— Ta ligado que eu que mando nessa porra de Capeside né? Então, tudo que te pertence é meu!
Tio João, que insistiu em me acompanhar, cerrou o punho. Desejei que meu pitbull desfigurasse o rosto daquele menino mimado. Mas não seria lícito. Acariciei o punho de tio João e olhei no fundo de seus olhos. Ele ia se acalmando. Ágil, Ellen que também estava na festa, pegou Daniel pelos braços, o afastando dali. E Thiago ria do outro lado.
O helicóptero sobrevoava entre as nuvens. Acessando as câmeras da boate pelo meu notebook, via sete seguranças à frente da porta do depósito. Todos bem armados. O funcionamento da boate acontecia normalmente para não haver suspeitas. E do alto via sete homens armados no jardim em frente a velha casa. O inesperado não chega, ele cai.
— Emmet! — impediu tio João antes de eu agir — Toma cuidado, piá. Não quero te perder. Como eu perdi o Armando.
Assenti. Desde o reatamento, tio João não falava em Armando. Sentia sua angustia em saber como Armando estava e sabia que teria que me revelar. Porém apenas apanhei o celular e disquei. Um toque. Dois toques. E a voz mais odiada pronunciada.
— Hello Victória. Avise aos seus cães escabiosos que estamos sobrevoando o cativeiro custeado por você. — olhei para baixo e vi os seguranças, agora, com suas armas apontadas para o alto — E Victória, adestre os seus cães, pois o helicóptero está segmentado por câmeras, ao vivo, na rede, com apenas 10 minutos de atraso. Ah, o site está hospedado no exterior. Não há como censurar ou burlar.
Imediatamente, os seguranças abaixaram as armas. Olhei para tio João e ele sorriu timidamente, aprovando minha façanha. Tio João desceu o helicóptero e fez um pouso forçado no jardim, um pouco a frente da casa. Saímos do helicóptero, caminhando com uma arma em cada uma das mãos. Os seguranças sacaram as suas armas. Paramos.
— Sem armas. E no braço. O público agradece. — sugeriu o tio olhando o helicóptero.
Peguei as minhas armas e as joguei longe no matagal. Os seguranças se entreolharam, mas todos fizeram o mesmo. Tio João titubeou, os fuzilando com os olhos, mas também jogou as suas armas. Era a hora da ação. Tio João cerrou o punho, deu um urro rouco, avançando pra cima deles, e um dos sete seguranças se pôs na frente. Tio João deu um consistente soco na mandíbula desse segurança, que caiu de joelhos, seguido de uma joelhada no nariz do tal, que imediatamente começou a sangrar e caiu desmaiado. Não sobraria nada pra mim! Mero engano. Quatro seguranças cercaram tio João enquanto dois avançaram em minha direção. Minha vez de cerrar o punho. Corri na direção de um deles, e me aproximando, dei um pulo impulsionando o chute que dei na barriga do tal, e ele parou longe na grama. Caí de costas apoiando meus cotovelos na grama, e quando ia saltar pra levantar, o outro segurança deu um chute no meu queixo, me fazendo cair totalmente sem apoios. Ele subiu em cima de mim, dando um, dois, vários socos em meu rosto. Como estava imobilizado na parte de cima, usei da minha resistente força e elasticidade das pernas, e enquanto ele me socava sentando em cima da minha barriga, levantei-as e as levando em direção a ele, prendendo seu pescoço entre as minhas duas pernas. Ele imediatamente parou de me socar e assustado, tentava livrar-se. Levantei o tronco e bati violentamente minha testa na da dele. Ele revirou os olhos, tirei minhas pernas do seu pescoço, as abaixando, e o fazendo cair sobre mim. O empurrei, saltando e dando dois chutes em seu rosto com um acertando sua traqueia, e o fazendo desmaiar.
