Meu primo playboy carioca - parte 12

Um conto erótico de Diké
Categoria: Homossexual
Contém 2155 palavras
Data: 26/02/2013 13:58:07

Não sei quanto tempo passamos abraçados. Mas sei que os fogos acabaram. Raphael pegou minha garrafa de Velvet e tomou um gole. Olhou bem nos meus olhos, senti como se todo o resto do mundo sumisse, e eu fosse tragado para aquele mundo índico do olhar dele. Agora eu sabia o que Machado dizia com “olhos de ressaca que tragam o mundo ao redor”. E então ele se aproximou mais, e senti novamente os lábios dele junto com o gosto do champanhe. Era suave dessa vez, totalmente diferente do primeiro beijo.

Aquilo não era real, não podia ser. O beijo parou.

Passei a mão nos meus cabelos tentando me recuperar, eu tinha de botar ordem naquela bagunça:

– Isso não ta certo -falei suspirando e me jogando sentado na cadeira do jardim

– O que não ta certo?

– Porque você veio? Você tava sem falar comigo, daí começa a me ligar e depois surge na minha porta.

– Dizem que as praias daqui são legais... tava afim de surfar.. – falou com aquele característico sorriso de malandro, puxando a cadeira e sentando bem na minha frente.

Acabei sorrindo enquanto pensava “Típico do Rafa.”

– Olha Rafa, o que aconteceu entre a gente.

Ele me interrompeu falando:

– Eu fiz merda, parei de falar com você, num disse nada, mas é que tava uma confusão muito grande na minha cabeça... nunca fiquei com caras...

– Também não – atalhei logo em dizer.

– Pois é, daí precisava pensar, mas senti muito tua falta. – ele falou meio baixinho, mas logo mudou de postura – quer dizer, senti falta de nossos papos, e tu é um lek responsa.

Eu admirava a coragem dele. Podia não ter certeza do que estava fazendo, mas sabia o queria ou quase...

Respirei fundo, bebi um gole do champanhe e falei:

– Rafa vamos fazer assim, eu continuo sendo seu primo, o Eduardo de sempre, comigo você pode conversar, correr, malhar, nada muda, oks? – Eu estava tentando ser o mais racional possível, contornar a situação da melhor maneira possível para nós dois.

Ele deu um sorriso meio sem sal. Acho que não era bem isso que ele esperava.

– Então ta a fim de ir pra uma festa? – Falei tentando cortar o clima estranho.

– Já é, vambora! – Ele falou se levantando.

Chamei um táxi para levar a gente à festa. Ficamos em silêncio o caminho todo. Foi quando comecei a pensar: “O Rafa veio do Rio, de última hora, só pra me ver?” Cara, a ficha caiu! Ele se importava comigo! O mais estranho é que esta constatação me deixou tão feliz. Porque raios eu me importava se meu primo gostava ou não de mim? O que tinha rolado havia sido apenas tesão eu acho ou achava não sei... Já não tinha mais certeza de nada, mas me sentia muito bobo com a perspectiva do Rafa se importar comigo.

Chegamos à festa. Quase todo ano eu passava o réveillon nessa mesma festa, vendo as mesmas pessoas... A alta sociedade de Natal é tão previsível. Entramos e fomos procurar a mesa da minha família. Encontrei papai bebendo seu whisky cowboy sentado na mesa, conversando com os irmãos, e alguns primos meus.

– Pai este aqui é o Raphael, filho da tia Consuelo.

– Você conseguiu chegar a tempo rapaz, já estava começando a ficar preocupado.

Pera lá Como assim? Meu pai sabia que o Raphael estava vindo?

– Você sabia que o Rafa tava vindo pai?

– E você não? Ele ligou ontem e falou com sua mãe, ela disse que ia avisar você, mas acho que ela esqueceu você sabe como é sua mãe...

Olhei pra cara do Raphael que estava segurando o riso. Era um complô familiar? Típico da minha mãe. Deixei ele conversando com meu pai e fui procurar minha mãe (era incrível como todo mundo simpatizava rápido com o Raphael era só eu que tinha implicância com ele?!)

Achei minha mãe comandando uma Macarena com as amigas no meio do salão. Deus ela não existia.

– Bonito né Dona Carmen!

– Dodaaaa! Você veio! Vamos dançar querido!

– Mãe eu não danço Macarena, por que você não me contou que o Raphael estava chegando?

– Aiii! Ele já chegou? Cadê ele?

– Ta na mesa com o papai, mas porque a senhora não...

Ela me deixou falando sozinho e foi pra mesa.

