Acordei tarde e estava sozinho na cama, minha cabeça doía muito, meu corpo estava todo quebrado, parecia que eu tinha sofrido um atropelamento por uma jamanta. Levantei com a cabeça muito zonza. Quando dei uma olhada no espelho, meu pescoço tinha uma enorme marca roxa, e os gomos do meu abdome tinham um degrade entre roxo e amarelo! Como sou branco, qualquer coisa fica marcada fácil em mim.
Eu só pensava “estou parecendo um figurante de filme de zumbi classe B”.
Procurei nas minhas coisas um comprimido pra dor de cabeça, tomei. E me lembrei “Cadê o Raphael?”.
Então as imagens começaram a voltar na minha cabeça, tudo, o apartamento, a briga, ele me abraçando, o corpo dele...era sonho ou eu tinha acordado uma hora e ele estava me vendo dormir?? Eu pensava “Tá tudo muito errado, o que diabos tá acontecendo com a minha vida?!
Foi quando a porta do meu quarto abriu e ele entrou:
– Você já acordou?! Olha a Maria deu uma saída pra ir ao mercado, se você quiser pôr o plano em prática agora...
– Tá bom, já vou me vestir e pegar meu kimono.
Acabei me levantando muito rápido e me desequilibrei trombando por cima do guarda-roupa, Rafa então me segurou pela cintura (isso não ajudou muito a passar minha tontura).
– LEK!! Cê tá bem?? Que ir pro médico??
– Tranquilo, foi só uma tontura, não precisa se preocupar.
Conseguimos encenar bem no final, Maria ficou um pouco preocupada e disse apenas:
– Vocês meninos um dia ainda se matam com essas coisas que inventam de fazer!
Tia ficou sabendo só por alto, quando voltou de Petrópolis e limitou-se a comentar que essa geração da gente era muito estranha. Ainda bem que o porteiro não havia visto quando eu subi parecendo figurante do Regaste do Soldado Ryan.
Raphael passou o resto do dia perguntando de minuto em minuto se eu estava bem, eu não sabia se era pela consciência pesada, medo de sobrar pra ele ou talvez ele estivesse mesmo preocupado.
E na segunda-feira, no trabalho, a gravata cobria o hematoma do meu pescoço, e quando perguntavam sobre o curativo perto da orelha e me limitava a dizer que fora um pequeno acidente, não iria dizer que havia brigado, nem que treinava jiu-jitsu, isso pegaria mal pra mim no escritório.
A Gabi ligou pra mim depois perguntando se eu estava bem, ao que parecia toda turma do Raphael sabia do que tinha acontecido, e eu tinha virado um tipo de lenda urbana entre eles eu pensei: “Tudo que eu precisava era ganhar a fama de pitboy da Barra, merda!”... Suspirei então ela marcou de almoçar comigo naquele dia.
No almoço Gabi falava que tinha ficado preocupada, pois conhecia o Raphael e a turminha dele, sempre aprontavam alguma. Ela alertava pra eu abrir o olho.
Apesar de frequentar a mesma roda de amigos, Gabi era mais parecida comigo, responsável. Eu me sentia atraído por ela, uma morena linda vestida num tayer branco justo, putz! Inteligente, culta, aquela mulher era um sonho de consumo, eu achava ela parecida com Camila Pitanga. Sempre fui alucinado por mulher independente, daquelas que rivalizam com você no ambiente de trabalho. Conversamos muito mesmo, falando do meu projeto de mestrado, discutindo assunto de trabalho. Nos despedimos e marcamos de qualquer dia sair pra janta:
– Se precisar de ajuda na recuperação me liga! – disse ela com um risinho e piscando o olho.
Naquela semana eu fiquei meio distante do Rafa, estava com uma confusão na cabeça, não queria me envolver no mundo maluco dele, me sentia perigosamente atraído e sabia que não podia alimentar nada. Imagina, ter de morar com uma pessoa depois de rolar alguma coisa.. eu até então pensava que se rolasse alguma coisa com um cara estranho, seria só sexo e pronto. Não queria ter de encontrar novamente esse cara. Mas com o Raphael era diferente, era uma mistura de raiva do jeito dele, com atração. Eu só podia tá pirando.
