Lembro que no meu aniversário, meu primo me fez uma surpresa, comprou ingressos pro show de Kid Abelha e me levou, eu adorei, pena que Paula Toller não cantou “Todo meu ouro” pois essa música era antiga e não havia feito muito sucesso, ela só cantou as músicas do novo cd, mas pra mim já estava de bom tamanho.
No final, meu primo conseguiu me levar pro camarim, conheci a Paula Toller e toda a galera do Kid Abelha, e diferente do que eu sempre escutava, a Paula foi super simpática, tirei até foto com ela.=)
Certa vez teve uma festa da galera do Rafa, uma festa à fantasia. Ele me chamou pra ir, prometeu por todos os santos que não ia me fazer raiva. Eu concordei em ir. Quando chego em casa, tá o meu primo de sungão vermelho que tinha uma cruz branca do lado , uma camiseta vermelha justa escrita “Lifeguard” e óculos escuros.
Eu olhei com uma cara de “what hell is that” (o que diabos é isso) e perguntei:
– Que isso Raphael?
– Pô, minha fantasia, vou de salva-vidas, diga, eu não tô gatão lek?
Putz! Ele tava muito gostoso.
Fiz minha cara de blasé e disse:
– Eu não vou pagar mico de ir fantasiado.
– Po, lek, deixa de ser chato, poe ae teu kimono e vai da karatê Kid.
Acabei rindo daquela palhaçada toda e vesti meu kimono, surrado, mas que estava até cheirando bem, coisa rara.
– Humm, to com vontade de dar uns pega nesse jiujitero – aquela cara de safado dele, era o que me desmontava no fins das contas.
Na festa, um monte de plays e patys, algumas subcelebridades... era engraçado isso do Rio de Janeiro, volta e meia você acaba por topar com pessoas que figuram nas revistas.
Gabi estava lá de mulher gato, devo dizer, mais sexy que a Halle Berry.
Passei a festa fugindo do assédio dela (não era correto ficar com a menina que estava acreditando que eu era pra casar, ela era boa demais pra mim) e olhando de longe meu primo fazer sucesso lá (afinal com aquelas pernas quem não queria tirar uma lasca do Rafa?). Rolaram pequenas brigas, porque uma subcelebridade resolveu vir conversar comigo, meu primo ficou enciumado, mas nada grave, afinal, eu e meu primo ainda arranjamos um jeito de se pegar num canto mais escondido da festa...
Quando estávamos voltando pra casa eu me sentia meio estranho, eu olhava pela janela do carro vendo as luzes da madruga do Rio, era como estar num sonho, como se não fosse real:
- O que ce tem lek?
- Nada não Rafa, só to cansado...
Era como se tudo que eu vivesse fosse bom demais para ser verdade, e coisas boas sempre tinham uma pegadinha (as famosas letras pequenas dos contratos) eu sentia uma certa inquietação.
Houve tantos outros fatos importantes para mim no Rio, mas como eu acho que isso aqui já está maior do que deveria, vou abreviar as coisas.
Eu já estava no meu segundo ano de mestrado, terminando de pagar as disciplinas e me preparando para defesa da dissertação. Raphael havia feito progressos significativos no curso, era bolsista de um projeto muito importante e trabalhava num grande jornal.
Certo dia eu atendo um telefone lá na casa da minha tia.
- Alo, é da casa do Sr. Raphael Cedeño?
- É sim, mas ele não se encontra.
- Ok, então, por favor, avise-o que ele foi o selecionado para o projeto tal, e que ele tem o prazo de 15 dias para trazer toda a documentação, inclusive o passaporte, para darmos entrada na bolsa-auxilio e facilitar o visto.
Eu fiquei meio atônito. VISTO? PASSAPORTE? Só consegui murmurar um Ok, e desliguei o telefone. Fui procurar no google do que se tratava, e descobri que era um programa super importante das Nações Unidas que oferecia um estagio de pesquisa na União Europeia, no caso do meu primo, especificamente na Espanha. Fiquei super feliz, e quando ele chegou em casa fiz a maior festa, dando os parabéns abraçando ele, mas ele não parecia estar muito feliz.
- Qual o problema Rafa?
- Nenhum Kadu, é que eu não vou pra esse programa, tipo, eu so me inscrevi pra ver koe, alem disso, num vou deixar você aqui de bobeira ne? – ele sorriu sem graça e pelo tom que ele falou, vi que era sério.
