No dia seguinte, seria feriado e nem eu e Felipe teríamos aula, então resolvemos ir visitar nossas mães.
Chegando lá, a felicidade foi total, ambas estavam morrendo de saudade de nós e assim como nós também. Depois de algum tempo, minha mãe disse que teria que ir no supermercado e disse se eu não queria ir com ela e eu aceitei. Felipe ouvindo aquilo, também se levantou, mas eu disse que ele podia ficar com a mãe dele.
Estava na hora de contar tudo para a minha mãe, mesmo eu sabendo que teria conseqüências. Comecei puxando conversa primeiramente:
- Mãe, você se lembra que eu tinha uma admiração muito grande pelo Felipe?!
- Lembro, o que tem?
- Essa admiração ao longo dos anos, foi crescendo e crescendo, até chegar num ponto em que eu... – eu não sabia como continuar aquela explicação
- Até que vocês dois perceberam que os dois estavam apaixonados um pelo outro?- disse minha mãe calmamente.
- Mas como... você é a mãe Diná?!- disse eu assustado
- Posso não ser a mãe Diná, mas sou sua mãe, e se eu não soubesse ao menos o que passa nessa sua cabecinha , então eu poderia esquecer porque eu já não seria a boa mãe que eu pensei que eu era.
- Você não vai me bater, me xingar ou ficar revoltada e estressada?
- Você acha que alguma vez que eu iria censurar os seus sentimentos, ou até mesmo censurar você?
- Eu apenas pensei que a sua reação seria como de todos os outros pais: xingaria, bateria e expulsaria de casa.
- Eu nunca faria isso com você, afinal você é meu filho e se eu não puder ficar ao seu lado, quem ficará?
Olhei pensativo para ela e entendi naquele instante a sorte que eu tinha de ter a mãe compreensiva que eu tinha. Minha mãe, foi mais observadora do que eu jamais fui na minha vida, sem ao menos dizê-la, ela já sabia o que estava acontecendo na minha vida.
- Mas como a Senhora ficou sabendo? E por que não disse pra mim antes?
- Pois eu queria esperar até vocês dois entenderam e terem a certeza do que estavam sentindo um pelo outro.
Naquele momento, fiquei com muita pena daqueles que contavam para os seu pais que eram homossexuais e a resposta negativa era mais forte do que o amor que os pais sentiam pelos seus filhos.
Agradeci a minha mãe por entender e respeitar a pessoa que eu sou ao invés da minha “opção”. Chegando em casa, chamei o Felipe no canto pra conversar sobre o ocorrido.
- Felipe, eu contei pra minha mãe sobre nós.
- Eu também contei pra minha.
- E a sua mãe? Como ela reagiu?
- Reagiu da melhor forma possível, disse que já sabia, e que só estava esperando nós termos certeza dos nossos sentimentos para ir conversar com ela.
O alívio em nossos rostos era visível, pois nunca esperaríamos tanta aceitação das nossas mães. Depois de alguns minutos ajudando a minha mãe a guardar a compra, a campanhia toca, e como eu estava mais próximo da porta eu fui atender.
Para ser sincero, eu só descobri quem era de a pessoa desceu do meu colo, pois é, adivinhem quem era.... a GABRIELA.
- To chateada com você, depois que você foi embora, nem VIVO ou morto eu sabia se você estava..
- Pelo abraço que você me deu, eu acho que você notou que eu estou bem VIVO- disse eu dando entonação no vivo, assim como ela fez.
- Percebi também que você está mais cheinho, tudo isso, foi porque você na agüentava de saudade de mim e largou a academia e começou a comer como se não houve comida amanhã?
- Para não ferir o seu ego enorme, eu vou responder que foi.
E nos dois caímos na gargalhada, olhando ao redor vi que Felipe estava com a cara mais emburrada do que de uma criança.
Gabi foi dar um abraço na minha mãe e na do Felipe, eu aproveitei para perguntar o por quê de tanta amizade.
- Depois que você foi embora, a Gabriela passava aqui quase toda semana pra saber notícias suas e pra ficar um pouco com a gente.- disse a minha mãe.
Fiz uma expressão de entendimento e fui esclarecer as coisas com o Felipe. Depois de contar tudo para ele sobre como a Gabriela me ajudou a entender os meus sentimentos,ele foi até ela e deu um abraço nela.
- Eu não gostava de você, mas depois de saber o que você fez pelo Gustavo, acho que estou começando a gostar de você.
- Igualmente! Só fiz isso, porque não agüentava mais vocês bancando os vacilões.
A simples palavra vacilões foi o suficiente pra todo mundo começar a dar risada. Eu adorava isso na Gabriela, ela era autêntica, espontânea, conseguia impor suas idéias e não escondia o seus sentimentos, talvez se eu tivesse sido como ela desde o começo eu e o Felipe não teríamos perdido tanto tempo para ficarmos juntos.
A Gabriela ficou conversando um pouco com a gente e depois disse que precisava ir embora, eu e Felipe levamos ela até o portão e nos despedimos dela. Voltamos para dentro de casa e minha mãe a do Felipe estavam assistindo um filme, eu sentei em um sofá e o Felipe no outro, o constrangimento era evidente.
A mãe de Felipe percebendo isso foi até o lugar que eu estava sentado e me puxou do sofá apontando em direção ao sofá em que o Felipe estava sentado, eu com um pouco de receio fui lá e sentei-me , ambas as nossas mães se voltaram para o começo do filme como se nada tivesse acontecido.
Felipe colocou seus braços ao redor do meu corpo, e eu pousei minha cabeça sob seu ombro e assim assistimos o filme até adormecermos.
A sensação de liberdade e aceitação era a melhor sensação que eu já tinha experimentando na minha vida, a paz interior finalmente havia sido alcançada.
No final de semana eu posto a continuação do conto.
E se preparem que vem algumas coisas pela frente!