Parte 15 – Torres II
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— Vamos! Vamos! – gritou Clara, e depois que eu saio do banheiro, ela puxou meu braço.
— Cadê o Gustavo? – perguntei.
— Lá fora esperando a gente. – ela disse sorrindo.
Passamos pelo portão e andamos mais um pouco. Gustavo estava escorado no carro e abriu um sorriso quando nos viu. Na verdade, quando viu Clara. E eu tenho quase certeza disso.
— Finalmente! – ele disse abrindo a porta.
Clara dessa vez foi na frente. “Nada de Andressa”, como ela disse quando ela estava planejando.
— E a Andressa? – ela perguntou descaradamente.
— Ela acha que vou para casa do meu tio. – ele sorriu.
— Você só esqueceu de dizer que não era seu tio, e sim o meu. – ela riu.
— Que horror! – eu disse sorrindo.
— Você também mentiu. – ele pigarreou. — Ah mãe, eu só vou estudar um pouco na casa da Clara, mas não se preocupe, amanhã cedo estarei aqui. – tentou imitar minha voz.
— Se ela descobrir vai te matar. – disse deitando no banco.
— O mesmo para você. – ele respondeu.
— Ok, calem a boca, todos nós mentimos, só que por uma boa causa. – finalizou Clara.
Ela levantou o dedo para o som, e ligou. Começou a tocar Don’t Stop, Foster the People, e horrivelmente cantamos o refrão. Nem percebemos quando estávamos na estrada.
...
— Isso vai demorar? – perguntei, já impaciente.
— Falta pouco. – respondeu Clara mexendo no porta-luvas do carro — Olha o que eu achei aqui! – ela me mostrou uma camisinha ainda no pacote. — O que você ia fazer com isso Gustavo?
— Assoprar que não ia. – ele respondeu sem tirar os olhos da estrada.
Clara tirou a camisinha do pacote e assoprou até que virasse uma bola.
— Que nojo! – eu disse sorrindo. — A sua boca vai ficar com cheiro de lubrificante!
Gustavo começou a rir. Ela pegou a “bola” e começou a passar em mim.
Quando finalmente chegamos, tinha sol. Era tudo o que o queria. Sol e praia.
— Aonde vamos primeiro? – perguntei ansioso, e quase pulando no banco.
— Vamos comprar alguma coisa para comer e beber – disse Clara.
Gustavo parou em um supermercado, e comprou um monte de besteira e bebida – não sei como, já que ele só tinha 17 anos – e Clara comprou mais besteira ainda, e eu comprei chiclete. Eu não estava nervoso, mas acabei viciando nesse chiclete. Quando Clara me mandou cuspir o Chiclete, me deu uma garrafa de cerveja em troca. Eu não gostava de cerveja, mas mesmo assim bebi a garrafa inteira.
Gustavo me mostrou a cidade, e era muito linda. Clara também conhecia, e ficava lembrando um monte de coisas que ela e o resto da turma faziam nessa cidade.
— Você tem que ver os balões Hugo... é maravilhoso! – ela contava.
Eu não queria ver balão. Queria a praia. E quando eu escutei os sons das ondas, olhei pela janela direita.
— Oh meu Deus! – exclamei. — Vamos logo!
— Calma! Que fogo é esse? – disse Gustavo manobrando o carro até finalmente desligá-lo.
Tirei minha blusa e deixei no carro mesmo, fiquei só de bermuda e comecei a apressá-los.
— Vamos logo! – eu batia palmas.
E a agonia não deixou que eu os esperasse. Corri para a o mar. E quando pisei na areia branca e macia, e a brisa assoprou no meu rosto, parei por um segundo e fechei os olhos.
Eu quase tinha me esquecido de como isso era bom. E dei meu melhor sorriso. E apenas Caio veio na minha mente. Ah, Caio! Ele é o motivo de todas minhas idas na praia serem tão boas. Se Henrique foi meu primeiro namorado, eu posso dizer então que ele foi meu primeiro amor.
Abri os olhos, e vi a água azul me chamando. Volto a correr.
— Ei! Espera a gente! – gritou Gustavo.
Olhei para trás e vi Gustavo correndo com Clara. Ele com uma sunga preta, mostrando todo seu belo corpo, e Clara com um biquíni azul escuro. O corpo dela era lindo.
— Você esqueceu o protetor! – disse Clara que nem minha mãe, e me enchendo de protetor.
— Já está bom! – disse tirando o excesso no meu ombro, e passando no rosto dela.
— Olha para isso! Nem aprece aquele magricela do hospital! – disse Gustavo.