Meu sangue gelou, puta que pariu! Aquilo REALMENTE estava mais sério do que eu imaginava.
- Mas Raphael, essa é a oportunidade da sua vida, eles vão te pagar e muito bem pra você ficar lá, pesquisando, além de que tem tua irmã lá, e se você não for, o meio acadêmico, os professores, podem ficar irritados e nunca mais você conseguirá nada!
- Bah! Que drama lek! Também não é assim! Eu mesmo que não vou, não to afim.
Não adiantava, meu primo era cabeça dura, mas eu também era e não iria deixar as coisas assim.
Concomitante a isso, apareceu uma oportunidade pra mim de seis meses em Brasília, eu não estava muito tentado a ir, por conta da inviabilidade de lugar pra ficar, eu poderia gastar muito, afinal estava economizando o dinheiro do escritório e minha bolsa do mestrado pra estabilizar em algum lugar, talvez até o Rio, mas o fato é que eu já considerava ir a Brasília, pois seria importante profissionalmente e me afastaria do meu primo.
O fato é que eu tracei meu plano e decidi executa-lo, mesmo que isso significasse o pior para mim. Liguei pra Ana, irmã do Raphael na Espanha.
- Hola!
- Ana, sou eu o Kadu, teu primo.
- Oiiii Kadu, tudo bem com você?
- Sim, sim Ana – eu estava elétrico, tinha que fazer tudo o que planejara – Olha, preciso de um favor seu.
- Nossa o que se passa? Aconteceu algo?
- Não Ana não aconteceu nada, mas vai acontecer, teu irmão recebeu uma proposta de emprego muito boa aí na Espanha, mas num quer ir, e se ele não aceitar, corre o risco de ser muito, muito, ruim pro futuro profissional dele. O negócio é o seguinte, preciso que você ligue dia tal, dizendo que está se sentindo sozinha, que sente a falta dele, enfim, tente convence-lo sutilmente a ir pra Espanha, ele vai estar meio chateado, pois vou fazer minha parte daqui. Desculpa não poder te dar mais informações, preciso que você confie em mim.
Ela concordou meio receosa, mas era o que eu queria. Agora era minha vez.
Ajeitei toda minha ida a Brasília, e fui falar com meu primo, escolhi um dia que não tinha ninguém em casa, pois sabia que iríamos brigar feio.
Ele estava no quarto dele, com uma bermuda de surfista, sem camisa, estudando. Fiquei parado olhando para ele, quando se apercebeu de mim na porta.
- Oi lek, que foi?
- Estou indo embora. – nunca na minha vida tive que ter tanto auto controle.
- Embora?
- É, estou indo pra Brasília e não pretendo voltar, só terei de apresentar minha dissertação, mas não fico mais no Rio. – minha fala era fria, sem emoção.
Ele se levantou, olhos bem abertos, vidrados me olhando.
- Mas como? Quando vai ser isso? Por quê?
- Amanhã já viajo, porque isso vai ser bom profissionalmente, ora!
- Mas, mas – ele gaguejava, eu sentia meu estomago revirando, queria vomitar. - Mas e a gente?
Era a minha deixa. Agora eu ia pegar pesado, não sei até hoje onde arrumei forças.
- A gente? Como assim “a gente?” NUNCA existiu a gente, você pensa o que? Que nós vamos juntar os troços e morar, adotar uma criança e viver felizes para sempre? Sinto te informar Raphael, mas a vida não acontece segundo seu mundo mágico! Você pode se dar ao luxo de escolher emprego e brincar de trabalhar, eu devo trabalhar de verdade. E tem mais, a gente era uma boa foda, apenas isso, eu pensei que você soubesse, mas pelo jeito nem pra isso você tem maturidade...
As lágrimas rolavam do rosto do Raphael, eu me segurava impassível, era necessário pegar pesado com ele, um tratamento de choque.
- VOCÊ NÃO TEM IDÉIA DE NADA. EU... EU... ORA PORRA, VOCÊ SEMPRE FOI UM ESCROTO E EU ME ENGANEI, ME FIZ DE OTÁRIO POR TUA CONTA...VOCE ACHA QUE ESTA ACIMA DAS PESSOAS, MAS VOCÊ É PIOR DO QUE ELAS, VOCÊ É UM NOJENTINHO, QUE USA TODOS AO SEU REDOR PRA CONSEGUIR CHEGAR ONDE QUER...