Senti perigo. Virei-me e deparei com o primeiro idiota que havia golpeado. Sem tempo para alongamentos! Chutei exatamente nas suas bolas e ele pôs as mãos no saco dizendo entredentes: “Pronto fraco!”. Sorri e dei dois murros em sua cara, o fazendo cair de joelho. Me posicionei atrás dele e peguei um de seus braços, torcendo e torcendo para trás. Olhava para a cara dor daquele desgraçado, que tremia, tremia chegando a fechar seus olhinhos patéticos. Torci ainda mais o seu braço, ele não aguentou e fechou os olhos de vez, desmaiando. O joguei no chão, me levantei e me deparei com tio João um pouco longe. Ele estava de pé, assistindo tudo, com os quatros seguranças ao seu redor já desmaiados e ensanguentados. Até que parecia que estava sorrindo de orgulho. Porém sua feição converteu-se, do nada, em preocupação. Olhei para trás e o tal rapaz estranho, que nem estava no local, estava atrás de mim, segurando um pano molhado e aproximando do meu nariz. Ele me agarrou, me fazendo inalar um pouco do cheiro do pano, que na certa era clorofórmio, mas o golpeei e ele me saltou, dando um passo pra trás e largando o pano. Iria acabar com aquele ser bizarro! Fui avançar em cima dele, mas me veio uma tontura e caí na grama. Estava consciente, mas um pouco debilitado. E aproveitando disso, o rapaz estranho subiu em cima de mim, e olhando bem, sua feição não era apenas estranha, era bizarra. Ele tirou do bolso uma grande lâmina afiada e aproximava de minha traqueia, sorrindo, enquanto eu me debatia, tentando empurrá-lo, com pouca força. Um disparo. E uma gota de sangue caindo em meu rosto da boca do estranho rapaz. Sua boca sangrava, seus olhos estavam carregados de dor e sua expressão era incrédula. Ele largou a lâmina, sem força, e virei meu rosto, fazendo-a cair na grama. Empurrei aquele peso morto na grama e ao olhar pra frente, vi tio João com uma arma apontada, ainda saindo fumaça, em nossa direção.
— Uma boa guerra nunca é limpa. E você é apenas um guri
Meus olhos se encheram d’água. Me levantei, não muito disposto, mas correndo na direção de meu tio, o meu tio João. O abracei e respiramos aliviados. Nos afastamos, tínhamos uma missão a cumprir. Olhamos para a grama e os seguranças caídos no chão. Olhamos para porta da casa e estava limpo. Corremos em direção a ela, e num único chute consistente, tio João arrombou a porta. E para nossa surpresa...
— Olá queridos. Como a vossa Rainha pode ajudá-los? — disse Victória sorrindo, sentada na cadeira, numa aparentemente casa vazia, ainda velha, mas limpa.
Son of bitch!
A noite tinha tudo pra ser interminável. Gritos, acusações, cobranças. Enquanto tio João andava de um lado pra outro, trocando diversas acusações com Victória e Conrado (sim, o sempre o último a saber), mantive-me quieto e sentado, no escritório dos Grayson.
— Victória, eu não vou perguntar de novo! O que é que você com eles, sua desgraçada!
— Meu rapaz, se acalma. — apaziguou Conrado — A gente pode resolver, entrar num...
Tio João esmurrou a mesa, quebrando-a. Conrado olhou amedrontado. Hora de intervir.
— Tio João, calm down, please. Come here. Senta nessa cadeira, vem... — tio João olhou furioso para os Grayson, mas veio até a mim e sentou-se — Vamos à praticidade? Liberte aqueles rapazes, os dê uma chance de tratamento digno, curável.
— Não existe cura pra esta epidemia! — esbravejou Victória — Eles são uma praga. Uma epidemia que se espalha. Você não vê lá fora? No Brasil, por exemplo. Um bando de cracudos, reles, que se destroem por uma pedra! Eles não querem tratamento. Eles querem a miséria! Que é o único prato que tais delinquentes apreciam e se deleitam.
— Eles são doentes! — exclamei — Vítimas de uma doença que deflora todo o cérebro. E sim, há um monte deles lá fora porque lá o tratamento é opcional. E os que aceitam, após o tratamento não têm mais vida, casa, lar, nada, nada que os prenda. E isso os força a voltar. O teu método não impedirá que tal problema atinja aqui.
— Não, não! O meu povo distingue o erro. Por isso, os plantava nas baladas com aquele rapaz estranho. E caso alguém consuma o fruto desse erro, digerirá a própria morte.