Quando estava tentando ir atrás dela uma mão me puxou. Era Cibelle, minha ex-namorada de Natal. Namoramos por cerca de três anos e meio, eu achava que acabaria casando com ela, mas daí eu resolvi ir ao Rio para fazer meu mestrado, ela não entendeu, queria que eu estudasse pra um concurso público qualquer e me estabilizasse em Natal... Uma parte de mim até queria o ideal de cerca branca, casar ter filhos, esposa amorosa, família comum e emprego público, mas outra parte de mim queria mais, sempre mais, uma realidade maior do que Natal podia me oferecer, reconhecimento profissional, informações, dinheiro, eu queria ver o mundo e viver nele, não olha-lo pela janelinha.

Mas lá estávamos nós, ela linda, vestida de branco com uma flor no cabelo.

– Feliz ano novo Doda.

– Feliz ano novo Belle.

– Garoto difícil de se encontra, você, ne?

– É, e seu namorado? – disparei logo sem querer.

– Ta bêbado, com os amigos ali – Ela apontou pra uma mesa, com um ar de leve contrariedade.

O namorado dela estava falando e gesticulando muito com os amigos, eu o conhecia e mais uns dois dos que estavam na mesa, alta sociedade, puft!

(que ridículo). Aquilo era baixaria de gente rica mesmo...

– Vou indo Belle, depois a gente se fala melhor ta?

– Ta bom, vê se não se esquece das velhas amigas – Ela me deu um beijo da bochecha e saiu. Era engraçado como eu fui louco pela Cibelle, mas agora eu não sentia nada, nem raiva, nem amor, nada...

Na mesa da minha família, também reinava a mundiçada. Mamãe não parava de falar, quando cheguei, ela disse:

– Tava contando aqui, quando você era adolescente e vivia usando camisa preta de banda de rock, e aquelas calças horríveis sujas e rasgadas! Era um horror cabelo desgrenhado, se bem que naquela época você era mais divertido...

– MÃE A SENHORA O QUE?

– Agora virou advogado e ficou sério e chato igual a sua mãe Rafa. A Concon (minha mãe chamava a irmã de Concon), sempre foi metida e abusada!

– Sério tia? – Raphael parecia estar se dando muito bem com minha mãe, bem até demais.

– É! Ela também nunca gostou de pegar no pesado sabe? Não gostava de estudar e só queria saber de los hombres! Por isso que inventou de estudar arte, quem diabos estuda arte? Só dondoca! Tratou logo de se casar e foi viver a vida de frozô dela.

– Mãe, a senhora é um pesadelo Freudiano.

– Não meu filho prefiro Lacaniano, Freud era misógino.

Eu tinha de reconhecer, minha mãe era tão workaholic como eu, além de ser a pessoa mais inteligente que eu já havia conhecido. Acho que por isso que era desnorteada do juízo.

Ficaram lá conversando, mamãe contando todos os meus podres, de quando eu era adolescente, grunge (é todo mundo tem uma fase negra na vida.. ), Raphael rindo muito e adorando saber os podres da mãe dele, que logicamente, minha mãe contava com o maior prazer.

Os meus primos apareceram pra me salvar daquele constrangedor momento e fomos pra outra mesa onde estava a galera de nossa idade, Raphael veio junto.

Desnecessário dizer que todo mundo logo simpatizou com ele, especialmente as meninas. Elas ficaram deslumbradas com o sotaque carioca dele.

Daí ele chegou junto de mim e disse discretamente:

– Lek, acho que vou ficar com a Taty, beleza?

– Oxe Raphael, e o que eu tenho com isso?

– Não pô, to só te avisando – disse ele piscando o olho.

Eu achei aquilo estranho, sei lá, Raphael me comunicando que iria ficar com uma menina? A propósito, a Taty era gostosa, baixinha morena, pernas grossas e uma bunda que putz! Eles começaram a se beijar e eu fiquei conversando com meus primos e bebendo whisky de leve. Senti uma certa ponta de raiva, vendo os dois se beijando, mas procurei não pensar nisso, na verdade nem olhar. Foi quando minha mãe reapareceu (ela, sempre ela...)

– Doda, vamos dançar! Você não vai negar um pedido de sua pobre mãe, vai?

– Tá bom mãe. – eu não queria mesmo ver o Raphael bancando o gostoso e todo mundo simpatizando e babando por ele.

Saí com minha mãe para dançar forró.

– Todas as mulheres estão morrendo de inveja de eu estar dançando com um gato desses.

– Mãe, TODAS as mulheres daqui sabem que eu sou seu filho.

– Mesmo assim, elas estão se matando por você, e pelo Rafinha

Pensei: “agora já era ‘Rafinha’ putz!”

– Que guapo, no?

– Haaa mãe, sei lá se ele é porra de guapo coisíssima nenhuma.

– Mas é sim, se eu num fosse casada com su padre, ai, ai, ai.

Acabei rindo daquilo tudo, minha mãe não passaria desapercebida nem numa convenção de Drags Queens.