Eu esperei o soco na minha cara, mas ele não veio, Raphael levantou a mão partindo pra cima de mim, mas parou esmurrando a parede do lado de onde eu estava.
- Suma daqui...
Eu sai do quarto, no outro dia parti para Brasília.
Brasília foi o pior período da minha vida. Cheguei lá arrasado, e vomitando, acho que somatizei tudo e transformei numa infecção intestinal. Eu mal conseguia me arrastar pro trabalho, passei a primeira semana morando numa pousada.
Acabei pegando aversão à Brasília, aluguei um quitinete longe, morava mal, comia mal, andava de ônibus, parecia que estava num purgatório, e dessa vez eu estava sozinho. Mas eu não iria desistir, nunca desisto, trabalhei lá, pesquisei minha dissertação. Depois liguei pra saber do meu primo, ele havia viajado pra Espanha, como era pra ser. Afinal, as coisas aconteceram como deveriam...
Eu me concentrava em só estudar e trabalhar, pois achava que poderia entrar em depressão naquela cidade sozinho, e as palavras do meu primo ecoavam na minha cabeça. Mas eu não aceitava entrar em depressão, isso não era pra mim.
Os meses se passavam como se todos fossem iguais. Uma noite, já estava dormindo recebo uma ligação, atendo sem olhar o visor, muito barulho do outro lado.
- Alo, alo, quem é? – eu só escutava muito barulho.
Finalmente escutei algo que fazia sentido.
- Eduardo? Lek?
Na hora eu despertei, era o Rafa!
- Rafa?
- Olha só, então você ainda lembra de mim! Ei, não desliga escuta isso:
Então eu ouvi, entre barulhos, mas era perceptível:´
“...Que eu quero esse mistério sempre
Não quero te perder
E desejo o perigo
Do desejo de um novo jeito
Arrisco todo o meu ouro
Dou meu amor como garantia
Para encontrar um tesouro
e não bijuteria...”
Fiquei ali, escutando aquilo, sem ação, as lagrimas corriam do meu rosto sem eu conseguir conter, naquela cidade estranha, cinza, impessoal, no escuro daquele quarto, eu chorei como nem me lembrava a ultima vez de ter feito, era como uma catarse, de toda a dor, toda a luta que eu havia agüentado até ali...
- O kid Abelha veio fazer um show em Lisboa, dae eu viajei só pra isso, e vê só! Eles tão tocando a nossa musica! Lek, a Ana me contou, porque você fez aquilo? Porque deixou eu ser grosso daquele jeito com você? Cara, é tão difícil ver que eu gosto de você?
- Rafa...o tempo da gente já passou...
- Não, não passou, um dia ce vai ver, eu sei que você também gosta de mim, mas deixa estar, um dia a gente se bate de novo.
Conversamos ainda um pouco sobre a vida dele lá na Europa, estava tudo bem, e parece que a irmã dele havia aberto o jogo com ele, e isso aprofundou mais a relação deles. Eu só falei coisas superficiais sobre mim, não queria dizer que eu estava comendo o pão que o diabo amassou. Nos despedimos.
Eu voltei ao Rio, apresentei minha dissertação, fui aprovado. Voltei pra casa (Natal), mas não passei nem um mês, recebi uma nova proposta de emprego em outro estado. Hoje em dia leciono em faculdades e advogo. Moro só, em uma nova cidade desconhecida, mas nada mais me assusta. Estou pensando em fazer meu doutorado e com meu sangue andaluzio, só Deus sabe onde eu vou parar dessa vez.
Quanto ao Rafa, as vezes a gente se fala pelo telefone ou msn, eu procuro evitar, sei lá, não quero prender a vida dele, nem posso prender a minha, acho que nós dois pertencemos ao mundo. Mas talvez nossa história não tenha mesmo um fim.
FIMComo já disse anteriormente, esse conto foi escrito em uma comunidade de contos eróticos do Orkut em 2008, o Carlos Eduardo depois disso sumiu, e o Orkut deletou o conto.
Não sei se é uma história fictícia ou real, mas foi uma história que me emocionou muito na época e até hoje emociona, muitos vão chorar como eu, mas é a vida real, nem tudo que queremos acontece. Acho que cada um de nós que lemos esses romances, um dia espera encontrar um Kadu ou um Raphael, e eu sei que todos vocês irão encontrar e ser felizes, não desistam do amor, e tudo tem a sua hora. Obrigado á todos que comentaram e votaram beijão.
quem quiser adicionar fica a vontade: asht.boy@hotmail.com