— Se você não salvar aqueles jovens exporei Capeside ao mundo. — Victória assustou-se — Mesmo sem a prova física de que você os alimenta com o próprio vício, pregarei lá fora e aqui, todas as tuas barbaridades. Serão apenas suspeitas, of course. Talvez sem lógica. Ou não. Afinal imagens de uma fétida tubulação restrita com um corpo de um jovem morto são bastante suspeitáveis. So... Ouça a minha proposta.
— Seria opcional? Meus ouvidos estão aflorados. Tal como sua língua malévola.
— Depositaremos toda a culpa num defunto. — todos olharam surpresos — O rapaz estranho que morreu. O torne e o faça poderoso, Victória, mesmo ele tendo sido um loser. Juntos, revelaremos a Capeside a existência das clinicas clandestinas para dependentes químicos. Não queríamos expô-lo. Porém eu, Emmet Thorne, descobri que o gerente da clínica, a quem Victória depositava uma cega confiança, usava de tratamento desumano e mortal. Nessa descoberta, fui sequestrado pelo tal junto com o meu parceiro João. Mas escapamos. E invadimos o local com apoio do governo para salvar os jovens, vide as imagens exibidas pelo helicóptero que está na rede. Pois as imagens do helicóptero foram cortadas assim que invadi a casa. E ao final, como uma boa família unida num evento beneficente, os Grayson enaltecerão a minha imagem e serei o principal responsável na liderança nas clínicas de reabilitação.
Conrado e Victória se entreolharam, acenando positivamente. Tio João bufou, olhou pra mim incrédulo e saiu. Sabia que depois ele entenderia. E Ellen entrou neste momento.
— Ah, e Victória! Suma com o Thiago assim como você o fez brotar. Aquele prostituto quase violou Daniel quando dormia. Devia estar ansiado por leite. — ironizei.
Victória pôs a mão na boca enojada. E Ellen, incrédula com o que ouviu, interveio.
— Emmet, amigo. Acho que está na hora do nosso Daniel voltar a ser como antes, não?
Ellen deu o seu sorriso meigo e era com esse sorriso que ela estava sentada, ao lado de Daniel, no dia seguinte, tentando tranquiliza-lo. Victória estava do seu outro lado, preocupada. E eu na frente. Todos na sala da minha casa.
— Mil perdões, Daniel, mil perdões! — suplicava Victória — Quando você se ajuntou a esse... Não suportei a ideia de perdê-lo! Necessitava de você de volta pra mim. E então, pedi ao Thiago para que o afastasse desse... Mas a má índole do Thiago é incessável. Nem o tempo dilui! Quando adolescentes, enquanto você dormia, eu flagrei o tal fazendo... Abusando de você! Tratei de planejar toda a história de que ele tinha adulterado com a sua namorada, e ele concordou, sairia mais ileso. E achei que ele tivesse aprendido. Que era peraltice, mas ele fez... Ele... Quando o Emmet me contou que flagrou tal abuso, que você não acreditaria se ele contasse, e nem lembrava, eu...
Daniel interrompeu a mãe, pondo a mão na frente, para ela parar de falar. Estava enojado. Ellen tentou abraça-lo, porém ele se esquivou, levantando-se, parecendo ter nojo de si próprio. Neste momento, a diversão começou. Thiago entrou, sem camisa e assobiando, nem reparando a nossa presença. Porém ao ver todos nós lá, ele fez uma cara de preocupação. Daniel foi até a ele, acenando negativamente, e lhe aplicando um murro, que o fez se esborrar no chão. Daniel gritou enojado, pegou uma garrafa de vodca e saiu correndo. Me aproximei de Thiago, sorrindo, e sussurrei baixinho:
— Creia que esse é o ultimo. Portanto, o melhor riso. — ri satisfeito.
Obstáculo vencido. Mas não derrotado. À noite, peguei o pen drive que Nathan havia me dado. E lá tinha o acesso remoto do seu computador. Fui onde era útil, uma pasta nomeada Thiago. Cliquei e vi lá vários vídeos de sexo seu com os clientes. Ele era bem dotado. Fui numa pasta de Nathan e vi que tinha um vídeo seu com Thiago. O galego irresponsável precisava de lição. Copiei o vídeo e junto com os outros divulguei na web.
