Capítulo 06 – Encontrando a Rainha
Magnífico, exuberante e sem palavras. Os Campos Elísios pareciam paisagem de periferia se comparados ao jardim de Hera. Admito que nunca fui muito fã de pavões e nem dela, mas aquele jardim era maravilhoso. “O rascunho do paraíso!” pensei sorridente.
Caminhei um pouco por entre as árvores na esperança de achar algum lugar onde pudesse encontrar Têmis ou Hera. Afinal, eu precisava de ajuda e a aceitaria de quem quer que fosse.
Após uma hora de caminhada, notei vultos correndo por entre as árvores. Vários vultos. De repente, flechas e lanças começaram a ser atiradas na minha direção. Consegui me desviar da maioria, mas uma lança prendeu meu manto ao chão. Desesperado, tentei rasgar o manto para fugir, mas foi inútil. Ao fitar as árvores, vi mulheres emergindo delas. Isso explicava muita coisa. Hera tinha inúmeras hamadríades guardiãs. Elas eram mulheres belíssimas. Loiras, morenas, ruivas, diversas etnias, altura e peritas na arte da guerra. Suas vestes eram feitas de couro.
A líder das defensoras de Hera veio em minha direção. Puxou a espada que estava presa a sua cintura e a empunhou contra mim. O golpe estava preparado, mas ela deteve-se. Estava com os olhos fixos aos meus. “Oráculo!” lembrei. Ela baixou sua espada, retirou a lança do meu manto, ajudou-me a levantar e me fez sinal para que a seguisse. As demais a acompanharam, mas sempre me olhando de uma forma estranha. “Parece até que nunca viram um ser humano. Oops! Elas nunca viram um ser humano!” falei comigo mesmo.
Fui seguindo-as até o final do pequeno bosque. Elas pararam permitindo que eu continuasse a caminhada sozinho. Assim o fiz. Eram estradas e mais estradas adornadas de diversas maneiras. “Onde uma deusa estaria nessa imensidão? Provavelmente no centro do lugar. Já vi que vou me perder nisso tudo.” Pensei comigo mesmo.
Foram horas e horas de caminhada debaixo de um sol bem escaldante. A impressão que eu tinha era de que a temperatura aumentava a cada erro meu. Eu já estava prestes a desistir quando notei um córrego. Aproximei-me, bebi um pouco de água, lavei meu rosto e decidi segui-lo. “Acredito que ele deságue em algum lugar, um lago talvez.” Considerei.
Eu estava certo. Havia um enorme lago naquele jardim. Obviamente não pude deixar de notar o enorme gazebo de madeira de lei posto ao lado do mesmo. Ele era colossal, adornado com cortinas de seda. Era possível ver um divã feito de ouro e adornado com tecidos caros. Sobre ele, uma bela e jovem mulher descansava. Aproximei-me o suficiente, retirei o tecido que cobria minhas pernas, ajoelhei-me e fiz o cumprimento.
_ Majestade! – Disse fazendo uma reverência enquanto estava ajoelhado no chão.
Ela levantou-se, ajeitando o vestido, e virou-se para fitar. Alta, pele clara, olhos escuros, corpo formoso, seios fartos. Ao levantar-se, inúmeros pavões surgiram próximo a ela. Hera usava um vestido levemente azulado adornado com fios de ouro, uma tiara de ouro branco cravejada de pequenos diamantes e um cetro de ouro. Era imponente. Era elegante. Era surpreendente. É a rainha do Olimpo.
_ Mallack Montaigne! – Disse-me vindo em minha direção.
Mantive meu olhar rebaixado, pois não gostaria de ser mal interpretado. As hamadríades poderiam aparecer novamente e querer me ferir de verdade.
_ Vejo que o jovem oráculo conseguiu se sair muito bem nessa jornada. Pelas suas roupas, Nyx e Hécate não conseguiram executar o intento delas. Se eu ainda consigo interpretar as entrelinhas, você só pode estar aqui na busca por uma pessoa. Você acredita que Têmis pode lhe ajudar a resolver seus problemas com aquelas feiticeiras, não é mesmo?
_ Sim, majestade! – Respondi reverente.
_ Pois bem! Íris!- Gritou fortemente o nome.
Em poucos segundos uma ventania se iniciou e uma forte onda luminosa tomou o lugar. Inúmeras cores começavam a se formar. Uma figura feminina muito jovem e bela emergiu da luz. Uma loira, com olhos azuis como o céu, usando um vestidinho rosa claro aproximou-se de nós e se ajoelhou.
_ Íris, leve o garoto até o santuário no bosque.
Dito isso, a deusa mensageira tomou minha mão e, sem dizer uma palavra, guiou-me pelo bosque. Novamente me deparei com as ninfas das árvores, mas elas respeitavam a presença da mensageira de Hera. Não foi uma caminhada dolorida nem muito maçante. Foi tediosa.
Após acharmos o caminho do santuário, ela me apontou um magnífico palacete e em seguida desapareceu no vento. Ainda me faltava coragem para entrar e encarar a titã da justiça. Respirei fundo e entrei.
O interior do palacete parecia mais uma mansão de filme. Estantes, cadeiras elegantes, livros, lustres, tudo era tão rebuscado e… normal. Era inacreditável encontrar uma deusa naquele lugar, mas continuei a observar e estudar onde estava até que alguém me chamou.
_ Acredito que não esteja aqui para discutir a decoração do meu escritório!- Disse uma voz serena vinda detrás de uma mesa.
_ Perdão! Preciso falar com Têmis. – Disse trêmulo.
_ Prossiga. Ou melhor, me poupe de todos os mesmos detalhes repetitivos. Você precisa de ajuda com Nyx e Hécate, certo? – Questionou-me de forma fria e objetiva.
_ Sim! O que pode fazer por mim?
_ Já mandei mensageiros a elas. Elas requereram um cálice cheio do seu sangue para cada uma. Vai aceitar a proposta? – Perguntou sem demonstrar muito interesse no meu caso.
_ Duvido muito que aja alternativa. Como vamos encher esses cálices? – Indaguei demonstrando coragem, mas não estava tão seguro assim de mim mesmo.
_ Em Glimmerlock. Faremos uma cerimônia e você entregará seu sangue em troca da liberação da perseguição. Fique despreocupado. Dando o que elas querem, nunca mais vão te atormentar. – Disse complacente e mostrando alguma clemência por todo meu sofrimento.
