O local da suruba fora arranjado por Souza, um desses salões de aluguel para festas. Penso que pertencia a uma prima ou parente dele e estava indo de mal a pior, sem fregueses. Ficava na Zona Norte e, de fato, logo percebi porque o negócio não ia bem: acanhado, mal decorado, uma parede com manchas escuras de umidade. Para um aniversário de criança, aquilo era o fim da picada; mas para um pega de homens safados estava bom demais. Havia uma espécie de tablado numa das laterais (que foi forrado com colchões de espuma), um balcão de bar na parede oposta e muitas mesas e cadeiras de plástico empilhadas em outra lateral. Eu e Ricardo fomos juntos, num carro só, com o endereço anotado num papel e o GPS ligado para achar a rua pequena e totalmente contramão onde se localizava o salão.
O horário fora marcado para as três da tarde e a coisa não teria hora para terminar, tudo dependendo do embalo do pessoal. Quando chegamos, todos já estavam lá, isto é, faltavam o Adalberto (que teve algum problema de última hora) e Kiko. Não estranhei sua ausência. Aliás, compreendi muito bem porque ele não comparecera. Wagner recolhia o dinheiro de cada um, uma vaquinha para subsidiar os comes e bebes comprados, além do kit de utilidades coletivo, uma grande caixa de preservativos, óleos lubrificantes e, a surpresa da tarde, alguns galões de vaselina líquida.
Todos vieram me dar as boas vindas, pois seria minha estreia. Daniel, ao me ser apresentado, logo me segredou: “tá guardadinha pra você!”, ao que eu retruquei com uma boa gargalhada e um piparote em seu pau. Souza e Silva tinham bolado a arrancada inicial: com o chão forrado por uma grande lâmina de plástico negro, nós todos iriamos medir forças em duplas, com os corpos totalmente untados de vaselina líquida. Razão pela qual fomos todos, nus como a ocasião pedia, para o centro do espaço e, com as mãos untadas, espalhamos o líquido uns nos outros. O que desencadeou em mim uma sucessão de ondas de excitação, especialmente ao tocar Souza, o mais velho de todos ali presentes, um verdadeiro urso peludo de barriga protuberante que, de imediato me atracou num beijo vigoroso e meteu sua mão em minha bunda, percorrendo meu rego com dedos escorregadios e nervosos. Todo mundo foi passando de mão em mão, cada parte dos corpos reluzia com fartas porções daquele umectante destinado a tornar os corpos deslizantes. Finalmente cheguei a Daniel que, de rola em pé, me aguardava e me ofereceu, de bom grado, seu instrumento para uma longa carícia. A coisa poderia começar ali, uma vez que todos estávamos mais que excitados, mas Souza organizou melhor: “suruba tem de ter organização.... aqui ninguém é de ninguém, mas é preciso repartir a comida com espírito de fraternidade”, a que se seguiu uma gargalhada geral, “razão pela qual vamos começar com duplas”.
Formamos um círculo, e Silva e Antônio se atracaram no centro. Venceria quem conseguisse abraçar o outro por trás e dar uma encoxada no oponente. Agachados, um de frente para o outro, apenas seus braços se tocavam. Era vale tudo. Era difícil segurar o adversário, pois os corpos escorregavam. As pernas se entrecruzavam, assim como os braços e as tentativas de chave de encaixe se sucediam. Com uma escorregadela de Antônio no chão liso, Silva demonstrou mais agilidade e o pegou por trás, dando fim ao enfrentamento. Wagner e Souza, devido às proporções, formaram a dupla seguinte, um longo desafio entre dois machos experientes, vencido pelo primeiro. Daniel e Ricardo logo estavam posicionados, dois lutadores de karatê manhosos, dois corpos acostumados aos golpes e revides, de modo que se safavam, com facilidade, um do outro, e a disputa foi interrompida porque nenhum dos dois conseguia se encaixar no outro. Eu era o último e estava sem parceiro, razão pela qual foi tirado no mano a mano, na base do dois por um, quem iria me enfrentar. Souza foi o vencedor da rodada e aleguei que não ia dar nem pro começo, levando em consideração a desproporção entre os corpos. Ele redarguiu que tinha vencido a parada e eu tinha de topar. Tentei me esquivar, forcei daqui, forcei dali, mas não consegui muita coisa. Ele ao contrário, se divertia comigo, me apertando entre os braços, ora apalpando minhas nádegas, ora enfiando os dedos em meu cu, para a alegria dos demais, até me virar de jeito e, com rapidez, me encoxar deitado no chão.
Alguns foram tomar banho para retirar aquela gororoba grudenta do corpo, outros foram bebericar, em grupos alternados. Ricardo me pediu para colocar o suporte atlético, para jogar pimenta nos olhos da plateia. Uns quinze minutos depois estávamos novamente todos reunidos em cima do tablado, sobre os colchões e, para iniciar o segundo tempo, fui convidado a mamar o Daniel: seria meu batismo no grupo. Com os demais embolados entre si e assistindo de perto, Daniel posicionou-se de pé e eu de joelhos. Seu pau, vigoroso e muito duro, a cabeça debaixo de uma cobertura de pele, pulsava de encontro à sua barriga. Tomei-o entre os dedos e fui, lentamente, começando a mamada. Aos poucos, fui sorvendo o tarugo e, a cada vez que Daniele dava sinais de prazer, os outros batiam as palmas das mãos nos colchões como aplauso. Quando dei a primeira enterrada profunda e cheguei às suas bolas, Daniel soltou a cabeça para trás e grunhiu entredentes. “O cara é bom pra caralho”, disparou. Segurando minha cabeça entre as mãos e me atochando, lentamente, o professor de karatê me fodia a boca com empenho. Algum tempo depois começou a se punhetar, eu fechei os olhos e, na sequência, recebi o impacto de seus jatos, caudalosos e quentes, na boca e no rosto. O aumento do barulho ao redor cresceu e, lentamente, fui sentindo os dedos de Daniel deslizarem pela minha face trazendo seu volumoso néctar para meus lábios. Quando dei por mim e olhei ao redor, todos estavam atracados, nos mais variados arranjos. Fechei os olhos e Daniel começou a surrar meu rosto e pescoço com seu belo caralho.