Era uma noite de várias estrelas. Contemplava-as sentado na cadeira de balanço do alto da varanda. Degustava um vinho. E uma mulher apareceu acompanhada. Levantei-me.
— Você é Emmet Throne? — reconheci, era a mulher do vídeo, já a companhia, um jovem, era estranha — Esse é meu filho. Você o salvou. Eu sou muito grata!
A mulher me abraçou e o jovem me examinava com seus olhos fundos. Os punhos das mãos estavam entortados e seus dentes batiam um no outro. Era magro. Destruído.
— Não se assuste, ele é um bom rapaz — disse a mulher ternamente se afastando — Ele está apenas doentinho. O médico disse que são sinais de abstinência. E aos poucos, ele se recuperará. Quando a Rainha explicou todo o ocorrido às famílias, senti raiva. Mas a luz da sua bondade inundou meu coração. E é isso que vim lhe dizer. Deus lhe guarde, meu filho. Você é um rapaz um de ouro!
— É verdade. — ecoou uma voz grossa não tão estranha — Ele é um guri de ouro.
Bondade? Ouro? Tio João surgiu vindo até a mim e me abraçando por trás. A mulher acenou positivamente, pegou as mãos trêmulas do filho e saíram. E foi só o momento dela virar, pra tio João invadir a minha boca com aquela língua áspera e quente, pegando minha bunda com suas mãos calejadas e braços musculosos, e roçando sua grosseira barba em meu rosto. Me pegou no colo, facilmente, abriu as portas e me jogou no sofá. Com seu jeito grosseiro, ia arrancando minha blusa e mordendo fortemente meus mamilos, me arrancando gemidos de prazer. Subiu em cima de mim com seu peso descomunal e quando ia me beijar, Daniel entrou. O impedi. Tio João, ainda em cima de mim, avistou encarando furioso o playboy. E Daniel estava segurando uma garrafa com os olhos estreitos vermelhos, quase fechando, tanto de ódio como de alcoolizado.
A garrafa foi espatifada na parede. Daniel caminhou furioso em nossa direção. Tio João levantou-se num salto e destruiria o playboyzinho. Não deu outra. Daniel foi golpeá-lo, mas tio João segurou o punho do playboy e praticamente o amassou com suas mãos, o jogando na mesa de vidro, que quebrou em suas costas. Sua ira não pararia
— Please! Go away, tio João, ok? Go! I love you! I love so much, but go! Eu vou arrumar minhas coisas, depois parto, mas vá! Go! — implorei nervoso.
Tio João, mesmo em descontrole, ouviu-me e partiu. Daniel levantou-se dos cacos.
— Esse cara... Brother! Foi esse cara que começou o tumulto naquele dia, agora eu...
— Go away, Daniel! Fuck off! Go away! Eu vou arrumar minhas malas!
— Não, tu não vais a canto nenhum! — gritou segurando-me pelos braços — Você vai me explicar... O que tu tens a ver com este cara? Hein? Seu viado filho de uma puta!
Empurrei-o e lhe dei uma bofetada de mãos bem abertas. Ele revidou da mesma forma. Como ele pôde?
— Seu idiota, idiota! — avancei começando a estapeá-lo — Sucker! Asshole! Stupid!
— Hahaha! A bichona não sabe nem bater! — ria se divertindo — Com mais força, vai!
— Imbecil! — gritei me afastando — Eu não sei como um dia eu pude te amar.
— Então a bichinha confessa que me ama?! Que boiola escroto!
— Eu vou embora!
— Não, você não vai! — gritou segurando-me novamente — Não...
— Get off me!
— Eu te... Você... Vo...
— I hate...
— Tu vais...
— Motherfuck...
Sua boca avermelhada avançou a encontro da minha, abrindo-se, me calando. Seus dentes esbarraram nos meus. Sua língua invadiu brutalmente a minha, me fazendo sentir que até o gosto de álcool em sua boca era doce. My Gosh... Aquilo era um beijo.