— E você também não está nada mal – disse o olhando de cima a baixo. E depois mordi o lábio inferior.
— Clara você vai deixar que ele fique dando em cima de mim? – ele virou para Clara.
— Ele é meu, porra! – ela gritou.
Corri para água e mergulhei. Tudo bem que eu não sabia nadar, e por isso, ficaria onde não morresse. Só ia para o fundo com o Caio. Com meu salva vidas particular. Gustavo trazia Clara no colo e a jogou bem do meu lado.
E nesse momento, eu tinha dez anos. Fiz tudo que tinha direito de se fazer em uma praia. E quando cansamos, andamos pela praia e admiramos o pôr do sol. Eram tudo tão lindo. As tonalidades de laranja no céu, o barulho das ondas, o vento fresco, a paisagens e as “torres” rochosas. Quando tudo finalmente ficou escuro, deitamos perto da cabana onde estava o carro e bebemos de uísque a refrigerante. Eu já estava meio tonto quando comecei a sentir frio. Peguei minha blusa, e vesti.
— Vocês viram aquela festa a céu aberto perto daqui? – perguntou Clara.
— Eu não. – respondi. — Em que lugar?
— Ah, é tipo uma boate a céu aberto. – respondeu Gustavo. — Querem ir lá?
Ambos concordamos. E depois da burocracia (quase não entrei), entramos. O som era alto, e apenas algumas luzes faziam sincronia com a música. Era um espaço grande. Tinha pessoas sentadas em mesas, dançando, beijando, mulher com mulher e homem com homem. Pelo menos as pessoas aqui não eram preconceituosas. Ou será que isso era uma festa GLS?
Clara me puxou, e dançou comigo e Gustavo.
— Eu acho que esse lugar é livre para todos os públicos – Clara sussurrou rindo.
A bebida de antes, pareceu fazer efeito só agora, e eu comecei a ver as coisas rodarem. Clara me sentou em uma cadeira, e colocou um coco com um canudo em cima da mesa. Agradeci. Ela voltou a dançar com o Gustavo. Eles formavam um belo casal. Pelo menos agora eu tinha meu coco para me consolar.
Quando eu estava melhor, Clara me puxou para dançar novamente, agora músicas mais agitadas, com batidas rápidas. E lá estávamos nós três, pulando e felizes. Clara se enroscava no Gustavo e depois em mim, e às vezes eu atrás dela e Henrique na frente. Foi uma loucura. Ela trouxe depois um suco de laranja para mim, que tinha mais álcool do que laranja.
Tomei de vagar, e deixava o álcool queimar minha garganta. E tudo pareceu ter ficado lento. As luzes não eram mais tão frenéticas. A música agora desapareceu, e lentamente me afastei deles. Eles pareciam tão felizes. Finalmente seus lábios se tocam. Já minha boca, fez uma ligeira curva. Talvez por ter acertado que eles tinham alguma coisa, porém, mais porque eu realmente estava feliz. Gustavo é um cara bonito, mas eu sabia que ele era hétero, e sempre respeitei isso. E Clara é a pessoa que eu mais gosto daqui. E vê-la feliz, me fazia ficar feliz também.
Finalmente quando eles estão em paz, viro para sair e acabo esbarrando com alguém. Foi tão rápido, que eu nem tinha percebido que minha blusa estava toda molhada de “suco”, até colocar a mão na barriga. O álcool tinha me deixado lento.
— Desculpe, eu não vi você ai – disse uma voz masculina.
Tentei focar minha visão, e tudo voltou ao normal, luzes e música. Vi que ele estava sem camisa, apenas de bermuda. Olhei para cima e vi olhos negros, sobrancelhas grosas, cabelos pretos e levemente bagunçados. E olhei para sua boca, que aparentava ser deliciosa. O que? Eu acho que ele percebeu que eu olhava mais do que o necessário para sua boca, e se aproximou mais.
Por Deus, que droga eu estava fazendo? Eu nem tinha terminado de tentar falar “sem problema” e sua boca já estava na minha. Suas mãos me puxaram para seu corpo pela minha cintura e me deixei levar. Minhas mãos começaram a alisar seus braços enquanto sua língua encontrava com a minha. Depois ele segurou minha mão, e começou a passá-la na sua barriga rígida.