Abri os olhos e, imediatamente vi a barriga protuberante de Souza. Eu estava entre suas pernas, e alguém colocara uma perna sobre o peito do sargento. Com dificuldade, fui lentamente me movendo, abrindo espaço, até ficar de quatro e olhar ao redor, aquela montanha de carne humana empilhada. Alguém ainda estava com o pau atolado em Wagner. Minha cabeça girava, minha boca amargava um gosto de porra misturada com conhaque. Olhei para o bar e vislumbrei Silva esparramado numa cadeira, mais pra lá do que pra cá, sorvendo uma cerveja no gargalo. Fui caminhando até lá, ele me esticou a bebida, mas eu queria água. Encontrei uma garrafa e bebi, jogando o resto do líquido gelado em minha cabeça e nuca sobre a pia. Fui até o banheiro e abri a água quente, o que me causou um grande bem estar, deixei a água escorrer fartamente sobre meu ânus arrombado e sobre minha nádega e coxa, pois estava sentindo um incômodo na região do ciático, uma fisgada funda que corria pela perna. Sem dúvida eu dera um mau jeito em algum movimento mais ousado e agora sentia os efeitos. Olhei o celular – 21: 43 hs. -, não havia nenhuma chamada não atendida. Terminei de me arrumar, soquei a toalha em minha valise e, meio mancando, rumei para a saída. Perto da porta encontrei Daniel ao lado de Silva, e pedi que alguém levasse o Ricardo de volta. Daniel tentou me abraçar, mas gentilmente o repeli, dando adeus.
Ao chegar em casa tomei um relaxante muscular, untei meu cu com uma pomada descongestionante e me afundei na banheira de água quente. Meu corpo parecia surrado, meu pau sequer se movia, minhas forças pareciam estar no limite. Eu estava um bagaço, moído e triturado. Arrastei-me para a cama manquitolando, acertei o rádio relógio para o dia seguinte e empacotei.
Ao despertar no domingo de manhã, senti a coxa aliviada, doendo muito menos, mas o gosto forte na boca não se dissipara. Tomei um chá de boldo e alguns litros de água mineral, fazendo a ressaca descer no mijo. Coloquei uma roupa legal e rumei para a casa de minha sogra, e todos repararam em meu aspecto cansado: “Trabalhei até tarde..., tinha uma planilha mal preenchida que me deu um trabalhão para refazer todos os cálculos”, sorri como explicação.
Duas semanas se passaram sem que ninguém do grupo se manifestasse. Tempo mais do que suficiente para que eu revisse e reavaliasse tudo o que havia ocorrido. Eu me lembrava das explicações de Ricardo sobre a luta turca, dos braços gananciosos de Antônio quando me estreitava e cravava, sem dó, meu reto indefeso, minhas fantasias na sex-shop, do frasco fino que eu usava para treinar a garganta, do gosto adocicado do esperma de Daniel sorvido entre seus dedos, as pernas e braços se encaixando e se desencaixando na suruba, meu ânus piscando de desejo durante todo o tempo. Durante os quase seis meses que durou aquela demoníaca aventura de minha imaginação.
Encontrei-me num motel com Kiko, três semanas depois.
- Você não nasceu pra isso... isso é coisa pra casca grossa, e sua pele é muito fina pra não se ralar todo, argumentou ele.
- Acha?
- Acho. E acho mais. Tá arriscando demais, teu casamento, teu salário, tua vida. Pra viciar é fácil fácil... saca? É como droga, vai pegando o cara e quando ele se dá conta não tem mais como sair.
Embora jovem, Kiko me parecia bem mais maduro do que eu supunha, e concluí que ele estava coberto de razão. Eu experimentara daquela droga, fora tragado na espiral de sua sedução, sabia até onde poderia ser arrastado.
- Isso não quer dizer que tenha de parar de sair com outros caras, entende? Posso te comer sempre que estiver a fim, a gente arruma um jeito. Mas sai da putaria.
Eu não queria, entretanto, ter um caso com Kiko, desenvolver uma relação estável. Isso parecia complicado para mim, optar entre dois amores, ter de escolher entre duas coisas. Estávamos deitados na cama, Kiko começou a me acariciar, deslizou suas mão pelas minhas costas e afastou minha cueca, empalmando minha nádega e sussurrando baixinho:
- Tô de pau duro.... quer?
Aquele encontro para mim foi definitivo. Marcou uma virada em minha vida, foi o término de um ciclo que hoje, quatro anos após, reputo ultrapassado e dissipado na lembrança. Naquela noite, Kiko e eu selamos nossa amizade com um terno beijo de despedida e, por mais de seis meses, ainda tivemos contato por telefone. Fiquei sabendo depois que ele achara um sujeito, pelo qual se apaixonara e, depois disso, cessaram as ligações.
Eu voltei para mim mesmo. Ocasionalmente saio com alguém que cruze meu caminho, que me desperte interesse e tesão, mas exclusivamente guiado pelo sexo. Daquele antigo grupo, nunca mais tive notícia. Nunca não é exatamente a palavra; do grupo sim, mas de um deles não. Ele tem me socorrido, nos momentos em que minha sede aumenta incontrolável, me acolhendo entre suas coxas. E assim, tenho vivido.
FIM