Uma belíssima comerciante da rua 25 de Março, de aproximadamente vinte e dois anos, gorduchinha e roliça, carnes as mais viçosas e apetitosas, e que acrescentava a tão fartos encantos presença de espírito, vivacidade, e gosto o mais aguçado por todos os prazeres que lhe proibiam as rigorosas leis da moral interiorana, decidira, havia quase um ano, arranjar dois ajudantes para seu marido que, sendo velho e feio, a ela não somente desagradava muito, como também cumpria mal, se não raramente, os deveres que, talvez, com um pouco mais de desempenho, poderiam acalmar a exigente Daniela- assim se chamava nossa comerciante gordinha. Nada mais bem combinado do que os encontros marcados com esses dois amantes: Denis, jovem soldado,ficava normalmente das quatro às cinco horas da tarde e das cinco e meia às sete chegava Daniel, jovem negociante com o pau mais monstruoso que se pode ter. Era impossível fixar outros momentos; eram os únicos em que a Sra. Daniela estava tranqüila: de manhã, era preciso estar na loja e, à tarde, também tinha de aparecer por lá algumas vezes, ou então o marido voltava, e deviam falar de seus negócios. Por sinal, a Sra.Dolmène havia confidenciado a uma de suas amigas que ela gostava muito que os momentos de prazer se sucedessem assim muito próximos um do outro: a chama da imaginação não se apagava, ela assegurava; desse modo, nada mais temo do que passar de um prazer a outro; não era difícil retomar a ação,pois a Sra. Daniela era uma criatura encantadora que calculava ao máximo todas as sensações do amor; pouquíssimas mulheres conheciam-nas como ela própria e, em virtude dos seus talentos, reconhecera que, depois de muito meditar, dois amantes valiam muito mais do que um; com respeito à reputação, era quase a mesma coisa, um encobria o outro;poderiam se equivocar, poderia ser sempre o mesmo a entrar e sair várias vezes durante o dia, e com relação ao prazer, que diferença! A Sra. Daniela, que temia em particular a gravidez,bem segura de que seu marido jamais com ela cometeria a loucura de lhe arruinar a cintura, havia igualmente imaginado que, com dois amantes, havia muito menos risco, quanto ao que temia, do que com um, porque, dizia ela, na condição,de excelente anatomista, dois frutos de espermas diferentes se destruíam mutuamente.Certo dia a ordem fixada nos encontros veio a se alterar, e nossos dois amantes, que nunca se tinham visto, conheceram-se de maneira engraçada, conforme mostraremos. Denis o primeiro, mas chegara muito tarde, e como se o diabo tivesse se intrometido, Daniel, que era o segundo, chegou um pouco mais cedo.O leitor inteligente percebe de imediato que, da combinação desses dois pequenos erros, deveria acontecer, infelizmente, um encontro infalível: e assim sucedeu. Por obra de um capricho bastante bizarro - mas tão comum entre os homens - nosso jovem militar, cansado do papel de amante, quis, por uns momentos, representar o da amante; em lugar de ser amorosamente abraçado por sua divindade, quis,por sua vez, abraçá-la: em resumo, o que está embaixo, coloca-o em cima, e, por essa inversão de posição, inclinada sobre o altar onde normalmente se oferecia o sacrifício, era Sra.Daniela que, nua como a Vênus calipígia, e encontrando-se estendida sobre seu amante, apresentava, diante da porta do quarto onde se celebravam os mistérios, o que os gregos adoravam com devoção na estátua que acabamos de mencionar, essa parte mui bela que, em suma - sem sair à procura de exemplos tão remotos - encontra tantos adoradores em nossas cidades, ou seja com o cú pra cima. Tal era a atitude quando Daniel, acostumado a entrar sem dificuldade, chega cantarolando, e vê por um ângulo a mulher em cima do outro com a buda para cima. O que teria causado grande prazer a muitas pessoas fez com que Daniel recuasse.- O que vejo? - exclamou -... Traidora... é isso que você faz antes de eu chegar?
A Sra. Daniela que, naquele momento, se encontrava numa dessas crises em que uma mulher age infinitamente melhor do que raciocina, resolve mostrar-se audaciosa:- Que diabo cara, - diz ela ao segundo Adônis - sem deixar de cavaldar no Denis - não vejo motivo pra tristeza; não nos perturbes, meu amigo, e contenta-te com o quete resta; como bem podes notar, há lugar para dois. Daniel, não conseguindo deixar de rir-se do sangue-frio de sua amante, pensou que o mais simples era seguir o conselho dela, não se fez de rogado, e dizem que os três lucraram com isso. Daniel botou pra fora aquele pau monstruoso e de uma vez estocou no fundo do ânus de Daniela. Ela, que já estava extremamente exitada cavalgando sobre Denis, atingiu o orgasmo em apenas três enfiadas do pauzão de Daniel. Apesar disso os dois amantes continuaram a penetrá-la, um pela bunda e outro pela vagina até gozarem quase simultaneamente dentro dela, que já havia desmaiado de prazer. Os três ficaram alí, exaustos e deitados, em forma de sanduíche de gordinha.