E aconteceu o inevitável. Minha mente me pregou uma peça. Eu não beijava um garoto de cabelos negros, e sim, de cabelos loiros. O beijei mais forte, com saudade e até mesmo amor... que brincadeira sem graça essa. “Não era ele” me lembrava, e isso começou a doer. Não tinha graça. Parei o beijo abruptamente e me afastei ofegando. Pedi desculpa e corri. Saí esbarrando nas pessoas, até achar a escada que dava para o mar, e corri mais ainda. Tirei a camisa molhada e joguei na areia.
Minha visão estava embaçada novamente, e meu equilíbrio era duvidoso. Deixei algumas lágrimas silenciosas rolarem, mas logo as ignorei. Não tinha motivo para chorar. Fiquei feliz por sentir a água gelada nos meus pés, e continuei andando, e quando o nível da água estava na minha cintura, mergulhei.
Eu podia chamar isso de imprudência?
Quando emergi, coloquei as duas mãos no rosto e tremi. A água estava um pouco abaixo dos meus ombros, e então a água começa a me sugar. Puxou fortemente, mas cravei meus pés na areia. Mas não tinha nem percebido a onda que esperava.
“Você ficou louco? Quantas vezes eu tenho que te dizer para não ir para o fundo sem que eu vá com você?” Caio gritou comigo.
— Desculpa. – respondi baixinho.
Em seguida, a onda me engoliu.
Felizmente, como algumas pessoas dizem, levei um caldo. Não tinha mais controle do meu corpo. Parecia que estava dentro de uma maquina de lavar gigante. Girei, virei e me contorci, até que finalmente estava na areia de novo. Fiquei de barriga para cima e depois de tomar fôlego, suspirei e fechei os olhos.
— Sabe, eu não esbarrei em você sem querer – disse o garoto.
— Vai embora – disse irritado.
— O que foi? Meu beijo foi tão ruim assim? – ele perguntou.
— Isso importa? – perguntei ainda com os olhos fechados.
— Claro que importa. – senti a ponta dos dedos dele limpando a areia do meu rosto, e delicadamente ele passa pelos meus lábios. Depois sinto sua respiração perto do meu rosto. Perto demais.
— Não foi ruim. – admiti.
— Como eu tinha pensado. – disse ele dando uma risada, e eu tive de rir também.
— Então você sabe mesmo como beijar... certo? – mordi o lábio em provocação. — Pra ter toda essa convicção.
— Certo... – ele me beijou levemente. — Boca salgada...
Eu o empurrei, e comecei a rir. Eu tinha achado graça o jeito que ele tinha falado. Como se fosse... realmente bom.
— O que foi? – ele perguntou confuso.
— Nada... – respondi parando de rir. — Desculpa cara, eu sou muito idiota. – me sentei.
Calei-me completamente quando ele segurou minha cabeça com as duas mãos, e ficamos nos encarando. Ele era muito bonito. Eu tinha esse problema. Eu simplesmente achava todo mundo lindo, menos uma pessoa que insistia em aparecer no meu espelho.
— Que inveja dos seus olhos... – ele disse quase num sussurro. Esse tinha sido o comentário mais criativo sobre meus olhos até agora.
— Você não deveria perguntar meu nome primeiro? – perguntei.
— Isso importa? – perguntou no mesmo tom que eu tinha lhe perguntado.
— Claro que importa.
— Eduardo. – e ele me olhou com uma cara de “e o seu?”.
— Prazer Eduardo, Hugo. – estendi a mão para ele, só que ele me empurrou de volta e me prendeu contra a areia com o seu corpo pesado.
— Posso te beijar agora? – ele perguntou próximo.
— Pode. – sua boca toca a minha. Logo depois a água do mar vai molhando meus pés, até a cabeçaDessa vez não vou pedir desculpas, porque não demorei tanto assim. E Syaoran, eu tenho medo de você de uma forma boa, tão boa que o medo não me deixa fazer idiotices (se é que me entende). Luke, me desculpa por não ter comprido o acordo :( agora estou te devendo mais ainda uashuas. E Victor Negromonte, eu já estava pesando em alguma forma de juntá-los quando você me vem com seu conselho kkk – espero não ter dado spoiler kkk. E WhiteChocolate, também li seu conto, e ele é maravilho, posso não ter comentado muito, nem votado, mas eu li. Vivi Souza, eu que amo você! kkk Recifense, vou tentar adicioná-lo aqui, só que a possibilidade de conseguir não é muito boa, já que eu estou tentando me acostumar com o Skype, e minha família é muito grande para apenas um computador kkk. Qualquer coisa, só é me perguntar aqui embaixo, e vou responder. Às vezes eu acho que vocês querem me perguntar alguma coisa, só que não perguntam – eu sou meio paranoico.
Então é isso. Amo vocês seus lindos.