Raphael começou a deixar mais de sair com a turma dele, passava um bom tempo em casa, pra fugir dele comecei a ficar mais no quarto. Eu não sabia muito bem se existia uma atração entre a gente ou se era tudo coisa da minha imaginação (sempre fui muito desconfiado). Um final de semana ele me chamou pra ir à praia, eu ia recusar, mas que mal poderia ter? Acabei aceitando.
Estávamos conversando e tomando água de coco, esperando pra jogar futevôlei.
– Lek, posso te fazer uma pergunta?
– Claro Rafa, sem problema, o que é?
– Tu ta saindo com alguma mina daqui do Rio?
Achei aquela pergunta estranha, mas só respondi:
– Não, você sabe que eu estou só trabalhando e estudando, só converso as vezes com a Gabi
– É... Foi o que eu pensei...
Daí eu ele se levantou da areia pra ir jogar com um amigo dele, eu fiquei sentado de longe vendo (aquela sunga adidas dele branca era um pecado, porra!). Então chegou um carinha lá perto de mim. O bicho era da minha altura, daquele tipo trintão sarado.
– Koe lek, de quem é a próxima ae na parada?
– É minha fera, mas se quiser jogar comigo...
– Belê, teu nome?
– Eduardo
– Prazer, Sérgio.
A partida acabou e quem ganhou foi a dupla do Raphael, ai gente foi jogar. Começamos a jogar e o carinha era bom de jogo, estava mandando bem, eu ainda estava me acostumando com as manhas do futevôlei (meu negócio mesmo era lutar, mas eu me dava bem no futebol, o que de certa maneira ajudava).
Teve uma bola que eu fui cabecear e o Sérgio também foi em cima acabamos trombando, eu cai no chão meio zonzo, e o Sergio correu pra me ajudar:
– Ta bem muleke? Você cabeceou meu ombro... Hehehehe
– Tranquilo, foi mal ae perde a bola..
– Nada, relaxa pô.
No último ponto, quando eu consegui acertar uma bola no canto da área, ele vibrou e me agarrou pelo pescoço:
– É NOIS MULEKE!!!!
Eu estava super instigado pela adrenalina do jogo quando percebi o Rafa com a cara mais feia do mundo me olhando.
A galera que já estava na maior sede aceitou, Raphael ficou calado, mas também foi junto sentar no quiosque. Eu não estava entendendo mais nada, o Rafa tinha ficado puto porque perdeu? Putz! que criancice.
O Sérgio sentou do meu lado, e o Rafa do outro lado da mesa, em frente a mim. Todo mundo conversando sobre futebol, menos o Rafa que ficou caladão. Daí ele se levantou e disse que estava de partida, que estava com dor de cabeça, eu me levantei também me despedindo da galera, pois estava de carona com ele.
A gente foi embora e o Rafa sem falar nada enquanto dirigia cortando os carros
– Você tá com tanta dor de cabeça que precisa se matar pra passar é?
– Ah, num enche lek, ficou com raiva porque teve de deixar lá seu novo amiguinho foi?
– Hein? Como é?
– Tava lá de altos papos com aquele coroa..
– Oxe, e o que é que tem? Tu ficou puto só porque a gente ganhou, putz, para de pirralhice Raphael..
Daí ele parou o carro na garagem do prédio, olhou bem pra mim, como se quisesse dizer alguma coisa, daí a ficha caiu “Será que isso é uma crise de ciúmes?”. Mas quando ele abriu a boca pra falar, só disse:
– Ce tem que tomar cuidado com a galera daqui, não é como Natal...
Realmente não era como Natal, e eu fiquei pensado: “Buckle your seatbelt, Dorothy, ’cause Kansas is going bye-bye” (Aperte o cinto de segurança, Dorothy, porque Kansas vai bye-bye).
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