– Porque a senhora não me contou que ele estava pra chegar?

– Esqueci, e também você andava tão alheio à tudo, achei que iria gostar da surpresa.

Senti meu coração disparar, era impressão minha ou mamãe estava insinuando algo? Errei um passo.

– Como a casa está cheia, ele terá de dormir no seu quarto

– No meu quarto? Mas lá mal cabe a mim! A senhora esqueceu que transformou meu quarto na filial do museu de arte Reina Sofia?

– Mas você reclama Carlos Eduardo Cedeño, você tem uma cama king size no quarto, que mal há em dividir com seu primo?

– É O QUE?

– Ué, você já dormiu várias vezes com suas primas e primos na mesma cama, o Raphael também é seu primo viu? Não tente tratar o pobre rapaz diferente.

Fiquei emburrado pensando: “ pobre rapaz uma ova, ele capota carro e briga em boates”.

Voltei pra mesa dos meus primos, enquanto minha mãe foi pentelhar outra pessoa. O Rafa tinha sumido, pensei: “Foi comer a Taty, também, quem não comeria a Taty? Era até pecado não comer a Taty”.

Meu celular tocou, era uma mensagem:

“Eu gosto tanto de você

Que até prefiro esconder

Deixo assim ficar

Subentendido

Como uma ideia que existe na cabeça

E não tem a menor obrigação de acontecer

Beijos, Belle”

Ahhh não faltava mais nada. Minha ex me cantando pelo celular, eu quero meu cachorro, só ele me entende. Sentei na cadeira, bebendo energético, tentando imaginar onde estaria o Raphael.

– Aê galado!(galado é uma gíria tipicamente de Natal) Feliz ano novo, muito dinheiro e mulher pra gente! – Era meu melhor amigo Felipe, que me abraçou forte, era bom estar em casa, no mundo conhecido. Passei o resto da noite conversando com ele, contando minhas aventuras no Rio, não tudo, claro rs, só algumas partes.

Raphael reapareceu sozinho e visivelmente bêbado. Meu primo era um caso perdido mesmo, fui procurar meu pai para ir embora, disse que já estava indo. Ele disse que também partiria e perguntou se eu podia dirigir o carro pra ele, respondi que sim, afinal eu tinha bebido muito pouco. Dei graças a Deus, aquela festa já estava me estressando, me despedi de alguns amigos e saí, o Rafa veio junto. Voltamos todos, eu, meu pai, minha mãe e o Rafa. Minha mãe pra variar matraqueando sobre o vestido de fulana, a filha de cicrana que estava bêbada, o filho de beltrana que era tão idiota quanto os pais.

Chegamos em casa, éramos os primeiros, o resto dos parentes/visitas provavelmente ficariam na gandaia até o dia amanhecer. Estacionei o carro na garagem, minha mãe foi acomodar o Rafa no meu quarto.

Fiquei sentado na cozinha, fazendo um lanche, meu pai entra:

– Então Doda, o que você pretender fazer da sua vida nesse ano?

– Não sei ainda, estava pensando em algumas alternativas, mas só vou decidir depois do resultado do mestrado.

– É meu filho, você agora está se tornando um homem, logo, logo vai se casar, ter filhos, as responsabilidades só aumentam com o tempo, só não se esqueça de sempre ser íntegro é só o que nos resta no final, integridade.

Meu pai era assim, sempre me dando conselhos, era a maneira dele de mostrar que ainda cuidava de mim. Quando passei no vestibular ele quis me dar um carro, eu não aceitei, meu primeiro carro seria comprado com meu dinheiro (tudo bem que só pude comprar meu primeiro carro há pouco tempo, bem depois de formado, dinheiro não é fácil). Eu era assim, cabeça dura, e acho que meu pai me respeitava por isso. Ele sempre tentava me ajudar, indicando pra algum trabalho, mas eu sempre recusava, queria vencer por meus próprios méritos, arrogância? Talvez, mas eu não suportava a ideia de ser tratado como filhinho de papai, playboy. Eu queria ser reconhecido pela minha competência e pelo meu intelecto, sim, deve ser arrogância, mas eu nunca disse que era perfeito, disse?

– Vou me deitar meu filho, boa noite!

– A benção pai

– Deus te abençoe

Terminei de lanchar e subi.

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Comentários

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Enrolação não. A história tá no ponto certo, tudo se desenvolvendo de vagar e naturalmente. Nota 10!

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Rsrsrs Acho que pode ser mais direto cara. Tá corroendo a galera aqui. Nota 10

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Essa enrolação tá maravilhosa, mas tá me matando!

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excelente!!! mto bom... ainda bem q vc ta escrevendo essa coisa maravilho.. mto mto mto bom msmo!!

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