi uma taça gute-gute e logo em seguida mais uma, tambem de uma vez. Servi um terceira e minha vó apertou meu ombro. Senti então mais vontade de chorar e pensava que se eu sumisse dalí, nem sentiriam minha falta. Fizemos a contagem regressiva, e quatro de meus tios trataram de soltar os fogos que haviam comprado. Como de costume, nos abraçamos comemorando o natal, abracei a todos e deixei meu primo e sua coleguinha por últimos. Por recomendações de minha vó, tive que abraça-los, fui super frio com ambos, e Enzo depois de receber meu abraço forçado, ficou me olhando por uns dez segundos mais ou menos sem expressão no rosto. Dei as costas, peguei a garrafa de Chandom e mais uma de Freixenez Seco e fiquei as tomando sozinho sentado na borda da piscina, enquanto todos estavam na sala de jantar se servindo dos pratos. Minha tia Elza foi uma das ultimas a subir, e enquanto limpava as coisas da grama, ele me olhou por diversas vezes. Subiu então olhando para trás várias vezes. Recebi uma ligação de Flávio e não atendi. Ele então me mandou uma mensagem de voz, que tambem recusei me a ouvir e logo em seguida uma mensagem de texto me desejando feliz natal. Pelo menos ele tinha lembrado de mim. Depois que terminei as duas garrafas, que tomei bem lentamente, fiquei sentado lá esperando: um milagre, alguém, um gesto, uma atitude, mas nada aconteceu. Só a garoa que começou a cair, mas logo em seguida parou. Ela teve a função só de me deprimir mais, já que nem me molhar direito na chuva eu conseguia. Levantei e fui para o fundo do terreno, onde há uma divisa de cerca vivas e me enfiei ali no meio até atravessar o outro lado. Assim que ultrapassei, me sentei do outro lado, e tentei chorar, mas não conseguia, então dormi ali mesmo. Já era de manhã, e o sol tinha acabado de nascer, e apontava em minha cara. Eu estava com uma dor de cabeça insuportável e uma vontade de vomitar muito grande. Me levantei e tentei passar pelo mesmo lugar, só que sem sucesso. Estava muito torto, e aquele buraco estava muito estreito. Tive que dar a volta na casa inteira até chegar na frente da casa. Fiquei observando aquele lugar e sem vontade de entrar para casa, pela primeira vez fui visitar a cidade. Aquela cidade não tinha uma viva alma. Além de ser muito, muito feia. Voltei meio frustrado e fiquei sentado na frente da casa. Minha vó apontou na varanda, e assim que me viu desceu correndo:
- Santo Deus do céus! Onde você esteve meu filho ? Você me deixou muito preocupada.
- Pelo menos a senhora se preocupa comigo. Garanto que nem fiz falta na festa de vocês.
- Para com isso. Seu primo não conseguiu dormir preocupado sabia ?
- Mas lógico que não conseguiu, com aquela vadia com ele, duvido que ele tenha dormido mesmo.
Minha vó ficou me olhando, e me desculpei pelo palavrão, até que ela me disse:
- A amiguinha do seu primo foi embora duas da manhã, o pai dela veio buscar ela. Só depois que ela foi embora que o Enzo começou a perguntar de você e eu disse o seguinte pra ele: "Bonito isso em Lorenzo Moura, você ignora seu primo o dia e a noite inteirinha, fingiu que ele nem existia e agora quer reparar os danos ? Me poupe, e ainda diz que ama ele". Daí ele ficou me olhando com uma cara do tipo, "como você sabe" e então...
- Deixa pra lá vó. Sem querer ser mal educado, não estou com cabeça para ouvir nada que se diz respeito a meu primo.
Ela entao saiu e foi buscar um café pra mim. Depois de tomar o café, ficamos sentados ali por um bom tempo jogando conversa fora. Minha vó então me levou para o quarto de hóspedes onde ela dormia com meu vó e me acomodou, todo sujo mesmo, em sua cama. Ela trancou a porta pelo lado de fora, mas antes fechou as cortinas e eu dormi. Já era bem tarde quando eu acordei, e minha vó estava sentada em uma cadeira ao meu lado, e Enzo em outra, do outro lado da cama.
- Vocês precisam conversar - disse minha vó enquanto saía do quarto.
E precisávamos mesmo...